Destinos Cruzados escrita por Fran Carvalho


Capítulo 13
Dramas e Bençãos




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Pouco mais de um mês depois, eu estava sozinha no canto de um quarto escuro e coberta de lenços de papel. Meus olhos doíam de tanto chorar, e minhas pernas formigavam, sem mais aguentar aquela posição. Li novamente a carta manchada de lágrimas. Nela, Danilo dizia que estava indo embora, que ia estudar fora do país e que sentia muito.
Minha mãe já desconfiava da gravidez. Há alguns dias eu reclamava que a menstruação não descia, e andava tonta e vomitando as tripas. Chorava muito, tava sempre braba e quase sempre faltava a escola.
O mundo tinha desabado na minha cabeça.
Era pouco mais de quatro horas da manhã, e eu estava ali desde antes das dez, quando recebera a carta.
É claro que Danilo não sabia de nada, mas acho que não faria grande diferença se soubesse. ele só tinha dezesseis anos, e o mundo pela frente.
E eu só tinha catorze anos, e um bebê a caminho.
Deixei-me adormecer ali, no chão frio do quarto, nenhuma claridade entrando pela janela.
- Ju - alguém chamou, segundos depois que eu fechei os olhos - Ju, amor, acorda!
Olhei pela fresta de visão que tinha aberto em meus olhos. Minha mãe olhava pra mim vestida pra sair e seus olhos estavam vermelhos.
- O que foi, mãe? - perguntei, agora totalmente acordada e de pé.
Minha mãe prendeu os cabelos loiros, em um rabo-de-cavalo e respirou fundo.
- Vamos ao médico, Ju - falou - Fazer uns exames e ver o que você tem.
Eu a olhei e revirei os olhos.
- Você sabe - acusei.
Ela afirmou com a cabeça, desistindo.
- Seu pai foi embora - começou - Falei com ele sobre o bebê e ele brigou comigo e foi embora.
- Eu... Sinto muito - gaguejei - Eu realmente não queria...
- Tudo bem - cortou - Vamos ver o que fazer com isso aí.
Enruguei a testa, confusa.
- O que quer dizer com isso?
 Ela me olhou como se eu fosse maluca.
- Vai querer ter uma gravidez saudável, não?
Concordei, aliviada. Por um momento achei que ela queria matar o meu bebê.   Minha mãe não deixou que eu parasse de estudar sem necessidade. Durante os nove meses, frequentei a escola normalmente, e em férias, tive meu bebê.
Douglas nasceu saudável, e sempre ficou com minha mãe até que eu terminasse os estudos. Quando ele tinha pouco mais de um ano, e eu terminava o ensino médio, conheci Luan,  o irmão mais velho de Danilo. Eu estava com dezesseis anos, ele vinte. Namoramos por quase um ano, e decidimos noivar em janeiro, pouco antes que eu fizesse dezessete. Ele iria formar-se em direito em breve, e minha mãe, me ajudaria pra que eu montasse minha casa.
Foi nesse mesmo mês, que tudo aconteceu. Minha mãe estava fora, trabalhara até mais tarde, e Douglas estava com um pouco de febre.
Luan ficou comigo até que eu ficasse calma.
Quando minha mãe chegou, chuvia muito, e era tarde da noite.
- Fica aí hoje - minha mãe convidou, largando o guarda-chuva imenso atrás da porta - Pode ficar, é melhor do que pegar um resfriado aí.
Luan sorriu, agradecido.
Dormimos, naquele dia, os três na mesma cama - Luan, Douglas e eu - agarradinhos.
Foi nessa noite que Lohana foi concebida.   Luciane tinha doze anos quando fugiu da casa da mãe. Ela já havia se esgotado, de raiva, dor e medo, dentro daquela casa. Sua mãe tinha oito filhos e um namorado a cada semana. Muitas vezes, a menina sofrera nas mãos deles, com uma mártir silenciosa. E a mãe, que era viciada em drogas, batia nos filhos e muitas vezes tinha de ser carregada pelas ruas, por Luciane e Marlon, seu irmão mais velho. Foi ele que a orientou. - Foge daqui, Lu - alertou ele, quando chegavam em casa depois da escola, falando do vício da mãe - Procura um lugar pra ficar, qualquer lugar. Luciane suspirou. - Ela nem vai sentir falta, né? Ele negou meio tristonho. - Acho que não, Lucy - falou finalmente.
E deixou que a irmã corresse. Lucy correu tanto que chegou no bairro nobre da cidade, alojando-se no terreno vazio ao lado do velho teatro municipal.
Todos os dias, depois de escurecer, um grupo de sete garotos adentravam o terreno, e ela os observava ao longe. Eram adolescentes ricos, bem vestidos e viciados em vários tipos de drogas. Luciane passou semanas os observando, percebendo e reconhecendo suas feições e os apelidando em sua cabeça, como se assistisse a um filme.
Um dia perto das dez da noite - ela cuidava a hora no relógio da igreja, em frente ao terreno onde vivia - ; o vesguinho, o caçula e o alto entraram sozinhos e a viram. Ela correu, assustada, mas o caçula a puxou pelo braço e a encarou.
- Oi, quem é você? - ele perguntou, tão amistoso que Lucy respondeu.
- Luciane - falou, sem tirar os olhos do garoto - Não quero incomodar ninguém, eu juro.
Eles assentiram, cercando a menina, os três sorrindo.
- Não vamos machucar você, sério - falou o vesguinho, sorrindo - O que é que tá fazendo aqui?
Ela hesitou, mas respondeu.
- Eu moro aqui - falou - Há algum tempo.
Eles se olharam, sorrindo maliciosamente.
- Andou se escondendo de nós, Lucy? - falou o alto.
Ela tremeu, confusa.
- Acho que sim.
O garoto alto tirou uma garrafa de trás de si, e uma sacola de salgadinhos de festa quentinhos.
- Então, acho que gostaria disso aqui, então?
Tudo o que Lucy lembra, é que comeu salgadinhos com a bebida da garrafa. Depois só se lembra de acordar pela manhã, com o garoto alto ao seu lado.
- Tá tudo bem com você? - perguntou ele.
Ela fez que sim com a cabeça, sonolenta.
Ele foi embora.

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