A Última Filha escrita por Ariane Rosa
Eu caminhava pelo corredor da escola me sentido culpada. Todos aqueles olhos em mim...
Mesmo com meus fones de ouvindo eu podia ouvi-los, seus pensamentos eram em direção a mim. E isso estava começando a ficar irritante.
Eu cheguei até ao meu armário e havia um garoto lá. Ele era loiro e devia ter um metro e oitenta, ele estava com umas marcas e escoriações no seu rosto branco.
Quando me aproximei dele, eu tirei meus fones, ele se desencostou e disse:
– Oi.
Ele ficou me olhando com aqueles grandes e lindos olhos azuis.
Eu senti uma quentura subir para meu rosto, e torci para não ficar vermelha, não que eu ficasse, mas isso era raro.
– Oi. – Eu lhe disse.
Eu passei por ele e abri o armário. Eu comecei a pegar alguns livros e ele disse:
– É Haide, não é?
Eu parei por um momento, o encarei e disse:
– Olha, se vai me convidar para o baile por causa de uma aposta, melhor dá o fora.
– Não estou aqui por causa de uma aposta. – Ele disse sério.
Eu fechei meu armário violentamente e perguntei:
– Então por que está aqui?
Ele suspirou e disse:
– Você se esqueceu? Você salvou minha vida ontem.
E então o reconheci. Uns flashes de ontem vieram em minha cabeça. Eu pisquei algumas vezes por causa disso.
– Ah, é você. – Eu disse com a expressão vazia.
– É, oi.
Eu sorri para ele e comecei a caminhar para longe. E então ele começou a me seguir pelo corredor cheio de pessoas nos olhando.
– O que está fazendo? – Eu lhe perguntei envergonhada.
– Estou indo com você até sua sala. – Ele respondeu com um grande sorriso.
– Ah, mas eu não tenho mais cinco anos.
Ele não disse nada pelo caminho e eu tive que aturar aqueles olhos em mim.
Quando chegamos até sala, eu parei na porta, me virei para falar com ele e pude ver que todos que entravam na sala nos olhavam.
Eu suspirei frustrada e disse:
– Olha... – Eu parei tentando adivinhar seu nome.
Ele me olhou e disse:
– Noah.
– Noah. – Eu repeti. – Se você gosta de ter uma reputação, é melhor ficar longe de mim.
– E quem disse que eu tenho?
Eu o olhei e disse:
– Certo. Você quem sabe.
E então o sinal tocou e ele disse:
– A gente se vê depois.
Eu lhe dei um sorriso, me virei e entrei na sala.
...
– Por que se envolveu naquela briga? – Eu perguntei a Noah.
Estávamos no almoço, ele havia se sentado no lugar onde geralmente era vazio.
– Por que eu adoro aventura.
– Aventura? Tomar um soco na cara é uma aventura? – Eu lhe perguntei pasma.
Ele riu e disse:
– Não, mas é emocionante.
Eu o olhei sem acreditar.
– Certo. Você é um completo de um maluco. – Eu disse pegando uma batata frita de seu prato.
Ele ficou me olhando de um jeito estranho e então eu perguntei:
– O que?
Ele me olhou por mais alguns segundos e então perguntou:
– Como conseguiu acabar com todos eles?
Eu não demonstrei, mas eu estava apavorada, ele percebeu.
– Eu malho. – Eu disse.
– Não parece. – Ele disse tentando olhar bem nos meus olhos.
Eu desviei o meu olhar do dele.
– Josh é bem forte. Como você conseguiu bater nele e nos outros daquele jeito?
Eu voltei o olhar e disse:
– Olha, tem coisas que eu prefiro nem comentar.
– Eu estou curioso.
– E vai ficar por muito tempo. – Eu lhe disse com um sorriso.
Ele me olhou sem acreditar.
Eu suspirei e perguntei:
– Não tem coisa melhor pra fazer?
– Como assim?
Eu olhei em volta e vi pessoas nos olhando ainda.
– Está com uma esquisita.
– Você não é esquisita. – Ele disse sério.
Eu sorri fracamente e disse:
– Não isso que seus amigos pensam.
Ele levantou a sobrancelha e disse:
– Eles não são meus amigos. E eu não ligo para o que eles pensam.
– Por que não?
– Porque eles só têm amor próprio, eles te chamam de esquisita porque você é um pouco assustadora, só um pouco.
Eu sorri para ele.
– Só um pouco? – Eu repeti ainda com um sorriso.
– É. – Ele concordou também com um sorriso.
Eu suspirei e disse:
– Obrigado por ser sincero.
– Disponha. – Ele disse pegando uma batata de seu prato.
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