Perfect escrita por KaahEvans


Capítulo 21
Vazia


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa. Alguém aí? Oi? ~cri cri~ kkk
Me perdoem pela demora, e meu muito obrigada a todas que me enviaram mensagens no facebook mandando eu tomar vergonha na cara e postar logo o capítulo. Funcionou kk
Espero que gostem do capítulo, gostaria que fosse beeem diferente e bem maior, mas foi o que consegui.



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Lá estava ela. De um jeito que eu jamais gostaria de ver.

O som vinha de Bella. Observei como ele saia de sua boca, parecendo rasgá-la por dentro. Minhas mãos se apertaram. Lágrimas caiam uma atrás da outra. Trinquei os dentes. Ela abriu os olhos.

Um silencio perturbador se fez ali. Os soluços de Bella estavam presos, seus olhos arregalados me olhavam apavorados. Um tilintar quebrou o silencio. Desviei meus olhos dela para ver a lâmina brilhando no chão manchado. Manchado de vermelho.

A boca de Bella se abriu, percebi que ela tentava falar algo, mas não conseguia. Eu também não conseguia dizer nada. Seus braços estavam manchados assim como o chão. Manchados com seu próprio sangue.

Quando era pequeno cheguei a pensar que a pior dor era a de uma bala atravessando seu peito. Nunca levei um tiro, mas lembro-me de colocar a mão em meu peito e sentir o coração pulsar com força toda vez que assistia alguém ser baleado pela televisão. Minha mãe sorria e dizia que era apenas um filme, mas eu podia sentir a dor de alguém que eu nem conhecia, a dor fajuta, representada por alguém que talvez jamais a tenha sentido. Eu me sentia aquela criança outra vez. Assistindo o sangue jorrando e pingando no chão, sujando a pele macia e delicada, era como se eu não estivesse realmente ali. Sentia como se fosse abduzido para outro planeta, eu estava tão perto e mesmo assim tão distante. E mesmo tão distante eu sentia aquela dor que não era minha.

De repente o mundo parecia ter desabado em meus ombros e todo o medo que eu mantive preso dentro de mim desde ontem à noite me tomou me fazendo estremecer fortemente. Meu corpo de repente endureceu e eu senti frio mesmo estando com um grosso casaco de couro. Minhas pernas bambearam, mas me mantive em meu lugar.

Bella estava em choque enquanto eu a encarava.

Sua respiração se transformou em soluços que ela tentou conter. Eu jamais me sentira tão impotente. Sem saber o que poderia ajudá-la, fiz algo que me ajudaria. Eu a abracei.

– Está tudo bem. – sussurrei em seu ouvido. – Eu estou aqui, vai ficar tudo bem.

– Não vai. – Bella lamentou. Eu não respondi.

Meu peito estava tão apertado que chegava a doer, eu respirava com dificuldade e estava começando a me sentir doente. Aquelas paredes me sufocavam, mas não tinha jeito de fugir.

– Por quê? – eu lhe perguntei. – Por que você fez isso?

– Você jamais entenderia. – ela sussurrou. Sua voz era tão baixa que quase não a escutei, como o começo de uma ventania que em breve se tornaria uma tempestade.

– Eu juro que vou me esforçar. – sussurrei.

Observei enquanto ela limpava os cortes com tanta atenção e mesmo assim sem nenhuma preocupação. Era como se aquilo fosse rotina para ela, me perguntei por quanto tempo ela fazia isso.

Ajudei-a a enrolar a gaze, tomando o máximo de cuidado para não machucá-la ainda mais. Ela não se mexeu durante um segundo, e isso me preocupava. Quando terminei aproximei-me e dei um beijo na testa dela. Seus olhos marejados se arregalaram e lágrimas começaram a descer de seus olhos enquanto ela me olhava. A puxei para um abraço.

– Nunca mais faça isso comigo, Bella. – disse baixinho em seu ouvido – Não sabe o susto que você me deu.

– E você não sabe o susto que você me deu. Na verdade meu coração está acelerado até agora. – ela falou.

– O meu também.

Bella olhou no fundo dos meus olhos e apertou os dentes.

– Edward, você não pode contar isso para ninguém. Por favor, ninguém pode saber. Não importa que caminho que nós sigamos agora, só me prometa que ninguém saberá disso.

Semicerrei os olhos e separei meus lábios, minha expressão de confusão, até indignação a confundiu. Abri meus lábios algumas vezes, tentando formular alguma pergunta, mas não consegui. Então sugeri que fossemos conversar em seu quarto.

Sentamos na cama de Bella, um de frente para o outro. Ela me encarava, mas parecia sem forças até para isso. Seus olhos estavam tão fundos e seu rosto profundamente magro em uma expressão tão vazia. Naquele momento eu estava vendo Bella como ela realmente era pela primeira vez. Uma casca vazia com uma alma atribulada perdida em algum lugar dentro dela. Apesar disso ela era o ser humano mais sincero que eu conhecia.

Com apenas um abraço dela eu era capaz de me sentir a pessoa mais amada do mundo, seu olhar revelava o que sua boca não conseguia colocar para fora. E seus beijos... Eles eram capazes de me manter perdido pelo tempo que eles durassem. Meu maior medo era perder essa garota incrível que em tão pouco tempo me deu mais do que eu sonhei que teria.

– Que história é essa de “caminhos que vamos seguir”? E porque você acha que eu contaria isso para alguém? Além do mais, o que eu poderia contar?

– O que você poderia contar? Você poderia contar tudo! – a voz de Bella subiu algumas oitavas, ela estava quase gritando na ultima frase. Seus olhos se abriram um pouco e havia um brilho de raiva neles. Isso me animou. Qualquer sentimento era melhor que o vazio.

– Tudo o que? Que você tentou se matar? – cuspi as palavras como se fosse veneno e isso me deixou melhor. O aperto no peito melhorou um pouco. O rosto de Bella ficou vermelho, ela não parecia mais um zumbi. Ela estava com raiva e isso era bom. Muito bom. Ela precisava de algo para se agarrar, algo que a impedisse de se entregar a escuridão. Se não fosse o amor poderia ser o ódio, eu não me importaria de ser odiado por Isabella Swan. Eu só queria que ela tivesse algo para se agarrar. Se fosse preciso que ela vivesse para me odiar eu ficaria bem com isso, ela só precisava viver.

– Eu não tentei me matar. – Bella gritou. – Você acha que me conhece só porque descobriu que eu me corto, não é mesmo? Acha que já conhece todos os segredos e sentimentos que me perturbam, mas você não conhece. Eu não tentei me matar, eu tentei matar o vazio. Ele tenta me matar e eu tento matá-lo de volta. Você nunca vai entender isso, Edward. Por isso eu escondi, porque agora você tem nojo de mim como eu sempre pensei que teria.

Naquele momento qualquer mascara que eu tentei manter na frente de Bella caiu. Eu não podia fingir que era forte, não naquele momento em que ela estava derramando seus sentimentos mais obscuros para mim. Então uma profunda vergonha me cobriu. Eu estava sendo uma pessoa horrível, querendo deixá-la com raiva para ver se havia algum sentimento ali. Nem por um segundo me passou pela cabeça que eles poderiam estar se escondendo dentro dela, matando-a.

O rosto de Bella foi suavizando lentamente, e então uma expressão de surpresa misturada com culpa e talvez um pouco de desespero surgiu.

Antes que eu percebesse o que tinha acontecido suas mãos estavam em meu rosto, limpando as lagrimas que eu não sabia que estavam ali.

– Me perdoe. – sussurrei dificilmente – Mas você é a pessoa mais importante no mundo para mim, Bella. Eu pensei que isso já estivesse bem claro. Você poderia ser uma serial killer e meu amor por você não diminuiria nem por um segundo.

Bella me encarava com um pequeno sorriso no rosto. Agora era a minha vez de limpar suas lágrimas.

– Eu não estou disposto a desistir de você. – declarei.

– Bom saber disso. – Bella sussurrou – Por que se você partisse, eu iria até o fim do mundo atrás de você.

– Para me matar ou me ter de volta?

– Ainda não me decidi. – ela sorriu em meio as lágrimas.

Bella nunca havia dito que me amava, mas em momentos como esse em que eu a abraçava apertado enquanto ela chorava silenciosamente em meus braços, nenhuma palavra era necessária.

Preparei o café da manhã enquanto Bella me observava da mesa da cozinha. De segundo em segundo eu olhava para trás com medo de que ela não estivesse mais ali. Na radio tocava Two fingers do Jake Bugg. Parecia um começo de dia comum, mas a tensão era palpável naquele cômodo.

– Quero que me conte tudo, desde o começo. E não me esconda nenhum detalhe. – acariciei sua mão enquanto ela comia.

– Isso me sufoca e eu não quero continuar guardando tudo isso dentro de mim, mas tenho medo da sua reação. Uma hora você vai perceber quem eu sou de verdade e as coisas vão mudar.

– Ei, nada vai mudar. – prometi – Eu não estou aqui para te julgar, eu te amo. Mesmo que você não tenha a menor ideia do que eu sinto, eu continuo te amando. Não tenho a menor ideia do que fazer, mas farei o impossível para te ajudar.

Ela deu uma risada irônica.

– Boa sorte com isso.

E então ficamos em silencio, não era desconfortável, e sim estranho. Isso porque as coisas ainda não estavam no lugar e eu sentia que seria assim por um bom tempo, pelo menos até que tudo se resolvesse. Se as coisas se resolvessem.

Bella POV

Parecia que meu coração pularia para fora do peito todas as vezes que Edward olhava para mim, diferente das outras vezes que isso acontecia, não era pelo seu intenso olhar que parecia ver por dentro de mim e sim pelo medo que brilhava em seus olhos verdes.

Eu estava certa de que o medo que ele sentia não era mais forte que o meu. O meu medo podia me matar em questão de segundos enquanto o dele passaria de uma hora para a outra. Eu não sabia do que ele tinha medo, se era de eu ser louca a ponto de me machucar outra vez ou louca a ponto de machucá-lo.

Ele fez o café da manhã e comeu comigo, seus olhos me procuravam pela cozinha a cada segundo como se tivesse medo que eu desaparecesse. Já eu não desviava os meus dele nem por um segundo.

Por incrível que pareça, eu não me sentia tão abominada como pensei que me sentiria no dia que alguém descobrisse sobre os cortes. Ainda mais Edward! Estava tudo muito confuso, levaria algum tempinho para que a ficha realmente caísse, enquanto isso eu aproveitaria os momentos de paz... Que por sinal, durou somente até ele pedir que eu contasse tudo a ele.

Fiz um longo silencio, me preparando para começar. Eu não tinha a menor ideia de como fazer isso, respirei fundo algumas vezes tentando, inutilmente, afastar o nervosismo.

– Não sei como começar – admiti.

– Qual sentimento predomina agora?

– Vergonha. – respondi de imediato.

Ele me olhou por alguns segundos, e então voltou a falar.

– Não precisa me contar agora. Posso esperar até que esteja pronta.

– Eu nunca estarei pronta.

– Então comece do começo. – ele brincou.

Dei um pequeno sorriso e me preparei para contar minha trágica história pela primeira vez.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar, isso me incentiva a escrever e continuar a fic. Mandem suas sugestões, críticas, etc. E me avisem caso percebam algum erro. Beijos e até o próximo