*Ponto de vista da Lori

Agente Investigativo Rodney Dawes. Acho que já perdi a conta da quantidade de vezes que me peguei encarando este cartão. Respirei fundo e o guardei de volta no bolso da calça. Encarei a rua lá fora. Era uma rua tranquila e residencial, mas a movimentação de Nova York era singular. Sempre viajei muito durante minha carreira de modelo e mesmo depois de experimentar um estilo de vida nômade com Adam eu ainda conseguia me sentir acolhida pela familiaridade da cidade. Eu ainda conseguia me sentir em casa.

Eu estava em um pequeno apartamento no Hell’s Kitchen, pois não suportei ficar na mansão da minha família. Michelle, minha irmã mais nova, havia insistido para que eu ficasse e eu entendia a razão de sua apreensão. Ela temia que eu desaparecesse outra vez. Garanti a ela que isso não aconteceria. Além disso, para onde mais eu iria? Permiti que ela escolhesse o lugar onde eu iria ficar e esse apartamento foi o melhor que conseguimos pelo valor de algumas joias penhoradas. Joias minhas. Também me recusei a tocar no dinheiro da família.

Michelle estava para chegar para que discutíssemos os rumos da minha vida a partir de agora. Nós não havíamos tido tempo para conversar sobre muitas coisas logo que retornei e eu confesso que eu tinha muitas explicações a dar. Como se não bastasse o assunto do meu desaparecimento, Michelle também exigira saber o porquê de um agente investigativo bater à nossa porta enchendo-nos de perguntas. Preciso dizer que eu mesma estava me sentindo um tanto confusa quanto a isso.

Admito que fiquei extremamente surpresa ao encontrar o agente Rodney sentado na poltrona da minha antiga casa. Quando perguntei a ele o motivo da visita, ele disse que na noite em que nos conhecemos ele teve a impressão de me conhecer de algum lugar, embora não lembrasse onde. Ao chegar em casa, consultou o banco de dados de sua agência e lá encontrou o meu registro de desaparecimento. Ele notou a diferença na cor do meu cabelo e isso o levou a fazer milhares de perguntas que eu não queria responder.

Rodney, a princípio, fez as perguntas que estão no padrão da agência e quis saber se fui levada contra minha vontade e se tive experiências traumáticas durante minha ausência. Quando afirmei que eu havia partido por escolha própria, ele questionou minhas razões, dizendo que o que fiz foi uma coisa bastante incomum. Ele desconfiava que eu houvesse partido na companhia de alguém e provavelmente desconfiava que eu tivesse feito atividades que não estão dentro da lei. Esforcei-me ao máximo para não dar qualquer tipo de informação que não desencadeasse mais perguntas e acredito que fiz um bom trabalho. Mas eu sabia que seria só uma questão de tempo até que ele me procurasse outra vez, se ele começasse a pesquisar mais a fundo. Eu estava rezando para que ele simplesmente encerrasse esse assunto, uma vez que eu estava de volta.

Ouvi uma batida à porta, Michelle havia chegado. Saí de perto da janela, deixando-a aberta e fui abrir a porta para minha irmã. Eu tinha a impressão de que eu havia feito uma cópia para ela. Dei de ombros, talvez ela tivesse perdido. Ao abrir a porta tive uma surpresa muito, muito desagradável. Senti meu coração se contrair, meu corpo estancou em choque com a visão que tive. Michelle me encarava com assombro no olhar. Seus olhos estavam avermelhados e inchados de tanto chorar, seu corpo ainda tremia nervosamente enquanto ela choramingava com uma arma apontada para sua cabeça. Na outra ponta da arma estava um homem baixo, de meia-idade, que eu não conhecia.

"Quem é você?" perguntei a ele. Tentei soar firme, mas minha voz falhou. Engoli em seco.

"Não vai me convidar para entrar, princesa?" perguntou ele, sorrindo para mim.

Antes que eu pudesse responder, ele segurou o braço de Michelle com força e a empurrou para dentro, forçando a arma contra a nuca dela. Dei passagem para ele, sem ter outra escolha. Ele jogou minha irmã, que havia voltado a chorar, com brutalidade sobre a cama e desviou a arma da direção dela, apontando-a para mim. Eu já estive nessa situação antes, diversas vezes. Ter uma arma apontada para minha testa não era uma novidade para mim depois de dois anos de criminalidade, mas eu nunca estive tão despreparada. Geralmente eu tinha uma arma comigo, o que igualava o jogo. Meu revolver estava guardado debaixo do colchão, mas eu não tinha a mínima chance de pegá-la. Não com Michelle ali. E desta vez, também, eu estava completamente sozinha na minha defesa.

"Quem é você?" perguntei novamente, vociferando. Eu o encarava nos olhos, mantendo minha cabeça erguida, fazendo que seu foco fosse somente eu.

"Uh, a gatinha arranha..." ele riu uma risada rouca e aguda. "Sem nomes aqui, princesa. Tudo há seu tempo." Disse ele.

"Por que está aqui?" arrisquei outra pergunta. Eu não fazia ideia de quem era esse homem, muito menos o porquê de ele estar atrás de mim. Dessa vez, ele sorriu.

"Aí está a pergunta certa!" ele disse sorrindo amplamente. Ele avançou um passo na minha direção e eu recuei. O homem arqueou as sobrancelhas. "Não se preocupe, eu só vim para levar você."

"Não!" ouvi Michelle gritar em súplica. Olhei para ela com dureza.

"Quieta, Michelle!" eu disse a ela. Eu não queria que ela chamasse a atenção dele para si. "Deixa que eu resolvo isso." Tentei soar tranquila, embora a situação não fosse uma das melhores.

"Menina esperta." Disse o homem, segurando-me pelo queixo. Olhei para ele com desgosto, tentando me desvencilhar de seu toque, mas ele segurou firme. "Vamos, princesa. Você vai gostar." Ele abriu um sorriso largo para mim. "Vou te levar de volta pro seu namorado."

Meu sangue congelou. Adam, pensei. É isso o que ele quer. Ele está atrás do Adam.