*Ponto de vista do Adam

Com as mãos molhadas penteei o cabelo para trás até que ele ficasse impecavelmente assentado. Meu cabelo estava maior do que eu costumava usar e precisava de um novo corte, mas penteado daquela forma, o comprimento me fez aparentar sofisticado. Não só o cabelo, pois eu também havia me barbeado e estava usando roupas sociais. Terminei de fechar os botões da minha camisa clara deixando abertos apenas os dois primeiros já que eu estaria dispensando a gravata. Olhei para frente, analisando meu reflexo no espelho. Eu de fato parecia um jovem homem de negócios. Permiti minha mente devanear por um momento e sorri comigo mesmo ao pensar no que a Lori diria a me ver vestido assim. Suspirei.

Dei uma última olhada em meu reflexo e saí do banheiro, concentrando-me em meu serviço. Hoje seria o dia em que faríamos o último assalto de Chad. Eu não estava me sentindo particularmente empolgado com aquilo, mas era um favor para um amigo. Assim que cheguei ao quarto, sentei-me na beira da cama para calçar meus sapatos. Ouvi o som de chaves e logo em seguida o da porta se abrindo. Olhei para trás e vi Melina entrar. Estava usando um vestido azul escuro de tecido fino que contrastava com seu cabelo dourado, preso em um penteado descontraído. Não pude deixar de notar também que ela não estava usando sutiã e que trazia algo consigo nas mãos. Franzi o cenho. Era um pacote fechado.

"O que é isso?" perguntei, sentindo-me mais preocupado do que curioso, a julgar pela expressão no rosto de Melina.

Ela caminhou lentamente em minha direção e hesitantemente estendeu o pacote para mim. Vi que meu nome estava escrito na superfície do papel amarelo do pacote em uma letra garranchada e tosca, evidentemente masculina. Peguei o pacote e procurei pelo remetente, mas não havia nada.

"Quem te deu isso?" tornei a perguntar. Melina balançou a cabeça.

"Eu não sei." Respondeu. "Um homem careca me parou hoje no centro da cidade, perto da Times Square, e me pediu para entregar isso a você. Eu não faço ideia de quem seja."

Estreitei os olhos com desconfiança e sem me importar com a presença de Melina, abri o pacote. Dentro dele havia um DVD em um case transparente e no disco estavam escritas as iniciais M.C. com a mesma letra tosca do pacote. Eu sabia o que significavam aquelas iniciais. Qualquer idiota saberia. Imediatamente levei o disco até o aparelho leitor de DVDs e liguei a televisão. Sentei-me novamente na beira da cama e esperei. A gravação começou com alguns chiados e alguns barulhos estranhos e incompreensíveis. A imagem estava escurecida e desfocada. De repente um grito. Mas não um grito qualquer. Um grito de dor e desespero que fez todos os meus pelos se eriçarem e meu sangue gelar. Era a voz de Lori. A imagem tomou foco, embora ainda estivesse escura e com uma qualidade ruim. Ainda assim, pude ver Lori sentada em uma cadeira no meio de um cômodo vazia, parecia um galpão, mas não me ative aos detalhes já que toda minha atenção estava voltada para ela.

Ela estava amordaçada e amarrada pelos pulsos e tornozelos. Havia marcas e ferimentos espalhados pelo seu corpo, um filete de sangue escorria de um corte na maçã de seu rosto, logo abaixo de seu olho esquerdo que também estava inchado. Suas roupas estavam sujas e sua blusa rasgada em frangalhos de forma que um de seus seios estava exposto. Ela tremia e gemia. Estava tão assustada. E eu estava furioso, e também com medo. Desde que nos separamos, lutei para me convencer de que eu havia feito a escolha certa. Mas é claro que eu estava errado. A partir do momento em que nos tornamos um casal, eu a expus ao perigo do meu mundo. Eu achei que eu poderia mudar isso a afastando dessa vida, mas não percebi que a afastando de mim ela continuaria exposta e sem minha proteção. Não houve um momento, desde que saí pela porta daquele hotel, em que eu não tenha me perguntado onde ela estaria ou se estava bem. Ou se sentia minha falta.

Uma segunda figura apareceu na filmagem. Um homem careca, alto e encorpado. Ele parou diante dela, deu uma breve olhada para a câmera e sorriu, aumentando ainda mais minha fúria crescente. Tornou a olhar para Lori e ergueu a mão, desvencilhando um tapa espalmado no rosto da minha menina. Naquele instante perdi completamente o controle da minha razão e avancei violentamente em direção à TV. Fui impedido em meio ao ato quando Melina me segurou, o que foi um erro terrível. Sua força nem de longe se equiparava à minha e eu estava absolutamente descontrolado. Ela não me impediu, de fato, mas desviou meu foco para ela. Eu a segurei pelo pescoço com uma força brutal e firmei os dedos até que ela ficasse de joelhos aos meus pés. Ela tossia, tentava respirar desesperadamente e lutava para se soltar, mas mantive meu aperto firme e a encarei nos olhos, como se ela fosse a responsável por tudo aquilo. O rosto dela ficou avermelhado e ela já não se debatia tanto. Sua boca estava meio aberta, mas não saía som. Apenas o brilho em seus olhos era capaz de transparecer o quanto ela estava apavorada.

Soltei-a de repente e seu corpo caiu amolecido. Ela tossiu violentamente, levou a mão ao pescoço e me encarou com assombro e raiva. Olhei novamente para a tela na televisão e vi que o homem conversava com Lori. Eu não podia ouvir o que ele dizia, mas pelas reações dela, provavelmente seriam ameaças. Não consegui assistir até o final. Desliguei a televisão, peguei minha pistola carregada e a encaixei no cós da calça. Vesti meu paletó, que estava pendurado por um cabide em um pequeno gancho na parede, dei uma última olhada em Melina, que agora estava de pé e ainda me encarava, e sem dizer uma única palavra caminhei em direção à porta. Eu estava certo de que alguém iria morrer pelas minhas mãos naquela noite.