*Ponto de vista da Lori

Meu coração acelerou quando ouvi o telefone chamar a primeira vez. Fui inundada por um nervosismo arrepiante nas chamadas seguintes, lutando bravamente contra o impulso de desligar o telefone. Respirei fundo já sentindo alguns sinais de choro invadindo meu peito aos poucos. Olhei para a rua através do vidro da cabine do telefone público. As pessoas transitavam de um lado para o outro, completamente alheias a mim e ao meu desespero. Percebi que minha mão tremia segurando o fone ao ouvido.

“Alô?” ouvi a voz do outro lado da linha. Meu coração pareceu parar por um segundo antes de começar a bater em um ritmo frenético.

“Alô?” disse a voz novamente quando eu não respondi. Senti a minha própria voz desaparecer, assim como minha respiração. Forcei-me a controlar meus pensamentos antes que minha irmã desligasse o telefone.

“Michelle.” uma lágrima escapou e deslizou pelo meu rosto como uma carícia, um consolo. Um sorriso inesperado floresceu em meus lábios. “Mish, sou eu, Loreanne.”

Houve silêncio de repente. Um silêncio tão denso que eu pude senti-lo no fundo da minha barriga. Imaginei a expressão atordoada no rosto pálido da minha irmã mais nova. Ouvi um choramingo, um som baixo, triste e distante.

“Lori, é você?” notei que ela tentava prender o choro para conseguir falar. Estava chocada e talvez um pouco descrente. “Lori, por onde você andou? Onde você está? Está bem?” As perguntas foram disparadas como tiros de uma metralhadora. “Eu... Eu não sei o que pensar. Achei que estivesse...”

Morta, imaginei que ela fosse dizer. Bom, considerando minha situação atual, eu não estava muito longe disso, realmente.

“Michelle, eu não tenho muito tempo pra explicar. Eu estou bem.” Alertei-a.

“Você faz alguma ideia das coisas horríveis que eu pensei? Seu desaparecimento foi um choque para todos nós! Como pôde?” ela estava gritando ao telefone. Ninguém havia interceptado a ligação, então supus que ela estivesse sozinha em casa. Melhor assim.

Suas palavras me atingiram como um golpe violento. Ela tinha todo o direito de ficar furiosa comigo depois do que eu fiz. Eu não a culpava. Eu havia abandonado a ela e a toda minha família e isso foi há dois anos. Dois anos sem contato ou qualquer notícia.

“Eu senti sua falta.” Foi só o que consegui dizer e fui sincera em cada palavra. Michelle se calou por um momento.

“Eu não entendo...” ela disse com mais suavidade. Estava claramente confusa. “Por que nos deixou? Por que está ligando agora depois de tanto tempo?”

Um milhão de pensamentos dançaram na minha cabeça. Pensamentos que me feriam.

“Eu prometo que vou explicar, mas não posso agora.” Repeti. Passei a mão no cabelo preocupada, esperando que ela compreendesse. Ouvi-a suspirar e o som produziu um chiado no telefone.

“Tudo bem.” Ela disse. “Do que precisa?”

“Preciso...” não consegui completar a frase. Era mais difícil do que eu imaginei. A verdade é que eu não tinha certeza do que eu estava fazendo. Aquela decisão era uma agressão direta ao meu orgulho. Engoli em seco. “Preciso voltar pra casa.”

Senti o sorriso de Michelle do outro lado, aquilo provocou em mim um sorriso espelhado embora eu estivesse à beira do choro. Eu não tinha outra opção agora. Durante os últimos dois anos, voltar me parecia uma ideia distante. Fugir com Adam havia sido uma decisão extrema, mas não me arrependi por um segundo sequer. Até agora.

Eu ainda estava tendo dificuldades para aceitar, para acreditar que ele havia me deixado de maneira tão fria. Eu tinha tanta certeza de que ele me amava e agora eu estava ali, sozinha, vivendo em minha própria ruína, nas sombras de uma escolha errada. Ao menos agora eu estava determinada a não errar novamente e por isso, eu voltaria para o lugar que eu havia deixado para trás. O lugar onde tudo começou e o motivo de tudo ter acabado. Eu estava voltando para Nova York, minha casa.