Loves Ways escrita por lollyb


Capítulo 20
Assuntos mal resolvidos


Notas iniciais do capítulo

Temos um aniversário, mais lembranças e um novo sentimento nesse capítulo!

AVISO: O relacionamento de Serena e Draco terá três fases: desejo carnal, carinho/amizade e, por fim, amor. Já garanto que o amor vem no fim da fic! Aguardem!

Vocês tem alguma dúvida em relação ao título? Antes parecia meio alheio à fic, mas agora acho que já está dando pra começar a entender o porquê de 'Love's Ways' não é?

LOVE'S WAYS seria algo como "Caminhos do coração" em português... Só pra esclarecer!



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Serena caminhara entre a multidão para o dormitório. Encontrara seus pertences arrumados sob sua cama costumeira, adornada pela cortina carmesim. Começou a tirar algumas coisas do malão – livros, guloseimas e a nova firebolt, que escondeu debaixo da cama.

Esperou por Eliza, estava com muita saudade da prima, apesar de não admitir. Felícia arrumava suas coisas do outro lado do dormitório e arriscou um sorrisinho para Serena, que arqueou uma sobrancelha como resposta. Cate, pelo visto, ainda não retornara do jantar.

Logo, Elizabeth chegou, brilhante e loira como sempre. Conversaram um pouco antes de recolherem-se para dormir. Eliza parecia sempre tão sincera, tão companheira que o coração de Serena apertou no peito. Teria que contar logo a verdade para ela.

A quarta aula da manhã era Poções. Serena estava apreensiva e ansiosa por este momento. Será que alguma coisa mudaria? Os sonserinos adentraram a sala animados,conversando e brincando a seu modo,enquanto os lufa-lufas estavam agitados e incomodados, temendo o terrível Professor Snape.

Snape entrou pela porta que Serena sabia levar ao seu escritório, as vestes negras esvoaçando atrás de si. O semblante carrancudo o acompanhava, como sempre em suas aulas. A garota, porém, estranhou; não fora sempre assim durante aquelas duas semanas. Mas, afinal, o que ela esperava? Que ele entrasse sorrindo?

'-Abram na página duzentos e setenta e oito.' – Snape disse, olhando debaixo para seus alunos, uma das mãos apoiadas no livro – 'Preparem a Poção e deixem uma amostra na minha mesa até o final da aula. E calados.' – ele completou, olhando feio na direção de uma lufa-lufa empolgada.

Snape acenou com a varinha para o quadro negro, onde surgiu a lista de ingredientes necessários, e voltou a sentar-se em sua cadeira de madeira escura.

Nenhum olhar direcionado a Serena; nenhuma palavra. Nada.

Serena se concentrou na Poção; era deveras uma Poção simples, e Serena ainda conhecia um meio mais rápido de obtê-la. Separou os ingredientes de que precisaria em sua bancada e se concentrou no preparo.

O professor acomodou-se em sua mesa, atento a um livro. Alguns minutos depois, se pois a andar pela sala, analisando as poções preparadas.

'-Srta. McGeller, a senhorita sabe por acaso o que são cubos?' – ele perguntou para a lufa-lufa,com seu tom baixo e ameaçador.

'-Sim, professor.' – respondeu a menina imediatamente, corando de medo.

'-Então por que a senhorita não está cortando a raiz em cubos?'

A garota começou a cortar em cubos e o professor continuou sua ronda pela sala, descontando pontos apenas dos lufa-lufas. Snape resmungou coisas como 'cabeças-ocas' e 'ingredientes desperdiçados', mas Serena concluiu que ele até estava de bom humor nesta primeira aula da semana.

Até o professor aproximar-se dela.

'-Por que a senhorita está com um frasco contendo chifre de arpéu na bancada, Srta. Serena?' – perguntou, no mesmo tom sombrio, encarando a garota com seus típicos olhos frios – 'Peço que reveja o quadro negro.'

Serena respirou fundo; sua poção estava quase pronta e ficaria perfeita em trinta segundos, enquanto as dos outros alunos teria que descansar por cinco minutos e ser constantemente mexida até o ponto.

Ela estava prestes a adicionar a pequena fração do chifre quando seu gesto foi interrompido pelas mãos compridas e gélidas do professor. Serena olhou para cima, exasperada. Ele sabia que isso funcionava.

'-Eu disse para checar os ingredientes, Senhorita. Temo que terá de fazer tudo outra vez, desta vez seguindo o livro.' – ele disse, ríspido, sacudindo a varinha e fazendo todo o conteúdo do caldeirão desaparecer. Serena sentiu-se humilhada e com uma raiva que há tempos não sentia.

Os alunos, aos poucos, foram terminando suas poções, a maioria com cores esquisitas de tom amarronzado, e não o violeta perfeito que a de Serena já adquirira. Quando o último aluno deixou a sala, por fim, Serena entregou sua amostra da poção, enraivecida por ter de fazer tudo de novo e seguindo o livro.

'-Aqui está professor' – ela entregou o frasco com desdém – 'Eu sei que o senhor sabe que o chifre de Arpéu é muito mais rápido, e embora raro, a rapidez compensa. Sei também que esta é uma Poção Estimulante, não importa o nome que dê a ela aqui, para os alunos; é um estoque reserva para a guerra que está se aproximando, não é?' – ela disse, sábia e desafiadora.

'-Acredito que não tenho que tratar desses assuntos com uma aluna.' – ele respondeu, sisudo ao encarar a menina – 'Se não quiser nenhuma detenção nem perder pontos para sua Casa, sugiro que vá para sua próxima aula. Fique avisada que eu não tolerarei assuntos que não são de sua alçada, vindos de uma aluna petulante.' – ele afirmou, ambas as mãos apoiadas à mesa – 'Agora saia' – ele completou, ainda mais ríspido e intolerante.

Serena não disse mais coisa alguma. Provocou o pai, não o professor. Disse aquilo porque estavam sozinhos, e, afinal, ele lhe dissera para que o procurasse no castelo. Queria a naturalidade das conversas em casa; pensou que mesmo em sala de aula, se estivessem sozinhos poderia lhe falar. Descobriu que não.

Elizabeth e Serena acomodaram-se na mesa da Sonserina, no Salão Principal para o almoço daquele dia confuso. Eliza esperava Blaise e a morena apenas admirava o nada, pensativa.

'-Serena, eu não te vi saindo das masmorras. O Snape é mesmo um carrasco! Por que ele fez aquilo com você? Você estava certa, não estava?' – perguntou a loira, também confusa.

'-Sim, eu estava certa, Eliza, claro que estava. Exatamente por isso ele desfez de mim, ele não suporta ninguém que conheça Poções e não seja um cabeça-oca, aquele bastardo!' – ela vociferou, descontando a raiva do pai.

'-Você perdeu algum ponto? Pegou alguma detenção?'- Eliza questionou novamente, curiosa.

'-Não, dessa vez não. Mas ele me disse que ele não tolerará uma garota petulante como eu da próxima vez.' – Serena contou, e cada palavra que repetia do professor doía.

'-Não faça mais isso, Serena' – pediu a amiga, com olhos verdes suplicantes – 'Você só se mete em encrenca e tudo o que menos queremos é arranjar problemas com o Prof. Snape. A birra não compensa.' – Eliza continuou, parecendo-se muito com a mãe ao falar.

'-Elizabeth, eu vou ficar bem. É só o Snape.' – ela assegurou à amiga de maneira irritadiça, recebendo um sorriso e um meio abraço de Eliza depois.

Serena chegou tarde ao dormitório. Tinha perambulado por algum tempo pelo castelo depois de encontrar Snape em um corredor vazio e ele somente bradar um "olhe por onde anda, garota". Tinha muito no que pensar.

Eliza ficara com Blaise, e eles ainda não tinham tarefas para fazer. Biblioteca ou perambulação. Serena optou pela segunda opção. Os corredores estavam quase todos vazios após o jantar, e o frio do começo de janeiro não ajudava.

Retornou ao dormitório passado pouco das nove horas – horário do toque de recolher. A garota deu graças a Merlin por não ter encontrado nenhum professor ou Madame Nora pelo castelo. Disse a senha, e entrou, encontrando no Salão Comunal apenas alguns gatos pingados.

Serena passara na Biblioteca depois do almoço daquele dia, e conseguira com Madame Pince alguns livros interessantes sobre Poções. Não obedeceria nem minimamente à Eliza, queria testar seu pai. Pôs-se, portanto, a ler avidamente à procura de novos ingredientes que fossem funcionais e exóticos.

Sentada perto do fogo, a garota nem percebeu quando o Salão foi ficando cada vez mais e mais vazio, mas restavam ainda alguns estudantes quando uma figura alta fez sombra sobre seu livro.

'-Poções?' – perguntou, debochando – 'Um passarinho me contou o que seu querido papai fez à você hoje na aula.'

'Ciúmes, Malfoy?' – perguntou, reconhecendo a voz, e erguendo uma sobrancelha, sem tirar os olhos do livro.

'-Ciúmes? Eu nunca levei uma detenção com ele e o meu padrinho nunca tirou pontos de mim. Tio Severo me adora e você sabe.'

'-Você veio até aqui para falar o quanto meu pai te adora? Seriamente, Malfoy?' – ela perguntou, revirando os olhos e voltando a atenção para o tomo em seu colo.

'-Eu... É... É.' – ele admitiu – 'Fiquei sabendo que você aprontou na aula dele, de novo.'

'-Se informe melhor' – ela aconselhou, levantando-se e calçando os sapatos que tinha tirado – 'E cresça, Malfoy, por favor. Eu não vou discutir com você de novo sobre isso. Não tenho culpa se você não se conforma que eu sou filha do seu querido e amado padrinho. Pode ficar com ele inteiro 'pra você.' – ela disse, dando as costas a ele e o ignorando.

Draco Malfoy não se rebaixaria para ela. Não mais uma vez. O garoto então foi atrás da sonserina audaciosa e puxou-a pelo braço, arrastando-a até o sofá mais próximo.

'-Não ouse me ignorar, Serena Snape.' – ele rosnou, o orgulho ferido.

'-Diga.'

'-O que?' – ele perguntou.

'-O que você precisa dizer, ué. Não disse que eu te ignorei? Estou aqui, sentada e esperando. Pode falar.'

Foi a gota d'água. Ela não o humilharia outra vez.

'-Olhe aqui, sua insolente!' – ele chamou, com raiva – 'Você não vai me humilhar de novo, Serena. Não daquela forma, como antes do feriado. Quem você pensa que é?' – Draco Malfoy disse, exasperado, encarando-a firmemente nos olhos azuis.

'-Você quer mesmo falar sobre isso, Malfoy?' – ela arqueou uma sobrancelha, descrente, rindo de deboche e desviando o olhar.

Draco segurou o queixo de Serena, forçando-a a encará-lo. Cinza contra azul. Serena sabia que essa batalha nunca dava certo. O indicador e o polegar do rapaz seguravam o queixo da menina com força, descontando a raiva, porém, passado um tempo o aperto afrouxou e ele simplesmente segurava o queixo de Serena num carinho omitido.

A respiração de Serena falhou e começou a ofegar. Draco encarava agora fixamente os lábios cheios da garota.

Ele a puxou de mansinho e ela foi; o desejo de outrora ali, disfarçado de romance. Todo o fogo e inquietação de antes voltara de repente, e os dois beijavam-se ardentemente no sofá verde escuro do Salão Comunal vazio.

Os corpos e línguas entrelaçando-se no mesmo ritmo, com mais respeito e carinho do que todas as outras vezes. Draco parara de beijá-la subitamente e Serena estranhou. O garoto olhou-lhe nos olhos azuis e guardou uma mecha de seu cabelo. Ela sorriu com a estranheza.

Ficaram ali por mais tempo do que nunca, juntos. Hora abraçados, quando cansavam-se dos beijos, hora no calor dos lábios unidos. Conversaram um pouco, e fora uma das poucas conversas sem desentendimentos.

O desejo corria solto, como das outras vezes. Neste, porém, havia algo mais, um sentimento a mais. O loiro deitara no sofá e aninhara Serena em seu peito, depois de uma longa maratona de beijos.

'-Precisamos dormir, Draco.' – ela suspirou, afastando-se do peito dele delicadamente.

'-Senti falta disso.' – ele declarou, de repente. Nem ele esperava por essas palavras.

Serena apenas sorriu torto.

'-É sério. Eu não quero que nenhum daqueles caras olhe para você daquele jeito nojento; não quero Crabbe e Goyle comentando como você... Argh! Muito menos Potter com aquelas mãos cheias de dedos pegando em você...'

'-E o que pensa em fazer a respeito?' – ela arqueou a sobrancelha, surpresa.

'-Quero você para mim.' – ele disse – 'Você sabe da verdade dos fatos sobre o que... o que eu tenho que fazer e você tem essa, essa coisa!' – ele suspirou.

'-Ninguém pode saber.' – foi a única coisa que Serena disse a ele, com seu olhar enigmático e sem sentimentos.

'-Por que não, ?' – perguntou tentando disfarçar o sentimento de ofensa.

'-Por que tem sua mãe, e meu pai... E essa coisa com Dumbledore, os Comensais... Ninguém pode me associar à você, e seu pai não pode descobrir. Apesar de tudo, ainda tenho que proteger o segredo do meu pai. É importante demais. Além de que, se alguém descobrir por você, você sabe o que acontece não é Draco? Sua mãe fez um Voto Perpétuo, tem que cumprir a parte dela.'

O rapaz gelou. Ele sabia o que aconteceria se o Voto fosse descumprido: a mãe dele morria. Então concordou, apenas.

Ele sorriu fino depois da tensão do momento, comemorando internamente a vitória. Puxou Serena para o último beijo da noite, calmo e quente, sussurrando depois de leve em sua orelha:

'-Minha.'

Aqueles dez dias passaram rapidamente, porém conflituosos. Snape ainda tratava a filha da mesma forma, como se a conhecesse apenas em aula, e não a procurara uma vez sequer durante aquele período. Serena estava magoada e decepcionada. Ele lhe mostrara tanta coisa diferente, muito mais do que ela esperava e a relação deles evoluíra drasticamente. "Talvez tenha sido rápido demais", ela concluiu mentalmente.

Snape a vinha tratando da pior forma possível desde o início desse semestre, e Serena estava ainda confusa, não entendia o porquê. Ela era repreendida em sala e nos corredores, e o Mestre de Poções lhe dissera certa vez que não lhe daria detenção para que não tivesse de aturar a audácia da menina por mais tempo.

Se ele imaginava o quanto aquilo lhe doera, não demonstrou. Tampouco demonstrou Serena a dor que sentira, encarava-o como sempre e confrontava-o sem medo. Já estava tudo perdido mesmo.

Serena e Blaise estavam cada vez mais próximos pela relação do garoto com Eliza, e a morena agora simpatizava completamente com o rapaz, sempre acompanhado de Draco, que lhe lançava olhares nada discretos.

Draco e Serena se viam quase todas as noites no Salão Comunal, quando todos já dormiam, para poderem ter privacidade e manter assim segredo. Elizabeth desconfiava de Malfoy, mas nada esperava de Serena. A loira notava os olhares do sonserino para a amiga, cutucando-a com o cotovelo e dando risadinhas sempre que os via.

O dia 13 de janeiro começara agitado. Serena fora acordada por uma Elizabeth Duncan que pulava em sua cama, correndo as cortinas para a luz entrar, lhe oferecendo um muffin com uma vela rosa em cima.

Serena sorriu. Nunca ninguém lembrara, muito menos tão cedo.

'-Parabéns, Serena.' – ela desejou, com um sorriso aberto. – 'Feliz Doce Dezesseis¹!' – ela exclamou, animada, citando uma tradição americana. A morena estranhou, já que era uma londrina nata, mas reconheceu a idéia.

'-Obrigada, Loira, obrigada.' – Serena agradeceu sorrindo, aceitando o muffin e assoprando a vela.

Elizabeth pegou um embrulho em sua cama e ofereceu à Serena.

'-Que ainda venham muitos anos...' – aspirou, sorrindo.

'-Não precisava, Eliza. Mas obrigada, mesmo assim.'

Serena abriu o pacote e se deparou com uma caixa azul de veludo, fina e grande. Abriu, por sua vez, a caixa e encontrou um colar de pérolas fino e discreto.

'-É o que toda garota da minha família ganha quando faz dezesseis anos. Mamãe sugeriu que eu desse a você, disse que também é especial quando se ganha de uma amiga próxima.'

Elena. É claro que a prima daria um jeito de incluir Serena na família na cabeça de Eliza.

'-Agradeça também à sua mãe, Eliza, É lindo.' – ela sorriu para a jóia e recebeu um abraço apertado da amiga.

O almoço no Salão Principal no sábado não parecia reunir muita gente. Devido ao primeiro passeio à Hogsmeade do ano, havia um fervor nada costumeiro dos alunos.

Os passeios haviam sido proibidos no primeiro semestre devido a freqüentes ataques, principalmente aos trouxas. Dumbledore agora permitira um finalmente, com o acompanhamento de Minerva, Severo e do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas – o professor francês.

Serena, Eliza e Blaise almoçaram juntos e comeram rapidamente, o dia seria longo. As garotas foram para o dormitório trocarem as vestes de escola por vestes comuns, enquanto Blaise e Draco esperavam no Salão Comunal, já há muito prontos.

As garotas chegaram finalmente ao encontro dos rapazes, casualmente vestidas e com capas por sobre as vestes.

'-Wow.' – Blaise exclamou – 'Que garotas bonitas.' – ele elogiou, fazendo Eliza sorrir e corar e Serena revirar os olhos, os quatro saindo juntos para o encontro de Minerva, que esperava os alunos e suas autorizações nos portões de Hogwarts.

Serena recebera uma autorização preenchida com a letra pequena e inclinada de Severo. Ficara triste mais uma vez. Ele estava mesmo evitando-a. Podia tê-la mandado ao seu escritório para entregar pessoalmente a autorização e talvez trocar uma ou duas palavras com a filha e ainda de quebra desejar-lhe parabéns.

Mas Serena sabia que ele não o faria, porque era também esta a data da morte de Alexandra, sua mãe. Nem ela sentia-se confortável em comemorar o dia depois de saber da verdade. Porém só faria dezesseis anos uma vez, e queria aproveitar junto aos amigos.

O grupo sonserino entregou as autorizações, e a de Serena foi a última. Minerva ia recolhendo sem pensar quando atentou ao nome escrito ali. Severo Snape. O choque da dúvida tornando-se realidade nítido em seu rosto. Minerva balançou internamente. Então ali estava o bebê de sua colega Alexandra Spring, dado como morto.

A professora McGonagall sorriu para Serena como nunca tinha feito antes. A mulher acordara naquele dia e vira no calendário que era o aniversário da morte de Alexia. Entristeceu por dentro e lembrou-se de tudo o que acontecera naquele dia, e de como Severo Snape nunca mais fora o mesmo. Pensava as mesmas coisas há dezesseis anos, todo dia 13 de janeiro. Talvez com o passar dos anos a dor fosse maior e as lembranças menores, mas a confusão do dia era sempre recordada, ano após ano.

'-Feliz aniversário, Srta. Snape.' – desejou Minerva, querendo que Serena entendesse que ela também era uma das poucas que conhecia sua história.

Serena sorriu com a percepção e a surpresa e agradeceu.

'-Quem te deu a autorização?' – perguntou Eliza, curiosa, entrelaçando sua mão à de Blaise.

'-Snape.' – ela disse, o tom baixo de raiva.

'-Eu pensei que os professores não pudessem autorizar os alunos...' – ela questionou, pensadora. Draco e Blaise trocaram um olhar significativo; ambos sabiam a resposta. '-E justo ele, Serena!' – exclamou, ignorante na situação.

'-Ele é o Diretor da Sonserina, Eliza. Dumbledore determinou que ele assinaria as autorizações, já que o Orfanato é trouxa e católico. Eles não tem e não quererem ter ciência do que acontece nessa escola.'

Serena mentiu bem, convencendo Eliza completamente. Os quatro, então, juntaram-se ao grupo que partia para Hogsmeade acompanhado do Professor Snape.

Após muitas voltas pelas lojinhas de Hogsmeade, Blaise e Eliza se separaram do grupo, deixando Draco e Serena a sós na Dedosdemel. A garota olhava encantada para os doces da loja, nunca estivera em um povoado bruxo antes, e seu único contato com o comércio bruxo fora durante o feriado na visita ao Beco Diagonal.

Draco olhava para ela com admiração contida, mantendo o espaço necessário para a omissão do relacionamento dos dois. Serena deixara a loja com várias sacolas na mão, que foram sendo transferidas, com o tempo, para os braços do rapaz.

O garoto fingira braveza ao carregar as sacolas da morena, mas estava internamente feliz por esse ato corriqueiro. Serena estava radiante naquele dia, apesar do claro desapontamento com o pai, e Draco não conseguia não olhar para ela.

O loiro entrou repentinamente na Zonko's, puxando Serena pela mão – que não soltou ao entrarem no interior do estabelecimento. Não havia ninguém conhecido, afinal, e eles podiam agir como um casal.

Serena surpreendeu-se pela escolha da loja e manteve-se bastante entretida pelos logros mágicos, enquanto viu que Draco carregava mais algumas sacolas. Até ficou curiosa para saber o que o rapaz comprara, mas não perguntou.

Entraram em apenas mais uma loja – o que garantira mais algumas sacolas penduradas no braço do loiro – e, saindo para o clima frio de janeiro, notaram a hora.

'-Vamos para o Três Vassouras.' – Draco declarou, consultando um relógio da fachada de uma lojinha do povoado – 'Blaise e a Duncan já devem estar lá. Pansy disse que também iria.' – Serena franziu o nariz ao nome da sonserina ser mencionado, mas seguiu-o.

Draco lhe roubou um beijo, quente e rápido, e seguiram juntos para o Bar.

'-Crabbe e Goyle não sentiram sua falta hoje?' – perguntou ela no meio do trajeto, provocando-o – 'Acho que te roubei deles.'

'-Argh, Serena! Aqueles cabeças-ocas me seguem por toda parte!'

Ela sorriu torto e ele segurou sua mão novamente.

Ela não podia explicar o que era aquela agitação interna que sempre sentia quando estava com Draco. Seu estomago pulava e revirava com aquelas borboletas que insistiam em rodopiar dentro dela. Nunca sentira na vida essa sensação antes, e, se alguém perguntasse, nunca admitiria.

Quando o casal chegou ao Três Vassouras – as mãos seguramente distantes – todos já estavam lá, e o bar estava agitado com os sonserinos que rodeavam Serena. Muitos passavam pela garota e a cumprimentavam pelo seu aniversário, desejando felicidades.

Draco distanciara-se dela e a deixara ser cumprimentada tranquilamente, mantendo, porém, sempre os olhos nela, e sorrindo-lhe sorrateiramente de quando em vez. Blaise juntou-se ao amigo depois de um tempo, deixando Eliza curtir com Serena.

As primas bebiam cerveja amanteigada e riam sem parar, acompanhadas de muitos outros sonserinos, dos mais variados anos. Ali estavam os que apreciavam uma festa, simpatizavam com Serena, ou achavam-na bela – o que consistia em boa parte da ala masculina da sonserina.

Havia, portanto, muita gente rindo, bebendo e dançando com a morena. Serena era a estrela do dia, sendo até mesmo simpática com as pessoas – uma qualidade rara nela.

O sol foi baixando, e o tempo deles em Hogsmeade acabando. Mais alunos chegaram ao bar, desta vez estudantes das mais variadas casas, já participando da festinha de Serena.

O Três Vassouras fora o local determinado para o encontro entre o Professor Snape e os alunos que o acompanhavam. Antes de ter a atenção de todos, Snape recostou-se ao batente, sendo apercebido por Madame Rosmerta, e mirou a filha, rindo no meio da multidão, comemorando seu aniversário, bebendo cerveja amanteigada e brindando.

Agora a menina brindava com o pequeno grupo formado num canto próximo à janela. Serena batia a caneca cheia com Blaise, e ambas as bebidas escorreram – o que só os fez rir mais. Ela repetiu o gesto com Draco, que a observava com um sorriso torto.

Serena repentinamente colou seus lábios aos do loiro, rindo alegremente depois. Alegre até demais, Snape pensou. Deveria ser o efeito da bebida. Era fraca, pois sim, mas ainda era alcoólica.

Ninguém notara o selinho, nem ao menos Eliza ligara, ela estava também sob o leve efeito do álcool.

Prof. Snape vociferara para os alunos, instruindo-os a segui-lo. Serena descera da mesa na qual estivera sentada e seguiu o grupo. O mestre de poções estava ainda parado no batente, conferindo se todos os alunos tinham deixado o bar, acenando discretamente para Madame Rosmerta depois.

Serena passara por ele, e toda a felicidade da menina se esvaíra. Ela lhe olhava friamente – o mais frio que Snape vira nos olhos de alguém, gelados e azuis como o oceano. A raiva emanava e quase podia ser tocada.

Snape suspirou e esperou até o último aluno sair.

Alexandra entrara aturdidamente nos seus aposentos de Hogwarts, batendo de leve a porta ao passar. Severo Snape, sentado no sofá e lendo o Profeta Diário, encarou-a quando a esposa passou reto, tirando o cachecol do pescoço e partindo para a suíte do casal.

'-Alexia?' – ele perguntou, deixando o jornal a repousar e seguindo-a até o quarto.

Alexandra não respondeu, apenas fixou os olhos azuis no marido.

'-O que houve?' – ele perguntou, se aproximando dela, o olhar inquisitivo.

'-Você discutiu com Elena de novo, Severo?' – ela suspirou cansada, como se sempre tivessem esse dialogo – 'Eu já lhe disse, meu bem, ela está grávida, você não pode deixá-la em paz por um momento?'

'-Você está me repreendendo porque ela é sua sobrinha ou porque você também está grávida?' – ele questionou, seco.

'-Os dois, Severo. Eu me preocupo, porque ela é nossa sobrinha, e entendo-a, porque também estou grávida. Deixá-la nervosa não vai ajudar em nada, e pode prejudicar o bebê.' – ela explicou, despindo a capa –'Ela só tem dezessete anos, Severo, por favor.'

'-Exatamente. Ela só tem dezessete anos. Quem mandou ser tão irresponsável?' – ele retrucou, ríspido.

'-Isso é problema dela, querido. E nós não podemos falar nada sobre responsabilidade.' – ela apontou a própria barriga.

'-Nós somos casados, Alexia! E adultos!'

'-O que você quer que ela faça agora? Um aborto?' – perguntou ela, magoada – 'Ela e Sean estão surpreendentemente felizes com o bebê, ao contrário de você. E eles tem apenas dezessete anos.' – ela exclamou, ressentida, tirando os brincos e olhando para o marido pelo espelho da penteadeira.

'-Essa não é a questão.'

'-Essa nunca é a questão não é, Severo?' – ela perguntou retoricamente – 'Você não imagina o quanto isso é difícil 'pra mim. O que eu mais queria é que você gostasse dele como eu gosto' – ela acariciou o ventre – ',ou ao menos não o negasse.'

Severo ficava perdido sempre que Alexia fazia essas declarações. Também ele queria poder demonstrar os sentimentos e admitir amar a criança tanto quanto ela amava.

Severo virou de costas, pronto para deixar o cômodo, mas parou. Alexandra tinha os olhos marejados no espelho, mas a atenção no marido.

'-Como eu posso não gostar de alguém que está dentro da mulher que eu amo?' – ele declarou, ainda virado, e saiu furtivamente.

Sempre fugindo, Alexia pensou incrivelmente feliz. Aquele era seu marido, o homem que só ela conhecia, seu amante e melhor amigo há muitos anos.

Fora o começo de seu amor declarado por Serena.

Aquele dia com Alexia invadia a mente de Severo desde que recebera aquele olhar mortal de sua filha. Ele era mesmo um bastardo! Não podia fazer feliz nem ao menos sua filha. Ele caminhou calma e seguramente até as masmorras, apesar dos pensamentos que se agitavam em seu interior.

Quando o grupo começou a se dispersar, ele puxou a morena pelo braço.

'-Uma palavrinha em meu escritório.' – disse, baixo e ameaçador.

Snape saiu, a capa preta esvoaçando, deixando os amigos sonserinos da garota perplexos. Ela murmurou um 'até logo', suspirou e segui-o.

'-Com licença' – ela disse, abrindo a porta vagarosamente e entrando, encontrando o professor em pé, pronto para acessar a porta que levava aos seus aposentos.

Nenhuma palavra. Quando Snape fez a menção de abrir a porta, Serena se precipitou.

'-Se isto não é sobre a escola, eu vou embora.' – declarou, irritada.

'-Serena.' – ele pediu.

'-Não, Snape, não é assim que as coisas funcionam! Você me prometeu! Prometeu que as coisas não iriam mudar.'

'-Eu prefiro ter essa conversa em meus aposentos.' – ele respondeu, impassível.

'-Eu prefiro não tê-la!' – ela se exaltou.

'-Serena, por favor me acompanhe.' – ele pediu, agora mais delicadamente.

'-Por que eu faria isso? Você quer por acaso que eu acredite em mais alguma coisa? Me iluda de novo com a perspectiva de ter um pai?'

'-Você tem um pai, Serena.' – ele afirmou.

'-Não, não tenho. Meu pai ficou em casa, porque este aqui, eu não conheço. É apenas meu odiado professor de Poções.'

Serena virou-se para sair, magoada e inconformada, quando Snape estava ali, segurando seu cotovelo.

'-Por favor. Venha comigo, Serena.'

'-Eu só não quero me machucar mais, Snape.'

'-Nem eu quero que você se machuque. Eu prometo não te decepcionar, venha.'

Serena acompanhou-o, ainda receosa. Não havia mais aquela liberdade de casa, e sim tensão. A garota atravessou a porta após o pai, quieta toda vida.

Ela sentou-se quando foi convidada a sentar e aceitou o chá quando lhe foi oferecido. E mais nada. O silêncio tomava todo o aposento.

'-Filha...' – ele suspirou.

'-Filha?' – ela perguntou, de repente, os olhos sem expressão –'Eu não fui nada mais que um encosto nessas semanas, Snape. Uma cabeça-oca, não é? Você não foi tolerável comigo nem quando estávamos sozinhos durante este tempo todo!' – ela soltou, a mágoa nítida nos olhos.

'-Serena, não é bem assim.'

'-Então como é?' – ela questionou, inocente.

Ele foi até ela e segurou-lhe o queixo.

'-Olhe para mim. Eu tenho medo. Medo por você. Já não sabemos mais em quem podemos confiar, e eu não quero que ninguém desconfie do nosso parentesco, é arriscado demais. Já são muitos os que sabem, muito mais do que eu gostaria. E eu não quero ter perdido quinze anos da minha vida, tê-los vivido por nada; Voldemort não pode saber.'

'-Tudo bem, você não quer que nos encontremos com a possibilidade de alguém nos ver, mas por que não me chamou até aqui desde que eu cheguei?'

'-Me desculpe, Serena. Eu sei que te decepcionei, mas tem muita coisa acontecendo e Dumbledore precisa de mim.'

A garota ainda estava chateada, nada daquilo justificava.

'-Tudo bem' – foi a única coisa que ela disse.

Snape sabia que as coisas não estavam bem. Aquele 'tudo bem' não significava nada.

'-Serena, eu sei que as coisas estão difíceis, mas você pode aparecer aqui sempre que quiser, e sabe disso.'

'-Eu não vou, Snape. Não vou ser tratada como uma idiota na sua aula e vir aqui depois.' – ela rosnou – 'Eu não suporto isso.'

'-Você sabe que suas poções são sempre perfeitas.'

'-Mas então por que você me humilha na aula? Me humilha nos corredores? No seu escritório? Eu estou farta disso!'

'-Lembra do que conversamos sobre manter as aparências?' – ele disse, com calma.

'-Você precisa me humilhar até quando estamos sozinhos?' – ela perguntou, extremamente magoada, com lágrimas acumuladas nos olhos.

'-Serena... Eu não quero fazer-lhe se sentir assim; eu não tenho a intenção de te humilhar.'

'-Eu não agüento mais isso! Por que eu não posso ter um pai? Na frente de todos, só para mim...'

'-Serena, isso é difícil.' – ele disse, sentando-se ao lado dela no sofá, a voz aveludada tentando acalmá-la – 'Você não sabe há quantos anos eu me pergunto a mesma coisa. Agora está tão perto de acabar, você tem que agüentar mais um pouco.'

Frente a este homem, seu pai, Serena se sentia mais calma. Protegida, até.

'-Eu só queria ter nascido em qualquer família normal, sabe. Queria que nós dois fossemos normais, com vidas normais. Sem essa história de Comensal da Morte, Guerra e Voldemort...'

'-Eu prometo para você que vou dar um jeito de acabar logo com isso, custe o que custar. Nós precisamos realmente de uma vida tranqüila.'

'-É tudo o que eu quero, pai...' – ela suspirou – 'Tudo.'

Uma lágrima escorreu solitária e Snape logo a limpou. Ele chegou a pensar que nunca mais ouviria aquela palavrinha tão doce: pai. Tão simples.

'-Ah, tinha até me esquecido do porquê de eu lhe trazer aqui hoje, Serena.'

Ele declarou e levantou-se, indo até o quarto e voltando com um embrulho grande.

'-Eu não me esqueci do seu aniversário, ao contrário do que você pode pensar.' – ele lhe entregou a prenda, sem expressão.

'-Obrigada.' – ela agradeceu contidamente – 'Eu sei que este dia deve ser difícil para você...' – ela completou, num suspiro.

'-Sempre é,' – ele afirmou, uma mão repousando no ombro da menina – 'mas este ano um pouco menos. Uma das duas voltou para mim.'

Serena sorriu fino, abrindo delicadamente o pacote.

Uma coleção de livros grandes, robustos e imponentes sobre o preparo de poções. No fundo do pacote, variados ingredientes exóticos.

'-Mais alguns truques para você.' – ele sorriu espelhando a filha – fino e contido.

'-Professor Snape me dando livros com truques?' – ela exclamou, ironicamente indignada.

'-Não, Serena. Professor Snape nunca daria isso a você. Mas Severo, seu pai, sim.'

Serena não se conteve e deu um sorriso raro, radiante e mostrando as covinhas rasas. O sorriso de Alexandra.

Severo, mesmo sem expressão, compartilhava a felicidade da filha, e ela agora podia ver isso em seus olhos.

'-Eu adorei' – ela disse, folheando os volumes, encantada.

'-Fico feliz, Serena. Mas penso que já são horas de voltar para o seu dormitório.'

Ela arfou, os ombros caídos, mas seguiu rumo à porta.

'-Feliz aniversário, filha. Dezesseis anos.' – ele disse, uma mão nas costas da menina. Sua menina. – 'Vamos, eu lhe acompanho até o dormitório.'

'-Boa noite.' – ela desejou, ajeitando os livros na mão.

'-Boa noite. É o primeiro aniversário que comemoramos juntos.' – ele sorriu fino novamente –'Durma bem, Serena.'

Então o professor saiu, caminhando tranqüilo rumo ao seu escritório.

Quando adentrou o dormitório, Malfoy lhe esperava.

'-O que você está fazendo aqui?' – ela perguntou baixinho, temendo ser notada pelos colegas da Casa.

'-Tenho uma surpresa para você.' – ele sussurrou de leve no ouvido da garota – 'Agora vá guardar esses livros, e vista a capa.' – Draco disse mais alto, arqueando uma sobrancelha loira e apontando para a capa recém despida na mão de Serena.

'-Isso é uma ordem, Malfoy?' – ela provocou, também arqueando a sobrancelha.

Ele não disse nada, apenas apontou o distintivo de monitor e se jogou no sofá mais próximo. Serena revirou os olhos e seguiu para o dormitório.

A garota voltou sem os livros e com a capa nos ombros. Draco saiu do dormitório e fez um gesto para Serena segui-lo; ela o fez algum tempo depois, dando uma brecha para que ninguém desconfiasse.

Serena foi levada pela mão pelos corredores escuros do castelo, já era quase hora do toque de recolher. Depois de cruzar alguns andares, Draco abriu uma porta quase escondida na parede; a garota nunca havia estado naquele lugar. Depararam-se com uma longa escadaria circular rente à parede, formando uma torre.

Malfoy puxou Serena pela mão, incentivando a garota a segui-lo

Após subirem os inúmeros degraus, chegaram a uma porta dupla em forma de arco. Draco murmurou um Alohomora e a porta foi destrancada; o garoto abriu-a e deu passagem para Serena, entrando logo depois dela.

'-Bem vinda à Torre de Astronomia, a torre mais alta do castelo.' – ele murmurou no ouvido de Serena enquanto a garota admirava o teto imitando a posição exata da constelação Draco, e abraçou-a pela cintura – 'Esta é a constelação Draco.' – ele apontou para o teto.

'-Draco? Acho que conheço alguém com este nome...' – ela brincou, fingindo-se confusa.

O rapaz sentou-se no chão, também admirando o teto, e puxou Serena para seu peito.

'-Aquela é a principal estrela, Etamin' – ele apontou o ponto mais luminoso do teto.

'-Alguém aqui gosta de astronomia.' – ela sorriu torto, olhando para a direção em que ele apontava.

'-Os Black são muito ligados nisso.' – ele disse, afastando o cabelo de Serena da nuca e depositando um beijo.

Serena meneou a cabeça em compreensão e viu Draco mudar a formação no teto com um aceno de varinha. Agora Órion pairava sobre eles.

O garoto procurou algo na capa e retirou um pequeno embrulho.

'-Estou certo de que não viemos aqui apenas para admirar as estrelas, minha cara.' – ele sorriu fino para ela.

'-E para o que estamos aqui, então, Senhor Loiro?' – ela perguntou, imitando Kyle – o elfo dos Prince.

'-Para comemorar um aniversário em particular.'

'-É mesmo?' – ela exclamou, fingindo surpresa.

'-Sim, de uma garota insuportavelmente audaciosa.'

'-Eu espero que você esteja usando essa palavrinha de maneira positiva' – ela ameaçou, empurrando o rapaz com força para o chão, deitado. Serena ficou sobre ele, de joelhos – 'Ou as conseqüências serão graves...'

Malfoy estivera amedrontado, com os olhos cinza esbugalhados, mas após aquela afirmação com ar de riso, ele riu e a puxou para seu peito, no chão, pegando a garota desprevenida.

Ele, então, roubou-lhe um beijo rápido e sentou-se novamente, gesto que foi acompanhado pela menina.

'-Feliz aniversário, Serena.' – ele desejou, entregando-lhe o embrulho.

A garota examinou a caixa fina e rebuscada, imponente apesar de pequena. Abriu-a, revelando um par de brincos. Pareciam pequenas rosas, mas Serena notou que eram duas serpentes enroladas. Ela nunca vira jóia mais perfeita para ela.

'-Bom gosto, Malfoy.' – ela admirou, arqueando uma sobrancelha.

'-Não tenho culpa se combina exatamente com você, Snape.' – ele sorriu fino novamente – 'Você não vai me agradecer, Srta. Sem Educação?' – ele questionou, ironizando; a testa franzida e um sorriso fino no rosto.

'-Tenho um jeito melhor para isso do que um simples obrigada.' – foi a vez de Serena sorrir, sedutora.

A garota engatinhou até Draco, cobrindo rapidamente a curta distancia. Serena puxou-o para um beijo fervoroso e o beijou como ele nunca havia sido beijado.

Ela passou os braços ágeis em torno do pescoço do rapaz e capturou sua boca, primeiro mordiscando-a e depositando beijinhos em torno dos lábios finos de Draco, para depois entrelaçar as línguas e aumentar o ritmo do beijo, tornando-o, de repente, quente.

Draco não conseguia explicar o que sentia quando estava perto daquela sonserina prepotente. Primeiramente, ele achou que fosse apenas o desejo arrebatador, porque Serena era decididamente uma garota linda, e tentadora.

Mas agora, porém, já não era mais controlado apenas pelo desejo. Não era desejo que o fizera comprar uma prenda especial para a garota, tampouco foi movido por ele que preparou esta noite especial na Torre de Astronomia.

Queria mais que beijos. Queria ver o sorriso de Serena – o que ele sabia ser o verdadeiro, queria a preocupação da conversa nos jardins da Mansão Prince, queria que ela fosse dele, inteiramente dele. Mas, diferente da época com Pansy, ele também queria ser dela. Queria que ela viesse, com aquele fogo arrebatador e tomasse o que era seu.

Foi Draco quem, desta vez, derrubou Serena no chão, assumindo agora o beijo. O garoto pegou a caixinha aberta com os brincos que repousava perto dali, e manteve a garota deitada. Pegou um dos brincos, desatarraxou e colocou em uma das orelhas; repetiu o procedimento com o outro, desta vez, mordiscando do lóbulo até a parte superior da orelha, fazendo-a arrepiar.

Ele deitou-se do lado dela, sem fôlego por causa dos beijos e disse no ouvido da menina:

'-Concordo com você. Existem jeitos bem melhores de se agradecer.' – e, sorrindo com malícia, se levantou.

Draco tirou mais um embrulho do bolso, mas este não tinha aparência de presente. Ele bateu com a varinha delicadamente no pacote e, com um feitiço não-verbal, ele aumentou de tamanho, ganhando a forma de uma toalha refinada, uma garrafa de vinho, duas taças de cristal e uma cesta com queijos – tudo já devidamente arrumado.

'-Hum, é uma ocasião especial, por acaso?' – ela perguntou, indicando com a cabeça as coisas que surgiram.

'-Sim. Há dezesseis anos nasceu a garota mais bonita e insolente de Hogwarts. Devemos celebrar antes que ela nos azare.' – ele ironizou e ela sorriu, daquela forma como ele esperava vê-la sorrir desde o Baile de Inverno. O sorriso aberto, que mostrava suas covinhas e iluminava os olhos azuis – 'Ao belo dragão!' – ele ofereceu uma taça à ela e ergueu a sua, propondo um brinde.

'-O que você está falando, sua doninha albina?' – ela inquiriu, uma sobrancelha levantada. Co um gesto rápido de mãos fez todo o conteúdo da taça do garoto derramar em sua camisa branca enquanto ele sorvia a bebida.

'-Serena!' – ele exclamou.

'-O dragão atacou' – ela deu de ombros, bebendo um gole de sua própria taça.

Ela, mais que rapidamente, tirou sua varinha das botas e limpou a camisa de Draco.

'-O que temos aqui? Um dragão domesticado?' – ele ironizou, tornando a encher sua taça.

'-Não, meu bem. Apenas não quero me sujar depois.'

Draco pegou uma das fatias de um queijo esverdeado e de mau aspecto. Levo até a boca de Serena e fez um gesto indicando que ela aceitasse.

'-Urgh! Isso parece estragado!' – ela disse, franzindo o nariz.

'-Prove, é assim mesmo. Garanto que é ótimo.'

A garota abriu de leve os lábios cheios e ele colocou o queijo na boca dela. Serena mastigou e saboreou, atenta ao gosto diferenciado.

'-Está pensando que me conquistar é fácil, Loiro?' – ela questionou, com os olhos brilhando, diferente de qualquer outra ocasião – 'Queijo e vinho? Você é uma doninha esperta, Malfoy.'

'-Fazer o que, Serena querida. Eu sei do que as mulheres gostam.' – ele deu de ombros, presunçoso.

Ela foi vagarosamente para o colo dele, ficando de fronte um para o outro com pouquíssima distancia os separando.

'-Você pode até saber lidar com as mulheres, seu galã de meia pataca. Mas, já lhe garanto, vai tempo até que você aprenda a lidar comigo.' – ela disse vagarosamente, misteriosa e sedutora.

'-Estou disposto a ser ensinado.' – foi tudo o que ele disse, arrancando mais um sorriso verdadeiro da garota.

Comeram mais do que beberam, voltando à maratona de beijos depois. Entre eles, Draco também sorria verdadeiramente ao encarar os lábios de Serena e seus olhos azuis com um brilho recém adquirido.

Exaustos dos beijos, encolheram-se em um canto debaixo de uma das pequenas janelas da torre, onde o vento os alcançava com menor intensidade. Serena sentara-se entre as pernas de Draco, e este lhe cobria com sua capa, aquecendo-os.

Ali, junto àquele rapaz, Serena esquecera todos os seus problemas com o pai, a data da morte da mãe, os segredos e mentiras que envolviam sua vida. Tudo passava, porque o que importava era estar aquecida nos braços dele.

Não havia mais nomes, muito menos sobrenomes, porque, juntos, nada importava.

Na companhia de Serena, abrigando-a em seus braços, não havia mais guerra, muito menos sua iniciação como Comensal, que aconteceria durante o feriado da páscoa, Voldemort não existia e tampouco a cobrança de seu pai.

E o mais estranho de tudo era que nenhum dos dois conseguia explicar aquilo. Bastava estarem juntos. Era, para eles, mais uma inquietação do que um sentimento. Porém, mal sabiam os jovens que essas sensações se confundem, fundindo-se em uma só.

Não era amor, também não era apenas desejo.

Amor vem com o tempo, e desejo é apenas carnal. Ali havia carinho e amizade, num misto de inexplicáveis sensações.

Draco cochilara, só então Serena arriscara tocar seus cabelos loiros. Eram sedosos e extremamente lisos; suas mãos deslizavam facilmente e pediam para tocar mais daquela maciez platinada. Draco ressonou de leve e apertou mais a garota contra si.

'-Draco.' – ela sussurrou em seu ouvido.

Ele se remexeu, mas não acordou.

'-Draco.' – ela chamou mais alto; ele piscou algumas vezes, mas voltou a fechar os olhos – 'Draco, acorde.' – ela bateu de leve no peito dele, tentando acordá-lo – 'Draco, vamos lá.' – ela pediu, coçando de leve a lateral da cabeça do loiro, onde o cabelo ainda era ralo.

Ele piscou os olhos novamente, agora focando Serena na sua frente, puxou-a assim mesmo de frente para seu peito e disse baixinho:

'-Só acordo com um beijo.'

'-A Bela Adormecida precisa de um beijo, então?' – ela brincou.

'-Quem é Bela Adormecida?' – ele inquiriu, sem abrir os olhos.

'-Contos de Fadas trouxas. Nada demais. Vamos, acorde, já está muito tarde.' – ela pediu, chacoalhando a cabeça loira dele.

'-Wow, Serena! Peço um beijo e recebo um chacoalhão!' – ele abriu sonolentamente os olhos, olhando feio para ela.

'-Ei, desculpa, Senhor Mau Humorado. Eu só queria te acordar logo.' – ela respondeu, dando um beijo na bochecha dele.

Draco espreguiçou e levantou-se, esfregando os olhos cinzas. Capturou a boca de Serena calmamente e segurou a cabeça dela em um carinho antes de selar seus lábios pela última vez.

'-Vamos.' – ele disse, agitando a varinha para que tudo aquilo voltasse a encolher, e pegando a mão da menina de forma a deixarem a Torre de Astronomia.

No caminho para as masmorras, Serena falou, num sussurro:

'-Vou falar com Dumbledore amanhã. É um novo começo, Draco. Você tem certeza disso?' – ela perguntou, de repente lembrando-se do assunto.

'-Eu... Ah, Merlin.' – ele suspirou, preocupado – 'Vou me tornar um Comensal no feriado da Páscoa, Serena' – ele repentinamente parou em um corredor, direcionando a garota para uma pequena alcova, acendendo sua varinha para iluminar seus rostos – ', eu não iria te contar isso agora para podermos ter mais algum tempo juntos. Eu não quero isso, você sabe, mas não tem mais jeito para mim.' – ele afirmou, e a dor transpareceu nos olhos dele, num misto de preocupação e culpa.

'-Se, do fundo do seu coração, você não quiser ser um Comensal, há uma maneira. Não vai impedir que o aconteça na Páscoa, mas as coisas melhorarão.' – ela afirmou, também temerosa com o assunto.

'-Serena, não posso compreender aonde você quer chegar com isso. Falar com Dumbledore não mudará nada, tenho uma missão a cumprir.'

'-Você precisa confiar em mim. Não posso explicar como, mas existe uma única maneira.' – ela disse, com o semblante aflito – 'E se eu não puder falar com Dumbledore, não me procure mais, isto acaba aqui. Não suportarei ter Voldemort mais envolvido na minha vida.' – ela disse decidida, mas com a voz carregada de pesar.

Draco não respondeu de imediato; aquilo o pegou de surpresa. Sabia que Serena odiava Comensais mais do que tudo, mas o próprio pai dela era um. O garoto pensou que ela já gostasse o suficiente dele para ficarem juntos até a Páscoa, já que depois disso manter a relação dos dois era arriscar o segredo dela.

Ele gostava muito de Serena, apesar do pouco tempo juntos. Admirava-a e temia-a. Mas apaixonara-se por isso, pelo mistério que ela era. Desistiria disso tão fácil? Apenas porque seu pai decidira que o filho seria um Comensal?

Não.

Queria Serena em sua vida; mais do que isso: queria-a junto dele, naquele romance às avessas.

Ele havia fechado os olhos. Abriu-os repentinamente, fazendo o coração de Serena bater mais forte com a expectativa da resposta.

'-Eu confio em você.' – foi a primeira coisa que disse, mirando-a nos olhos – 'E quero estar na sua vida, Serena. Fale com Dumbledore, e me chame, se preciso.' – ele disse certo de suas ações.

A coisa que apertava seu peito tinha ido embora. Enfim, fizera a coisa certa, a coisa que o seu íntimo desejava fazer.

Serena não disse nada. Estava estupefata com as palavras de Draco, e tinha medo da onde aquilo os levaria. Ele queria estar na vida de Serena. Iria fazer aquilo mais por ela que por ele. Lembrava-se da história de seus pais: Severo se tornara um espião porque Alexia não o aceitaria se fosse um Comensal.

E aquilo estava se repetindo. Serena estava com medo; mas tudo parecia tão certo que como duvidar? Pela primeira vez na vida tinha certeza absoluta de que aquilo estava certo, que era para ser.

Ali, mais um vínculo era formado.

'-Diretor?' – Serena perguntou, abrindo a porta que levava ao seu gabinete, já tendo passado pela gárgula.

'-Serena?' – ele perguntou lá de dentro – 'Entre menina.'

A garota adentrou o já conhecido cômodo e atentou aos apitos das coisas prateadas, enquanto Dumbledore convidava-a a sentar com um gesto.

'-O que a traz aqui, Serena?'

Ela pensou um pouco, e escolheu a forma direta dos fatos.

'-Draco.' – foi tudo o que disse.

Dumbledore ergueu as sobrancelhas como se soubesse e estivesse surpreso ao mesmo tempo.

'-Voldemort sempre invadindo sua vida de uma forma ou de outra, não é mesmo, Serena?' – ele afirmou, suspirando e ajeitando os óculos de meia lua – 'Creio que a senhorita já saiba da missão que foi incumbida ao Senhor Malfoy, não é mesmo?' – Serena concordou, assustada pelo homem saber disso – 'Sim, uma missão um tanto quanto cruel para um garoto tão jovem. Mas, minha filha, se ele precisa de ajuda, ele deve vir até mim; não você minha cara, sinto muito.'

'-Ele virá' – foi o que ela disse, rapidamente – 'Ele virá, professor Dumbledore, porque ele está desesperado. Eu quis vir primeiro para perguntar uma coisa um tanto quanto pessoal ao senhor, que ninguém mais sabe, além de mim, meu pai e o senhor.'

'-Diga, minha menina. Ajudarei no que puder, lhe garanto.'

'-Meu pai é um espião. Eu pergunto se Draco não o pode ser também; é a única forma de livrá-lo de seu destino. Ou ao menos da parte mais cruel.'

'-Sim, muito esperta, Serena, muito esperta. Se ele estiver mesmo disposto a mudar de lado, eu verei em seus olhos, e então, certamente, lhe darei esta opção. Tudo será mais fácil para ele e para nós se isto acontecer.'

Serena suspirou aliviada e soltou a respiração que nem percebera estar prendendo. Sorriu abertamente ao ouvir aquelas palavras, o sorriso raro de Alexandra.

Dumbledore atentou à felicidade da garota e sorriu com ela.

'-Vejo que o Senhor Malfoy é mesmo uma pessoa afortunada!' – o diretor exclamou – 'Ele tem seu coração.'

Serena tentou negar e convencer o diretor do contrário, mas ele apenas sorriu.

'-Não é a primeira vez que o amor muda o destino das pessoas.' – ele sugeriu, pensando – assim como Serena – em Alexandra e Severo.

Depois de mais um pouco de conversa sem importância, Serena foi para o Salão Principal pensativa. As palavras de Dumbledore atingiram-na como flechas; ela não conseguia parar de pensar no que ele dissera sobre Draco.

Porque ela não amava-o não é? Afinal, eles tinham apenas dezesseis anos. Carinho, Serena pensou, carinho era uma coisa aceitável. E decidiu que era aquilo que sentiam um pelo outro.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Esse é um dos maiores capítulos da fic e na minha humilde opinião de autora um dos melhores... Muitas coisas são esclarecidas (inclusive o nome da fic), estamos cada vez mais próximos da guerra e com isso o relacionamento do nosso casal preferido se desenvolvendo...

Me contem!

Beijo, L.