Apoiei os pés nas minhas bases e eles me içaram. A sensação de estar tão no alto era tão boa que eu esquecia que minha vida praticamente dependia das duas pessoas que sustentavam meus pés abaixo de mim. Fiz a formação dos braços.

- Vai, Tigers! – As flyers gritaram ao mesmo tempo. Fui jogada para o alto e dei um mortal para trás. Ainda no ar posicionei o corpo reto enquanto ia caindo e segundos depois senti os braços me agarrando.

- Estamos ficando ótimas nessa sequência das flyers. Jaiden – Jenna apontou para uma morena alta –, você precisa melhorar. Seu corpo não está ficando totalmente reto depois do mortal. Braços retos juntos ao corpo, lembre-se disso. – Ela falou séria.  – Por hoje é só.

O resto das líderes saiu do ginásio, deixando somente os meninos, eu e Jenna.

- Você definitivamente é a melhor flyer daqui – Harry disse a mim. Ele era uma das minhas bases. Alto, musculoso, olhos verdes e cabelo preto ondulado. Ele era o príncipe da escola. – Renesmee...

- Riley! – Gritei. Eu estava tentando evitar ter conversas longas com Riley fazia duas semanas, por que sempre que eu pensava no quer dizer, tinha algo haver com o fato dele ter sido um ex-drogado. Eu teria que ter uma séria conversa com ele. – Oi... Harry – puxei o braço dele. Harry olhou para mim confuso.

- Oi – Riley passou a mão pelos cabelos. Senti todo o meu corpo arrepiar com aquele olhar.

Foco.

- Quer dar uma passeada agora? Já acabou o treino...

Olhei para Harry depois para Riley.

- Vou ajudar Harry em história. – menti. Harry olhou para mim e eu cravei as unhas no braço dele.

- É, ela vai. – Harry sorriu.

- Sério? Ah... Tudo bem. Te vejo de noite?

- Sabe como escalar minha janela? – Brinquei. Ele riu.

- Tchau, Carly. – Ele virou e saiu do ginásio.

Harry se soltou do meu braço e me encarou.

- O que aconteceu? Tá fugindo dele? – Perguntou.

- Não... Não exatamente. – Mexi desconfortavelmente no meu rabo-de-cavalo. 

- Vocês não tão juntos?

Suspirei. Meninos eram tão lentos.

- Não sei... – E eu não sabia mesmo. Nem juntos, nem separados. Mais que amigos, menos que namorados. Eu tinha que organizar a minha vida. – É complicado, Harry!

- Tudo bem, tudo bem. – Ele sorriu.

- Ness, amanhã eu quero que você dê uma olhada no escorpião das outras flyers. Está precário – Jenna suspirou. – Era mais fácil quando éramos pequenas, e estávamos na escola de cheers...

Eu sorri. Tinha sido ali que eu, Cassie, Jenna e Maggie tínhamos nos conhecido, mas de dez anos atrás.

- Claro, caindo de cabeça toda vez que dava um mortal para trás e um técnico que só faltava arrancar nossas pernas da hora da escala...

- Cala a boca – Jenna chutou meu pé. – Eu já tô indo. Vai para casa agora?

- Sim. Eu ia ensinar história ao Harry, mas... – Harry caiu na gargalhada. – Cale a boca. – Bati nele. – Tenho que ir. – Deu um abraço em Harry e depois um beijo em Cass. – Tchau todo mundo.

Quando cheguei em casa subi direto para o meu quarto. Apenas dei um oi para mamãe, mas não falei com meu pai. As coisas ainda estavam tensas entre a gente. Eu ainda não conseguira perdoá-lo.

Eu devia ter pelo menos umas quarenta coisas de dever de casa para fazer. Os treinos das líderes estavam cada vez mais acirrados, já que o encontro com o time da Califórnia ia ser dali a umas cinco semanas, mais ou menos.

Quando comecei a estudar, já estava bastante escuro. Os barulhos dos bichos vindos do quintal eram reconfortantes, mas mesmo assim estava silêncio demais.

Track.

Eu me encolhi na cama. O barulho estava vindo debaixo da sacada. Track. O que era aquilo? Encolhi-me mais ainda. Então uma mão apareceu na beirada da sacada.

- Ah! – Abafei o grito com o travesseiro.

- Me ajuda! – Riley gritou.

Pulei da cama e fui para a beira da sacada.

- VOCÊ QUER ME MATAR DO CORAÇÃO?

- Não, só quero uma ajudinha para subir – bufou ele. Estendi meu braço e o ergui para cima. – Ufa – disse pulando a grade –, oi.

- Riley, quando eu falei sobre escalar minha janela hoje mais cedo, eu estava brincado – disse.

- Eu sei. Mas quero saber por que está fugindo de mim. E como não sou aceito pela porta da frente... – Ele deu de ombros.

Desviei meus olhos dele.

- Ahn...

- Me diz o que foi. – Ele puxou meu rosto. Livrei-me de sua mão e sentei na poltrona que era suspensa pelo teto.

- Riley – suspirei –, por que você realmente se mudou para Forks?

O rosto dele adquiriu um tom cinzento.

- Não mente para mim – sussurrei.

Ele sentou do meu lado, e eu me apoiei em seu corpo. Ele passou um braço em volta de mim e com o outro começou a fazer carinho no meu cabelo.

- Eu não sou a pessoa que você acha que conhece – ele disse. Sua voz embargou.

- Não chora – pedi.

Riley respirou fundo e apertou mais o braço em volta de mim.

- Você não tem ideia do quanto estou feliz por ter você aqui. – Falou baixinho.

Eu dei um beijo em sua mão.

- Sabia que eu sempre sonhei em um dia ver você treinando como líder de torcida? – Discordei. – Apesar da angústia que eu sinto quando vejo você sendo jogada no ar a quase vinte metros de altura, como se fosse uma boneca de pano.

- É a parte mais divertida! – Brinquei.

- Nada que faça parecer que vou perder você é engraçado – ele disse, passando os dedos nos meus lábios.

Eu fiquei desconfortável.

- Bem, quer que eu realmente te conte tudo? – Ele me encarou, seus olhos claros reluzindo por causa da luminária do meu quarto.

- Sim – falei.

Então ele me contou. Contou cada detalhe, cada momento. Coisas que não estavam no diário. Coisas até piores que aquilo. De vez em quando eu sentia seus dedos passarem pelo meu rosto delicadamente, limpando as lágrimas teimosas que insistiam cair.

Apesar disso, eu estava feliz. Feliz por ele compartilhar algo tão pessoal, tão doloroso. Por ele confiar em mim, como eu confiava nele.

- Eu amo você, – disse por fim – não se esqueça disso.

- Não vou esquecer – prometi.

Então virei e beijei seus lábios.