E se você morresse agora? Se, sem que você soubesse, o pensamento que passara na sua cabeça fosse seu último pensamento. Sua vida teria valido a pena? E todas aquelas coisas que você deixou para amanhã? E quanto a todas aquelas palavras não ditas engasgadas em sua garganta. O que seria delas?

Eu não estava pronta para abandonar as ideias mortais. Eu não estava pronta para partir. Sei que de fato ninguém está. Porém, eu ainda tinha tantas coisas para fazer, dizer... sentir. Não! Eu não podia me entregar aquela imensa escuridão naquele momento. Precisava voltar, mas não havia sinal algum de caminho. A agonia me tomou.

– Querida! Querida! - a eco veio de algum lugar.

– Pai? - indaguei ao escuro que me cercava.

– Filha, você pode voltar!

Eu não tinha certeza se era mesmo meu pai ou apenas um modo que o meu subconsciente arrumou para se comunicar comigo. Mas o que poderia questionar naquele momento?

– Pai, eu não sei como.

– Busque-os querida. Chame por eles com a sua alma. Vocês se completam, podem se achar em qualquer plano.

Não precisei pensar muito para saber que ele falava de Taylor e Bryan. Afirmei para mim mesma com toda a certeza. Abri minha mente, tentando achar um modo de chama-los, porém nada acontecia. Enchi meu peito de uma imensa vontade de te-los perto de mim. Eu praticamente implorei para estar com eles e de repente, me senti sendo puxada.

Ouvi meu coração bater diversas vezes, e quando ele realmente começou a bater intensamente forte como um tambor, chegou a doer o peito. Respirei fundo como se tivesse passado um bom tempo em baixo d'água. E com os olhos arregalados notei que estava de volta ao meu corpo. Com o coração disparado e sentindo o corpo gelado, busquei enxergar á minha volta. Demorou uns instantes para tudo começar a fazer sentido.

– Anna! - a voz animada, que me parecia distante, falou. - Você está viva!

– Estou? - sussurrei, me sentindo extremamente tonta.

– E quase me matou garota! - era uma outra voz que falava agora.

– Taylor? - questionei.

– Sim.

Observei os dois. Tive certeza de que uma expressão de dúvida estava estampada no meu rosto. Passei alguns segundos tentando considerar os fatos.

– Estou viva. - disse mais para mim mesma do que para eles. - Mérlia. Espere, onde está Mérlia?

– Shiu. Não se preocupe Anna, Penny resolveu isto. - Bryan explicou.

– Estou mais preocupado com você. - disse Taylor. - Como se sente?

– Viva. O que fizeram?

– Por incrível que pareça, o anti-alérgico de Speed funcionou.

Duvidei um pouco de que tivesse sido realmente o anti-alérgico de Speed que havia me salvado, mas não questionei. Apenas eu sabia como a vida me havia sido generosa e resolvi continuar sendo a única a saber sobre aquilo.

– Bem-vinda de volta Cinderela. - Lúcia apareceu e a observando daquele angulo, notei que estava no chão.

Com cuidado e ajuda dos meninos, me pus de pé. Apertei os olhos a fim de afastar a tontura. - Justin. - pensei alto. - Ele foi preso também?

– Eu te conto depois. - Tay me respondeu e deu um sorriso super misterioso e atraente, porém com um olhar distante.

– Tay, o que houve?

– Não me culpe, por favor. Você age com raiva e eu também faço isso.

– Ele está morto? - indaguei com um certo medo da resposta. Diabos, por que eu ainda me importava com ele?

– Sim. - desta vez Bryan falou.

– Drama pra depois! - Lúcia ligou a sua voz irritante. - O helicóptero chegou, vamos embora!

Claro que eu Justin havia me magoado pra caramba, mas isso não quer dizer que eu o queria morto. De modo algum! Tentei não pensar muito nisso. Sem questionar nada, entrei no transporte aéreo, e sentei entre Tay e Bryan. Os dois seguraram minhas mãos por um instante. Eu nunca havia me sentindo tão completa.

– Onde está Penny? - perguntei.

– Ela está terminando de resolver a prisão dos miseráveis da Ordem. - respondeu Bryan.

– Quando voltará?

– Provavelmente antes que nós. Speed está com ela.

O helicóptero nos levou até o aeroporto, onde pegamos um voo para Londres. Foi uma longa e cansativa viagem de volta para casa. Estava quase me acostumando com a ideia de viajar em segundos com Speed. Ele era um bom garoto. Aliás, toda a CDS era.

Eu não conseguia parar de me sentir culpada por tudo aquilo. Claro que não imaginava que Justin podia estar aliado a Mérlia, mas se não tivesse sido tão impulsiva muitos dos ocorridos naquele dia poderiam ter sido evitados. Tarde para lamentações.

Assim que pus os pés no solo inglês, agradeci em silêncio por estar ali. Fui preenchida por um sensação de "Não há lugar como a nossa casa" Pois me sentia em casa. A mansão estava do mesmo jeito alegre de sempre. Quando chegamos, eu fui a primeira a abrir a porta. Penny veio até mim com entusiasmo.

– Querida, fiquei realmente preocupada. - abracei-a.

– Estou bem Penny.

Bella, Speed e Michael estavam logo atrás dela e os cumprimentei também. Observei enquanto Penny falava com Taylor, parecia que eles finalmente iam começar a se entender de verdade. Não pude evitar de sorrir ao ver todos contentes só pelo falo de estarem uns com os outros.

– Comemoração! - berrou Penny. - Isso merece uma comemoração!

– Penny adora uma festa. - Bryan sussurrou disfarçadamente em meu ouvido, em resposta eu sorri.

– Annabeth e Lúcia, vocês podem me ajudar? - confirmamos. - Ótimo! Bella, você sabe onde estão as decorações. Pegue-as, por gentileza!

Em uma hora, nós haviamos arrumado quase tudo. As luzes foram instaladas pelos garotos e uma decoração simples estava no salão. Speed chegou com algumas bebias e as arrumou na mesa. Lúcia o ajudara a trazer a jarra de ponche. Vê-la ajudando me deixou surpresa. Michael estava instalando seu equipamento musical.

– Annabeth. - Penny se aproximou de mim. - Pode pegar a comida que encomendei lá fora?

– Ah, claro. - antes que eu pudesse ir, ela segurou a minha mão.

– Obrigada por traze-lo de volta de alguma maneira.

Não precisei perguntar para saber que ela falava de Taylor. - Obrigada por salvar a minha vida antes mesmo que eu nascesse e continuar me protegendo.

– Estamos kites.

Fui para a entrada principal buscar a tal encomenda, quando vi Taylor pronto para sair com a sua moto. Gritei "Hey" e corri até ele.

– Para onde você vai?

Ele tirou o capacete. Eu pensei "Deus, como pode ser tão quente?" - Estou indo para o meu apartamento.

– Eu pensei que...

Antes que eu pudesse concluir, ele disse: - Ficar aqui? Não é muito a minha cara. Mas prometo vir visita-los.

Sorri. Na verdade, eu não estava surpresa. - Você é livre demais para se prender a algo, não é Taylor?

– Isso não é verdade. - ele deu um sorriso metido que me deixou corada. - Não se preocupe. Vou estar sempre por perto, afinal, você é minha metade ou algo assim, certo? - lhe dei um sorriso positivo. - E você pode me ligar sempre garota, eu sei que sou eu quem você vai chamar quando as coisas ficarem feias. Então, vamos sair por ai dirigindo e sendo qualquer pessoa, menos nós mesmos.

– Acho que vou mesmo querer isso. - o abracei forte. - Pense em mim Tay!

– Você nem precisa pedir Anna.

Ele colocou o capacete de volta e sai pelo portão com sua moto roncando. Vê-lo ir me fazia sentir partida. Parte de mim havia ido embora com ele, mas saber que ele voltaria era confortante.

– Hey! - virei-me para trás. - Vou ter mesmo que dividir você com esse cara? - Bryan se aproximou.

– Só em algumas coisas. - ele pós as mãos na minha cintura. - E eu terei de te dividir com Lúcia?

– Só em algumas coisas. - revirei os olhos. - Anna.

– O quê?

– Eu amo você.

Sorri completamente surpresa. - O que você disse?

– Não me faça repetir. - Pela primeira vez vi Bryan Cooper sem graça.

–Eu também amo você, seu bobo.

Então ele me beijou. Eu estava radiante de felicidade. Se eu tivesse que encarar mais problemas, tudo bem, eu teria minhas duas caras metades ao meu lado, Penny como uma quase mãe e bons amigos. O que passou já não me afetava do mesmo modo. Eu estava disposta a esquecer de vez o passado e dar espaço a novas lembranças. Se era final, não sei. Só sei que era feliz e feliz demais.