Draco Dormiens Nunquam Titillandus escrita por caiofernandos


Capítulo 4
Capítulo 3




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            A primeira coisa que vi quando abri os olhos foram dois guardas me segurando, um de cada lado. Na verdade, apenas um relance, pois desmaiei de novo. Depois, outra cena: minhas mãos sendo amarradas. Outro desmaio.

            Outros relances se seguiram: pessoas, acho que eram pessoas, muitas delas, juntas, uma multidão. Eu andava no meio delas, ou melhor me arrastavam. Não sentia meus pés. As mãos estavam atrás do corpo, e continuavam amarradas.

            Os meus olhos se abriram totalmente. Claramente vi a multidão ao meu redor. Pareciam zangadas. Irritadas. Vi um objeto vermelho do tamanho da palma de uma mão voar em minha direção. No próximo segundo, minha face foi atingida pelo tomate, que explodiu no meu rosto.

Caí para trás com o impacto. Estava fraco, muito fraco. Agora também ouvia gritos: xingamentos, palavrões, insultos. Discernia apenas algumas palavras: Bruxo. Adorador do Diabo. Escória da terra.

Eles me odiavam, claramente, sem distinção: homens, mulheres, crianças, velhos. Perguntei-me como havia parado ali. Pouco a pouco, a memória me retornava. Os rebeldes, uma catedral, explosões, Rowena. Malcolm II. Ele era a causa de tudo.

            Mas o mais intrigante era ver o como o povo era manipulado facilmente. Éramos bruxos, sim, éramos rebeldes, mas assim éramos para libertá-los da tirania. Da opressão. E mesmo assim, eles nos odiavam. Porque éramos bruxos: apenas porque éramos diferentes. Descobri que o ser humano tem medo do diferente, medo de isso ser nocivo a ele.

            E os outros? Será que estavam vivos? Provavelmente teriam fugido, senão estariam aqui, juntos comigo, prontos para sofrer humilhações do povo e quem sabe mais? Eu saberia eu torno de algumas horas.

            Finalmente, cheguei a uma área elevada. Enquanto subia os degraus, vi aonde estavam me levando. Um grande pedaço de madeira se encontrava na vertical, maior que um homem. Ao seu redor, palha seca em grande quantidade. Pedaços de madeira velha também se encontravam juntos.

            Quando vi o homem com um capuz negro ao lado segurando uma tocha, tive certeza de como seria meu fim: uma fogueira.

            Mas é claro. É assim que os bruxos são eliminados. Devem ser queimados. As cinzas enterradas. É engraçado pensar que um bruxo é tão mortal quanto um trouxa. Mas eles não sabiam disso.

            Amarraram agora o meu corpo no pedaço de madeira, primeiro, as mãos, depois, os pés. Não ofereci resistência, de tão fraco que estava. Olhei para o céu. Estava lindo, as nuvens daquelas com formato de algodão e o sol brilhando intensamente. Foi então que vi uma águia que deu rasante pelo céu.

            - Povo de Glascow. – uma voz se fez maior no ambiente. – Peço-lhes silêncio. – a multidão se calou. Lentamente, virei minha cabeça a ponto de ver uma figura com uma batina, incrivelmente decorada, objetos de ouro entalhados e segurando em uma mão, um cetro em formato de cruz e na outra um pergaminho. Olhando para o pergaminho, continuou:

            - Todos vocês testemunharam e viram com os próprios olhos como esse bruxo – ele cuspiu a palavra – e seus comparsas colocaram o Templo de Deus ao chão. Eles destruíram a catedral e por isso merecem nada além da morte. – a multidão estava impossível, os guardas quase não conseguiam controlá-la. – Em nome do Altíssimo, eu declaro esse homem culpado por destruir a criação divina. – Ele se aproximou de mim e me desferiu um tapa no rosto, quase me fazendo desmaiar novamente. – Quais suas últimas palavras, bruxo?

            Fazendo grande esforço, respondi:

            - Vai pro inferno! – e cuspi na face do cardeal. Ele me deu outro tapa.

            - Queimem-no! – ordenou, limpando o cuspe do meu rosto.

            O homem com capuz preto se aproximou com a tocha. Eu olhei uma última vez para o céu. A águia continuava ali, voando. Ela pareceu que olhou para mim. Era um olhar de compaixão, de harmonia. E então ela saltou e voou em minha direção. O meu assassino estava pronto para acender o fogo.

O tempo parou. Na verdade, ficou mais lento. A águia mudou de curso e virou para o executor. Rapidamente, agora ela pegou a tocha com as garras e jogou-a em cima do cardeal, que conseguiu se desviar a tempo. O chão começou a pegar fogo, que se espalhava rapidamente.

O cardeal começou a fugir dali, e o meu executor comandou alguns homens para extinguir o fogo. Mas ele se espalhava cada vez mais rápido. A multidão então se desesperou e começou a correr para todos os lados, contribuindo para a confusão.

Em pouco tempo, eu fui esquecido. A águia voltou. Bicou as cordas nas mãos e depois nos meus pés. Quando estava livre, quase caí, mas fui segurado antes.

Quando levantei meus olhos, Rowena Ravenclaw me segurava e me carregava para fora dali. Minha mente estava muito cansada para processar tudo aquilo, então nem me incomodei em tentar entender.

- Os outros estão no Quartel, que é perto daqui. Lembra-se da profecia: “O troféu no salão das tropas reais.” O salão das tropas é do lado da catedral. Salazar associou a profecia rapidamente e levou os outros para lá.

Ela me explicou no meio do caminho, mas ainda estava semiconsciente, então só captei algumas palavras. O caminho foi rápido, já que todos estavam fugindo do fogo.

Seguimos até um edifício grande, com um portão de madeira aberto, que levava a uma sala larga com várias armas e estátuas. Nessa sala, estavam os outros rebeldes, os que ainda lutavam.

Helga foi a primeira a nos ver. Ela correu para me ajudar e colocou meu braço sobre seu ombro.

- Rowena, ainda bem que você conseguiu salvá-lo. – ela estava aliviada.

- Sim, mas agora temos que encontrar o objeto.

Godric estava pronto para lutar:

- Esse Quartel é o maior presídio da Escócia. Se há rebeldes presos, eles estão aqui. Vamos nos dividir: Rowena e Helga vão atrás do troféu junto de Salazar. Henry, você fica aqui.

- Não... eu vou com você – com grande esforço, consegui falar. Não ia deixar ele ir sozinho, fazer todos se preocuparam comigo além do troféu e dos rebeldes que precisavam ser salvos.

- Tem certeza? Eu acho melh...

- Não, eu vou com você. – Me soltei de Rowena e Helga e fui perto dele.

- Muito bem. Vamos ter que sair pelos fundos. Logo, o exército vai chegar aqui, temos que ser rápido. Nos encontramos no acampamento aqui perto em uma hora. Vamos, Henry.

Tive que fazer muito esforço para acompanhá-lo, mas acabei conseguindo. Seguimos por um corredor estreito, para um nível abaixo, onde provavelmente ficavam os presos.

O lugar fedia a mofo e sujeira. Parecia que não era visitado há anos. Cinco guardas jogavam pôquer em uma mesa. Fomos devagar (o que para mim foi ótimo). Ficamos escondidos em um canto da sala.

            - Henry, vá até os guardas e os distraia. – Godric ordenou.

            Sem nem perguntar, fiz o que foi mandado. Manquei até eles.

            - O que você está fazendo aqui? – perguntou um deles, se levantando e pegando a lança.

            - O Quartel... – fingi não conseguir respirar. – foi atacado. Ingleses... estão por toda parte...

            Por um momento, fiquei com medo de que não acreditassem, mas vendo meu estado e minhas roupas, logo se levantaram e partiram para cima, passando por Godric sem o notar.

            Este então saiu do esconderijo e juntos passamos pelo corredor. Vários rebeldes estavam quase mortos. Parecia que não comiam, nem que respiravam, também aquilo parecia ser difícil naquele lugar. Mas realmente vimos que muitos estavam mortos.

            - Tem alguém vivo aqui? – Godric gritou.

            Uma voz doce de mulher se sobressaiu no silêncio. Em sua cela, havia três corpos inertes, de mais ou menos dois dias. Ela era magra, tinha longos cabelos negros e um olhar angelical, apesar de estar acabada.

            Com sua varinha, Godric abriu a cela e a tomou nos braços.

            - Há mais um homem aqui. Na outra cela.  – ela disse.

            Godric a deixou comigo e foi até ele. Ele estava inconsciente, mas ainda respirava. Apenas usava uma roupa por baixo e tinha o peito machucado exposto. Ele também o libertou.

            - É melhor irmos – falou.

            Mas quando estávamos prontos para sair dali, fomos interceptados por cinco vultos bloqueando a saída. Nos viramos para voltar, e outros cinco estavam lá. Os guardas não haviam cercado.

            Eles avançaram, em formação, os escudos levantados, de forma que os feitiços de Godric não faziam efeito. Eles estavam cada vez mais perto. Nunca me senti tão inútil na minha vida. Não consegui nem mandar um feitiço sequer, de tão fraco que estava.

            Estávamos perdidos. Nossa equipe era um tanto peculiar: um homem machucado, outro inconsciente, uma mulher ferida e apenas um em boa forma cujos feitiços não eram eficazes.

            Dei um passo para trás, mas ao o fazer, tropecei e cai no chão. Minha visão ficou turva, vi relances de feitiços. Naquele momento, vi minha vida passar como um flash na minha frente. Mas então as cenas ficaram estranhas: um clarão imenso, guardas caindo, uma taça e uma mulher brilhante.


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