~ POV Lúcia ~

– Impossível! – disse Pedro, rancoroso. – Susana escreveu uma carta avisando que voltariam daqui há alguns meses.

– Desculpe, Pedro, mas seu pai foi liberado dos eventos mais cedo. Eles, então, decidiram fazer uma surpresa a você voltando momentos antes. Eu realmente sinto muito. Sei que isso gera uma grande dor no coração de vocês. Em mim também, crianças. Em mim também...

– Como soube dessa tragédia? – perguntou Edmundo, tentando ser forte para não colocar lágrimas para fora.

– Sempre vigio vocês em seu mundo. Sempre cuido de vocês.

Todos ficaram arrasados pelo terrível acontecimento. Caspian não teve nenhuma reação, mas seus olhos expressavam tristeza profunda. Meu Deus, perder o primeiro amor deve ser triste! Ah, se fosse Rilian no lugar de Susana... Meu bom Deus, eu não teria mais forças para viver!

Fiquei tão triste com a situação que minha única reação foi abraçar Rilian e cair em prantos.

– Não sei se seria grosseria perguntar se vocês irão voltar para seu mundo nessa situação. – intrometeu-se Caspian.

– Não! – respondi, atroz – Não irei voltar!

– Lucy, temos de voltar. – protestou Edmundo – Eustáquio ainda tem os pais dele. E também não podemos deixá-lo sozinho. Ele precisa dos primos dele.

– Mas você sempre diz que ama Nárnia. Ora, Edmundo, esta é a grande oportunidade de ficarmos. Agora, se partirmos, nunca mais poderemos voltar. A chance que tivemos de comparecer à Nárnia novamente foi de uma em um milhão.

Eustáquio pigarreou.

– Bem... Não sei se eu iria gostar de voltar para a Inglaterra. Com meus pais divorciados, sempre em brigas não seria legal conviver com isso. Ser um garoto infeliz com os pais em guerra. Ser disputado como um objeto.

– Então aceitaria ficar em Nárnia em sua situação, Eustáquio? – perguntei, enxugando as lágrimas com as costas da mão.

– Claro. Por que não? – sorriu.

– Não podemos fazer isso – protestou Pedro – Que nossa tia vai pensar se Eustáquio sumir, assim, do nada? Além de ficar preocupada ela sentiria falta dele e derramaria lagos e lagos de lágrimas por dias!

– Eu vou ficar e não há nada que vá me impedir. Aqui vou ter Aslam que é como um pai. Rilian, Caspian, Lilliandil, Tyler, todas as pessoas que nos amam e que nos quer proteger. – aleguei – Po rque voltaríamos, Pedro? Para sermos infelizes?

– Concordo com a Lúcia. – rendeu-se Edmundo. – Por que ficaríamos lá, sofrendo, sozinhos, esperando por um milagre se temos algo aqui? Um lugar onde podemos sofrer até a dor cicatrizar, e sofrer sabendo que ainda temos esperança e pessoas que nos amam de verdade. Concordo com a decisão de Lúcia, não irei voltar, ficarei em Nárnia. – e então seguiu-se ao meu lado.

– Pessoal, eu concordo em ficar, entendo o pensamento de vocês, mas não podemos deixar Eustáquio sozinho na Inglaterra. Não entendem?

– Ora, quem disse que voltarei para a Inglaterra?! – meu primo irritou-se. Encarou meu irmão com tanto ódio que fiquei com medo que avançasse nele.

– Eustáquio! Sua situação não é a mesma que a nossa.

– Mas quem disse que não é igualada? Quem disse que eu não estaria sofrendo em ver meus pais brigando a cada minuto? Eu preferia viver isolado em um hospício do que conviver com a situação deles! E ainda sem amigos?! Eu tenho A Jill, mas nem sempre ela conversa comigo. Quero ser feliz, e quando estou aqui... É como se... Eu estivesse em um paraíso imaginário.

– Porque insiste em ser teimoso?

– Porque insiste em cuidar da minha vida?

Bang. Eustáquio havia derrubado Pedro com aquela pergunta.

– Já Chega vocês dois! – sibilou Edmundo. – Deixe o garoto decidir, Pedro. Se ele está seguro do que quer, deixe-o seguir em frente. Ponha-se no lugar dele. E se fosse você com a única chance de ter o que sempre quis e alguém quisesse te impedir?

– Mas e a escola? – insistiu meu irmão mais velho. Que desculpa esfarrapada! Faça-me o favor!

– Você pode nos ensinar o que sabe.

– Há o tutor de Rilian se precisarem – ajudou Caspian – Ele é magnífico.

Silêncio...

– Vocês têm certeza de que querem ficar? – insistiu Pedro. Ora, ora...

– Pedro, por que tanta dureza? Você não gostaria de viver aqui? – perguntei.

– Claro que gostaria! Eu... eu amo Nárnia. Desculpe-me talvez seja uma insegurança minha. Estou abalado, só isso...

Em minha cabeça não era só a insegurança de Pedro que o incomodava e sim Eustáquio, mas se o garoto estava certo de que queria ficar em Nárnia, não poderíamos impedir, afinal, ninguém pode estragar nossos sonhos.

– Então se estamos todos decididos no que queremos, ficaremos em Nárnia, isso se... se Aslam permitir, é claro...

– Que pergunta boba, criança. Claro que aceitarei você em Nárnia! Nunca os rejeitaria, mesmo estando em alas inimigas.

A felicidade tomou o salão. Toda a dor parecia cicatriza naquele milésimo de segundo.Era como se nunca tivéssemos perdido nossa família.

Rilian estava com sua felicidade aos céus. Não o culpo. Ninguém gostaria de perder sua amada, gostaria?

Os devaneios foram embora quando Aslam rugiu.

– Narnianos, escutem! – dizia. – Trago boas e más noticias a vocês.

No total silêncio, ele continuou.

– Infelizmente um de nossos reis, a Rainha Susana, falecera em um acidente.

A multidão começou a zumbir. Todos estavam impressionados sobre o assunto. Vários narnianos arrasados sussurraram perguntas e mais perguntas...

– Mas... – continuou o leão, trazendo o silêncio novamente. – Temos mais três reis e um grande herói que ficaram conosco até que Nárnia desmorone. Rei Edmundo, o Justo; Rei Pedro, o Magnífico e Rainha Lúcia, a Destemida. Filhos de adão e filha de Eva que lutaram por Nárnia até o fim!

Logo os zumbidos foram trocados por aplausos e uma grande comemoração.

– Viva os reis de Nárnia! – uma multidão gritou, e outros responderam com... “Viva!”.

Viva! Viva! Viva!

Beijei Rilian e os aplausos aumentaram.

=o=

Rilian e eu nunca mais nos separamos. O amor que sentíamos era mais forte do que qualquer magia. Nenhum tipo de obstáculo nos impediria de amarmos um ao outro cada vez mais. Ao envez de mais perdas estávamos querendo recompensas. E a melhor maneira de começamos foi com um para sempre, na qual seu nome verdadeiro era casamento. Claro que só realizamos o evento um pouco mais velhos.

Edmundo, Pedro, Eustáquio e eu sempre tentávamos nós habitar cada vez mais a Nárnia, mas não era difícil, parecia que tínhamos nascido nesse maravilhoso mundo, parecia que a Inglaterra nunca havia existido.

Nunca mais ouvimos o nome Kathryn ou a palavra Feiticeira. Nárnia havia ficado em paz, com narnianos felizes em seus lares podendo andar despreocupadas pela floresta onde esta também havia mudado. Novamente estava viva com árvores dançando e ninfas cantando.

Tyler voltou a ser um tigrezinho feliz com seus pais. Eles conseguiram um novo lar perto de Cair Paravel. Ele nunca se esqueceu de nós, disse que se precisássemos de ajuda ele estaria disposta fazer qualquer coisa, e que se tivéssemos uma nova aventura ele insistiria que o chamássemos.

Ah, e não demorou muito para convivermos com a perda. Aquela dor conseguiu se cicatrizar com a cura ideal, o amor de um amigo, de um irmão, de um namorado, de um pai adotivo. Mas sempre escapava uma lágrima de saudade, ou uma pergunta boba como “Será que eles estão bem?”, “Será que eles vão lembrar de todos nós?”. Eu sempre perguntava para Aslam se ele sabia de alguma coisa a mais sobre a morte de Susana, mas ele nunca dizia a frase “Não. não sei de nada sobre Susana.”, ele sempre falava que tinha certeza que eles estavam bem. Ele podia enganar meus irmãos, mas a mim não! Sua expressão não me engava. Havia alguma coisa a mais. Talvez ele estivesse escondendo algo sobre Susana ou meus pais. Mas eu não deixarei quieto. Eu descobrirei o seu segredo.

Eu até poderia dizer que tivemos um final feliz mesmo com a tragédia que aconteceu, mas logo uma nova e emocionante aventura irá surgir.

E eu estarei preparada.