Agora seria o momento, agora poderia ser meus últimos minutos de vida. Minha vida já não mais fazia sentido, pra que continuar? Meus pais iriam sobreviver, meus irmãos iriam amadurecer e meus amigos superariam.
Era tudo o que eu mais queria, eu não tinha medo de morrer, tinha medo de continuar do jeito que estava.
- Quer mesmo desistir de tudo? – perguntou alguém.
- Sim – respondi.
- Quer mesmo deixar sua família e amigos sofrerem, quanto egoísmo Madson! – disse.
- Você não sabe nada sobre minha vida, não deveria opinar – respondi.
- Certeza que não te conheço? Desde que morri você se culpa por tudo, só porque não estou entre os vivos, não significa que não esteja te vendo – respondeu.
Virei-me para atrás, era meu irmão.
- Johnny, desculpa..
- Madson, pare de agir dessa forma. Pare de pensar só em você, sabe o quanto isso me magoa? – perguntou ele.
- Hã, como assim?
- Você tem a mamãe, o papai, Caio, Ariel, Audrey, Ethan... E ao invés de ficar do lado deles, você quer os deixar, sem pensar que você poderia muito bem ajudá-los. Mas você simplesmente acha que a morte vai resolver algo? Você se engana minha irmã, quanto mais mortes, mais sofrimentos... Você acha que nossos pais iriam aguentar ter essa dor novamente. Você acha que eu queria tá aqui? Eu queria estar lá com papai me ensinando técnicas para o futebol, mamãe rindo, Caio tendo mais influências e querendo dicas para as garotas, Ariel brincando e você Madson... Se eu tivesse lá, jamais deixaria acontecer isso!
Mas eu não estou, você tem que superar e ver que a culpa não é sua. Você tem que se perdoar, desistir não leva a nada.
- Mas John...
- Escuta, eu sei que você tem razões suficientes para querer morrer, mas se isso acontecer agora, já pensou que todos sentiriam sua falta, como seria sem sua influência na vida de todos! O que seria dos seus amigos, dos nossos pais e irmãos hein? Pense bem Madson, você nunca terá novamente a chance de escolher o que se pode fazer, eu não tive, então aproveite a sua chance! Aprenda com os erros e se torne alguém melhor. Por mais que você não me veja, eu sempre estarei com você – disse ele desaparecendo.
- Johnny!! – gritei
- Eu confio em você Madson. Se perdoe antes de tudo... Eu te amo minha pequena – sorriu. – Ah, e eu sei que tem alguém que te dá muito valor, mais do que você pensa, olhe bem para o lado – piscou.
E foram as últimas palavras que escutei.
- Madson?? – ouvi a voz da minha mãe – Oh meu Deus, ela acordou! Doutor!!
Abri lentamente meus olhos, sabia que se abrisse rapidamente a luz me cegaria.
Olhei para o cubículo que estava, vi minha mãe com os olhos inchados e cheios de olheiras, mas ainda sim ela sorria.
- Filha! – correu até mim e me deu um abraço – Eu não aguentaria te perder.
- Você não vai me perder assim tão fácil, ainda terá que aturar meus problemas – falei.
Ela deu um riso fraco, e logo o doutor entrou.
- Madson, como está se sentindo? – perguntou-me um homem alto e magro com cabelos grisalhos.
- Com um pouco de dor de cabeça – respondi.
- Talvez seja por causa da queda – respondeu – Você teve um enfraquecimento por causa da anemia que estava elevada... Mas vou te receitar vários exames e assim veremos como está sua saúde – disse.
Olhei um pouco atordoada, eu odiava ficar em hospitais, mas eu não tinha escolha.
- Okay – respondi.
- Com licença vou atender outros pacientes – disse e saiu.
- Filha vou na cantina pegar um café, e avisar seu pai e irmãos, já volto tá bom? – sorriu.
- Tudo bem, prometo não me suicidar – sorri.
Ela me fitou e saiu do quarto.
Talvez Johnny tivesse razão, e se eu não estivesse aqui, quem é que iria ser a problemática? A conversa com Johnny, eu jamais esqueceria, ele podia não estar aqui, mas sei que de algum modo ele está aqui me observando..
- Te amo John – sussurrei.
“Ah, e eu sei que tem alguém que te dá muito valor, mais do que você pensa, olhe bem para o lado.”
Foram as últimas palavras dele, isso significava algo.. Mas o que poderia ser? Pensei por um tempo, mas ainda sim não consegui achar uma resposta.
- Querida, melhor ir dormir, precisa descansar, amanhã seus amigos e irmãos vão vir te visitar, precisa ter energia – sorriu mamãe.
- É verdade ver aqueles chatos vai ser um pouco cansativo, boa noite mãe – ri.
- Boa noite filha, dorme com os anjos – finalizou com um beijo na minha bochecha.
Virei de lado, e sorri, meu anjo da guarda está aqui, provavelmente sorrindo e cuidando de todos nós. Obrigado Johnny!
Fechei os olhos, e comecei a ter alguns flash, neles eu sorria e tinha um garoto com os olhos castanhos.
Olhos castanhos.....Luke! Abri os olhos, era essa a resposta eu havia matado a charada, era o garoto dos olhos castanhos, pela qual eu sentia-me nervosa quando estava do meu lado... Ou sorria que nem idiota.
- Luke! – falei tão baixo que parecia um sussurro.
O garoto dos olhos castanhos havia roubado meu coração.