Meu Amor Imortal 2 - O Legado escrita por LILIAN oLIVEIRA


Capítulo 27
Capítulo 27 - BRUTOS TAMBÉM SO AMÃ


Notas iniciais do capítulo

A dor é inevitável
O sofrimento é opcional
Carlos Drummond de Andrade



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(CASA DOS BLACK – LA PUSH)

– Edmond!

Sarah tentou mais uma vez. Bateu na porta do quarto, mas ele não veio atende-la. Ela abriu, sem esperar mais. Ela podia sentir que tinha algo errado com seu irmão. Sentia em sua pele. Nas batidas irregulares e oprimidas do seu próprio coração.

– Edmond!

Chamou de novo, entrando no quarto.

Ele não respondia . Estava quieto, no canto do quarto, agachado, com a cabeça escondida entre os joelhos e os braços cruzados sobre a cabeça.

Sarah se aproximou lentamente, se agachando ao seu lado.

– Edmond, fale comigo, meu irmão.

Sarah pediu de forma suplicante, mas tentou ser o mais doce possível com ele.

Ele não se movia. Sarah percebeu sua total falta de respiração.

– Está com sede, Ed?

Edmond levantou a cabeça, finalmente a encarando. Sarah comprovou que era isso, ao ver seus olhos escurecidos.

Ela afagou o cabelo do irmão.

– Quer caçar? Podemos ir só eu e você. O que acha?

– Ela vai embora, Sarah.

Não era uma pergunta. Sarah ficou confusa por instantes, mas logo percebeu de quem ele falava . “A bruxa de New York” Pensou.

– Seth vai leva-la para o aeroporto agora, Ed. Mas por quê?

Edmond não respondeu. Apenas desviou dos olhos de Sarah.

– Edmond, o que está acontecendo com você?

– É melhor assim... Ela tem que partir. Tem que ir embora e nunca mais voltar aqui!

Sarah concordava absolutamente com isso. Mas não disse nada. A expressão de dor, que estava vendo no rosto de Ed, e a angustia que estava sentindo em seu próprio coração, era um sinal bem claro, que mesmo falando isso, não era totalmente verdade para ele.

– Você gosta dela tanto assim, Ed?

Edmond não queria falar sobre aquilo. Ele não queria mais ficar pensando em Milley. O cheiro dela ainda estava lá, atiçando sua sede.

– Quero que ela vá embora!

Edmond disse de forma ríspida. A forma como Edmond disse isso, fez Sarah não falar mais nada. Sabia que não era seu irmão falando, e sim sua sede de vampiro.

– Tá bem... Mas vamos caçar. Seus olhos estão de meter medo, Edmond.

Sarah já levantava, puxando ele pela mão, mas Edmond a deteve.

– Espere eles saírem, e vamos Sah.

Sarah concordou, se sentando de novo ao seu lado. Ambos ficaram ali quietos de mãos dadas, até ouvirem o barulho da porta da garagem se abrir e a Ranger de seu pai ser ligada. O barulho de rodas em movimento e depois mais nada...

Edmond sentiu vontade de rugir com toda a força de seu peito. Seu instinto queria segurar Milley. Impedi-la de partir. Mas os motivos desse, não querer, eram conflitantes dentro dele. Queria seu sangue. Queria seu corpo. Essa ânsia por ela poderia ser destrutiva para ambos. Não poderia suportar viver, caso a machucasse...

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(ENQUANTO ISSO, NA MANSÃO DOS CULLEN )

Bella e Edward em pé, de frente ao piano. Esme e Carisle sentados no sofá, em frente a eles. Uma Renesmee, que tinha uma expressão preocupada. Jacob alisava seu ombro, em um gesto de carinho.

– Não a conhecemos Jacob.

Edward disse, enquanto lia na mente de Jacob, todo o acontecimento com Nerida.

– Eu imaginei que não, Edward. Tome Carlisle! Ela nos entregou isso. Esse cartão. Disse ser amiga de Huilen.

Carlisle pegou o cartão que Jake o estendeu.

– Mas Huilem é a tia de Nahuel. Foi ela quem criou ele.

Carlisle falou, preocupado.

Nessie e Jacob se olharam.

– Nós sabemos, vô. Mas o que ela pode querer com o senhor?

Carlisle apenas balançou com a cabeça.

– Não temos mais como saber, Nessie. Duvido que ela volte para nos contar...

Jacob concordou.

– Melhor assim. Aquela mulher é uma mentirosa. Sarah desmascarou ela em cada uma de suas mentiras. Ela estava tentando nos enganas, para chegar a você Carlisle. Se suas intenções eram boas, por que, das mentiras?

Edward soltou um grunhido de impaciência!

– Eu deveria ter estado lá.

Bella afaga seu rosto, em um gesto de carinho.

– Não tinha como prever isso Edward. Mesmo Alice não viu. Ela é uma hibrida. Estamos cegos à suas ações. Mas pelo menos, sabemos que não foi à mando dos Volturi. Isso Alice poderia ver.

Mas Edward não parecia satisfeito com isso.

– Mas vamos ficar sem saber o que ela queria na verdade, Bella.

– Estamos de olho Edward. As rondas vão se intensificar de novo. Estamos em alerta desde o aparecimento dessa mulher.

Jacob e Edward se olharam. “Não gostei dela. Ela me pareceu mais perigosa que do que aparentava, Edward. Mas não quero que Nessie, nem as crianças fiquem assustadas com isso”

Jacob deu seu recado mental à Edward, que concordou com a cabeça.

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(Madri – Espanha)

O mar! Deva ser isso, o que os marinheiros de primeira viagem sentem. É como estar em um barco e ele não parasse de balançar. Me sentia péssimo. Tinha uma lixeira do lado da minha cama, já preparada para a próxima leva, de coisa a ser despejada nela. Pois minha barriga parecia decidida a fazer uma faxina geral, e minha cabeça parecia a merda da barriga do crocodilo do Peter Pan e seu maldito tic tac. Ouvi a porta quando foi aberta. Muito alta. Alta demais para minha cabeça, que latejava como se tivesse uma bateria de carnaval dentro dela. Era Felix. Ouvi seus passos na entrada, e ele parando bruscamente. Provavelmente, admirando o caos de tudo que estava na sala da cobertura.

–Lucian!

Ele gritou! Não grita, não.

– Aqui!!!

Levantei o braço, que afastei para fora da coberta.

– Mas fala baixo, grandão, por favor.

– Cara, o que ouve aqui?

– Dei uma festa.

– Festa, ou luta?

– Foi uma festa. Beberam demais e elas foram embora.

– Elas? Vampiras? Ainda tem cheiro de vampira aqui. Jane estava aqui também.

– Teve, mas foi embora logo que as coisas começaram a ficar divertidas. Sabe como é... Diversão e ice kid não combinam.

– E agora? Temos que ir embora ainda hoje, Lucian.

– Não vou. Vou ficar! Tenho uma missão com a pequena megera.

– Que missão? Não tô sabendo de missão nenhuma.

Levantei, mesmo com a cabeça pesando como uma bigorna. Ele não iria parar de falar. Um café! Precisava de um café e um banho gelado.

– Felix, vai fazer algo de útil e peça meu café. Vou para o banho.

– Que missão é essa?

– Não sei, nem tenho ideia. Só a pequena demônia sabe.

– Por que não fui informado?

– Pergunte a ela, Felix. E peça meu café, antes de sair.

– Não sou seu mordomo seu moleque abusado... Mas vou pedir seu café de merda..

Ele fez o que pedi, mesmo a contra gosto. Ouvi a porta batendo e ele saindo para ver Jane. Deixei a água do chuveiro me purificar, como se fosse um bálsamo, ou coisa parecida. Encostei a cabeça no mármore da parede, com o corpo de baixo do chuveiro. A imagem de Jane naquele maldito roupão invadiram minha mente. A luta ainda fervia como água quente no meu corpo. Como se eu precisasse daquilo. Da surra-la, de soca- lá .De ser socado por ela, para enfim poder vê-la , percebe-la. Sai aborrecido do chuveiro, com o ódio no coração. Com uma dor de cabeça, que eu tinha que agradecer a maldita, é claro, e seu drink mortal. Ouvia o serviço de quarto entrar pela porta, e corri para encontra-lo, vestindo o roupão. Tarde demais, o pobre homem já estava lá com seu carrinho, sem saber o que fazer. Nem mesa tinha para ele colocar a comida.

– Deixe aí, meu velho. Não se preocupe com isso. E por favor, seja discreto quanto a isso, está bem?

Eu disse, enfiando uma nota de cem dólares na sua mão enluvada, que era um misto de não sei o que fazer e sim senhor, quando viu a nota na sua mão.

– Claro, senhor. Como queira.

Disse, em um espanhol gaguejado. Desvirei uma poltrona da sala. Me sentei, puxando o carrinho até mim. Despejei logo o café. Me sentia péssimo, e se isso não me amimasse, começava a cogitar a ideia do zoológico. O que é desprezível. Já que abater animais presos, me parecia tão cruel, quanto caçar um humano pela cidade, e ainda mais à luz do dia. Já que o sol já dava o ar de sua graça. Felix entrou pela porta do quarto, com cara de poucos amigos, enquanto eu enfiava uma torrada inteira na boca.

– Desembucha logo.

Pedi, mas pouco interessado, na verdade.

Ele ficou calado por uns instantes, me olhando pelo canto dos olhos.

– Conhece o pai de Nahuel?

“Pai!” Até mesmo aquele inoculo do mal tem um, e eu não! Ele tinha ido embora tão rápido, depois da batalha dos recém-criados, que eu fiquei na esperança dele ter sido morto. Mas não tinha acontecido essa maravilha. Ele partira rápido demais, rumo a Volterra.

–Por que está me perguntando do pai de Nahuel, Felix?

– Ele sumiu. Aro está louco atrás dele. Acha que está fugindo de nós de novo.

– Pensei que ele fosse um aliado.

– Ele é escorregadio como uma arraia. Aqueles recém-criados foram obra dele e de suas experiências bizarras.

Parei de mastigar na hora.

– Os reis estão apoiando isso? Experiências com humanos? Transformando eles a esmo?

Felix não respondeu, e eu não soube dizer se era por que ele não tinha uma resposta, ou se ele realmente não sabia.

– Eu não sei Lucian. Só sei que você e Jane, agora vão ter que revirar essa cidade à procura dele.

– Para mata-lo, é claro.

– Não! De jeito nenhum as ordens de Aro são bem claras. Devem leva-lo para Volterra, ileso.

– Mas que merda, Felix! Ele fez essa merda toda e ainda vamos ficar com ele no castelo?

Isso estava me deixando furioso, e só fez piorar a minha dor de cabeça e a sede, que já estava ardendo na minha garganta. Nunca tinha ficado daquele jeito. Tinha algo errado comigo.

Não entendia toda aquela política de Aro. Seria muito simples. Aquele verme tinha que morrer, por ter criado tantos vampiros novos e loucos por sangue. Felix pareceu perceber a minha contrariedade a tudo aquilo. Bateu nos meus ombros, tentando me acalmar.

– Calma garoto, não sabemos o que Aro quer com Joham. Ele está fugindo de nós, de novo. Deve saber que o que fez. Não estava nos planos dos reis... Aro pode querer que ele seja julgado pelos seus crimes em Volterra. Não sabemos o que se passa nas cabeças dos reis.

As palavras de Felix não me agradavam em nada, e não serviram para abrandar minha raiva. Mas faziam pelo menos algum sentido. Um julgamento era algo justo. Algo que os reis costumavam fazer. Mais parecia um show com público, mas funcionava de forma a mostrar aos outros, que as regras deviam ser respeitadas e não eram passíveis a questionamentos.

– É uma missão muito perigosa. Devia ficar com vocês.

Felix falou, com o centro franzido. Eu sabia que isso não era verdade. Ele tinha prometido a Alec, que ficaria de olho em mim. Eu sabia muito bem que era isso. Alec, Chelsea e ele, tinham formado uma pequena confraria de “vamos cuidar do Lucian”. Isso me irritava às vezes, mas em certos momentos como esse, era bom ter amigos. Mesmo que eles neguem que são seus amigos e toda aquela besteira de, “vampiros não tem amigos, Lucian”, “Não confie em vampiros”. Eu sabia que poderia confiar minha própria vida a eles.

– Calma, grandão! Talvez tudo acabe em conversa, assim que ele ver Jane. Sabe como é. Vai fugir ,ou fingir concordar com tudo.

– Espero que sim. Não gosto desse vampiro. Ele é traiçoeiro. Um vampiro sem poderes, mas ardiloso e muito antigo. Conhece muitos truques. Fique esperto com ele, Lucian.

– Que tipo de experiências ele faz, Felix?

– Eu não sei exatamente, e Jane não disse. Mas é algo que Aro precisa muito.

– Eu só espero que no final dessa caçada, ele venha receber aquilo que realmente merece, por ter transformado aquelas pessoas.

Felix não falou mais nada.

– Deveria mesmo ficar.

Sorri, para tentar tranquilizá-lo. Ele começava a ficar parecido com Alec.

– Pare com isso grandão. Daqui a pouco, vão dizer que somos namoradas. E aí, suas chances com Chel já era.

Ele rugiu para mim, e soltou meio mundo de palavrões. Eu já estava rindo da cara de fúria dele.

– Brincadeira, grandão... Mas gostaria de tê-lo lá, apesar de você estar ficando meio parecido com Alec.

– Cale a boca, moleque. Só não quero perder um bom parceiro de luta. Mas preciso ir. Aro me mandou retornar hoje. Parece que vou com Alec para África.

– África! Que maneiro. Quero ir também, qualquer dia. Escute... Pode entregar algo para Felipe, pra mim?

– Claro! O que?

Fui até minha mala, pegando o cordão com o medalhão arrebentado e entreguei a Felix.

– Peça a Felipe, para mandar consertar o quanto antes. Não gosto de estar sem ele.

Felix analisava a peça, em reconhecimento. Olhou pra mim, e vi seu semblante escurecer nessa hora.

– O que foi, Felix?

– Pensei que nunca tirasse.

– Não tiro. Foi um acidente. Arrebentou!

Ele balançou negativamente a cabeça.

– Foi arrancada com força. Há resto de sangue aqui, e um arranhão de garra no lobo.

Sim, era verdade. Eu não tinha notado no arranhão. Era fundo. A unha de JANE , FILHA DA PUTA.

– Esquece isso, ok? Nada de falar com Alec ou Chel sobre isso. Só leve, e entregue a Felipe. Ele verá o que pode fazer com o arranhão também.

–Não confia em mim, garoto? Não vou mostrar isso a ninguém. Só a Felipe, não se preocupe.

– Desculpe Felix, mas no momento, não ando confiando nem em mim mesmo. Já comprou as passagens?

– Já! Vou daqui duas horas.

Felix olhava novamente o caos da suíte.

– Já resolveu com o pessoal do hotel essa bagunça?

– Já! Nada que boas notas de euro não encubram.

– Sim, é verdade. Mas e você? Me parece péssimo. Está melhor?

Na verdade não. Estava horrível. Me sentia extremamente fraco.

– Tô bem!

Menti descaradamente. Felix não acreditou, mas não insistiu. Foi arrumar sua mala, e eu o empurrei, afastando o carrinho de comida para longe, enjoado. Não era isso que eu queria. A comida humana me pareceu intragável. Sede, sede, sede... Fechei os olhos, e o cheiro adocicado de Jane estava ali. Claro que estava. Estava comigo. O roupão! Tirei o troço, com raiva, jogando longe de mim, voltando para o quart,o procurando uma cueca box na mala. Vesti, e me enfiei na cama de volta. Ia dormir até dar a hora da bendita missão, de procurar o pai do verme. Depois de um tempo, uma batida na porta me despertou de leve. Era Felix se despedindo, com um aceno na cabeça. Dei um boa viagem, capotando de novo no sono .

– Beba! Beba mais.

O líquido quente que, deslizava pela minha garganta. Era tão bom..

– Mais um pouco.

Claro, mas mande litros disso, Quero mais. Pude sentir meu corpo renascendo, como se estivesse mergulhado em areia até o pescoço, e agora nadasse livre sobre águas quentes e aconchegantes. O cheiro era bom, também. Fui abrindo os olhos, agarrando as mãos frias á minha frente e a tigela que estava com o liquido estava vazia, e queria lambe-la, como um gato lambendo o leite no final do pires. Ela estava lá. Era ela de novo. Suas mãos frias tiraram a tigela das minhas mãos, e eu me sentei na cama, já me sentindo mais forte. Fechei os olhos, tentando não pensar no óbvio. Ela tinha me dado sangue humano. Mas porque isso me incomodava tanto, eu não sei. Mas o fato de sair dali e encontrar um cadáver no banheiro ou em qualquer outra parte, era revoltante.

– Fique calmo. É uma doação do hospital Filipino do centro. Paguei um enfermeiro, duas bolsas de sangue. Agora tente dormir um pouco. Disse que precisava caçar. Você é muito burro mesmo.

– E você, adora ser minha enfermeira. Quanto tempo estou assim?

– Quatro horas. Estranhei, quando não atendeu a porta. Parecia um defunto, deitado aí.

– Culpa sua! Me deu aquele veneno para beber. Botei tudo que tinha direito pra fora, ficando fraco como um coelho.

Ela nem se abalou com o comentário. Só se levantou da cama, indo abrir minha mala, como se fosse muito entendida ali. Ela fuxicou minhas coisas enquanto eu estava dormindo. Só pode...

– Vista isso. Vou deixa-lo sozinho.

– Não me dê ordens!

– Quer que eu o vista, então?

– Sei que gostaria, mas não.

– Ela sorriu, e aquilo estava cada vez mais estranho.

– Seja rápido, então. Já vai escurecer. Temos que ir.

Tentei levantar. Realmente tentei. Mas algo estava estranho. Me vi tonto, como se estivesse dentro de um liquidificador.

Jane me segurou, antes de eu bater com a cabeça em uma mesa. Me devolveu para a cama.

– Acho que a missão já era, blond ice.

– Calma! Temos tempo. Só adiaremos um dia, até que esteja melhor.

– Nunca fiquei doente.

–Talvez tenha sido culpa minha. Porque não deveria ter te mordido. Mordi você várias vezes, na briga ontem.

Sim, ela tinha me mordido, me arranhado... Mas vários vampiros tinham me mordido em batalha e não tinha ficado assim, como uma menina com crise de cólica.

– Não foi isso.

– Claro que foi. Misture isso, a uma bela dose de Carma, uma luta insana e uma sede que não foi sanada. Está fraco como um bebê subnutrido. Precisa se recompor. As maravilhas de ser um mestiço, hein?

– Pelo menos, me pareço com uma pessoa. E não com uma escultura de gelo falante.

– Que lindo! Diz coisas fofas assim para meu irmão e seu grupinho de escoteiros de Volterra, ou guarda só pra mim? Por favor, não fale que é só pra mim. Vou começar a me sentir especial.

Eu ri muito com aquilo. Quem diria? A maldita tinha censo de humor. Quem diria?

Mas isso pareceu perturba-la, ou coisa assim. Ela deu um salto da cama, saindo do quarto, e disse do corredor.

– Estarei na sala... Se... precisar... ou não. Tanto faz...

Não demorou para ouvir uma música baixa tocando, vindo da sala. Era vídeo games de Lana Del Rey. Tão triste, que me fez sentir mal de novo. Só ela mesmo, pra gostar disso. Parecia um canto de lamentações. Tinha até sinos no inicio. Depois da terceira vez ouvindo aquela merda, me irritei e fui para a sala, que estava ajeitada mais ou menos. Pelo menos, não parecia a zona de guerra de antes. Ela estava olhando pelas janelas de vidro, deitada em um tipo de divã, não sei. Parecia mais uma coisinha de nada, encolhida nas almofadas. Quem diria que aquilo é letal, como uma mamba negra? Ela se ajeitou, percebendo minha presença ali.

– O que foi? Precisa de algo, Lucian? Quer que desligue a música?

Olhei para o som na estante quebrada e torta , e ele tinha sobrevivido.

– É triste... A música é triste.

– É! Gosto da voz dela, me acalma.

– Está nervosa por não ter ido fazer a missão. Sei que não gosta de falhar. Sinto por isso. A culpa foi minha, não devia ter me descontrolado com você.

– Nós dois nos descontrolamos.

– Não precisava ter arrumado tudo.

– Precisava me ocupar.

– Vamos amanhã?

– Sim, amanhã. Já informei a Aro do adiamento.

– Muitas perguntas?

– Nem tantas.

– De bom humor?

– Parece que sim... Nerida está de volta. Foi o que me disse.

– Hum! Deve ter sido bem sucedida, então. Já que ele está de bom humor.

– Parece que sim.

A conversa era quase um toma lá, da cá, regado de palavras não ditas. Mas de olhares significativos. Notei-a quando o nome de Nerida saiu com desgosto de seus lábios. Notei quando abaixou os cílios quando disse que se descontrolou, assumindo um descontrole, que ela normalmente não se permitia.

– Tem razão sobre isso. Devemos esquecer. Não sou assim. Não faço estas coisas. Não bato em mulheres, não... Não devia ter feito isso a você. Eu sinto muito.

– Não precisa se desculpar. Não preciso disso. Quero que lute comigo sempre. Sou um soldado, não uma de suas garotas.

Ela disse com raiva, mas não me convenceu muito.

– Não devia ter feito, mesmo assim.

– Então eu o teria matado.

– Duvido muito.

Virei as costas, indo pro quarto. Erro meu. Tinha tirado o final de semana para cometer inúmeros erros. Ela praticamente se materializou na minha frente, com as presas no meu pescoço, em uma posição fatal, a qual eu não teria a menor chance de sair com vida seus dentes para fora, rugindo como a predadora assassina que é. Mas ela protelava. E eu poderia agora joga-la bem longe, ou torcer seu pescoço.

Mãos frias deslizaram para minha jugular, inalando meu cheiro, ofegando tensa e nervosamente.

– Faça, Jane. Mate-me.

– Não devia dar as costas a um vampiro.

– Não devia se estremecer tanto, com meu corpo junto ao seu.

– Vamos acabar com essa droga logo, e seguir nos odiando por toda eternidade depois.

– Quem disse que eu já não a odeio desde agora.

– É, pode ser. Mas dentro de criaturas como nós, cabem várias coisas ao mesmo tempo.

– Não sou como você. Já está cansada de me jogar isso na cara.

– Está bem frio agora. Parece com um vampiro, bem agora.

– Mas não sou.

– Não é?

Ela se afastou um pouco nessa hora, se encostando no batente da porta.

– É um alivio que me despreze. Pra falar a verdade, não sei lidar com a Jane que gosta de rosas e de músicas tristes. Prefiro a assassina.

– Eu também prefiro o Lucian debochado e imprudente. Essa versão de desculpas por ser um imbecil, está gasta e me cansa.

Nos olhamos por alguns segundos, que pareciam longos demais. Aqueles olhos vermelhos atiçavam minha sede e outras coisas meio incompreensíveis, ainda pra mim.

– Mas sempre teremos a Espanha. E Lana Del Rey.

– Olé!

Me aproximei, a prendendo ali, naquele espaço mínimo, passando a mão em seus cabelos tão loiros e arrumados. Não! Nada daquilo era bonito. Baguncei ele, tirando seus inúmeros grampos. Ela fechou os olhos e eu parei de pensar de que eu era, ou achava ser, do que ela era ou queria ser. No momento, só o que era realmente importante, era a maciez de seu cabelo loiro, de como seus lábios se abriam pra mim, me esperando ofegantes e frios. De como seus cílios eram escuros e contrastavam com sua pele muito branca. De como meu corpo esfriou, sem o fogo de sempre. Sem tremor, sem nada . Só a sede que permanecia lá, como uma sirene ligada, a qual eu resolvi por motivos desconhecidos, ignora-la completamente. Seus cabelos caíram por fim, sobre os ombros, e ela abriu os olhos vermelhos e famintos. Prendia as mãos atrás de si, numa tentativa fraca de se conter. Mas seu corpo a denunciava em todos os sentidos.

– Lucian.

Sua voz era quase um sopro de vento fraco.

– Fale, Jane.

Falei em seu pescoço.

– Me beije, por favor.

Não teve como não sorrir com aquilo. Eu sabia que nunca mais ouviria de novo. Não dela. Era um pedido, com um por favor na mesma frase.

Olhei para seu rosto, e seus olhos vermelhos brilharam lascivos e pedintes. Mas ela não desviou seus olhos, ou se envergonhou. Era uma entrega ali. Algo muito raro a ela.

Ser delicado como um amante, ou duro como antes? Ela mesmo resolveu a questão.

– Está pensando muito, Lucian. Não faça isso. Não pense. Assim você desistira.

Era verdade, e eu sabia muito bem. Desisti de pensar. Por que ainda insistia? Fui cruel como um inimigo, pois é o que somos e seremos depois disso. Inimigos para sempre. Eu a odiava, e ela a mim. Encostei meus lábios, que foram recebidos com a mesma fúria e ódio. O sexo podia ser assim. Brutal e carnal, feio e triste, odioso e punitivo. Só carne, só pele, só desejo. Sua língua fria, era um convite ao inferno. Suas unhas rasgaram em segundos, as calças de flanela, me deixando com a box branca. Ela não foi carinhosa. Eu não fui carinhoso. Dois selvagens brutais, se punindo por ódio e a culpa que viria, com certeza depois. A maldita música ia ficar excomungada para sempre da minha vida. Lana Del Rey, desgraçada. Repetia como um mantra odioso. Quando eu a derrubei no carpete da sala, arrancado aquele uniforme, que mais parecia a segunda pele dela. Nada ali tinha me preparado para isso. Nunca vê-la assim. Entregue, brutal em seu desejo ofegante, mas ainda perigosa. Não era terna como Chelsea. Não tentava me provocar com seu corpo, se esfregando, como Nerida. Esperava quieta e silenciosa, só ofegando.

– Tem certeza disso?

– Sim.

Foi tudo que disse, se abrindo pra mim. Seu cheiro! O cheiro de sua excitação não era adocicado. Era como pêra seca por fora, mas incrivelmente molhada por dentro. E não tinha mais volta. Talvez, esse seja meu fim, afinal. No meio das pernas dela. Da vampira mais perigosa que eu já tinha conhecido e mais odiada. Ela me mataria sem pensar ou se arrepender. Mas isso só me excitava mais. Só fazia eu querer machuca-la de maneira irreparável na alma, de forma permanente.

Descreve-la era impossível,nem mulher nem menina, seu corpo não e uma canção ou uma poesia, não era talhado para luxuria e diferente como uma pintura renascentista.

– Sei que não sou bonita.

Me disse, quando meus olhos passeavam sobre seu corpo nu.

– Ha diversos tipos de beleza Jane. Disse simplesmente percorrendo com a mão a estrutura de sua costela .

– Não mentiria pra mim , sei que não há beleza em mim , nem por fora nem por dentro não sou feita para amor ou para ser amada ou desejada dessa forma .

Peguei sua mão que descansava sobre sua barriga e toquei no meu sexo, mostrando a ela, que ela me excitava muito. Ela soltou um gemido abafado, arqueando o corpo para me receber ali.

– Você me excita ice girl. Muito mesmo. Mais que deveria.

O que recebi em retribuição por essa constatação fatídica. Ela não esperou, mas não ficou mais silenciosa e quieta. Montou em mim, me enfiando dentro dela ao sentar sobre mim. Foi lenta, a principio, como se quisesse estender o momento para sempre. Mas depois, sua urgência aumentou e foi aumentando, me consumindo como a devoradora de almas que é. Estar com ela ali, me fez entender menos de mim e mais dela mesma. Não se tratava de mim, e sim dela. Do que ela era ou se tornara pelos séculos. Sim, eu sabia um pouco de sua história trágica, mas ela fez por diversas vezes escolhas terríveis, que a transformaram em tão pouco de Jane, e mais de Volturi. Segurei sua cintura, conduzindo o ritmo, exigindo o meu ritmo. Controlando, e não sendo controlado, como ela determinava. Gemeu quando percebeu minha intenção. Tentou dominar, mas não teve barganha para ela. Não ali, não agora. Seria a dominada, não a dominante.

– Deixa eu te dar prazer, Jane.

Sim, ela deixou, em um gemido quebrado. Senti seu sexo mais molhado, mais cheiroso, mais pedinte. Faltava pouco para ela. Bem pouco. Podia senti-la se rendendo, se soltando. Ficando mais macia. Menos fria... Seus olhos não eram mais tão vermelhos. Estavam escurecidos pelo desejo.

– Eu não sei o que é isso, Lucian.

Olhei sem acreditar.

– Nunca?

Ela negou ofegante, e talvez isso explique algumas coisas. Parei, invertendo a nossa posição. Eu por cima dela, sem machuca-la. Não queria mais machuca-la. Não era mais assassina ali. Não era mais a mesma. Não agora. Não ali, comigo dentro dela.

Ela gemia baixo, ofegante. Seus seios pequenos eram macios, e eu os lambi suavemente, sem parar de estoca-la. Sem desconectar ou diminuir. Foi intenso. Foi forte, como um turbilhão de coisas acontecendo ao mesmo tempo. Ela gemeu mais alto. Suas pernas se abriram mais. Seus lábios tremiam. Seu sexo tremia em espasmos violentos e longos, como se vários tivessem vindo ao mesmo tempo. Fechou os olhos. Seu corpo estava tão entregue, tão exposto e frágil pelos orgasmos alcançados, que era quase covarde não retribuir a isso.

– Jane.

Chamei baixo, quando ela pareceu imóvel demais.

– Não pare ainda, quero senti-lo.

Falou, abrindo os olhos em um sorriso prazeroso. E isso me estimulou muito, em toma-la de novo, a puxando para mim. Ela veio sem esforço, correspondendo simplesmente. Quase cálida, com seus olhos vermelhos, indecifráveis agora, que me encaravam em um afago pelo meu rosto e cabelo, com as mãos frias.

Não era assim. Não era este o desfecho que eu queria. Mas quem somos nós, que dissemos que controlamos a roleta russa que é a vida? Tremi dentro dela, liberando bem mais que um gozo. Bem mais que ódio de antes, liberando algo muito perigoso e mortal, até para ela que é assassina, vampira bebedora de almas, e eu. O que era? Seria enfim seu parceiro. Seria ela a minha parceira eterna? O Mal se mostrava pra mim finalmente, com aquele rosto de anjo da morte. O mal que sempre me espreitou de trás de uma cortina negra, finalmente tinha um rosto. Era o dela, me tornaria em fim meu algoz. Não era Nerida. Nunca tinha sido. Nem mesmo Felix, com seus falsos julgamentos, nem Aro com suas mostras de poder e uma coroa a tira colo. Seria ela, a que cuspia fogo na minha cara, a que me olhava com desprezo e nojo, seria a ela que eu entregaria o meu último sopro de salvação? Por que me salvar? Por que e pra quem? Queria estar ali. Tinha lutado contra, mas queria muito. No fim, ela nem precisaria implorar. No fim, eu imploraria. Eu pediria por aquilo, e mais até. O lobo perderia seu coração, a sua assassina fria, por fim?

– Em que esta pensando Lucian?

Balancei a cabeça negando. Falar, me pareceu tão fugaz e inútil. Me aborrecia até.Como não falei ela continuou.

– Pensa em demasiado Lucian. É inútil pensar tanto, quando não sabemos nada de nós mesmos.

– Como sabe que penso sobre mim?

– Tem o semblante franzido aqui.

Disse, tocando minha testa enrugada.

– Deveria parar, então.

Seu sorriso se desfez, e ela saiu, me retirando de dentro dela.

Foi catando o que restara de sua roupa pelo chão, indo ao banheiro. Mas se virou, segurando suas roupas.

– Não existe o bom ou o mau. É o pensamento que os faz assim. Lucian, é uma mentira inventada para tolos. Não se martirize, procurando respostas para suas perguntas. Elas não virão. Não existe um lado certo. Existe o seu lado. E buscar respostas a vida inteira, é cansativo demais.

– Como sabe que faço perguntas Jane?

– Te observo. Observo a todos.

– Por quê?

– Para nada. Para tudo! Para saber, descobrir, castigar e punir com dor, aquilo que os

perturba mais.

– E o que perturba você, Jane? O que lhe causa dor?

Jane me olhou com um olhar frio, sem nenhuma emoção.

– Teria que mata-lo, se dissesse. O não saber é divino, Lucian. Um presente na verdade.

– Não duvido que me mataria, se fosse necessário.

– Que bom que sabe. É mais fácil assim. Sem surpresas. Só o fato real e claro.

– Claro! Sempre.

Confirme da mesma forma fria, que ela. Ela deu um sorriso fraco e disse.

– Mas sempre teremos a Espanha.

– E Lana.

– E Lana...

Ela saiu rumo ao banheiro, e eu me levantei do chão, me sentindo meio torpe. Fui até o pequeno frigobar buscar água, jogando aquele líquido tão vigoroso para dentro, e dei graças, pelo meu lado humano estar ainda ali, e um simples e refrescante copo de água ainda matar minha sede momentânea. Mas algo muito latente crescia, como uma bola de gás, dentro de mim e precisava me livrar disso. Me recusava veementemente a ceder a isso. Não vou ser como ela. Não vou ser assim, frio como o gelo. Mesmo ele me atraindo tanto com sua beleza cristalina e força.

– Vou avisar na recepção que ficaremos mais uma noite. Vou até meu quarto, trocar de roupa antes.

Ela disse de forma indiferente e fria, vestida no roupão de antes. Teria que queimar aquela droga. Era assim que seria. Como antes, então. Talvez fosse melhor assim. Menos complicado, nada além de uma transa casual. Podia lidar com isso. Será fácil, até.

– Pode pedir um Jack pra mim?

– Deveria cogitar a possibilidade de parar de beber.

– Tenho a eternidade pra isso. Agora preciso do Jack.

– Claro!

Ela voltou algumas horas depois. Zipava canais a esmo na TV do quarto, e ela surgiu com seu uniforme de sempre e seu cabelo bem peteado e preso.

– Já estamos organizados. Amanhã às nove, lá embaixo. Teremos duas horas somente e partiremos com o jato para Volterra. Quer que eu explique o que vamos fazer?

– Felix já disse.

– Ele e perigoso, Lucian, e muito antigo, a um clã de vampiros aqui o qual talvez esteja escondendo ele , vamos até eles, são antigos também com três membros poderosos . Emilio infligiu uma lei uma vez mas Caius foi condescendente com ele .... Seu pai tem um poder perigoso. Pode apagar mentes, e a esposa de Emilio é uma bruxa.

– Bruxa?

– É! Ela pode confundir a mente. Fazer você achar que é sua amiga, ou que tem algum laço afetivo com ela, ou algo assim. Preciso que nos proteja com seu escudo até encontrarmos Joham. Eles não vão entrega-lo, Lucian. Provavelmente, teremos que mata-los a todos, incluindo a mulher, para que falem.

– Deixo ela pra você. Eu me encarrego dos dois outros.

– Está bem.

– Eles poderiam se entregar. Dizer onde Joham está e podemos sair com ele. Apenas isso. Então iriamos embora, sem mortes...

Jane me deu um olhar de aviso. Eu sabia o que tinha naqueles olhos, sem ela precisar falar. Ela não se importava se eles iriam cooperar ou não. Eles morreriam. Somente por estarem em seu caminho...Ela saiu tão rápido, que eu jurava que era para fugir da perguntas fatídicas.

Fui para a sala. Ela devia ter deixado o Jack lá, esquecido e sozinho como eu. E lá estava meu mais novo e fiel amigo, com seu rótulo preto, como se fosse um smoking. O cara tem estilo. É claro! Por que não mais um pouco de tortura psicológica? Fui até o som, liga-lo naquela música angustiante e... Olé, Lana! Bebi um gole longo, brindando sozinho. Não, sozinho não. Jack, Lana e eu. Era uma festa, enfim. Outro gole. Jack, Lana, eu e a minha total falta de consciência momentânea...

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Não sei o que por fim me acordou. Se a claridade que vinha da janela de vidro. Se foi o Jack vazio, que rolou pelo chão, ou pelo silêncio do quarto. Mas me dei por feliz, quando meus olhos se abriram, e vi que era meio dia ainda. Teria bastante tempo para me organizar. Banho foi o topo da lista. Trocar de roupa o segundo. Me vesti de forma formal. Estava em um hotel de luxo. Andar sem camisa seria o meu estilo, mas choca-los seria desnecessário. Minha lista de infrações ali, já estava em um tamanho bom. Desci para o restaurante do hotel. Queria sair daquele quarto. Alias, só iria voltar ali para pegar minhas malas. Aquele quarto estava ficando meio cheio de recordações estranhas, que eu queria apagar da mente.

O restaurante do hotel era um encontro para humanos, e pude notar que para alguns vampiros também. Eles não tocavam em nada. Eram quase como estátuas vivas e parte da decoração. São engraçados. Será que não percebem o quanto são óbvios. Claro que não. Só pra mim era óbvio. São quatro! Um clã? Dois casais. É difícil encontrar vampiros assim. Pareciam focados em suas conversas. A baixinha mostrava fotos, a loira que tentava prestar atenção, mas parecia meio distraída com o próprio cabelo. Pra que eles estavam ali sentados, representando? Poderiam ficar no quarto àquela hora do dia. Já que sair era impossível. O mais forte brincava com o celular. O magro, que parecia com dor, olhava em volta discretamente, e foi ele quem me viu. Torceu o pescoço, como se perguntando o que eu era exatamente. Tratei de enfiar uma bela colherada de espaguete a carbonada na boca, para confundi-lo mais um pouco. Mas era eu o confuso, também ali. Seus olhos eram dourados e não era lente nenhuma. Nenhuma lente teria aquele efeito âmbar, e estávamos nos encarando sem pudores agora. A baixinha das fotos percebeu o seu parceiro e me olhava também. Sua boca abriu, e ela colocou a mão enluvada na boca, para proteger o espanto. Os seus olhos eram também como os dele, âmbar. A loira bonitona finalmente esqueceu o cabelo, e foi a sua expressão que mais me perturbou. Ela se levantou da cadeira sem o menor cuidado, derrubando-a no chão, e eles, de repente eram o centro da atenção ali no restaurante do hotel. O grandão a segurou, mantendo-a bem ali, ao seu lado. Ela queria vir até mim. Quase pude sentir a força de seu corpo. Seus olhos iguais aos dos outros. Somente o grandão não dava para ver. Usava óculos escuros, mas eram os mesmo olhos, tenho certeza. Talvez eu deva me apresentar. Será? Mas o rapaz magro se levantou e todos seguiram com ele. O grandão olhou para mim uma última vez, e jurava que tinha um sorrisinho ali. Será que era gay? Nada contra, mas era meio estranho, só. O cara tá com uma loirona do lado e fica rindo pra mim. Qual é? A loura apertava a blusa dele e rasgaria com certeza, mas estava se controlando da melhor maneira. Seus olhos ficaram escurecidos e tristes, e era amparada pelo sujeito alto. Saíram do restaurante. Não entendi, mas tive certeza que os veria de novo. Comi rapidamente agora. Talvez os ache pelo saguão ou elevador.

Saí dali correndo. A vista para todos os lados. Talvez no bar. Fui até lá. Estava vazio. Só o barman solitário, limpando o balcão. Bem, já que estava ali, por que não? Sentei, pedindo um Jack.

– Charutos, senhor?

O barman perguntou de forma cortês. Resolvi experimentar. Estava ali mesmo, o que faria comigo, aquilo? Ele acendeu e eu suguei sua fumaça poderosa. Meus pulmões não gostaram nada daquilo, mas me mantive com a fumaça lá dentro. Não ia jogar fora de, jeito nenhum. Era uma experiência, e eu ia até o fim. Soltei, por fim, depois de tragar bem o veneno da coisa. Mas entre um gole e outro, uma fumaça e outra. Já me sentia um belo pacote de merda. E quando olhei de novo para a porta do bar, lá estava ela. Minha pequena infração do mal, com seus braços cruzados, como se estivesse me procurado pelo hotel inteiro. Primeiro me fuzilou com os olhos, depois entrou no salão. Odiava interagir com humanos e estava com seus óculos de gatinha, o que dava a ela um ar diabólico e cômico. Sentou-se ao meu lado no bar. Eu a olhava ente uma baforada e outra do charuto, e do copo de Jack.

– Se continuar assim, terá que começar a frequentar as reuniões do A.A.. Posso agenda-las pra você. Temos grupos assim em Volterra.

– Precisa mais que isso pra eu ficar bêbado, Jane. Duvido até mesmo, que possa ficar.

– Por que saiu do quarto? Fiquei procurando você como uma demente.

– Dificilmente a imaginaria assim, mas vou acreditar, se diz. Sabia que há outros vampiros aqui?

– Outros?

– Sim! Os vi no restaurante. Sei que é estranho, mas estavam lá, e até tinham pratos intocáveis à sua frente. E eu nem tinha bebido ainda.

– Como eles eram?

– Brancos, pálidos e cheiravam a menta, hortelã e jasmim. Talvez rosas também.

– Isso é sério, Lucian. Podem ser inimigos.

– Não me pareceram. Pareciam de férias, ou algo assim. Deixe-os em paz. Já tem sua listinha da morte, ice killer. Contenha-se. Assim, os vampiros irão entrar na lista de animais instintos.

– Que bom que já voltou para seu estado de torpor debochado de sempre.

Apaguei o charuto, jurando nunca mas colocar outro em minha boca. É uma bosta! Era melhor fumar uma bota velha. Podia riscar da lista de coisas a nunca mais fazer, junto com dormir com a raiz de todo mal, que estava ao meu lado. Eu estava tão puto com meu pau. Levantei bruscamente, dando o número do quarto, para colocar o drinque na conta dele.

– Onde vai?

– Dar uma volta pela cidade. Quer ir? Ah, não pode, né? Não inventaram ainda um protetor solar que impeça de você de brilhar como purpurina. Que chato!

Saí ouvindo palavrões em alemão e outras línguas indecifráveis.

O ruído dos carros e ônibus, são uma agressão aos meus ouvidos sensíveis. Mas qualquer coisa para ficar longe dela. Seria meu fim, ficar mais tempo com ela. Teria que fugir de sua influência maldita para sempre, se quiser me manter são e ainda um pouco humano. O calor que voltava ao meu corpo fazia-me querer abrir os braços. Recebe-lo como uma benção. Olhei para o sol, como se fosse ele a me energizar de alguma maneira. Quase tive certeza que era mesmo meus batimentos voltarem ao seu ritmo acelerado de antes. Pude até sentir meu lobo sendo acordado, como se estive hibernado, ou algo assim. Me dei conta de como eu gostava disso. Pela primeira vez desde a minha transformação, mesmo com tudo que isso implicava. Com a diferença que isso me trazia, com a solidão de ser diferente. Era bom ele ali. Ele é a minha herança, é o que eu sou, a minha essência mais primitiva e forte. Sentia tanta vontade de me transformar e correr livre em minhas patas. Mas tive que me conter o máximo.Sorri sozinho andando nas ruas de Madri ...

































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































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Notas finais do capítulo

Não devemos julgar a vida dos outros, porque cada um de nós sabe de sua própria dor e renúncia. Uma coisa é você ACHAR que está no caminho certo, outra é ACHAR que seu caminho é o único!Paulo Coelho```FINALMENTE RAY ´´´RSRSRSR



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