Não queria que aquilo acontecesse. De novo não. Mas eu não consegui impedir, e aquela voz veio em minha cabeça, como um sussurro. Parecia tão tranquilizante... o sono me dominava, minha mente se esvaziava, e tudo estava escurecendo...

Quando minha visão escureceu por completo, eu vi a cena. Eu estava ajoelhada no chão, agarrada a minha adaga (um presente incomum de ser dado pelo pai, a uma criança de 7 anos) no canto da biblioteca. Os livros me acalmavam, talvez porque eu lembrasse da minha mãe lendo para mim. Reconheci o lugar, Orfanato de Long Island, onde fui deixada após a morte de minha mãe. Ninguém sabe ao certo como ela morreu, ou se ela morreu.

Eu parecia assustada, minha mão que envolvia a adaga tremia, a minha esquerda uma fúria de desintegrava, virando pó. Algo estava errado. Ouvia uivos, se pareciam com... Lobos. Eu me levantei, ainda tremendo, e com a adaga na mão. Fui com cautela em direção a porta, e então parei repentinamente, assustada. Havia muitos deles, eram grandes. Maiores do que os do Animal Planet. Mas não pareciam querer me atacar, eles se aproximaram, mas o maior deles foi à frente. -Olá criança. Sou Lupa, rainha da alcatéia romana. Gaguejei algo semelhante a milho. Não me culpe, eu estava nervosa, tinha 7 anos e pelo menos uns 9 lobos falantes na minha frente. -Aparentemente Quíron anda meio descuidado. Uma meio-sangue dos três grandes a mercê dos monstros... - A loba disse, com um tom de desaprovação na voz. A minha expressão era de alguém tão confuso a ponto de vomitar, se é que isso é possível. -Venha criança, vou te levar até seu acampamento, lá você ficará em segurança. Não discuti, na verdade nem se quer respondi. Simplesmente acompanhei a alcatéia falante. Enfim chegamos ao que parecia... hm, parecia...bom, não se parecia com nada que conhecesse.

Nunca vira nada igual em toda a minha longa vida de 7 anos. Lupa e os outros lobos me deixaram na frente do que diziam ser um acampamento para gregos. Bom, até onde eu sabia, eu era americana, mas não quis discutir com uma loba de dentes afiados.

Entrei no tal acampamento e me espantei, era lindo.

Parecia que o tempo chuvoso de fora, não o afetava. Não hesitei em entrar, parecia realmente seguro. Então vi o que parecia ser um homem montado em um cavalo branco... minha visão ficou turva, eu me vi caindo de joelhos, a cena foi escurecendo.

Então eu acordei do meu sonho. Minha cabeça doía, mas eu já tinha me acostumado com isso. Levantei-me, e vi Jeff, meu companheiro de chalé. -Bom dia dorminhoca. Se eu não te conhecesse diria que é filha de Hipnos! -Jeff riu. Ele sempre estava de bom humor.- Mais um pesadelo, certo? - Como sabe? -respondi mais ríspida do que pretendia. -Quando você tem pesadelos o chão treme, como um mini terremoto. -Desculpe Jeff... sei que devo ter te acordado... -Me acordado? -zombou ele - Você perdeu o almoço, Bela Adormecida! São duas da tarde! -O QUE?! Não acredito que perdi o almoço! -Mas o seu irmão preferido guardou comida pra você! - Ele abriu um largo sorriso. -Ah, agradeça Halt por mim! - Disse brincando. -Ha,ha. Muito engraçada. Fui eu que guardei comida pra você! -respondeu ele um tanto emburrado - Eu sei Jeff, obrigada. Mas... Onde está a comida? -Eu comi. - Ele respondeu simplesmente. Praguejei em grego antigo para que ele não pudesse entender, Jeff nunca foi bom nisso. -Se eu não te conhecesse, diria que você é filho de Hermes -retruquei. -Hey, eu só roubei aquele bolinho uma vez! -ele protestou indignado - e aquela blusa... E a canoa, e... Ah não importa, não sou filho de Hermes! Saí do chalé 3, e fui até o lago de canoagem. Como sempre, meus pensamentos ficaram mais claros perto da água, eu respirei fundo e repeti para mim mesma: Sou Jade, filha de Poseidon. Tenho 13 anos, e moro no Acampamento Meio-Sangue.

Por enquanto, estou viva.