_Foi boa a sua ideia de cada um trazer seu próprio lanche,assim eu não tenho que ficar separando alface e tomate do meu.

  _Você não gosta de alface e tomate no lanche?

  O Jack se espanta com cada coisa. Ainda mais com as coisas que a Lise costuma fazer.

  _Jack, a Lise é fresca!

  _ Só porquê eu não gosto de alface e tomate no meu lanche não significa que eu seja uma fresca!

   Ela sempre fica brava quando eu falo essas coisas, mas não posso evitar é a verdade.

  _Mas não é só por isso que você é fresca.

  _Então por quê mais?

 _Não toma leite quente; suco? Só se for sem bagaço; não lambe nada que já tenha sido lambido antes; não repete roupa nunca...

  _Chega!Eu já entendi.

  Tá que eu também não fico lambendo as coisas que já foram lambidas, mas fora isso ela é fresca!

  _Vocês duas são sempre assim?

  _Assim como?

  Acho que o coro deixou ele assustado.Parecia ensaiado, mas se fosse não teria sido perfeito, já que a Lise ia errar; mas foi super sincronizado, desde o movimento de cabeça até o tom de voz.

  _Tão...estranhas.

  _Estranho é você,só por que ela é fresca não significa que ela seja estranha também.

  Meu, eu tava gritando com o Jack! Por que eu tava gritando com ele?

  _É que vocês ficam brigando à toa e logo em seguida fazem as pazes.

  Como se eu nunca tivesse brigado com ele.

  _Isso é que é ser amigo.Nós dizemos os defeitos do outro na cara...

  _...E o amamos a pesar deles.

  Ele ficou pensativo, como se isso fosse a coisa mais absurda do mundo.

  _E a gente também briga à toa,Jack.

  _Verdade.

  _Ou seja, somos todos amigos normais.

  Ela tinha que encerrar a conversa com “normais”? Por que essa palavra me soava tão errada? Será que é por que meu amigo lê mentes?Não, imagina.

  Depois do piquenique eu decidi que era hora do ultimo teste, mas para isso eu teria de contar tudo o que já sabia para a Lise.O que ia demorar, por causa das inúmeras perguntas que ela faria.

  Lógico que ela não acreditou,e era exatamente isso que eu queria; pois o teste do Jack seria convencê–la, se ele fizesse isso com certeza seria um leitor de mentes.Afinal, uma pessoa mais cética que a Lise não existe; ela estragou a festa de 5 anos da priminha dela, quando decidiu que o mágico não era tão bom assim e resolveu descobrir o truque.O pobre mágico quase morreu de vergonha, ela desvendou tudo, e pior, na frente de todas as crianças. A priminha dela até chorou, tadinha.

  Nós tentamos o truque dos números,mas ela não se impressionou, então tivemos que bolar algo maior.

  Jack ficaria de costas para Lise e eu de frente para ela.Eu faria perguntas e ela não poderia responder, somente pensar; aí entraria o Jack para me dizer exatamente o que ela estava pensando.

  A cada tentativa Lise ficava mais assustada, então resolvi dar a carta final.

  _Lise, o que você acha do Jack?

  _O quê!?!

  _Só pense.

  Jack começou a rir.Eu detesto isso! Ele dá risada, mas não me conta antes!

  _O que é Jack?

  _Antes a Lise me odiava, ela achava que eu iria roubar você dela...

  _Disso eu já sabia.

  _Mas não sabia que quando ela me viu achou que eu era seu...

  _Chega! Eu acredito!

  Meu Deus, que desespero. Agora eu quero saber o que ela achou.

  _Era o quê?

  _Deixa que quando ela se sentir segura ela conta. Aliás ela gosta de mim agora.Vamos ser bons amigos.

  Nossa, defendendo a Lise! Que progresso!

  _Virou vidente também?

  _Não; é que ela acha isso e eu também acho.

  Que fofo! Agora meus dois amigos são amigos um do outro também.

10- Lise.