Na manhã após as lutas que assistiu, Kuwabara precisava de dinheiro para a passagem de volta, então pegou umas garrafas de plástico vazias que encontrou e ficou fazendo malabarismo na porta da estação do metrô. O show foi mais engraçado do que técnico, com ele deixando as garrafas caírem várias vezes. Como sua apresentação rendeu muitas risadas às pessoas que passavam, antes do meio dia ele já tinha o suficiente para voltar pra casa. Chegou de volta no início da tarde, e Mayumi não estava lá, então resolveu ir pro quarto dormir, já que tinha passado a noite anterior em claro.
Logo ao anoitecer, Kuwarbara acordou com um sutil grito da Mayumi:
_ACORDA DORMINHOCO!
_AH...não me assusta garota! Tava dormindo porque passei a noite buscando informações sobre o estilo Ching Ling _ disse Kuwabara.
_Conseguiu alguma coisa? Porque eu procurei vários portos e só encontrei um Chung vindo da China, mas o sobrenome era outro_disse Mayumi.
_Estive em um torneio de artes marciais e um dos participantes era um discípulo do mestre Chung. Falei com ele e ele me disse pra encontrá-lo depois de amanhã pra falarmos sobre o crânio de Baphomet _ falou Kuwabara.
_Que boa noitícia! Se eu tivesse um corpo te dava um abraço agora _disse Mayumi empolgada.
_Não precisa. Fico feliz em ajudar uma amiga _ respondeu Kuwabara.
Os dias se passaram. Kuwabara aproveitou para descansar e também se inscreveu para a escola que ia estudar quando acabassem as férias, o Instituto Tecnológico de Tókio, uma instituição de excelência e muito concorrida. Ele queria resolver logo o problema da Mayumi, antes das aulas começarem, mas é lógico que sentiria falta quando ela fosse embora.
Chegou o dia de encontrar Akira. Kuwabara e Mayumi partiram para a montanha Kyo ainda de madrugada. Caminharam por meia hora até chegar, mas a subida seria bem mais longa do que isso. Subiram por trilhas estreitas durante três horas, até que chegaram ao topo, onde avistaram um pequeno templo de arquitetura chinesa, que com certeza era o local que procuravam. Kuwabara gritou:
_Senhor Akira, sou eu, o cara que combinou de falar contigo no torneio!
Um rapaz baixo de cabelos raspados apareceu na porta, olhou pra ele e logo entrou novamente no templo. Logo depois, o velho Akira saiu de lá, vestindo um traje tradicional chinê preto, e veio cumprimentá-lo:
_Olá meu rapaz, vejo que tem mesmo interesse naquela história. Mas qual é o seu nome e o que exatamente deseja? _ disse ele com uma expressão serena no rosto.
_Eu sou Kazuma Kuwabara. Soube através de um livro antigo que a caveira de um youkai morto chamado Baphomet pode ser usada para várias coisas, inclusive mandar um espírito errante para o outro mundo sem precisar passar pelo mundo espiritual. Li também que essa caveira está sob os cuidados de lutadores do templo Ching Ling, e que você é discípulo daquele que trouxe esse estilo pro Japão_ disse Kuwabara.
_Está certo. Mas o que exatamente você quer de mim? _ perguntou Akira.
_Tenho uma amiga que na verdade é um espírito que não seguiu seu caminho, e preciso da caveira pra mandá-la pro céu. Gostaria que o senhor me dissesse onde está o crânio e como usá-lo, e prometo que depois eu devolvo pro lugar dele _ disse Kuwabara.
_Entendo...mas essa informação terá um preço_ disse Akira.
_Eu o entendo senhor, mas saiba que eu sou só um estudante e não tenho muito dinheiro _ falou Kuwabara.
_E quem disse que to falando de dinheiro? Essa garota aí do seu lado é bem gostosinha, pena que ela não tem um corpo..._ele falou, olhando para Mayumi com um olhar de tarado.
_Ai ai, nem depois de morta eu fico livre desses velhos tarados..._disse Mayumi desanimada.
_Mas fala logo, o que o senhor quer? _ perguntou Kuwabara.
_Eu gosto muito de desafios. Farei um pra você, se ganhar, te dou todas as informações de que precisa.
_Ah é isso? Pode mandar, vai ser outra charada como aquela? _perguntou Kuwabara muito empolgado.
_Dessa vez não. O desafio será uma luta, primeiro contra meus dois discípulos, e no fim, contra mim. Se vencer todos, eu te dou as informações que você precisa _ respondeu Akira.
_Que bom, faz tempo que não tenho uma boa luta. Começamos na hora que quiser.
Após essa conversa, Akira gritou pra dentro do templo:
_Sukyaki, Makimono, venham até aqui!
Dois garotos com mais ou menos quinze anos, ambos com a cabeça raspada e usando trajes tradicionais chineses cor de laranja saíram do templo e foram até o seu mestre. Akira ordenou:
_Vocês irão lutar contra esse sujeito. É apenas um desafio, mas vocês devem dar o melhor de si para vencê-lo. Se algum de vocês vencer, posso até pensar em alimentá-los hoje.
_Sim mestre _ responderam juntos.
_Muito bem. A primeira luta será Kuwabara versus Sukyaki. Sem limite de tempo, sem ringue, arena ou tatame. O primeiro a ficar incosciente, morto ou declarar a própria derrota perde _ preparem-se e lutem!
Kuwabara e Sukyaki ficaram de frente um pro outro. Kuwabara o saudou à moda japonesa, enquanto Sukyaki fez a saudação chinesa, com a palma esquerda por cima de seu punho direito fechado. Ficaram em guarda e começaram a luta.
Sukyaki ficou em base firme, com sua mão direita voltada para frente e seus dedos abertos como se formassem uma garra. Sua mão esquerda estava junto à sua cintura com seus cinto dedos com suas pontas unidas. Kuwabara não sabia o que significava aquilo, mas poderia estar escondendo alguma técnica muito poderosa. kuwabara decidiu não atacar, preferiu ficar observando seu adversário, e também poupando sua energia para esse e os próximos combates.
Em seguida Sukyaki atacou. Golpeu com sua mão direita como se quisesse rasgar o Kuwabara, que se esquivou de seus golpes. Ele atacou mais algumas vezes, Kuwabara conseguia evitar os ataques de seu oponente, que embora fosse rápido, tinha movimentos um tanto repetitivos: atacava sempre com a mão direita, com movimentos de fora para dentro, tentado arranhá-lo.
O combate parou por uns instantes. Sukyaki estava ofegante, e um olhava nos olhos do outro. Kuwabara pensou :“Não vejo uma grande energia espiritual nele. Vou deixar ele me atacar até cansar, depois eu contra ataco e defino a luta com um golpe só”.
Logo o Sukyaki voltou a atacá-lo, da mesma forma de antes. Mas enquanto Kuwabara desviava de seus golpes, Sukyaki o atacou com a mão esquesda, com um golpe que parecia um beliscão com os cinco dedos juntos. Mas apesar da aparente fraqueza desse ataque, Kuwabara foi tomado por uma dor muito aguda.
_Ah seu desgraçado...isso doeu. _ reclamou Kuwabara.
_Ha ha ha. Pensou que seria fácil? Você vai sentir a força do meu estilo tigre-garça _ falou Kusyaki.
Agora fazia sentido para Kuwabara. O punho direito era a garra de um tigre, e o esquerdo o bico de uma garça. Ele já conhecia esses estilos separadamente, mas não sabia que era possível combiná-los. Resolveu sacar sua espada espiritual:
_LEIKEN!
Assim ficaram os dois se encarando, Sukyaki com seus punhos nas posições do tigre e da garça e Kuwabara com sua leiken armada.
_Agora você mostrou seu real poder. Irei mostrar o meu também. HUNGRY TIGER!
Após issso, a garra do Sukyaki brilhou, e ele atacou Kuwabara com bastante ferocidade, chegando a rosnar como um tigre. Kuwabara conseguiu desviar do golpe com alguma dificuldade, e após passar perto de Kuwabara, a garra atingiu o chão, formando um buraco.
_Não quer desistir? Se meu golpe fez isso no chão, imagina o que irá fazer em seu corpo? _disse Sukiaki, irônico.
_ Que nada, já enfrentei inimigos muito mais fortes, mas confesso que gostei de você, não teria graça derrotar alguém que fosse tão fraco. Vamos lutar de verdade agora.
Após dizer isso, Kuwabara atacou com sua espada. Tentou golpear o oponente com movimentos de corte três vezes, e em todas elas ele desviou. Na quarta tentativa, Kuwabara recebeu um novo “beliscão”, na verdade, o ataque da garça. Ele recuou, tentando disfarçar a dor. Sukyaki continua:
_Ha ha ha...agora você está morto, esta espadinha não será capaz de me vencer. HUNGRY TIGER!
Ele atacou com a garra do tigre novamente. Mas desta vez Kuwabara não desviou, ele atacou junto com sua Leiken. Como Sukyaki não estava esperando essa reação, não teve tempo de se esquivar: ambos foram atingidos em cheio pelo golpe do adversário, cada um sendo arremessado a alguns metros de distãncia. Todos ficaram na expectativa ao ver os dois caídos, Mayumi assistia calada, muito aflita. Quando o mestre já estava prestes a declarar empate, Kuwabara levantou um pouco atordoado, mas consegue se manter em pé. O mesrre Akira sorri e fala em voz alta:
_O vencedor é Kuwabara!
Kuwabara sorri, e Mayumi quebra o silêncio e grita, comemorando. Sukyaki consegue se levantar depois, sauda Kuwabara e também seu mestre, e senta encostado em uma árvore, ferido devido ao golpe que recebeu. Kuwabara também estava machucado, sua camisa estava rasgada e seu tórax sangrando, mas felizmente o ferimento não foi profundo.
_Preparem-se lutadores. O próximo confronto será Makimono versus Kuwabara. _ anunciou Akira.
Os dois competidores ficaram de frente e fizeram suas saudações. De começo, Makimono não ficou em nenhuma guarda específica, e sua expressão era mais serena, ao contrário do excesso de confiança do lutador anterior. Mas Kuwabara tinha certeza de que essa luta seria bem mais difícil do que a anterior, e ainda teria que ter força suficiente pra enfrentar o último desafio, a luta com o mestre.