-Você está.. com fome? Quer comer alguma coisa? - o olhar de Mike era amigavel. Eu podia perceber seus olhos me fitando o tempo todo, mas não me incomodava muito com isso.
-Não, não, valeu - eu sorri. - Seus pais... deviam saber que você trouxe uma estranha pra casa?
-Meu pai provavelmente vai ficar feliz, sabe.. - ele pareceu divertir-se com a ideia. - Mas acho melhor avisar a senhora Newton. Você fica bem... aqui, ok? - ele sorriu, meio nervoso, como se eu fosse desaparecer se ele me perdesse de vista. Ele não deixava de estar certo. Mas afinal, pra onde mais eu poderia ir? Entao eu os ouvi discutindo. e, a senhora Newton não parecia muito contente... Então eu fiz uma coisa que não gosto de fazer, mas que foi necessária. Sim, eu alterei a mente da senhora Newton. Ela caminhou da sala ate a cozinha onde eu estava, vestindo um roupão salmão cheio de bordados.
-Oh, minha querida, que bom que está aqui - ela sorriu amavelmente. Mike estava perplexo atrás dela, e nao era pra menos. -Você esta alimentada? Precisa de alguma coisa?
-Ah não senhora Newton, não se incomode. Estou bem assim - eu sorri e pisquei para Mike.
-Bom então, acho que voce fica bem no quarto do Mike, meu bem. Ele dorme na sala - ela o olhou como se pra se certificar que ele não protestaria.
-Hey, tem um beliche la, eu provavelmente não precisaria dormir na sala. - Mike protestou, meio que ja esperando por um chingão da mae. Mas ela ainda estava sob o efeito 'não questione o Mike' que eu causei, então ela apenas se virou sorrindo e disse a ele
-Bom, eu presumo que vocês possam se entender quanto a isso. Eu ja vou então. - ela sorriu uma ultima vez e sumiu na escuridão do corredor que saia da cozinha. Mike deu um assovio baixinho, como se fosse incapaz de acreditar no que acabara de ver.

-Você... fez... isso? - ele me olhou cuidadoso. Eu assenti, cuidadosa também. Era obvio que ele percebera que eu nao era normal. Eu não ia enganá-lo facilmente, então, porque não esclarecer as coisas até um limite seguro? Eu definitivamente precisaria de sua ajuda agora.
-Como... - ele parou, meio confuso.
-Mike, eu acho melhor você não saber de certas coisas... pelo seu bem.
-Mas você pode... contar alguma coisa?
-Bom, você me ajudou, eu lhe devo muita coisa. Creio que a parte da verdade que te mantenha seguro, eu posso contar. Amanhã.
É, eu definitivamente estava ficando maluca. Mas era tão fácil conversar com ele... E ele continuava me olhando bobamente, como se eu fosse algum tipo de super heroína, ou coisa assim. Pobre Mike... mal sabia ele que eu estava muito longe disso.
-Bom, então... você deve estar cansada. - ele meio que saiu do transe.
-Bastante. - eu sorri. Uma baita mentira, mas eu realmente precisava de tempo, pra botar a cabeça no lugar.
-Ér.. eu estava.. brincando sobre o beliche, sabe? - ele sorriu meio sem jeito.
-Tudo bem Mike. Não vou tirar voce da sua cama. Não se incomode. - eu pisquei. É, eu não devia ter feito isso. Ele ficou meio bobo por alguns segundos, seus olhos piscaram nervosamente, a respiração ficou desigual. Maldito poder de sedução vampírico, eu praguejei baixo demais pra fazer som. - Mike? - eu sussurrei, passando a mão na frente do seu rosto.
-Eu... que? - ele disse totalmente perdido. Eu ri baixinho. - Ah sim. Bom... ahn... vamos então. - ele sacudiu a cabeca, como que pra se impedir de entrar em transe outra vez. Eu fiquei o observando enquanto ele tirava as coisas de cima do beliche, totalmente atrapalhado, murmurando algumas coisas sem sentido.
-Bom, er... o banheiro é ali, se você quiser...
-Tudo bem Mike. - eu sorri, e sai rapidamente, pra não perturbá-lo ainda mais. Bem, rapidamente pra um mortal, afinal.

Eu entrei no pequeno banheiro, e escorreguei escorando as costas na parede até sentar no piso frio, com um longo suspiro. Poderia parecer idiota, mas eu sentia quase dor física no lugar onde devia estar meu coração. Eu nunca pensei que fosse ficar tão desapontada com alguma coisa como naquele dia.. tão imensamente confusa. Porque afinal? Eu me sentia como se tivesse ficado horas girando compulsivamente em um daqueles brinquedos de parque infantil, e agora mal conseguisse ficar em pé, ou ver nitidamente as coisas ao meu redor. Eu precisava encontrar as irmãs Colleman, precisava de respostas. O dia amanhã seria longo... Eu pensei me levantando. Mike concerteza acharia estranho se eu me demorasse muito, ou acharia que eu tinha pulado a janela. Eu passei uma água no rosto e fiz uma trança no cabelo, com agilidade, percebendo que ele não estava mais longo como de costume. Alice. Eu pensei com carinho, um nó se formando na garganta ja.
-Tudo certo ai, Mike? - eu disse quando sai.
-Eu.. claro. Você fica com o de baixo, ok?
-Está ótimo. - eu sorri, indo na direção do beliche. Mike meio que se atrapalhou ao me deixar passar, e esbarrou em mim, meio sem jeito.
-Des... culpe - ele disse corando.
-Tudo bem Mike. - eu disse com um meio sorriso, sentando sobre a cama. Enquanto ele ia ao banheiro, eu tentei dar um jeito de me lembrar como lidar com os cobertores. Ta legal, eu nao deitava em uma cama tinha uns... cem anos. Não lembro de tê-lo feito depois de me tornar imortal.
Ele voltou depois de uns cinco minutos, meio abobalhado. Pelo visto, ele ia dormir com as mesmas roupas, e eu me senti culpada por obrigá-lo a fazer isso. Pobre Mike, ele tinha toda uma vida, afinal, eu e que nao deveria estar ali. Ele subiu até a cama de cima, e depois colocou a cabeça para o lado, olhando para baixo.
-Boa noite Mike - eu sorri. - E muito obrigada, por tudo.
-Ahh você.. você.. Claro. é um prazer. - ele sorriu, sem graça, recolheu a cabeça até seu travesseiro na cama de cima.

Eu não o ouvi mais depois disso. Esperei pacientemente até que ele pegasse no sono, antes de sair da cama, sem fazer ruído algum. Eu era boa nisso. Quando ja estava a meio caminho do jardim, eu ouvi a voz de Jess Colleman
-Mel! - ela me abraçou impulsivamente. - Eu fiquei tão preocupada. Está tudo bem?
-Não, não está. - eu disse a abraçando forte. Não tinha abraço que me reconfortasse mais naquele momento. Rafa se precipitou até onde estávamos e envolveu facilmente a nós duas num abraço também.
-Nós vamos dar um jeito em tudo. - ela disse seria. Jane Volturi não perde por esperar.

(...)