- Onodera? Onodera! ONODERA ACORDE, VOCÊ VAI SE ATRASAR!

- AAAAAAAAAAAAAAAAAH, QUÊ? O QUE? ONDE?! – Disse pulando na cama assustado – Ah, é só você Takano...

- É só você Takano o caramba, olha à hora, já são quinze pras 7h, você vai se atrasar. Estou indo na frente, boa sorte – Disse ele saindo da casa para ir à escola.

- Só faltam quinze minutos dá pra dormir um pouquinho... ESPERA, QUINZE MINUTOS?! TAKANO SEU IDIOTA PORQUE NÃO ME ACORDOU ANTES?!

Lá da porta, Takano consegue ouvir e começa a rir.

*

- Desculpe, desculpe, desculpe, eu acordei atrasado deixe-me entrar, por favor! – Estava em uma tentativa frustrada de fazer meu professor de física deixar-me entrar.

- Sabe que na tolero atraso, pode ir para a diretoria, na minha aula você não entra – Disse ele se voltando pra lousa novamente e passando a matéria, ele havia vencido.

Todos na sala riam de mim, mas Takano ficou quieto no seu canto, já não achava mais tanta graça assim. Sai cabisbaixo da sala, sem protestar sobre a ordem do professor e fui para a diretoria. Lá, fizeram-me assinar uma ocorrência e disseram-me que poderia entrar apenas na segunda aula. Fui então para a biblioteca, onde era mais quieto e confortável e esperei o segundo sinal tocar.
Não demorou muito e o sinal tocou, subi para a sala e quando entrei, vários olhares me observavam, rindo levemente, fiquei constrangido, andei até meu lugar e sentei-me, logo em seguida o professor chegou e começou a passar a matéria.
A hora na escola passou muito rápido, talvez porque estava concentrado na matéria e em terminá-la o mais rápido possível, amanhã tinha prova de física, não estava preparado, além disso, perdi a aula de hoje, não sabia como fazer para recuperar a matéria perdida que provavelmente seria conteúdo da prova de amanhã. Não queria pedir para o Takano, não depois do que aconteceu ontem... Não se lembre disso Onodera! Se concentre, você logo terá prova disso.
O resto do dia passou normalmente, não falei com o Takano desde o que aconteceu, não queria mais pensar nem falar com ele sobre, mas toda vez que eu o olhava, ficava vermelho e virava o rosto para qualquer outra direção.
Havia decidido que ficaria na biblioteca depois que as aulas acabassem. Digamos que era reconfortante ficar sozinho, apesar de que eu ainda prefiro ficar com amigos. Logo então o sinal tocou.

- E é isso, estudem para nossa prova, não vai ser difícil se prestaram atenção na aula. Um bom dia para vocês – O professor disse arrumando seu material enquanto os alunos saiam, eu fui um dos que saiu rapidamente, a fim de chegar à biblioteca logo para não precisar ter de encontrar o Takano. Cheguei lá e retirei um livro da bolsa.

- Bom dia Masako-san, vim devolver esse livro, a propósito, gostei muito – Disse sorrindo para a senhora que cuidava da biblioteca, ela vivia sempre lendo e havia me recomendado esse livro.

- Bom dia para você também, Onodera. Que bom que gostou! – Disse ela mexendo em alguns papéis ali – Pode pegar outro livro se quiser – Ela sorriu.

- Obrigado, irei pegar sim, a senhora sabe que adoro ler.

- É eu sei. Não existem muitos jovens assim hoje em dia. Não sabem o que perdem, ler é tão bom – Enquanto conversava comigo, arrumava alguns papéis em cima de sua mesa e eu, andava pelas prateleiras a procura de um livro que me interessasse – Sabe, quase ninguém vem aqui, fico a maior parte do tempo sozinha nessa sala. Você e, se não me engano, dois garotos que vem aqui todo dia.

- Quem são eles? – Perguntei com uma voz mais alta, lá da última prateleira, sessão de ficção.

- Se não me falha a memória, um garoto de óculos chamado Takano, ele está na sua sala, e um garoto alto que anda sempre com ele. Você conhece esse Takano?

Fiquei em silêncio por um momento, Takano... Esse garoto poderia ser Yokozawa? Não, tenho certeza de que é ele mesmo. Fiquei parado por alguns segundos tomando coragem pra falar, lembrei de tudo o que havia acontecido ontem e acabara ficando mudo.

- Conheço sim... – Suspirei e me pus ao desafio de esquecer tudo isso até voltar para a casa. Andei mais um pouco e por fim peguei um livro que havia chamado minha atenção. Andei até Masako-san e o coloquei sobre a mesa.

- O livro parece ser bom – Ela entregou minha ficha e me deu uma caneta – Assine aqui, por favor – Eu peguei a caneta e assinei rapidamente, entregando a ela logo em seguida a ficha e a caneta – Boa leitura, Onodera, até amanhã.

 - Até, tenha um bom dia – Eu sorri.

- Igualmente – Ela sorriu e voltou ao seu livro.

Sai da biblioteca, guardando o livro na minha bolsa, andei até a saída da escola e acabei trombando com quem menos queria naquele momento.

- Yokozawa?! – Digo assustado – Desculpe-me – Ele se virou rápido e quando me viu, fez cara feia. Uns papéis dele haviam caído no chão, o ajudei a pegá-los.

- Ah é você. Vê se olha por onde anda – Disse ele se agachando e pegando os papéis também.

- Desculpe-me novamente, não o vi.

Ele ficou quieto até terminarmos de pegar os papéis. Logo uma silhueta reconhecível veio em nossa direção, saí rapidamente dali na direção contrária a que a pessoa vinha. A única coisa que pude ouvir foram algumas vozes...

- Yokozawa, o que eu faço com esses papéis aqui...? Espere, aquele não é o Onodera? O que ele estava fazendo com você?

- Apenas trombamos no corredor, pelo meu azar, todos os meus papéis se desorganizaram.

Houve um pequeno silêncio da parte de Takano.

- Takano? Você está bem?

- Ah, desculpe, estava meio que viajando.

- Percebi. Bem você pode levar esses papéis até a diretoria, eles saberão o que fazer.

- Entendi, irei agora mesmo.

Depois dessas palavras só ouvi passos, da parte dos dois. Só que em direções diferentes. Espere, diretoria... Era nessa direção! Apressei o passo.

- Onodera, espere!

Não dei ouvido a ele, fui apenas andando rápido.

- Onodera! – Percebia-se irritação em sua voz. Ele havia começado a correr.

Em uma fração de segundo ele me alcançou e agarro meu braço, impedindo-me de continuar andando.

- Não me ouviu chamar? – Disse ele recuperando o fôlego. Não disse nada – Não me ignore, seu idiota.

- Ouvi...

- Porque não parou? – A irritação continuava em sua voz. Parecia que ele odiava ter que fazer todo esse interrogatório.

Eu fiquei em silêncio. Ele ficou sem paciência e me empurrou contra a parede, prendendo meus braços, tirando todas as chances que eu tinha de sair correndo dali e me livrar dessas perguntas e dele próprio.

- Takano... O que... Você... Está fazendo? – Eu fiquei tonto, meus olhos estavam se fechando.

Ele não respondeu. Seu rosto apenas se aproximou do meu. Quando tudo foi se apagando, até por fim eu não ver absolutamente mais nada.

*

Acordei na enfermaria novamente, reconheci o quarto, pois já havia vindo aqui uma vez, pelo menos, diferente do hospital, esse lugar não me dava enjôo. Olhei em volta e vi Takano sentado na cadeira perto da minha cama, ele estava dormindo, olhei para fora e já estava de escurecendo, eu havia dormido o dia todo? O que Takano estava fazendo aqui? Estaria aqui comigo desde quando eu desmaiei? Não sabia. Levantei devagar, com um pouco de dificuldade, mas despenquei novamente na cama quando ouvi Takano resmungar algumas palavras quase que inaudíveis.

- Eu te amo, Onodera.