Destinos Cruzados escrita por Fran Carvalho


Capítulo 1
Pessoas inferiores, palavras superiores




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As vezes na vida acontecem coisas tao inesplicáveis que ate é dificil contar. Foi numa dessas que minha vida mudou radicalmente.Algo me levava ao supermercado, não sei exatamente porque, mas estava certa de algo estava pra acontecer. Meu nome eh Juscelina Silva. Silva como sempre. Juscelina como nunca. Tinha dois empregos naquela época. Era professora de fisica em uma faculdade cara e contalibista em uma loja de jóais.Meu tempo era pouco e dividido entre meus filhos e os trabalhos. Dar aula de manhã, estar com meus filhos no almoço, levar meus filhos para escola, trabalhar na contabilidade, buscar meus filhos e fazer minha faculdade de administração uma vez por semana. Nos outros dias da semana, a noite era o único tempo com meus filhos. Dividia esse tempo entre ajudar nas tarefas, perguntar pelo dia deles e estudar a Bíblia. Como toda mãe solteira, contava com um pai ausente. meus filhos quase o tempo todo ficavam na minha mãe, quando não estavam na escola.O supermercado estava mais lotado que nunca. As pessoas batiam umas nas outras e mal tinham tempo pra se desculpar. Seu tempo precioso era usado para comprar o que precisavam e sair. Comigo era diferente. Eu não precisava de nada. Em minha cabeça sempre lotada de coisas, agora só tinha imagens de pão e leite. Não que estivesse com fome, mas alguma coisa me fazia pensar nessas coisas. Passei pela padaria e comprei os pães. Na sessão de congelados, coloquei uma caixa de leites no carrinho. Ainda seguindo o quer que fosse, coloquei queijo, presunto e uma bandeja de iorgute.Não fazia a minima ideia do porquê.Saí de lá sem saber o que fazer com aquilo tudo. Andei pela avenida movimentada e algo me disse pra virar em uma rua deserta. Tremi. Gelei. Mas ainda sim, obedeci. De repente, algo me fez parar. Olhei na direção da janela e vi uma menina pequena, cerca de cinco ou seis anos, brincando na terra em frente a uma casa de madeira mal construida. Sorri para menina, que devolveu o sorriso, envergonhada. Levantou do chão, mostrando o corpo e o magricelo e o rosto abatido. Abri a porta do carro e parei em frente a menina. Seus cabelos emaranhados tapavam o rosto assustado.

- Ta bem, pequena? - perguntei quando percebi que ela se afastava de mim.

- To com fome - falou com a voz fraca e fininha, perdendo aos poucos o medo de se aproximar de mim.

- Onde esta sua mãe? - perguntei, abaixando pra ficar na altura da criança.- Atrás de você- falou uma menina de cerca de uns dezoito anos, alta e esbelta.

- Voce eh mae dela? - perguntei quando vi a pouca idade da moca em minha frente.

- Sim - respondeu, aos poucos mostrando o encanto nos olhos baixos - Ganhei Emily aos treze anos, quando ainda era uma criança de rua. Com umas madeiras velhas, consegui construir essa casa em um terreno vazio. Mas não tive dinheiro nem mesmo pra uma cadeira. Espiei por tras da moça. A casa, uma peça do tamanho do meu banheiro. Apenas o vazio.

- Não tem nada dentro de casa? - perguntei com medo de abrir a boca de espanto - Nem comida?- Ha tres dias naum entra comida nessa casa. A última coisa ganhei de uma senhora amiga. Apenas pão. Sinto falta de algo pra colocar nele. E Emily sente falta de leite, claro.

Foi nesse momento que lembrei do que tinha comrprado. Pedi a Luciane, a moça mãe de Emily, que aguardasse. Abri a porta do Santana (pela primeira vez senti vergonha do meu carro, pois com ele me sentia superior aos outros, mas agora percebia que era apenas mais uma criatura de Deus), tirei a caixa de leite, as misturas e os paes. Deixei com elas tambem, meu conjunto de louca que ganhara nos dias das mães passado. Mas algo mais do que solidariedade mudaria em minha vida agora.


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Era uma mulher bem sucedida. Tinha bons filhos, um bom caráter, uma boa casa, fazia doações a fundações de caridade. Mas nunca tinha visto nada disso tão perto de mim. Criada em uma família Testemunha de Jeová, seguia a risca todas as regras da religião. Apesar de ter engravidado aos catorze anos, naum deixei isso abalar a minha vida e meus estudos. Tanto é, que aos vinte e quatro anos que tinha, já tinha terminado meu mestrado com a ajuda enorme da minha mae (Deus a abencoe!). Meus filhos e eu estudávamos a Bíblia quase todos os dias. E apesar disso, sentia um vazio tão grande que apesar de tudo, a felicidade que sentia (ou achava que sentia) era tao falsa quanto nota de trinta reais. E apesar de tão "superior" que me sentia, aquela menina pobre foi que me ensinou o verdadeiro sentido da minha existência.

- Deus esta tao perto, nao eh?A gente deixa ele tão longe. Pedi a Ele pão para que não visse Emily morrer, e Ele me mandou mais do que eu precisava. As palavras eram simples e talvez eu já soubesse disso. Mas ouvir isso da boca de uma pessoa que tinha tudo pra não crer em Deus, ainda mais confiar nele!Foi isso que me encorajou para dizer as próximas palavras.

- Pois Deus vai fazer ainda mais. Vocês estão convidados para fazer todas as refeições a partir de amanha, na minha casa.


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