Perfect escrita por KaahEvans


Capítulo 17
Ossos


Notas iniciais do capítulo

Aeae, como estão? Falei que atualizaria rapidinho! haha Esse capítulo é dedicado a Lary Vidal, linda e maravilhosa, que recomendou a fic. Muito obrigada Lary, amor eterno com você, me emocionei com suas palavras :') Well, espero que curtam o capítulo!



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Bella POV

A primeira coisa que encontrei quando abri os olhos foram dois olhos verdes me encarando profundamente. Eu ainda estava confusa. Minha cabeça girava, mas quando processei tudo o que aconteceu antes de eu cair no sono, dei um sorriso. Edward retribuiu.

– Você ficou. – sussurrei feliz.

– É claro. Eu não te deixaria aqui sozinha. – Edward disse enquanto tirava uma mecha de meu cabelo que caía sobre meu rosto. Ele aproveitou aquele momento para colocar a mão na minha testa, para ver se ainda estava com febre, eu acho.

– Você está bem? – ele perguntou, sua testa franzida. – Ainda sente dor?

– Um pouquinho. – respondi.

A expressão de Edward estava tensa, mesmo após minha resposta convincente. De repente minha testa franziu também.

– Qual o problema? – perguntei quando ele abaixou os olhos.

Era isso? Ele tinha finalmente percebido que eu não valia à pena?

– Eu descobri o que você esconde. – ele falou, sua mandíbula tensa.

Eu senti meu coração parar por alguns segundos e então voltar a bater com toda força. Meu rosto perdeu toda cor. Se eu não estivesse sentada, com certeza já teria caído no chão.

– Como? – perguntei. Minha voz estava estranhamente calma, assustadoramente calma. Não demonstrava nenhum pouco do horror que eu estava sentindo.

– Seu casaco subiu enquanto você dormia e eu vi. – suspirou pesadamente – Bella, você precisa de ajuda.

Todo meu corpo ficou tenso e eu não conseguia respirar direito. Como eu poderia ser tão descuidada? Eu deveria ter imaginado que isso aconteceria. Ele tinha visto meus cortes! Essa constatação levou lágrimas aos meus olhos. Eu estava tão feliz com a presença de Edward que nem me passou pela cabeça que algo assim poderia acontecer. Sem olhar para baixo, puxei as mangas de meu casaco para baixo. Ele já tinha visto o suficiente.

– Não, eu não preciso. – protestei histericamente. O que eu mais temia estava acontecendo e tudo por causa de um erro. Eu não deveria tê-lo deixado entrar ontem. Não deveria ter pedido para ele ficar.

– Bella, amor... Está tudo bem. – Edward tentou me acalmar, mas eu já estava chorando. Eu estava tão cansada de chorar.

– Como você pode dizer que está tudo bem depois do que viu? Você não tem nojo de mim?

– É claro que não, meu amor. Você vai ficar bem. – ele chegou mais perto e me embalou em seus braços. – Meu pai é medico, além disso, ele conhece ótimos psicólogos, meu tio Eleazar é um, inclusive. Eu estarei do seu lado sempre.

– Eles não podem me ajudar sobre isso, Edward. – sussurrei deixando as lágrimas escorrerem.

– É claro que podem. Anorexia em garotas da sua idade é mais comum do que você pensa, Bella.

Afastei-me dele rapidamente e olhei em seus olhos verdes. Eu tinha escutado direito? Uma centelha de esperança acendeu em mim. Talvez não esteja tudo perdido.

– Anorexia? De onde você tirou que eu tenho anorexia? O que exatamente você viu? – perguntei.

– Seu casaco levantou quando você estava dormindo, sua barriga ficou exposta. Dava para ver todos os ossos da sua costela, Bella. – Edward sussurrou tristemente. Passei os dedos pelos ossos protuberantes.

– Só isso? – quase suspirei de alivio.

– Você diz só? Isso é grave! – ele engasgou.

Era obvio que estava preocupado e eu senti-me culpada por deixá-lo assim. Ele não precisava se preocupar comigo de qualquer forma. Eu sabia me cuidar muito bem sozinha. Zombei de mim mesma ao ver a ironia no que acabei de pensar.

– Edward, eu não sou anoréxica. – protestei firmemente.

– Bella, não minta pra mim, ok? Eu não sou idiota. Eu liguei os pontos. Só me sinto culpado por não ter percebido antes. – ele resmungou.

Abaixei os olhos. Se ver meus ossos através da pele era tão horrível assim para ele, o que dirá se visse o resto de meu corpo? É claro que minha magreza era horrível. Era quase deprimente me olhar no espelho sem roupa, por isso eu usava roupas largas. Se eu tentasse parecer normal ninguém notaria. Porém, eu nunca consegui parecer normal.

– Eu não tenho anorexia. – falei firmemente. – Eu não posso te explicar agora, Edward. Mas você tem que entender. Meus segredos são grandes demais para serem contados.

Ele suspirou derrotado.

– Será que algum dia você vai me contar o que é? Não pode ser tão terrível assim.

Fechei minhas mãos em punhos sentindo os cortes se contraírem.

– É pior. – murmurei.

– Não importa o que seja, Bella. Eu estarei aqui para você, pode contar comigo para tudo. Sabe disso, não é? – perguntou segurando meu rosto entre as mãos e me olhando profundamente nos olhos.

Por um momento pensei em dizer a verdade a ele. Queria desesperadamente ver sua reação quando eu mostrasse meus cortes. Queria saber se ele conseguiria me olhar nos olhos depois de saber quem é a verdadeira Bella. Tirei essa ideia da cabeça imediatamente. Ele não poderia saber. Nunca! Se ele soubesse, seu amor se transformaria em nojo. Afinal, quem amaria alguém que deseja por fim a própria vida? Alguém que sente prazer pela dor. Era doentio!

Um bolo se formou em minha garganta, então respondi a pergunta de Edward com um aceno.

– Tudo bem. Você dormiu só por uma hora, mas acho que está com fome, não é?

Na verdade eu não estava com nenhuma vontade de comer, mas depois dessa história de anorexia, achei melhor mentir e dizer que estava faminta.

Entrei no banheiro para tomar um banho enquanto Edward desceu para preparar alguma coisa. Quando fechei a porta atrás de mim, deixei-me cair contra ela e soltei uma lufada de ar. Eu nem acreditava que quase revelei meus cortes a Edward. O que eu estava pensando?

Tirei minha roupa e encarei-me no espelho. Cortes por todo meu braço direito e esquerdo, alguns na minha coxa. Todos eles doíam, mas eu já estava acostumada com esse tipo de dor. A dor em meus músculos proporcionada por minha gripe era fichinha perto dela. A dor dos cortes ia muito mais além de física, doía ter que olhar para essas marcas que me acompanhariam para o resto da vida. Era o preço que eu tinha que pagar pelo alivio e eu concordo em pagar esse preço todas as vezes que toco na lâmina. Mas quando olho para os cortes e cicatrizes assim, minha vontade é de pegar algo maior, mas tão afiado quanto à lâmina e arrancar toda minha pele fora.

Era tão contraditório. Eu sabia o que aconteceria e concordava em pagar o preço em troca da redenção, e então eu não quero mais a redenção e muito menos pagar o preço. Eu estava tomando o pior tipo de veneno que alguém poderia dar a si mesmo. Estava sendo torturada por minha própria mente.

Naquele momento a pergunta que fiz a mim mesma sobre o que Edward pensaria se visse meus cortes me pareceu tão estúpida. Ele ficaria horrorizado se pudesse me ver assim. Eu me sentia horrorizada.

Deixei a água descer por meu corpo junto com minhas lágrimas. Eu queria algo impossível, me purificar. Eu só via um jeito de fazer isso agora, mas eu sabia que se fizesse só me sentiria pior depois. Isso não me impediu de fazer.

Enrolei a gaze em volta de meu braço dolorido depois de lavar qualquer vestígio de sangue. Cobri meu corpo com um roupão branco e entrei em meu quarto para me vestir.

Encontrei Edward na cozinha, arrumando pratos na mesa. O cheiro estava realmente bom, mas não daria tempo de Edward preparar uma refeição em apenas vinte minutos. Estreitei meus olhos para ele.

– Achei uma lasanha no congelador, só coloquei no microondas. – deu ombros com um sorrisinho torto.

Sorri quando ele puxou a cadeira para eu sentar e sentou-se em uma quase colada a minha.

– Alice ligou, disse que não esqueceu de sua promessa de ir ao cinema com ela. – Edward contou com uma risada.

– Com vocês. – corrigi.

– Alice é um pouco possessiva. – Edward revirou os olhos. – Sabe, Bella, ela realmente gosta de você. Alice pode ser irritante às vezes, mas ela não gasta tempo pensando em pessoas com quem não se importa. Significaria muito para ela se vocês passassem um tempo juntas, Alice não é muito boa em fazer amigos.

Era difícil acreditar que a menina de cabelo e olhos negros, agitada e falante não fosse cercada de amigos, mas Edward parecia ser sincero no que dizia.

– Ela parece ser bem extrovertida. – comentei. Edward assentiu.

– Só com quem ela gosta. Quando Alice chegou lá em casa, demorou um tempo até ela se aquecer para nós. Eu costumava falar e ela simplesmente ficava me olhando com os olhos arregalados. Eu achava seu silêncio irritante até ela abrir a boca e não fechar mais. – riu com um olhar sonhador. Franzi as sobrancelhas em confusão.

– Quando ela chegou a sua casa?

– Quando Esme e Carlisle a adotaram. – Edward explicou.

Minha boca abriu-se formando um O perfeito. Demorou alguns segundos antes que eu tivesse a capacidade de fechá-la.

– Alice é adotada? – sussurrei quase inaudível, como se houvesse alguém aqui além de Edward para ouvir. Edward ergueu uma sobrancelha.

– Todos nós somos. – esclareceu.

Agora sim eu estava chocada. Edward adotado? Eu não conhecia sua família, eu também não tocava nesse assunto com medo de que ele fizesse perguntas sobre a minha, porém eu sempre pensei que crianças adotadas crescessem com certo rancor da vida por ter uma família quebrada. Nem Alice nem Edward, muito menos Edward, pareciam esse tipo de pessoa.

– Você sabe o que aconteceu com seus pais? – não resisti e fiz a pergunta.

– Não. Meu pai... Digo, Carlisle era médico deles, mas falou muito pouco sobre eles. Eu nunca perguntei qualquer coisa também.

– Tem medo do que vai descobrir? – questionei. Ele negou.

– Me desliguei do passado. Meus pais são Carlisle e Esme, eles me criaram, cuidaram de mim, me deram tudo o que eu precisava e até mais. Eu não consigo pensar em pessoas melhores para ter ao meu lado. – ele sorriu.

Sorri de volta, emocionada. Edward falava dos pais com tanto amor e respeito que era impossível negar que suas palavras eram verdadeiras. Jamais poderiam captar esses mesmos sentimentos quando eu falava sobre meus pais – se eu falasse sobre eles – porque eram inexistentes.

– Tenho certeza que são pessoas incríveis. – comentei.

Edward continuou falando sobre sua família e a cada segundo eu ficava mais admirada. A cada palavra eu descobria mais coisas, não só sobre sua família, mas sobre sua própria personalidade. Descobri que Esme era a pessoa mais amorosa que Edward já conheceu e Carlisle a mais paciente, eles ensinaram valores a Edward que ele acreditava que não aprenderia em qualquer outro lugar. Alice não se lembrava de seu passado antes de entrar para a família Cullen, ela procurou por seus pais, mas desistiu antes de encontrar qualquer pista. O mais surpreendente foi saber sobre Rosalie e Emmett. Eles saíram de casa assim que se formaram, eram teimosos e não suportavam as limitações de viver em uma cidade tão pequena. Eram assunto de fofocas em todo lugar que moravam por estarem juntos. Eu não via nenhum problema com eles sendo um casal já que não estavam relacionados, mas Edward disse que eles sofriam com os comentários maldosos sobre o relacionamento deles. E o que ficou explicito em cada palavra que Edward pronunciou, os Cullen amavam uns aos outros mais do que qualquer coisa.

A família Cullen não era uma família usual, mas era perfeita de sua própria forma. Senti-me mal quando percebi que estava com inveja de Edward, principalmente quando ele estava tão disposto a dividir suas historias comigo. Mas não consegui evitar.

Então Edward fez o que eu mais temia, perguntou sobre minha família.

– Minha família compõe-se a Charlie e eu. Não há muito para contar. – contestei.

– Vamos lá, Bella. Vocês devem ter boas historias. – incentivou-me. Suspirei.

– Charlie é bem fechado, não gosta muito de demonstrações de sentimentos ou coisa parecida. É do tipo que prefere ficar no escuro a saber coisas ruins. Não somos muito próximos. – desabafei.

Edward me observou por um bom tempo em silêncio, mas me recusei a encontrar seus olhos.

– Você tem sorte, sabia? Por não saber o que aconteceu com seus pais. Você pode criar situações, ás vezes impossíveis, na sua cabeça para se sentir melhor. Eu não.

– Está falando de sua mãe? – Edward perguntou. Concordei com a cabeça. – Quer me contar sobre ela?

– Eu não me lembro bem dela. A última vez que a vi, eu tinha uns seis anos. Ela e Charlie estavam gritando com o outro enquanto eu observava em um canto. Quando ela pegou suas coisas e foi embora, Charlie virou-se para mim e eu vi lágrimas em seus olhos. Foi a primeira vez que eu o vi chorar. Ele nunca mais foi o mesmo depois disso e nem eu. Não é estranho como apenas uma pessoa pode mudar várias vidas de uma vez só?

Era aliviante colocar isso para fora. Nunca falei qualquer coisa sobre ela para ninguém. Não havia o que dizer nem para quem dizer.

– Pelo menos vocês ainda têm um ao outro. – Edward tentou me reconfortar apertando minha mão. Não sabia se ele podia ver através de mim ou apenas pegou o tom triste de minhas palavras porque o meu rosto não expressava nenhum tipo de tristeza. Eu não me sentia triste. Eu não sabia como estava me sentindo.

– É claro. – sussurrei com um sorriso forçado.

– Por falar em chefe Swan, acho que já está na hora de eu ir. Não acho que ele levará bem se encontrar o namorado de sua filha em sua cozinha. – Edward disse. Eu riria de sua cara de preocupado, mas minha atenção estava em uma pequena palavra que ele falou.

– Namorada? – repeti admirada.

– Eu corro o risco de levar um tiro e é nisso que você pensa? – ralhou de brincadeira enquanto eu corava.

Expliquei a ele sobre a repentina e estranha viagem de Charlie. Para Edward essa viagem não significava tanto quanto para mim. Charlie longe era sinônimo de liberdade. Não que eu fosse abusar disso, é claro, mas era bom saber que eu não corria o risco de levar uma surra durante alguns dias.

– Então, acho que eu posso ficar até você me mandar ir embora. – ele sorriu.

– Isso não vai acontecer. Se dependesse de mim, você ficaria para sempre. – falei e então o abracei apertado.

– Eu gostaria disso. – ele me abraço de volta.

Levantei minha cabeça para beijá-lo. Eu nunca me acostumaria com esse sentimento tão intenso que me atingia quando os lábios de Edward estavam nos meus.

– Eu amo você. – ele sussurrou.

Minha garganta se fechou e meu coração começou a bater mais rápido e mais forte em meu peito. Eu queria desesperadamente dizer que o amava de volta, mas as palavras simplesmente não saiam de minha boca. Perguntei-me se algum dia eu seria capaz de dizê-las. Eu não sabia como fazer isso.

Em um dia eu pensava que era incapaz de ser amada por alguém e no outro eu já cogitava dizer “eu te amo”. Eu sentia que meu silêncio machucava Edward, então as palavras mais sinceras que eu poderia dizer saíram de minha boca.

– Você é minha vida agora, Edward. – sussurrei. Ele sorriu brilhantemente, aquele era o sorriso mais perfeito que eu já tinha visto, e me beijou de novo.

Era a mais pura verdade. Eu não me sentia mais sozinha no mundo com ele aqui. Era como se apenas sua presença pudesse acalmar todas as vozes que me atormentavam. Eu precisava dele aqui comigo, se ele fosse embora, eu morreria.

A intensidade de meus sentimentos me pegou de surpresa e por um momento me perguntei se os sentimentos de Edward eram tão profundos assim. Se fosse, um novo medo se formou em meu peito. O medo do que Edward faria se eu cometesse uma loucura tão grande como cortar uma veia.


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Notas finais do capítulo

Eae, o que acharam? Nem ousem me ameaçar de morte (eu sei que "algumas" vão) por causa desse final, hein! :P haha Não esqueçam dos reviews e me avisem se encontrarem erros. :) Bom, se eu não att antes do fim do ano, Boas festas a todos. Beijos