Aquele era para ser um dia normal, regado à cerveja, festa e risadas... Mas ai você apareceu, com seu sorriso de canto e olhos cheios de segundas intenções... Ah, meu querido desconhecido, por que você tinha que aparecer?

            Aquele era para ser apenas um dia normal, no dia seguinte eu ainda podia sentir o seu perfume, que ficou na minha roupa depois que você me abraçou, e lá estava você de novo, conversando comigo sobre tantos assuntos, sobre tanta coisa, e eu me sentia tão segura falando com você, como se te conhecesse há muito tempo... Ah, meu querido amigo, por que você tinha que voltar?

            Aquele era para ser apenas um dia normal, nós juntos no cinema, eu ainda sentia o gosto da sua boca depois do nosso primeiro beijo, nós trocávamos juras de amor, falávamos sobre eternidade, eu temia que o nosso ‘pra sempre’ não fosse real, mas você me abraçava pela cintura, me puxando para mais perto de ti, me beijava novamente e dizia que tudo ficaria bem... Ah, meu querido amado, por que você disse aquilo?

            Aquele era para ser apenas um dia normal, você saiu com os amigos e me levou junto, me exibia como um troféu, mas eu me sentia deslocada naquele ambiente, eu acho que era apenas a falta da sua atenção que me faltava, mas seus lábios roçando levemente no meu pescoço me impediam de ir embora... Ah, meu querido adorado, por que eu deixava de pensar por mim mesma quando você me tocava?

            Aquele era para ser apenas um dia normal, o anel de noivado ainda cintilava em meu dedo quando eu abri a porta e te encontrei com ela, juntos na mesma cama, na nossa cama. Minha vontade era que matar os dois, sentir o sangue escorrer pelas minhas mãos enquanto seus gritos de dor ecoavam pela casa... Ah, meu querido odiado, por que eu não tive coragem de matar você e a vadia que um dia eu chamei de amiga?

            Esse era para ser apenas um dia normal, mas não é, hoje a saudade bate mais forte, hoje eu sinto-a como nunca senti antes, ela foi fortalecida pelas lembranças que tomam conta de mim, cada lembrança dói como se fosse uma espada me atravessando. Eu sinto falta do seu gosto, do seu cheiro, da segurança que você me passava. Ah, meu querido perdido, por que eu tinha que entrar naquele lugar, naquela hora?

            Se eu tivesse me fingido de cega naquele momento, talvez hoje você ainda estivesse aqui, junto de mim, espantando o frio assustador da solidão. Sua ausência me machuca, meu querido, me faz sentir frio no dia mais quente do ano, me faz sentir sozinha no meio de uma multidão... Me faz sentir vazia, como um fantasma vagando no meio dos vivos, sem nunca ser notado, nem sentido, nem escutado...

            Remédios, remédios e mais remédios, remédios fortes, ingeridos em excesso, numa tentativa de por um fim nesse sofrimento, um fim na dor, um fim em nós... Ah, meu querido não-esquecido, por que você sumiu tão rápido quanto apareceu, levando com você a minha vida?