Lucy olhou para a Mansão Snape, coberta por raios de sol que poderiam ser maravilhosos. Só que não eram. Ela deu a encarada, entende? A ultima vez que parou daquele jeito, bem em frente a seu recém-descoberto lar nada agradável porém bem mobiliado, o encarou também. A diferença era que agora ele estava coberto de luz e coisas bonitas tipo… Luz, e não neve. Ela mexeu no cabelo curto. Aprendera parar de procurar pelas longas mechas negras, afinal. Pensou no intocado diário de Jane no seu malão, e em como Snape piraria se descobrisse que ela o tinha.

— Vai ficar ai parada olhando o que? — Snape resmungou, avançando pela pequena escadaria que antecedia a porta da frente. Era tudo branco. E coberto de luz. Lucy reparou que os pinheiros ficavam bem com sol. Afinal, sentira um pouco de falta daquele lugar. E apenas ela sabia o quando era difícil admitir.

Ela saiu de seus devaneios pensando em como Snape nem a ajudara a carregar suas coisas. Pensou, só por um instante que ele seria legal com ela. Depois de toda aquele conversa e baboseira sentimental que compartilharam. Pelo visto, tinha se enganado.

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— Senhorita Lucy! — Lynn a saudou assim que ela abriu a porta de seu quarto. Largou as tralhas no chão e abraçou a pequena criatura, se ajoelhando.

— Novidades? — ela levantou a sobrancelha para a pequena elfo doméstica, que acabara mais como uma amiga que outra coisa.

— Tirando que não pude dar as caras em nenhum outro lugar da casa toda enquanto os Malfoy estavam aqui… Nada.

Lucy revirou os olhos, mas riu. Para uma elfo doméstica, Lynn não tinha papas na língua.

— Planos para o verão? — ela perguntou. Lucy sorriu, radiante. Muitos planos.

— Com certeza Lynn. — Lucy abriu o malão em cima da cama bem arrumada. — Mas antes de tudo…

Desenterrou o livro das roupas.

— Temos que ler isso aqui até de trás para frente.

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Alguem batia na porta. Bem forte.

— Que foi? — Lucy gritou, enfiando o diário debaixo das cobertas.

— Desça para o jantar em 3 minutos se não quiser ir dormir com fome. — era Snape. Lucy fez uma careta.

— Olha que eu faço greve de fome Snape. — ela gritou de volta. — Dizem que funciona nas melhores famílias.

Lynn riu. Ela escutou o bruxo respirar fundo atrás da porta.

— Só… Desça logo.

Ela suspirou, enfiou um moletom da Sonserina e jogou água gelada no rosto.

— Cuide disso pra mim Lynn. — ela pediu, antes de trancar a porta com um feitiço — É minha vida agora.

Ela já se preparava para o discurso de uma trissílaba de Snape: “Demorou”. Mas quando desceu a escada e se deparou com uma mesa de jantar posta para quase um batalhão, franziu o cenho.

Snape dava ordens aos elfos, que surgiam e desapareciam a todo instante, colocando coisas na mesa e tirando, feito loucos. Ele parou para olhar para a filha.

— Por Merlin, que roupa é essa? — ele cobriu o rosto com uma mão. Depois se recompôs.

— Eu não sabia que teríamos convidados. — Lucy observou a casa, toda acesa com velas e decorada com jarros de flores — Você disse para eu descer em 3 minutos… O que tá acontecendo?

Ele se sentou ao seu lugar na ponta da mesa.

— Queria conversar com você antes de… Jantarmos.

Ela cruzou os braços, ainda de pé.

— Bartô Crouch virá jantar aqui hoje. — ele disse, como se não fosse nada demais. — E também, Fudge.

Lucy descruzou os braços.

— Fudge? — exclamou — Mas que Fudge?!

Snape fechou os olhos. Cornélio Fudge. OK.

— Esse será um jantar importante, Lucy. — disse ele — Alvo também virá e preciso que você se comporte extremamente… Bem.

Ele falou tudo seca e pausadamente, como sempre fazia quando queria dar muita ênfase em algo. Lucy assentiu.

— Eu vou… trocar de roupa eu acho.

— É, eu também acho. — ele armou um bico.

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— O que eu devo vestir Lynn? — Lucy abriu seu guarda roupa e tudo que encontrou foram: moletons, uniforme, mais moletons, mais uniforme, um sobretudo e mais moletons. — O que se veste quando Fudge e Crouch vem jantar casualmente em casa?

Ela suspirou, se jogando na cama.

— Não sei Senhorita. — a elfo continuava a revirar suas roupas, em busca de algo.

— Mas, afinal, o que diabos Fudge e Crouch vem fazer aqui? — sua curiosidade embaçou tudo. — Caramba Lynn.

Ela se endireitou na cama.

— Deve ser algo bem importante…

— Uhum.

— E confidencial… — os olhos da bruxa brilharam.

— Senhorita…

— Ele com certeza vai mandar eu subir depois de um tempo…

— Tenho uma ideia sobre o que você pode vestir Lucy!

— Ai é só eu ficar lá escutando, AH MEU DEUS QUE BADALO.

— Senhorita!

Lucy saltou. Agarrou Lynn pelos braços e girou com ela pelo quarto.

— O que foi Lynn? — ela parou pra respirar, mas sua cabeça borbulhava entusiasmo.

— Quer dar uma olhada no guarda roupa da Senhorita Jane?

Lucy congelou.

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Quando ela desceu as escadas, escutava algumas vozes apenas. A de Snape e…

— Dumbledore! — ela sorriu, contente em ver o esquisito porém super descolado e misterioso diretor.

Ele sorriu de volta, erguendo uma taça. Ela nunca vira o diretor sem sua roupa… Sem sua roupa de sempre. Já Snape, parecia nunca a ter visto. Parecia perplexo.

— Lucy… Vem aqui um pouco. — ele a chamou para o outro lado da sala. — O que é isso que está vestindo?

— Um vestido Snape.

— Onde você pegou isso? — ele mal sussurava.

— No guarda roupa. Oras. — ela sorriu diabolicamente e se sentou a mesa.

— Permita-me dizer que está encantadora Senhorita Lucy. — Dumbledore cumprimentou. Ela agradeceu.

Estava mesmo. Lynn a levara até o quarto de Jane. Ela mal respirou quando entrou no lugar. Estava intocado. Estava tudo no lugar. Limpo. Como se ela nunca tivesse… Simplesmente como se fosse surgir debaixo das cobertas a qualquer instante. Ela tentou não se prender tanto a coisas como uma escova de cabelo e perfumes e livros e foi direto a seu objetivo: o armário. Estava cheio de lindas peças de roupa. Todas lavadas e passadas. Ela não pensou muito, pegou o primeiro vestido que viu e saiu logo dali antes que perdesse a cabeça. Por que diabos Snape mantinha aquele lugar daquele jeito? Como se fosse um santuário. Isso era coisa de gente doente. O vestido combinava certinho com algo muito conveniente para a ocasião… Uma certa capa. Lucy cintilou ao lembrar que ainda a possuía.

Não demorou muito para o resto dos convidados chegarem. Lucy cumprimentou Fudge e Crouch da melhor maneira que pode, como se não fossem pessoas das qual ela apenas havia ouvido falar a vida toda. Algumas bruxas e outros bruxos que ela esqueceu o nome rapidamente também se sentaram para comer.

Conversaram sobre burocraria, Hogwarts, burocraria, Hogwarts, mais burocracia. Lucy comia e fingia não prestar atenção em nada, mas seus ouvidos captariam qualquer coisa diferente. E no momento… Era que Crouch falava a beça de Hogwarts. E Fudge de burocracia. Quando a conversa ficou um pouco mais tensa, alguns bruxos se retiraram, foram beber na sacada, ou se sentar na sala. Snape a fuzilou. E ela soube. Estava na hora. Ela hesitou um pouco para ele não suspeitar. Quando estava finalmente se levantando…

— Michael… — Fudge chamou um bruxo que bebia ali perto — Faça companhia para a Senhorita Snape.

Lucy nunca quis tanto pular em cima de um velho e o estrangular como naquele momento.

— Obrigada Senhor mas eu…

— Lucy! — Snape riu um tanto frio, a fuzilando novamente — Não vai recusar a companhia do sobrinho do Sr. Fudge certo?

Lucy sorriu apenas com a boca, querendo sumir.

— Claro que não! — fingiu estar chocada — Me deem licença senhores…

E andou na direção do tal de Michael. Que apesar de ser bem bonitinho, segurava uma taça cheia de alguma coisa bem forte desde que chegara.

— Então Senhorita Snape… — ele baforava na sua cara — A senhorita estuda em Hogwarts.

Ela tentava espiar ou escutar alguma coisa vinda da sala de jantar, apenas alguns metros dali… E aquele doido não parava de tentar ser legal. Ela suspirou alto.

— Aparentemente estou sendo um incômodo. — disse ele.

Lucy levantou as sobrancelhas, forçando um sorriso como nunca antes fez.

— Por Merlin Senhor…! é… Como é seu nome mesmo?

— Pensa que eu não sei que está muito interessada na conversa lá dentro?

Lucy se sobressaltou. Olhou direito, pela primeira vez, para o bruxo. Parecia ser apenas mais uns anos velho que ela, tinha cabelos bem escuros, olhos cinza e um sorriso pervertido. Era bem bonitinho.

— Nada de interessante na verdade. — ele continuou falando — Mas já que estou a importunando, vou me retirar discretamente.

Lucy agarrou o braço de Michael.

— Uau. — ele sorriu com aquele monte de dentes — É durona.

Normalmente nunca faria aquilo. Agarrar o braço de um louco pervertido com etiqueta. Mas sua curiosidade não a deixava pensar. Precisava saber do que conversaram lá dentro.

— Vamos pra um lugar mais confortável. — ele dobrou o braço. Lucy fez uma careta, mas aceitou o braço do bruxo.

— Como você conhece esse lugar e eu não? — ela abriu a boca novamente, bem surpresa. Estavam em nenhum lugar menos que o telhado da mansão.

— Eu sei de muitas coisas Senhorita Snape…

— Blá, ok. Já pode parar com o clichezão misterioso dos olhos cinzas que sabe chegar no telhado. — ela tagarelou — Me fala logo.

Ele se sentou, ainda com a taça na mão. E ela (curiosamente) se enchia novamente em instantes depois que ele virava o ultimo gole. Uma taça muito perigosa nas mãos de um trouxa, Lucy ousava dizer.

— Já ouviu falar do Torneio Tribruxo Lucy?

Ela abriu a boca. Ah.

— Sim. E não me chame de Lucy, eu não te dei toda essa intimidade. — ela se sentou um pouco longe de Michael.

— Obrigado pela excelentíssima educação Senhorita.

Ela enrusbeceu. Mas mal se importava.

— O que tem o Torneio Tribruxo? — perguntou ela, fechando os olhos para a brisa fresca que batia ali. Realmente gostava do verão.

— Apenas será sediado em Hogwarts esse ano. — Michael completou. Lucy abriu os olhos, seu coração saltou um pouco.

— Sério? — ela mal piscava — Que. Demais.

Ele deu de ombros. Claramente tudo aquilo era insignificante para ele.

— Porém não vá animando esse seu traseiro não…

— EI!

— Menores de 17 não participarão essa edição. — ele revelou. Lucy murchou, respirando o ar da derrota. Ele se virou para mirá-la. — Pretendia mesmo se candidatar?

— Claro. — ela mal hesitou. Sempre ouvira falar do Torneio, e vibrava torcendo para os campeões. Agora, teria a chance de ver um de perto. Bem de perto.

— Ou é muito corajosa, ou muito estúpida Senhorita. — ele comentou, virando a taça novamente.

— Mesmo que eu tivesse a resposta para esse seu comentário infelizinho, não haveria por que compartilhá-la. — ela anunciou, contente com sua acidez.

Michael riu em alto e bom som.

— Cuidado Senhorita… — ele se virou abruptamente de encontro com Lucy — Agora está me devendo uma.

— Faça-me favor. — Lucy revirou os olhos, não gostando nada da proximidade do bruxo.

Ele se levantou, pelo visto, pretendia ir embora. Ainda bem.

— Não vou me esquecer disso Senhorita. Não mesmo.

~

Na manhã seguinte, Lucy não tardou a mandar uma coruja para os gêmeos contando o que tinha descoberto. De alguma maneira, ela sentia que eles já sabiam, porém, queria dar um sinal de vida também. A Copa Mundial de Quadribol aconteceria apenas alguns dias antes das aulas começarem, o que não era nada legal já que ela teria que procurar algo pra fazer nesse meio tempo. Se lembrou do Diário de Jane embaixo das cobertas e o abriu.

“Hogwarts é majestosa. Não há nada menor para descrever esse lugar. O modo como as luzes tocam em apenas algumas partes do assoalho a noite, o barulho das conversas (tanto dos alunos quanto dos quadros e fantasmas), os professores, tudo. Tudo é muito bom. A comida então nem se fala. Meus pais sempre guardaram essa vaga para mim, e agora aqui estou eu. Fui selecionada para a casa da Grifinória, e eu não poderia estar mais feliz já que toda minha família também fora da Grifinória. Meus amigos daqui são ótimos (por enquanto) e eu divido quarto com três garotas muito legais: Dorcas Meadowes, Marlene McKinnon e Lily Evans. Tudo está conforme eu planejei, e eu sinto que será um ótimo ano.”

Lucy encarou a parede. Não esperava que o diário de Jane fosse tão… Infantil, simples, essas coisas. Olhou para a data, nessa, provavelmente ela estava no primeiro ano. Lucy revirou os olhos para si mesma. É claro que seria infantil. Ela teria que pular algumas páginas para encontrar diversão obviamente. Não aguentaria todo aquele “Querido diário, hoje eu comi torrinha de abóbora na sobremesa…”. Ela folheou o livro cuidadosamente. Procurou uma data. Sexto ano. Ótimo.

“Hoje foi um tanto estranho. Ele não parava de me encarar durante todo o jantar lá da mesa da Sonserina. Eu fora legal com ele aquele dia na biblioteca. Nada mais. Lily era bem próxima dele, mas ultimamente tinham brigado muito. Me avisou para não chegar muito perto se eu não quisesse me arrepender depois. Meu amigos simplesmente não se davam com ele, nem um pouco. Principalmente James. Meu melhor amigo Remus que não se dava mal com ninguém, fazia um pouco de descaso dele. O que ele tinha de errado afinal?”

Péssimos modos, pensou Lucy. E antes que pudesse fuçar em mais páginas, alguém escancarou sua porta. Mas o que…

— Olá Snape. — era Malfoy. — Nos divertiremos muito esse verão.

Ele estava claramente me avacalhando.