Arcanist - O Projeto escrita por UllienSama


Capítulo 28
Capítulo 28 - Saga da Corporação - Gélida noite de outono




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/314920/chapter/28

[8 anos atrás. Norte da Rússia, 2005.]

(Korietsu): Irmão... acho que não temos mais esperança.

Dois garotos andam, envoltos por poucos trapos de tecido grosso, em uma imensidão de neve.

(Ikketsu): Cala boca, Korietsu. É claro que temos. Se esqueceu? Ainda temos que vingar a nossa mãe... Não vamos morrer até conseguir.

(Korietsu): Você fica com essa história de vingança, mas estamos aqui... Em algum lugar, longe da cidade, sem ter pra onde ir... Sem nem mesmo ter onde se esconder do frio...

(Ikketsu): Eu já disse pra parar de fazer essas coisas!

(Korietsu): Olha, ali! Tem uma caverna, que sorte!

Os dois irmãos adentram a caverna. Depois de um declive de vários metros, encontram um pátio, que possui um pequeno lago com a superfície congelada. Ikketsu tira a camada de neve de cima dos cabelos, ainda loiros.

(Ikketsu): Pelo menos estamos protegidos da neve.

Alguns morcegos estacionam no teto da caverna, sob as estalactites. Uma entrada apertada leva mais ao fundo do solo, mas ambos sabiam o quão arriscado era a fenda. Vagavam há dias, e esse era o primeiro refúgio que encontraram.

(Ikketsu): Droga, a nossa comida está acabando...

(Korietsu): Estamos perdidos, confesse.

(Ikketsu): Escuta aqui, Korietsu. Se você for ficar se lamentando, eu vou começar a achar que era melhor ter deixado você morrer lá na vila mesmo. Esse lugar deve ter algum bicho que a gente possa matar. Olha, eu vi umas árvores perto da entrada, eu vou lá pegar madeira a você espera aqui.

Minutos depois, o mais velho volta correndo com alguns galhos.

(Ikketsu): Vou acender uma fogueira. Amanhã, a gente tenta achar alguma coisa pra comer.

Era quase fim de tarde. O Sol começava a se pôr.

Horas depois, enquanto os dois se aproximavam da fogueira para se manter aquecidos, um barulho na rocha rompeu o silêncio da neve que caía. Os dois se viraram para a entrada da caverna. Um urso pardo, enorme, adentrava a caverna, fitando fixamente os dois invasores.

(Korietsu): E-e-eu acho que a gente entrou em um lugar meio ruim...

(Ikketsu): Droga...

Os dois ficaram imóveis enquanto a fera se aproximava. Ela não tirava os olhos das duas crianças. Então, momentos depois, a fera repousou ao chão, como se ignorasse a presença de ambos. Ikketsu enfim respirou.

(Ikketsu): Acho que não é hostil. Estamos na caverna dele, mas ele não parece ligar. Acho que achou conveniente pelo fogo.

(Korietsu): Olha, irmão, é uma fêmea!

(Ikketsu): E é enorme... É começo de outono, acho que ela vai querer essa toca pra hibernar no inverno. Não parece incomodada com a gente. A gente devia procurar comida, vamos.

Um mês se passou. Durante esse tempo, crianças e urso conviveram no mesmo lugar. Por um estranho comportamento natural, no começo, a fêmea não interagia em nada com os dois. Quando estes caçavam comida, ela ficava intocada na caverna até os dois comerem. Eles mantinham a fogueira acesa para não morrerem de frio e começaram a viver de uma maneira primitiva. Ikketsu fez capas com couro de renas, para que eles se protegessem do frio intenso.

(Korietsu): Irmão, reparou uma coisa?

(Ikketsu): O que?

(Korietsu): Essa ursa... está ficando maior e mais gorda... parece que...

(Ikketsu): Que ela vai ter filhotes! Uau, que incrível!

Mais algumas semanas se passaram.

Eis que, em uma noite, um facho de luz cruzou a escuridão do campo gelado. As duas crianças acordaram ao perceber uma aproximação.

Dois adultos aproximavam-se devagar da caverna. Ikketsu puxou o irmão e se escondeu próximo à entrada. Então, reconheceu o rosto daquele que invadia. Um flashback veio à mente.

O homem era um aristocrata que dominava uma pequena região muito pobre, no nordeste da Rússia. Meses antes, ele havia adentrado à vila das crianças atrás dos escassos produtos do campo. Sua mãe era uma pobre ajudante, e não havia produzido um mínimo para comer naquele verão.

Quando o homem entrou na vila, a mulher se desesperou. Jogou todos os suprimentos da casa dentro de uma bolsa de couro, agarrou as duas crianças e as colocaram para fora de casa pela porta dos fundos. A única coisa que disse foi: "Ikketsu, leve o seu irmão o mais longe que conseguir." Ela trancou a porta. Instintivamente, Ikketsu se virou para trás enquanto se afastava. Ele entendia a situação, mas seu irmão mais novo não. Os dois viram pela janela enquanto o homem assassinava a mulher a sangue frio, com um tiro de pistola na cabeça.

Korietsu se virou em um ato de fúria. Queria voltar. Mas Ikketsu, em choro, o puxou pelo braço.

(Ikketsu): Não. Ainda não é a hora.

As palavras ecoaram na cabeça de Ikketsu quando ele viu o homem, com um capanga que segurava uma mochila e uma lanterna, adentrar a caverna. Do topo, mirava uma espingarda para a ursa, que dormia pacificamente. O ódio de Ikketsu voltou à flor da pele. Quando o carrasco de sua mãe estava prestes a atirar, Ikketsu, sem raciocinar mais como um ser humano, desferiu um soco na rocha, na parte de baixo, que fez toda a rocha desmoronar.

Korietsu recuou. A fêmea de urso, com o barulho do impacto, acordou e instintivamente correu para o fundo da caverna. Os dois homens desmoronaram caverna abaixo, juntamente com toda a rocha do declive na entrada da caverna.

Pego por um susto, o aristocrata se levantou assustado. Estava machucado pela queda, bem como por fragmentos de rocha que lhe atingiram os braços e pernas. Viu que seu servo estava desacordado devido a alguma pancada. Se levantou aturdido e viu o garoto em sua frente, imóvel, com um olhar de besta, chegando a beirar algo satânico, uma fera de puro ódio mortal.

Ikketsu agarrou a arma de pedra que usava para caçar animais e partiu para cima do homem. Mas este, por reflexo, desferiu um tiro de espingarda em seu estômago. O tiro o incapacitou, e ele caiu.

Nesse instante, a primeira reação foi de Korietsu, que estava pronto para atacar, o que resultaria em falha. Mas, quando avançou, viu o urso passar correndo a seu lado, em uma velocidade impressionante. Este voou direto no peito do homem, jogando sua arma para longe. A fêmea se prostrou de pé sobre o invasor, com um olhar mortal. Ikketsu se levantou, perdendo muito sangue, e pegou a arma. Cambaleando, avançou.

(Ikketsu): O golpe... de misericórdia... é meu...

Ele desferiu um único tiro, com o cano da arma colado em seu inimigo. O impacto o jogou para trás, fazendo com que perdesse ainda mais sangue.

Logo depois, Korietsu e o urso se sentavam perto de Ikketsu. Era certo que iria perecer ali. Então, o homem que acompanhava o aristocrata se levantou. Quando percebeu a situação, pegou no chão a mesma arma que matou seu chefe, decidido a vingá-lo. Quando Korietsu percebeu, já era tarde.

Antes de poder disparar, o dorso do homem foi cortado em dois. Uma figura surgiu atrás dele. Era um velho barbudo, com uma postura curvada, segurando uma lâmina de metal de quatro pontas.

(Schiffler): Não precisam saber quem eu sou, por enquanto. Me escutem. Eu farejei o seu potencial há quilômetros. Eu posso salvar a vida desse garoto, mas suas vidas serão minhas. Serão meus soldados em uma luta que conduzirá os dois à morte, cedo ou tarde.

–-----

Korietsu havia liberado todos os seus poderes. Um furacão gélido empurrava Yuudai para trás. Os olhos de Korietsu mudaram de azuis para brancos e ele fitou seu adversário.

(Korietsu): Mago Negro... Acabou.

O vento cessou. Uma aura gélida envolvia Korietsu.

Yuudai se surpreendeu com a força do poder arcano de seu adversário. Korietsu fez um movimento para frente, e dezenas de pilastras de gelo ergueram-se no campo de batalha, em todos os lugares. Elas convergiram no lugar onde Yuudai estava, muito mais rapidamente que as anteriores. Ele não teve para onde desviar, e o gelo o arcertou em cheio. Depois do primeiro golpe, várias outras formações disformes de gelo caíram como meteoros no lugar, criando sobre o lugar onde Yuudai permaneceu uma verdadeira colina maciça de gelo. Não havia sequer um sinal do Arcanist.

(Korietsu): Uff... uff... eu... consegui...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Arcanist - O Projeto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.