Foi fácil sair do hospital. Lana saiu sorrindo para os médicos alegando que estava bem. Aquilo era surreal demais, é como dizem, vaso ruim não quebra. Pegamos um táxi e em menos de 30 minutos já estávamos na porta de Bernacliff. O hospital era um prédio antigo, de alvenaria vermelha e havia algumas janelas de madeira. Estava caindo aos pedaços, mas ainda era um hospital psiquiátrico clássico na Suíça. A nevasca continuava forte. Saímos correndo para dentro do hospital. Mal entramos e a Lana começou a chorar e se jogar nos meus braços dizendo: - Eu não vou conseguir Richard, eu não vou conseguir olhar nos olhos do homem que me jogou da varanda de Gladstone. Por favor, vamos embora. Me desculpe, foi um erro insistir para vir aqui! — Como não me toquei antes? Era tudo um jogo dela para parecer vítima. Peguei-a pelo braço suavemente e na hora que estávamos saindo do hospital, senti alguém apertar meu ombro. Olhei para trás e era o agente Dan Summers. Ele sorriu, deu uma piscadela de olho e fez um sinal com a cabeça para que voltássemos para dentro. Mal entramos e ele fez um gesto com a mão e nos guiou até uma sala. Nos sentamos em um sofá e ele puxou uma cadeira para nossa frente. Dan ficou rodeando a sala por alguns minutos e a Lana só chorava encostada no meu peito. Dan sentou-se na cadeira repentinamente e foi direto: - Quem cometeu aqueles assassinatos em Gladstone? Quem jogou você da varanda, Lana Miller? — Ela enxugou as lágrimas com o tecido do sobretudo e falou soluçando de chorar: - Eu acreditava que havia sido o Carlos. Enganei-me. O Klaus nunca morreu, por esse motivo o corpo dele nunca havia sido encontrado. Um dia, eu estava dormindo e fui acordada com alguém puxando meu cabelo, essa pessoa trajava uma máscara de ferro pavorosa. Richard havia dormido no meu quarto, ele estava no banheiro, pois me lembro de ter ouvido o motor da banheira. — Apenas gesticulei com a cabeça confirmando. Ela continuou: - Fui puxada até a varanda e na hora que me levantei, ele me empurrou contra o gradeado. Tentei puxar sua máscara, mas não obtive sucesso. O chão estava cheio de gelo da nevasca e não pude me equilibrar, acabei caindo. Depois disso acabei desmaiando. — Dan apertou a minha perna e disse: - O que aconteceu quando você saiu do banheiro? — Comecei a acariciar o cabelo da Lana e disse calmamente: - Percebi que a Lana não estava no quarto. Olhei para a varanda e vi que tinha neve ciscada no chão. Corri até lá e vi o que tinha acontecido. Depois saí correndo e dizendo que a Lana havia se suicidado pelo corredor, precisava da ajuda de alguém. Eu estava completamente apavorado. — Dan só anotava tudo que era dito em uma caderneta e balançava a cabeça acompanhando. Ele estava sozinho, o parceiro dele, Gary não estava com ele. Dan parou de anotar e disse: - Vamos sair daqui. Esse lugar é terrível. Vou levar vocês de volta para Gladstone, chegou outra diretora por lá. Ela veio dos Estados Unidos. Vocês devem estar cansados. Me acompanhem.

Dan dirigia muito rápido. Aquilo me preocupava, dirigir rápido na neve é quase suicídio. Estava no banco da frente e observava pelo retrovisor a Lana que estava no banco de trás, acuada. Não demorou muito para que chegássemos ao internato. Antes de sairmos do carro, o agente falou: - Vocês serão acompanhados por alguns polícias durante alguns meses. Nada desesperador, faz parte da investigação. Vocês não tem nada a esconder, não é? — Nós gesticulamos com a cabeça confirmando. Entrei no internato abraçado com a Lana e quando abrimos a porta fomos recebidos com uma multidão de alunos trajando pijamas aplaudindo-nos. Vivien correu para abraçar-nos. Mal saímos do abraço dela e fomos recebidos pela nova diretora: - Olá, irei cuidar de vocês da melhor forma possível. Será um prazer cuidar de vocês. — A nova diretora era Jenny Simmons, a diretora da minha antiga escola. Ela me encarava enquanto sorria escancaradamente. Lana aparentemente notou aquilo e estranhou. Agradecemos aos alunos e na hora que fui subir para o meu quarto, a diretora segurou o meu braço e fez um gesto com a cabeça para que eu a seguisse. Já tinha ido àquela sala. A sala da diretora me trazia boas e más lembranças. A cara de criança apavorada da Lana era uma das más lembranças. A Diretora Jenny sentou-se a sua poltrona e falou: - Eu sei o que você fez Richard. Sei que foi você que matou essas pessoas. Todas elas. Não sou burra, não vim aqui por acaso. Eu vim para te ajudar. — Balancei a cabeça e falei sorrindo ironicamente: - Me ajudar? Sério isso? E você trouxe o seu filho para me ajudar também? — Ela balançou a cabeça confirmando e prosseguiu: - Você precisa voltar para os Estados Unidos antes que a coisa fique feia para o seu lado. Esses policiais daqui de Berna são um caso sério. Descobrem tudo. — Bati na mesa violentamente e disse: - Você e o seu filho voltaram para me perturbar e atrapalhar todos os meus planos! É o seguinte, esse é o meu jogo. Não posso sair do país, mas você pode. Jenny, você vai sair da Suíça em três dias. — Ela balançou a cabeça e sorriu sarcasticamente. Mexeu no cabelo e disse: - Não quero sair da Suíça. Rich, vim até aqui como sua amiga. Sua amiga de verdade! Eu posso ajudar você para que saia daqui. Chega de mortes, filho. Você só tinha que se vingar de uma pessoa e essa pessoa se chama Julie. Vou te dar as coordenadas e você vai se vingar dela. — Passei a mão no meu rosto e indaguei: - Por que você está me ajudando? — Ela se levantou da poltrona, sentou em cima do birô e respondeu: - Eu tinha um irmão. O meu irmão fez comigo a mesma coisa que o seu irmão fez com você. E eu não estou falando da surra, você sabe. Estou falando do seu outro segredo!