Últimos dias

                Aqueles definitivamente estavam sendo os melhores dias da minha vida. Faz 13 dias que estamos em Porto-Vecchio. Nesse tempo eu tornei-me uma grande amiga dos meus irmãos. Rose e Scorpius ainda não disseram aos nossos pais que estão juntos, mas me prometeram que vão fazer isso assim que eles se acertarem.

                Agora nós estamos na praia que fica em frente à casa. Eu estou deitada na areia aproveitando o sol enquanto escrevo. Jean está ao meu lado. Ele nunca sai de perto de mim, e eu o entendo. Rose, Scorpius e Hugo estão fazendo bagunça no mar, e meus pais saíram para fazer uma caminhada.

                O dia que chegamos foi divertido. Eu e Rose falamos que ficaríamos em um quarto e que Hugo e Scorpius e Jean no outro. Nossos pais concordaram, mas quando viram a casa e perceberam que teriam que dividir o outro quarto começaram a brigar. Eu com minha cara de anjinho disse: “Vocês vão mesmo brigar? Qual é o problema de ficarem no mesmo quarto? Tenho certeza que vocês já fizeram muito mais do que apenas dormir na mesma cama. E se vocês se odeiam tanto, não vai ter problema.” Eles acabaram concordando, afinal não tinha nada que podia ser feito.

                Com o passar dos dias as pequenas brigas que os dois tinham o tempo todo por motivo nenhum foram diminuindo, e agora eles convivem normalmente. Eu não contei a ninguém, mas sei por que as brigas pararam. Uma noite eu acordei de madrugada morrendo de sede e fui à cozinha. Quando estava voltando para o quarto, ouvi os dois conversando. Eu juro que não queria ficar espionando, mas não pude continuar a andar quando ouvi meu pai dizendo “Eu nunca deixei de te amar.” Em seguida ele a beijou. Eu fiquei tão feliz que queria gritar, mas não podia atrapalhar o momento deles, então apenas voltei ao meu quarto em silêncio e dormi novamente. Na manha seguinte eles já não brigavam mais, mas também não deixavam transparecer que tinham reatado.

                Draco segurava a mão de Hermione enquanto eles andavam pela praia. Ele não havia se arrependido por ter admitido que a amava, dois dias atrás, mas sabia que ela nunca o perdoaria completamente por ter sugerido que ela abortasse. 17 anos se passaram, e ele se culpava todo dia por ter sugerido isso, ele sabia que estava errado e nunca quis que ela aceitasse, mas talvez ela quisesse isso. Eles eram novos ainda e estavam nervosos. Ambos disseram coisas que hoje se arrependem.

                Hermione estava em cima do muro. Ela não sabia se perdoava Draco. Apesar de ele ter explicado que nunca quis que ela realmente abordasse, ela ainda tinha suas duvidas. Ela apenas não podia negar que mentiu a si mesma por 17 anos dizendo que havia se esquecido dele. O beijo que trocaram há dois dias apenas serviu para provar isso.

                Era um sentimento recíproco. No instante em que seus lábios se encontraram tudo que eles sentiam um pelo outro há anos atrás voltou como uma bomba prestes a explodir. O turbilhão de emoções que os atingiu naquele instante fez com que fosse impossível para eles parar com apenas um beijo. O beijo evoluiu para algo mais físico, as mãos passeavam pelo corpo do outro matando a saudade daquele contato. Eles não pensavam, apenas agiam. Os dois corpos entraram em uma dança, entrelaçando-se como se fossem apenas um, e depois de tanto tempo sonhando com este momento, eles se amaram mais uma vez.

                Hermione sentou em uma das muitas grandes pedras espalhadas pela praia. Draco sentou-se ao seu lado e ela encostou a cabeça em seu ombro. Eles haviam cansado de negar que não se amavam, cansado de negar que precisavam de contato com o outro.

                - Eu quero estar ao seu lado – disse Hermione respondendo a pergunta que ele fez um tempo atrás. – Eu quero esquecer o que aconteceu há 17 anos e começar novamente.

                Ele sorriu. Essas eram as palavras que ele mais queria ouvir desde que pediu que ela o desculpasse e voltasse para ele.

                - Mas – ela continuou fazendo com que ele ficasse sério. Depois desses ‘mas’ sempre vinha algo ruim. – eu não sei se posso fazer isso. Fez apenas duas semanas que eu me separei de Ron, e apesar de nunca o ter amado como homem, Rose e Hugo também são seus filhos. Não sei como eles reagiriam se eu começasse outro relacionamento em tão pouco tempo.

                - Por favor, Mione. Uma única vez na vida não pense em seus filhos. Eu também estou preocupado com o que Scorpius vai pensar, mas o mais importante do que o que ele vai achar, é estar ao seu lado. Não vamos nos esconder, isso não deu certo da primeira vez e não dará certo agora. E Mia com certeza iria amar saber que nós estamos bem e juntos.

                - Você tem razão. – ela responde antes de beija-lo.

                Eu já não podia conter minha felicidade. Eles estavam juntos! Eu sabia que fazê-los conviver faria com que eles abrissem os olhos para o amor. Era o décimo sexto dia da nossa viagem quando Draco e Hermione chamaram a nós cinco para uma conversa séria. Eles estavam parecendo dois adolescentes que acabaram de aprontar de tão nervosos que estavam. Os dois finalmente admitiram que se amam e que tentariam começar novamente. Todos nós ficamos felizes, o plano havia dado certo. Agora eu poderia morrer em paz.

                Falando em morrer, a cada dia que passa eu me sinto mais fraca. Às vezes eu me esqueço de algumas coisas ou não consigo fazer algo que antes era básico, como pentear o cabelo. Jean está me ajudando, mas eu implorei para ele não contar a ninguém. Eu sei que se meus pais ficarem sabendo eles vão querer voltar para Londres, e eu quero aproveitar meus últimos momentos em paz. Sei que uma hora eles vão perceber meu estado, mas enquanto puder esconder, eles não saberão de nada.

                28 dias se passaram desde que os sete chegaram a Porto-Vecchio. Todos aproveitavam ao máximo os últimos três dias que teriam naquele pedacinho do paraíso.

                O sol já havia se posto, mas eles continuavam na praia. Draco acendeu uma fogueira e estavam sentados todos em volta desta. Eles conversavam tranquilamente enquanto marshmallows esquentavam no fogo. Horas mais tarde decidiram voltar para casa, por causa do frio. Mia estava mais a frente conversando com Jean, o que tornou possível para que todos os outros virem o exato momento em que a garota caiu, apenas não chegando a areia por Jean que a segurou. Draco correu até a filha encontrando-a com lagrimas nos olhos.

                - O que aconteceu princesa?

                Ela apenas balançou a cabeça negativamente e pediu ao namorado que a levasse para a casa. Draco os seguiu de perto, e Hermione vinha mais atrás acompanhada por Rose, Hugo e Scorpius. Já na casa, Jean coloca Mia no sofá. O rosto dela está marcado pelas lágrimas, nem tanto lágrimas de dor, mas sim por saber o que aquilo significava.

                - Mia querida, o que aconteceu? O que você está sentindo? – perguntou Hermione preocupada.

                - Eu não consigo mexer as pernas. – Mia disse tão baixo que todos tiveram dificuldade para ouvir.

                Hermione começou a chorar com a filha. O tumor devia ter chego à parte do cérebro que controla os movimentos, agora era questão de tempo até a jovem perder o controle de todos os movimentos, não só os da perna.

                - Eu pensei que fosse começar devagar – disse Hugo chamando a atenção de todos e fazendo com que Mia chorasse ainda mais. Vendo o desespero da namorada, Jean explicou:

                - Faz uns dias que Mia começou a piorar. Ela me fez prometer que não falaria a vocês, ela queria aproveitar essas férias ao máximo.

If today was your last day/ Se hoje fosse seu último dia

And tomorrow was too late/ E amanhã fosse tarde demais

Could you say goodbye to yesterday?/ Você poderia dizer adeus para o ontem?

Would you live each moment like your last?/ Você viveria cada momento como se fosse o seu último?

Leave old pictures in the past?/ Deixaria velhas fotos no passado?

Donate every dime you had?/ Doaria cada centavo que você tivesse?

Would you call those friends you've never seen?/ Ligaria pra todos aqueles amigos que você nunca vê?

Reminisce old memories?/ Lembrar-se-ia de velhas memórias?

Would you forgive your enemies?/ Perdoaria seus inimigos?

Would you find that one your dreaming of?/ Você encontraria aquele com que você está sonhando?

Swear up and down to God above/ Jurando de pés juntos ao Deus lá de cima

That you'll finally fall in love?/ Que você vai finalmente se apaixonar?

If today was your last day/ Se hoje fosse seu último dia

                A pior coisa era ver que eles estavam sofrendo por mim. Era exatamente por isso que eu impedi que meus avós contassem aos meus pais da primeira vez que eu fiz a cirurgia. Ver seus olhos vermelhos e escorrendo lágrimas por minha causa era a pior sensação que eu podia ter.

                Quando eu perdi o controle sobre minhas pernas, a viagem acabou. Imediatamente nós voltamos para Londres e mais uma vez eu fui internada no St. Mungus, e agora só sairia daqui para ser enterrada.

                Eu tinha que tomar remédios para não sentir dor o tempo todo. Era como se estivessem queimando meu cérebro. Eu começava a gritar, não conseguia me controlar, e só parava quando o médico me fazia beber a poção do sono sem sonhos.

                Mais um mês se passou enquanto eu estava internada. Meus irmãos voltaram para Hogwarts depois de eu insistir muito. Meus pais e Jean ficavam ao meu lado sempre, e eu passei há aproveitar o pouco tempo que ficava sozinha para escrever. Há dois dias eu não consigo mais mexer os braços e mãos, por isso estou usando uma pena de repetição rápida. Não é tão confortável como segurar a pena, molha-la no tinteiro e desenhar as letras, mas é o que restou.

                Essa doença trouxe ao menos uma coisa boa: a união dos meus pais. Foi apenas por causa da minha doença que eles voltaram a conviver, espero que a partir de agora eles não se esqueçam da importância do amor.