Piratas Do Caribe: Um Novo Horizonte escrita por Tenebris


Capítulo 7
Capítulo 7: Coração




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Lewis prosseguiu com seu plano. Jack estava na segunda garrafa de licor.

        - Pretendo procurar o Baú da Morte. Encontrar o coração de Will Turner para poder ameaçá-lo e controlar o Holandês Voador.

        - Parece-me um plano meio antiquado, se me permite dizer. – Interrompeu Jack. Ele sentou de frente para Lewis, usando outra cadeira acolchoada para apoiar os pés, enquanto brincava com barquinhos em miniatura que estavam na mesa. – Um tal de Butler Cackett já tentou isso antes, não é mesmo?

        - Cutler. – Corrigiu Lewis rispidamente. – Lorde Cutler Backett. E sim, ele já teve essa ideia. Entretanto, para ele, tudo era apenas um bom negócio. Ele cometeu muitas falhas. Por isso fracassou. Eu não me permitirei cometer essas falhas e o Holandês Voador será meu.

        - O que pretende com isso, Sr. Evans? – Perguntou Jack, mordendo um dos barquinhos em miniatura.

        - Recuperar todo o prestígio da Companhia das Índias Orientais. Prestígio que, aliás, o senhor ajudou a se perder.

        - Imaginação. Difamação e calúnia. – Disse Jack, olhando momentaneamente para os lados, a fim de verificar se alguém o poderia desmentir.  

        - Não vou falhar, Jack. Não vou. O Holandês será meu e eu serei muito poderoso frente à Companhia.

        Jack revirou os olhos, indiferente. Não fazia ideia de onde o Baú da Morte se encontrava. Tampouco estava a fim de ir procurá-lo. Esses Baús o haviam dado tanta dor de cabeça que ele não precisava procurar mais um. E depois, seu débito com Davy Jones já havia sido quitado.

        - Como quiser, Sr. Evans. Agora... Posso partir?

        Lewis encarou Jack com olhos azuis e vítreos. A voz sombria.

        - Se eu descobrir que você sabe algo mais sobre Willian Turner eu vou descobrir.

        - Eu e Willian Turner mal nos conhecemos. – Disse Jack, abrindo caminho por entre os soldados até a porta. Seus olhos pousaram uma última vez naquela garrafa de licor tão sedutora. – Savvy?

        E com essas palavras, deixou o escritório em busca de mais um pouco de rum.

        Elizabeth dormia. Era bom estar de volta à Bahia Naufrágio, em sua cabana bem no topo da montanha da Ilha. Logo amanheceria, pensou ela, e então iria fazer o que fazia todas as manhãs: Checar se o Baú da Morte, com o coração de Willian Turner, seu coração, estava seguro onde ela havia enterrado.

        Ela se levantou da cama, observando aquela cabana de dois cômodos tão solitários. Não era o futuro que imaginava para si quando era mais nova. Elizabeth olhou-se então para um espelho. Colocou roupas limpas e cobriu-se com o manto que Will lhe dera. De alguma forma tinha o cheiro dele, mas ela pensou que fosse somente coisa de sua cabeça. Em seu reflexo, observava uma Elizabeth que parecia mais madura, os cabelos loiros e compridos e os olhos decididos. Entretanto, sentia-se mais perdida que nunca.

        O trajeto até a praia não demorou tanto, mas descer a montanha inclinada àquela hora da manhã não era exatamente muito fácil. Elizabeth logo sentiu a floresta dar lugar a areia fina e branca. Ela abriu caminho por entre algumas rochas que cortavam o caminho e suspirou pesadamente. O sol já nascia, tingindo o céu de laranja e dourado. Ela caminhou então um pouco mais a frente.

        Podia se acostumar com tudo aquilo com muita facilidade. A dificuldade do trajeto. O mesmo sol nascendo sempre no mesmo horário. As mesmas rochas circundando-a. O mesmo mar azul quebrando na encosta. Só não se acostumaria às lembranças inevitáveis.

        Elizabeth deslizou pela areia, cessando até mesmo a respiração.

        Ela já observava atentamente as duas espadas que se cruzavam diagonalmente, fincadas na areia. Uma espada era dela, a outra de Will. Antes de ele partir no Holandês Voador, eles ficaram juntos uma última vez naquele mesmo lugar e para marcarem, ambos fincaram suas espadas em um lugar da Bahia Naufrágio.

        Então, Elizabeth abaixou-se perto das espadas, retirando as demoradamente. Era como se isto fosse retirar seu destino dali. E uma de cada vez, primeiro a dela, e depois a de Will, ela retirou as espadas. Colocou a mão na areia fria e remexeu. Tirando um pouco de areia de cada vez, então o som já ficava mais audível e nítido.

        Logo seus dedos alcançaram e tocaram o Baú da Morte.

        Que ela havia enterrado ali.

        A chave, que estava parcialmente oxidada, ela guardava consigo todo o tempo. Estava presa em uma gargantilha, dentro da gola de sua roupa. Não era um esconderijo muito original, pensava ela. Já que Davy Jones também guardara a chave daquela maneira.

        Sempre que podia, Elizabeth fazia isso. Passava grande parte do dia com o coração de Will, com o Baú em seu colo. Sentindo que assim era o mais perto possível de Will que poderia ficar naquele determinado instante.

        Depois disso, trancou o Baú ornamentado de desenhos e colocou a chave em seu pescoço. Depositou cuidadosamente o Baú dentro do buraco, cobrindo-o com areia. Para então novamente fincar as espadas tal como estavam. Como se jamais tivessem sido tocadas por ela.

        A chave fria em seu peito a queimava dolorosamente.

        Para Will, ainda era difícil acostumar-se ao silêncio sepulcral. Sem nem ao menos poder ouvir as batidas do próprio coração. Ele navegava, mas seus pensamentos não estavam no Holandês. Estavam em Elizabeth.

- Você fez o melhor que pode, Will.

        Bootstrap Bill Turner, o pai de Will, tentava consolá-lo. Will estava guiando o Holandês através do timão. As expressões tão imóveis e fixas que facilmente seriam confundidas com uma estátua. Bootstrap percebia que Will estava assim desde seu último encontro com Elizabeth, quando recusara uma eternidade com ela. Para não condená-la.

        Uns minutos de silêncio antes de Will responder.

        - Ela ainda vai se decidir. Dei minha palavra que concordaria, caso ela pensasse melhor. Ainda assim, não é um destino que ela tenha de escolher para si.

        Bootstrap deu uma risada grave e lenta, dando tapinhas nas costas do filho.

        - Nós não tivemos escolha, não é mesmo?

        - Pois é.

        O Holandês navegava em direção ao Outro Lado, onde teria que levar as almas daqueles que morreram no mar. Ao redor, a imensidão azul cintilava contra os primeiros raios de sol. Mas em um ponto ao norte, algo parecia diferente.

        Will pegou uma luneta dourada e bronze e piscou o olho para enxergar melhor. Um navio estava se aproximando do Holandês. Que tolice, ele pensava, pois nenhum navio costumava procurar o Holandês, tampouco se colocar entre seu caminho.

        - O que devemos fazer? – Indagou Bootstrap, pronto para dar ordens, caso fosse necessário.

        - Nada. O navio não atacou até agora. Provavelmente não vai atacar.

        Will esperava que estivesse realmente certo.

        Todos os tripulantes do Holandês ficaram à espreita, alguns com seus afazeres habituais. Outros com espadas, lanças e fuzis nas mãos. Outros ainda foram preparar os canhões.

        - Fiquem alerta! – Bradou Will, ainda à frente do timão.

        Quando o Navio se aproximou, Will não tinha ideia de qual era, nem quem eram seus tripulantes, mas reconheceu de imediato o símbolo na proa do Navio. Um símbolo que perseguia todo Capitão de um Navio poderoso como o Holandês.

        O símbolo da Companhia das Índias Orientais. Voltava para assombrar os tripulantes do Holandês Voador.

        Todos os homens a bordo vestiam fardas azuis e vermelhas da Marinha Real Inglesa, pensou Will. O Navio aproximou-se lateralmente, alinhando-se ao Holandês. Não era muito sensato atacar o Holandês dessa maneira, portanto, Will preferiu acreditar que não haveria um ataque.

        - Procuro Willian Turner, o Capitão. – Um homem gritou com uma voz que exalava repugnância e descrença. Era alto e tinha cabelos negros lustrosos.

        - Eu mesmo. – Disse Will. Ele se pôs a frente do Navio, para encarar melhor aquele homem. Sentiu uma incontida vontade de desembainhar a espada naquele momento.

        - Ah. – Murmurou o homem indiferentemente. – Sou o Comodoro Lewis Johansson Evans. Um dos membros da Companhia das Índias Orientais.

        - Não diga. – Retorquiu Will, franzindo o cenho e cruzando os braços.

        O homem desenrolou um pergaminho e pigarreou para lê-lo em voz alta.

        - A C.I.O. vem por meio desta, pedir-lhe formalmente, a fim de evitar um massacre sanguinário e desnecessário,  que informe-nos a localização e o paradeiro do Baú da Morte.

        A tripulação do Holandês riu.

        - Lamento. – Disse Will, internamente preocupado e abismado com a ousadia daquele Comodoro. – Não sei onde meu coração está.

        Isto de fato era verdade. Ele deixara seu coração com Elizabeth, mas não sabia exatamente onde ela o havia colocado. E caso mencionasse isso, Lewis Evans poderia ir atrás de Elizabeth para conseguir o coração. Citar Elizabeth nesta conversa estava fora de cogitação para Will.

        - Quer mesmo que eu acredite nisto, Turner? – Replicou Lewis, o tom de voz elevando-se.

        - Eu desconheço o paradeiro do Baú. Não fui eu quem colocou meu coração lá dentro. Eu estava morto. Ou por acaso não conhece a lenda? Parte do Navio e Tripulação. O Holandês precisa ter um Capitão.

        - Sempre me dizem para não negociar com piratas. – Disse Lewis, acariciando o próprio rosto. – Mas acho que todo mundo tem um preço. Diga-me o seu.

        Will adiantou-se, recostado à murada do Navio.

        - Não haverá preço nem negociação, pois não entregarei meu coração. – Sua voz parecia sombria e cálida. Era impossível não pensar em Elizabeth e no perigo que ela agora corria, com Lewis atrás do Baú. Qualquer ideia de ver Elizabeth com aquele cara foi expulsa à força da cabeça de Will.

        - Você é quem sabe. – Retrucou Lewis.  A voz soava como algo entre um sibilo e um riso. – Não vim aqui para levar o coração diretamente. Foi mais um aviso. Porque eu vou encontrar seu coração. Seu Navio vai servir a mim e a Companhia das Índias Orientais.

        - Estarei esperando. – Will falou calma e perigosamente. A mão já instintivamente na espada.

        - Como quiser. Mas garanto que vai se arrepender, com cada centelha de força que ainda lhe restar. Irá se arrepender.

        E com essas palavras, o Navio da Companhia das Índias Orientais deu meia volta, deixando a tripulação do Holandês perplexa.

        E um Will desnorteado, temendo pela vida de Elizabeth. E receando que talvez o que Lewis dissera fosse mesmo verdade. 


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