Finding a Dream escrita por Loren


Capítulo 35
Promessa


Notas iniciais do capítulo

haaai :)
Aproveitem.



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O reino estava em festa.

A paz voltara, assim como os reis. O povo festejou a noite inteira. Após o desfile dos heróis pelas ruas e do baile simples e rápido, algumas majestades se recolheram. E algumas plebeias também.

Ela se atreveu a entrar no quarto dele, visto que era apenas alguns corredores de distância e não poderia esperar até a amnhâ para revê-lo. Ele estava na sacada, com os braços cruzados e os olhos voltados para o céu que se enchia de fogos de artifício.

–-Bonito, não?- ele perguntou quando ela se pôs ao seu lado.

–-Nunca pensei que a veria tão linda.

–-Quem?

–-Nárnia.- ele riu pelo nariz.

–-Nárnia tem seus encantos. Só ficam escondidos, às vezes.

–-É...

–-Pretende ficar?

–-Eu não sei.

–-Pensei que fosse seu sonho.

–-E é. Mas deixei algo para trás. Algo a quem devo desculpas.

–-Sua mãe?

–-Sim. Se não for por isso, talvez eu permanecesse. E você?

–-Quero ficar. Nárnia é minha casa.

–-Presumo que terá que achar uma rainha para te acompanhar.- observou e fitou o horizonte, enquanto engolia em seco.

–-Tu está disposta a voltar?- ela virou-se e encontrou as orbes castanhas a fitando intensamente.- Porque se sim, eu estou disposto a esperar.

–-Mas... Como...

–-Quero te esperar. Quero que sejas a minha rainha. Quero que sejas a primeira que verei pela manhã e a última que verei antes de dormir. Quero ser mais que teu amigo, Irina. Quero saber tudo que se passa em ti. Teus pensamentos, teus sentimentos, teu corpo e os motivos das tuas lágrimas e sorrisos. Me concede esse desejo?- declarou segurando as pequenas mãos da loira. Ela sorriu.

–-Como quiser, meu rei.- ele sorriu.

Por fim, selaram a promessa com os lábios e deixaram suas almas e corpos tornarem-se um, com os suspiros sendo levados pelo sussurrar do vento.

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O príncipe cumprimentou uma das camareiras do castelo.

Estava bem vestido. Apesar do peso da coroa, ser rei trazia privilégios e luxo. Procurava pelo rei e rainha mais velhos. O julgamento já estava para começar. Encontrou-os conversando com o leão. Pareciam tão concentrados, que o moreno teve vergonha de interrompê-los. Quando virava-se para se afastar, ouviu a voz grave e mansa soar com respeito.

–-Majestade.- todos o fitavam e ele engoliu em seco.

–-Estamos prontos.- declarou.

–-Atrase-os.- o príncipe franziu o cenho.- E convoque o Justo, a Destemida e Irina para os portões do castelo.

–-Mas, senhor...

–-Há algo que precisa ser resolvido. E passou-se tempo demais para que certas palavras sejam pronunciadas.

O moreno assentiu e retirou-se rapidamente.

–-Aslam, para onde vamos?

–-Para a aldeia.

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Os outros já esperavam como havia sido mandado.

O leão fez um breve aceno e continuou o caminho, descendo para a aldeia. Os mais velhos iam atrás, enquanto a pequena apressava o passo para acompanhar o leão. A plebeia e o Justo iam por últimos, com as mãos entrelaçadas disfarçadamente.

–-O que está acontecendo, Edmundo? Por que eu estou aqui?

–-Mal sei porque eu estou. Seja o que for, se esconde na aldeia.- ela suava e seu coração palpitava violentamente.- Não se preocupe. Logo estaremos de volta no castelo.- ele a acalmou e sorriu. Ela agradeceu internamente por tê-lo.

Passos mais tarde, o leão parou em frente à uma casa pobre. Tinha o telhado torto, as paredes esburacadas e nenhuma vegetação ao redor. A pintura descascava nos tijolos sujos e a cerca de madeira mal colocada parecia prestes a cair a qualquer sopro. O leão seguiu até a varanda capenga e pediu com um olhar para que o loiro anunciasse a chegada. Este bateu na porta com os nós dos dedos e deu um passo para trás. A porta se abriu e um rapaz jovem com, aparentemente, vinte anos, barba e cabelos negros com olhos escuros e olheiras ao redor. Porém, sustentava um sorriso gigante.

–-Pois não. Em que posso ajudá-los?

–-Olá, Christian.- anunciou o leão e mostrou-se.

O rapaz arregalou os olhos e ajoelhou-se no mesmo instante.

–-Aslam! Perdão! Não sabia que vinha! Se soubesse...

–-Não era para saber. Podemos entrar?

–-Claro!- se pôs de pé e abriu mais a porta, dando passagem para todos.

Era uma casa pequena. Não havia sala. Apenas uma cozinha que dava para outros dois cômodos. Ali, sentado em uma mesa pequena com uma xícara fumegante nas mãos, repousava um senhor com cabelos branquíssimos ao redor da careca e uma barba longa que se misturava com as migalhas da mesa.

–-Se soubéssemos, teríamos feito uma limpeza.

–-Que limpeza o quê! Que saibam como realmente somos.- resmungou o velho.

–-Pai, por favor.

–-Não se preocupem. É uma passagem breve.- anunciou Aslam.

–-Sempre é.

–-Em que podemos ajudá-los?

–-Ela ainda está aí?

–-Não saiu desde que o senhor a deixou.

–-Como está?

–-Pronta para ir, mas parece que algo a sustenta a passar mais alguns segundos. Não entendo o porquê.- relatou com um olhar triste o rapaz.

–-Claro. Creio que ela ainda tem mais algum tempo. Em qual quarto ela está?

–-No da direita.

–-Bem, sua vez, Irina.

–-Perdão?- exclamou a loira que observava toda a cena em silêncio e no canto mais afastado possível.

–-Ela te espera.- seu rosto empalicedeu.

–-Quem?

–-Helena.

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Ela entrou no quarto com a respiração entrecortada.

Suas mãos tremiam. Os olhos, lacrimejados. A boca seca. E o coração palpitante. Por que estava nervosa? Havia motivo? Não. Não havia. E por quê aquele descontrole? Não sentia felicidade, nem mesmo a raiva de dias anteriores. Apenas medo. O quarto era um minúsculo cubículo com uma cama de casal no centro, uma mesa em um canto que sustentava um lampião e uma janela com a cortina fina e rasgada. Seus olhos se arregalaram. Na cama, em meio a várias cobertas e travesseiros simples e velhos, estava uma senhora com cabelos brancos e um mar de rugas banhando o rosto. Ela se aproximou lentamente e sentou-se na beira da cama. Não conseguia reconhecer aquele rosto. A pele estava mais escura do que se lembrava.

–-Helena?- sussurrou e a velha abriu os olhos.

Trancou a respiração. Era ela. Os olhos azuis escuros eram os mesmos.

–-Irina? É você?- murmurou uma voz cansada, porém cheia de ansiedade. A velha se ergue com dificuldade e ao sentar, fitou a loira. Em segundos, sorriu.- Como cresceu... Você está linda.

–-Helena, o que houve com você? Por que tão velha? Passou-se poucos anos...

–-Lá. Lá foram poucos anos. Aqui, no entanto, foram vários.- respondeu com um sorriso melancólico.

–-Por que você se foi?- perguntou o que tanto sufocava sua garganta.

Não sentia amargura, nem mesmo aquele ódio de antes. Vendo aquela que chamou de irmã e que a protegeu de tantos perigos, que a ensinou a acreditar e a ter esperança... Vendo aquele olhar tão sereno e amável que ela ainda mantinha, que era apenas para ela quando viviam entre pessoas desagradáveis na antiga aldeia, sentiu tristeza. E saudade.

–-Foi uma escolha.- suspirou.- Me arrependo. Eu quis te trazer comigo. Eu quis tanto, Iri. Queria construir uma vida neste lugar e queria que desfrutasse desse lugar junto comigo. Mas quando encontrei uma segunda chance, era ali, naquele momento, ou nada mais. Eu quis chorar. Queria tanto que tivessemos uma vida boa, Iri. E eu aceitei. Voltei para Nárnia, esperando encontrar tudo o que havia perdido e procurar por outra maneira de te trazer. Mas já haviam se passado vários anos: Nárnia não era mais a mesma. Eu vivi em guerras. Andei por vários lugares. Encontrei tantas histórias, presenciei tantos amores e senti tanto sangue sendo derramado. E mesmo assim, procurava por você. Procurei por uma forma de te trazer a ti e aos Pevensies. Fiz tantas loucuras.- e riu baixinho, com as lembranças.- Espero que possa me perdoar algum dia, Iri. Todos os dias eu pedia para que Aslam te cuidasse, já que eu não podia fazê-lo. Eu te amei todos os dias, minha irmã. É bem provável que já saiba a verdade, mas nada mudou, ao menos, para mim. Falta pouco para minha vida se esvair, mas irei em paz. No fim, você me encontrou, como sempre foi em nossas brincadeiras de esconde-esconde. Fico feliz em ver a mulher que se tornou.- uma solitária lágrima escorreu até alcançar os lábios murchos da velha.

Irina não pôde mais aguentar e jogou-se em um abraço que havia sonhado em cometer há tempos.

–-Senti sua falta.- ela murmurou enquanto chorava no colo de Helena.

–-E eu mais ainda, querida.- respondeu e afagou seus cabelos loiros que ainda mantinham aquele brilho que ela possuía desde criança. Desde aquele tempo...

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–-Iri! Como está?- o moreno se adiantou, após algumas horas de espera.

Ela tinha o rosto inchado e os olhos vermelhos, mas um sorriso tomava-lhe por completo.

–-Em paz.

–-Sua vez, Pedro.- disse o leão. O loiro assentiu e se levantou, caminhando com passos duros até o quarto.- Quanto a você, Irina, venha comigo, sim? Temo que eu tenha um pedido para te fazer.

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–-Nárnia pertence aos narnianos tanto quanto aos homens.- a voz de Caspian reverberava pelo local, atingindo os ouvidos de todos os presentes.- Qualquer telmarino que quiser ficar e viver em paz é bem-vindo, mas aquele que desejar, Aslam o levará para o lar de nossos antepassados.

–-Já faz gerações que nós deixamos Telmar.- exclamou alguém da plateia.

–-Não nos referimos a Telmar. - explicou Aslam, tomando a frente. - Seus antepassados foram marinheiros errantes. Piratas arrastados para uma ilha. E nela acharam uma caverna, uma rara fenda entre este e aquele mundo. O mesmo mundo de nossos reis e rainhas. É para essa ilha que posso retorná-los. É um bom lugar para qualquer que queira recomeçar.

Burburinhos começaram a rondar por ali. Os telmarinos cochichavam e lançavam olhares furtivos para o leão, todos se perguntando se, na verdade, ele iria devorá-los ou levá-los para algum lugar tenebroso e horrível. O antigo capitão, no entanto, não deu atenção para as fofocas. Nada havia mais a perder.

–-Eu vou. Eu aceito a oferta.

O homem caminhou até a frente da multidão e fitou o leão, que sorri de lado.

– E nós também. - exclamou a viúva de Miraz.

Ela avançou com a criança no colo e pôs-se ao lado do telmarino.

– Porque foram os primeiros a decidir, vocês serão felizes nesse outro mundo.- abençoou Aslam e abriu a grande boca, deixando que seu bafo impregnasse em suas almas e roupas, juntamente com suas palavras.

Duas risadas finas soaram. Dos lados dos troncos, as dançarinas de pétalas rosas e roxas apareceram. Com suas mãos, puxaram o centro da árvore até que uma abertura aparecesse. Elas reverenciaram o leão e desapareceram nas copas das árvores. Aslam fez um aceno para eles e estes caminharam para dentro da árvore, até que suas silhuetas desapareceram, porém, elas não caíram para o outro lado do penhasco. Os outros telmarinos soltaram exclamações de espanto.

–-Como saberemos que não está nos levando para a morte?!

–– Senhor. - Ripchip chamou Aslam, com uma reverência exagerada. - Se meu exemplo pode servir de alguma coisa, passarei com onze ratos sem demora.

O rei e a rainha mais velhos se entreolharam e ele suspirou.

–-Nós iremos.- declarou.

–-Iremos?- perguntou Lúcia, desconcertada.

–-Vamos embora. Chegou nossa hora.- afirmou e avançou até Caspia. Retirou a espada da bainha e estendeu para ele.- Afinal, não precisam mais de nós aqui.

–-Vou cuidar de tudo até que voltem.

–-Esse é o problema.- alertou Susana, com um olhar triste, porém sorria.- Não vamos voltar.

–-Não vamos?- perguntou Lúcia, tristonha.

–-Vocês vão.Pelo menos, foi o que ele disse.- e olhou para Aslam.

–-Por quê? Eles fizeram alguma besteira?

–-Pelo contrário, minha cara. Mas tudo tem o seu tempo. Seu irmão e sua irmã aprenderam o que podiam neste mundo. É hora de eles viverem por conta própria.

–-Tudo bem, Lu. - reconfortou Pedro. - É tudo muito diferente do que eu pensava, mas estou conformado. Um dia você compreenderá. Vamos.- ela fitou o olhar desolado e perdido do loiro.

Desde a conversa com Helena, ele não havia falado mais nada. Nem mesmo contou o que haviam conversado. Apenas havia saído do quarto com olhos lacrimejados. Ele levou a pequena até os outros narnianos com os quais fizeram amizade. Susana dirigiu-se até Caspian.

–-Gostei de ter voltado.

–-Queria passar mais tempo com você.- ele confessou.

–-Nunca teria dado certo mesmo.

–-Por quê?

–-Eu sou mil e trezentos anos mais velha do que você. - ela brincou e ele sorriu.

Antes que ela partisse de vez, voltou-se e tomou-lhe a nuca do rapaz, tendo como encontro os lábios um do outro. Nunca saberiam explicar o que cada um havia sentido pelo outro em tempo recorde. Mas haviam sentido. E ficaria marcado. Se afastaram e ele a viu ir embora, sem ao menos fazer nada.

–-Prontos?- perguntou Aslam.

–-Não!- exclamou Edmundo.- Onde está Irina? Não a vejo desde que o senhor falou com ela.

O leão o fitou e o moreno pôde ver, por um momento, algo triste passar em seus olhos.

–-Aqui.- uma voz fina e distante soou.

Ele se virou e encontrou a loira com um vestido verde e detalhes dourados com os cabelos presos em um coque. Estava linda.

–-Iri, que susto. Parece que os planos mudaram...- ele avisou.

–-Eu sei. Aslam já havia me alertado.- ela suspirou e pegou as mãos dele.

–-E se você for conosco?- ela negou.

–-Eu vou ficar.

–-Mas e sua mãe?- ela olhou para a multidão e ele pôde ver uma senhora com alguns fios brancos se sobressaindo na cabeleira negra, as costas encurvadas e protegidas por um xale e um sorriso afável. Acenou para eles e logo cruzou os braços.

–-Aslam me disse que devo ficar. Eu avisei que deveria ir encontrar minha mãe, mas ele já o fez por mim. Ele me disse que devo proteger Nárnia, como Helena fez por toda a vida. Disse que o momento certo, chegará.

–-Que momento?

–-Eu não sei. Isso ele não quis me contar.- e riu baixinho. Ele também.

–-Isto é um adeus?- ela confirmou com um aceno da cabeça.- Não. Eu não quero ir. Eu...- seus olhos ardiam.- Eu quase te perdi. Foi tudo rápido. Eu quero mais tempo ao teu lado. Não quero ir. Quero Nárnia, como quero você.- ela o abraçou e escondeu o rosto em seu peito. Ele a apertou contra si, como se fosse capaz de prendê-la em si para sempre.- Mas isso não será possível, certo?- ela sorriu com um olhar triste.

–-Eu ainda estou disposta. A fazer seu papel desta vez, se quiser.- disse e corou.

–-Eu voltarei.- beijou as costas das mãos dela e acariciou o rosto magro da loira.- Estou disposto.- os olhos dela estavam banhados em água e quando seus lábios se encontraram mais uma vez, duas lágrimas escorreram.

Ele se afastou e as mãos dela escorregaram das dele como areia. Ele seguiu os irmãos e ao atravessar pela árvore, viu-se com as roupas do colégio e a suja e cinzenta estação de trem. Ele suspirou. Ia voltar. Ia encontrá-la outra vez. Era uma promessa.

Do outro lado, as dançarinas de flores fecharam a árvore e toda a multidão já se dispersava. Ela permaneceu, observando a passagem pela qual ele havia passado e se perguntando se seria por ali onde ele voltaria. Mordeu os lábios inferiores e controlou-se para que as lágrimas não escorressem mais.

–-Vai esperar por ele?- sua mãe perguntou, afagando seus braços.

Quando ela havia aparecido no quintal daquela casa, como um piscar de olhos, haviam se abraçado e chorado no ombro uma da outra. Confessaram seus erros, esclareceram as verdades e largaram as desculpas como se aquilo estivesse as enforcado por uma eternidade.

–-Sim.- a senhora sorriu, vendo o brilho nos olhos da loira.

–-Ele vai voltar, querida. Tudo na vida, tem suas razões.

–-Irina!- viraram-se e encontraram Caspian ofegante.

–-O que houve?

–-Acho que o rei Edmundo esqueceu disso.- e ergueu um objeto comprido e brilhante.- Poderia cuidar dele, por favor?

–-Claro que sim. Tenho certeza que logo ele vai querer de volta.- e sorriu, mesmo sentindo que dentro do seu peito, um buraco negro a consumia a cada instante.

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Notas finais do capítulo

haaaai :)
Deixo aqui meus agradecimentos para cada favorito, comentário e recomendação. Todos foram imensamente importantes para mim. Me ajudaram, me apoiaram e me incentivaram a não desistir. Espero que minha fic tenha trazido algo de bom para vocês, assim como suas palavras trouxeram para mim. Obrigada a todos.
P.S.: Continuação, segue o link.
https://fanfiction.com.br/historia/662395/Rediscoveringadream/
bye :)



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