Saí cantando pneus pela estrada de La Push. Eu poderia sufocar de felicidade. Jacob era tudo o que eu queria. Tudo o que sempre quis desde que o conhecera. Porque não ficava tão claro isso em minha mente antes? Talvez porque sempre existira Riley em mim. E eu sabia, mesmo que eu sentisse em cada célula do meu corpo que gostava imensamente de Jacob, que ainda existia Riley em mim. Era uma doença incurável. Mesmo ao lado de Jacob, que era onde eu queria estar, o sentimento por Riley iria sempre me furar.

O meu celular tocou.

– Alô?

– Eai, Ness!

Eu gritei. Era a voz de Kate. Uma das minhas primas do Alasca. Kate era a mais nova, tinha a minha idade. Elas deviam ter chegado à Forks.

– Katy! – Falei. – Já chegaram?

– Estamos chegando na sua casa. Você já saiu da escola?

– Sim... Katy, quer ir comigo compra o vestido do baile?

– Claro! Onde você está?

– Chegando. Fiquei na frente da casa.

– Tudo bem.

Tentei acelerar o máximo para chegar em casa. Kate era minha prima favorita, entre todas as três. Irina era a do meio e Tanya era a mais velha. Irina tinha dezessete e Tanya iria fazer dezenove em janeiro. Ela tinha ingressado na Universidade do Alasca este ano, e residia no campus de Anchorage. Irina e Kate ainda estavam no ensino médio, e frequentavam a East High School. Eles também moravam em Anchorage, mas a grande casa vitoriana que os pertencia ficava quase no fim da cidade, perto da floresta e a pouca distancia de algumas montanhas cobertas por neve.

Fora Kate que me apresentaram a Riley.

Puxei o freio na frente da casa. Kate pulou da escada da entrada e entrou no carro. Dei a volta em direção ao centro de Forks.

Minha prima estava como sempre: a pele extremamente branca, o rosto com sardas claras. Seus olhos azuis eram de uma cor elétrica, grandes e com longos cílios louros. Os cabelos louros, que eram tão claros que pareciam ser brancos, estavam partidos de lado e caiam retos até a base a do ombro.

– Adorei seu carro. – Ela deu um beijo no meu rosto. – Onde estamos indo?

– Talvez a Port Angeles. Não tem muitas lojas no centro.

– Você disse que não ia ao baile... – Kate levantou uma sobrancelha. Ela era muito linda. Tanto ela quanto as irmãs. Eu tinha certeza de que não tinha uma menina que não se sentisse ameaçada perto de Katy.

Contei a história desde Riley até o beijo de Jacob. Quando terminei, Kate arfou.

– Riley aqui? Eu não acredito! – Ela riu. – Cara, quanto tempo eu não o vejo e... – Eu pigarreei. Ela parou de falar e franziu os lábios rosados. – E não o verei tão cedo, certo?

– Certo. – Falei. Mas depois tive pena. Na época em que Kate me apresentou Riley, eles eram amigos. E apesar de ter ficado muito chateada com ele, eu sei que ela sentia saudades de sua amizade. Parecia até egoísta proibir minha prima de falar com o antigo amigo.

Chegamos em Port Angeles em menos de meia hora. Dirigi direto para a loja onde tinha comprado meu vestido do aniversário.

– Que loja linda – Kate bateu a porta do carro.

Fui recebida por abraços e coros de “que bom que você veio de novo”. As vendedoras nos encaminharam para a sessão onde eu tinha achado meu antigo vestido. Uma vendedora nova e miúda olhava para Kate com aparente inveja.

– Preciso de ajuda Kate. O que você me diz...? – Comecei a procurar.

Kate era bem mais rápida que eu. Em menos de minutos conseguiu achar cinco vestidos lindos. Mas ainda não era o que eu queria para mim.

– Achei! – Kate gritou do outro lado. Soltei os modelos que estavam em minhas mãos e corri para ver.

Era simplesmente perfeito.

O vestido era cor de pérola. Um tomara que caia marcado na cintura por uma faixa de seda. A saia era feita de algum tecido leve em pequenas pregas que não reconheci. Ela descia logo abaixo da faixa, com várias contas brilhosas que gradualmente iam acabando até a barra da saia, que terminava em meus pés. Ainda tinha uma abertura que ia do alto da coxa até a barra, deixando o vestido sensual e clássico.

– Katy, eu te amo. – Parecia que o vestido tinha sido feito para mim.

Quando voltei para casa, já estava de noite. Eu conseguia ver minha família reunida na sala, conversando. Quando entrei meus tios, Eleazar e Carmen e minhas primas Irina e Tanya vieram falar comigo.

Quem olhava diria que Irina, Tanya e Kate não eram filhas dos meus tios. Eleazar e Carmem tinham peles de um tom mais marfim, os cabelos castanhos. Carmem era irmã de Carlisle, por mais que parecesse impossível. Ela tinha puxado o lado do pai, apenas os olhos azuis elétricos eram iguais aos de minha bisavó. Seu grande cabelo castanho ondulado descia até a base da cintura. Eleazar, por uma grande coincidência, era primo de segundo grau de Esme. Carmem e ele tinham se conhecido no casamento de meus avós. Ele tinha cabelos castanhos lisos e olhos azuis claríssimos. Como eles eram mais novos que meus avós, suas filhas também eram consideravelmente mais novas que os filhos dos meus avós - que eram todos adotados porque Esme não podia ter filhos - o que fazia delas mais minhas primas do que primas de meus tios. 

Abracei Carmem e Eleazar e em seguida Tanya.

Tanya era tão linda quanto Irina ou Kate. Seus cabelos eram ondulados da mesma cor loura claríssima, porém ao som tinha um leve tom de ruivo; eles estavam soltos e batiam em seu ombro. Seus olhos eram azuis claros, porém eram chamativos. Uma mistura da cor dos olhos de meus tios. Os lábios cheios e rosados formavam um sorriso encantador.

– Você está tão linda! – Ela apertou minha bochecha e depois me soltou para que eu falasse com Irina.

Irina era graciosa. Os olhos azuis acinzentados eram amigáveis, e o cabelo liso reto batia abaixo de sua cintura. Os lábios estavam cobertos por um batom vermelho vivo, seus cílios com rímel preto e suas pálpebras com delineador fino.

– Finalmente! – Ela me girou. – Onde vocês estavam? O que é isto?

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Irina puxou a sacola da Marmont de minhas mãos e tirou a caixa do vestido de dentro. Tanya a abriu e tirou o vestido.

– Ah. Meu. Deus. Que lindo! – Sussurrou.

Alice se pôs e de pé e pegou o vestido na mão.

– Espetacular, Nessie. Mas para onde você vai com isso? Por que não me chamou para ir junto comprar? Como conseguiu escolher isso sem eu por perto? – Alice pôs o vestido no sofá.

– Baile. Fui de última hora. Kate que escolheu.

– Está no sangue! – Alice deu um abraço em Katy. – Obrigado por salvar essa garota da perdição.

Eu estirei a língua.

O jantar foi na grande mesa de madeira talhada. A família junta era a coisa mais divertida do mundo. As meninas fizeram questão de dormir todas no meu quarto, o que não deixou espaço em lugar nenhum. Não sei exatamente de que horas eu fui dormir. Eu já conseguia escutar os passarinhos cantando do lado de fora quando finalmente caí no sono. A hora de acordar foi mais difícil. Eu e as meninas ficamos como zumbis até dar mais ou menos cinco horas e Irina gritar que eu não tinha marcado salão. Antes de sair, deixei que Kate fosse visitar Riley. Afinal, eu não podia ser egoísta desse jeito com minha prima. Entreguei o número dele a ela e emprestei o carro de mamãe. Depois eu, Irina e Tanya sairmos em disparada para o centro de Forks, onde tinha um dos meus salões de beleza favoritos. Graças a Deus – e a uma taxa extra em dinheiro – , consegui vaga para fazer as unhas, a maquiagem e o cabelo.

Quando deixamos o salão já eram seis e quarenta. Mandei uma mensagem pedindo a Jacob que se acalmasse enquanto estava a caminho de casa. Tomei um banho rápido e pus o vestido. Mamãe ficou perguntando se não estava muito frio para ir com um vestido aberto. Eu desconsiderei isso até atravessar o jardim e sentir minha alma congelar junto com meu corpo. Entrei no carro o mais rápido o possível e liguei o aquecedor no máximo, suspirando quando comecei a sentir meus dedos novamente.

A escola estava a coisa mais linda. Eu conseguia ver Jacob, parado na entrada do caminho que tinham feito até o ginásio. Desliguei o som e caminhei cuidadosamente até ele, segurando o vestido acima dos tornozelos e tentando não escorregar na neve com aqueles saltos de 15 centímetros. Quando ele me viu, abriu um sorriso gigante e me pegou num abraço apertado. Não tinha percebido o quanto sentira a falta dele em tão pouco tempo.

– Você está tão linda! – Ele sussurrou no meu ouvido.

– Não sou a única. – Dei um beijo de leve nele.

Começamos a caminhar em direção ao ginásio, e de repente o frio passou. Jacob me deixava quente.

– Porque não me atendeu durante o dia todo?

– Eu estava ocupada. Esqueceu que minha família do Alasca está hospedada lá em casa?

– Na verdade, você não me contou.

– Então, minha família do Alasca está hospedada lá em casa. – Eu ri.

Encontramos com Quil, Seth e Kim ao lado da entrada do ginásio. Ambos Quil e Seth estavam muito bonitos em seus ternos pretos. Kim estava com um belo vestido vermelho de costas nuas, que cabiam perfeitamente em suas belas curvas. Quando nos aproximamos Quil sorriu e Kim arregalou os olhos. Eu pisquei para ela.

– Estavam esperando a gente? – Perguntei.

– Na verdade, estávamos esperando o... É, vocês. – Kim sorriu. – Quil está esperando a garota dele. Uma tal de Nacy Sampson da Carriot.

Eu dei um abraço em Quil e sussurrei no ouvido dele:

– Nancy é uma das poucas garotas legais daquele lugar, aproveite.

Em grupo, entramos no ginásio. Estava tudo decorado com branco, azul e vermelho. Luzes iluminavam a pista de dança, e o DJ animava a festa de um palanque. Pufes e mesas estavam espalhados em volta e um barman fazia coquetéis perto do DJ. Enquanto examinava as pessoas meu olhar se encontrou com o de Mike. Ele me encarou, levantando uma sobrancelha. Eu tinha falado que não vinha ao baile. Depois, movi os lábios na direção dele. Vivian estava parada ao lado dele, com um belo vestido rosa claro de babados. Ela puxava o braço dele em direção a pista de dança, mas ele não queria ir. Como Michael não percebia o quanto aquela garota gostava dele?

Sentamos em uma das mesas que ficava perto do DJ. Enquanto os meninos iam pedir os coquetéis, eu e Kim ficamos conversando.

– Jacob finalmente te pediu em namoro? – Ela ergueu uma sobrancelha.

– Sim! – Gritei. O som foi abaixado pela música. – Hoje pela manhã...

– Ele demorou muito! Será que os meninos dessa escola tem esse problema? Seth também demorou um século.

Eu ri. Os meninos voltaram, mas eu não estava muito interessada em beber coquetel. Puxei Jacob para a pista de dança e ele me abraçou apertado. Com os saltos eu ficava apenas a uns quinze centímetros mais baixa que ele.

– Não acredito que estou com você aqui. – Sussurrei.

Jacob me encarou e mordeu os lábios. Senti o calor subir e descer pelo meu corpo.

– Mas você está. – Ele apertou os braços em volta de mim. – E se depender de mim não vai sair tão cedo.

Puxei o rosto dele o beijei. Esqueci festa, esqueci as pessoas, o lugar. O que me importava agora era ele, seus lábios macios e sua língua com gosto de chocolate e morango. Alguém pigarreou do meu lado e nos soltamos. Era Michael.

– Posso ter uma dança?

Senti os braços de Jacob se retesando em volta de mim. Seu rosto ficou duro.

– Jacob. – Toquei o braço dele.

Ele bufou e me soltou. Depois de encarar Mike no estilo “faça qualquer coisa e você está morto” ele me deixou e foi para a mesa.

Uma música agitada começou a tocar e eu puxei Michael para dançar. Por sobre seu ombro eu consegui ver Jacob quebrando seis talheres descartáveis com a mão. Desviei o olhar. Jacob devia parar de ser ciumento.

– Você dança bem – Eu sorri para Michael.

– Você também não é nada mal – Ele brincou e meu girou. – Quando você começou a namorar Jacob?

– Há um dia – eu ri.

– Ah. Que pena.

Eu belisquei o braço dele.

– Pena é ter uma menina tão bonita do seu lado – apontei para Vivian – e não dar atenção a ela.

– O quê?

– Pelo amor de Deus! Você é sego? Vivian...

A compreensão passou pelo rosto dele. Ele virou o rosto várias vezes para Vivian sentada na mesa e para mim.

– Viv?

– É, Viv. Vai lá, vai. – Dei um último abraço nele e ele se foi.

Caminhei em direção a Jacob e sentei-me à mesa. Quil conversava com Seth e Nancy em canto perto da mesa. Kim tinha sumido.

– Jacob, pare de ser tão ciumento.

– Você é pura demais para ver as intenções dele!

– Pura, talvez. Idiota, não. Tenha dó, Jake.

Kim voltou com uma cara assustada e séria. Ela sentou-se do meu lado e passou a mão na minha perna. Senti uma coisa roçando no meu vestido. Quando olhei por baixo da mesa era um papel. Cuidadosamente o desdobrei e li o que era. Merda.

– Jacob, enquanto você não melhorar essa cara eu não vou me sentar aqui. – Eu disse.

– E você vai aonde?

– Tomar um ar lá fora. E não me siga! – Pedi.

Peguei minha bolsa da cadeira e saí pelos fundos do ginásio. A pouca iluminação dali deixava as sombras das árvores sinistras. Uma coisa refletiu no branco atrás de um arbusto e eu caminhei decidida até lá.

– Mas o que você está fazendo aqui? – Perguntei a Riley.

Ele estava lindo. O cabelo louro bagunçado estava para trás, e o terno dele cabia perfeitamente em seu corpo malhado.

– Você está linda. – A voz dele estava fanha. Seus olhos, eu percebia agora, estavam vermelhos e molhados. Riley estava chorando.

Senti meu coração se partir em mil pedacinhos. Passei a mão pelo rosto dele.

– Porque você está chorando?

– Você está com ele, não está?

– O quê?

– Você me deixou. Você não me quer. – Ele fungou.

– Riley? Você está bem?

– Você não me quer. Está doendo.

Meu Deus! O que era aquilo?

– Riley? – O balancei.

Vi as lágrimas descendo descontroladamente pelo rosto dele. Eu não conseguia suportar olhar para aquilo.

– Riley!

Ele me abraçou e beijou o alto de minha cabeça.

– Riley...

– Eu te amo.

Antes que eu pudesse reagir, ele sumiu pelas árvores. Escutei um som abafado e pesado abaixo de mim. Um livro grande e pesado tinha caído do paletó dele. Peguei o livro e o limpei. Olhando atentamente eu descobri o que era.

Era um diário.