A Linhagem Sagrada escrita por elleinthesky


Capítulo 8
Capítulo 6 - Treinar, Treinar e Treinar


Notas iniciais do capítulo

Como eu havia mencionado na nota final do capítulo 5 (nº 6 do nyah), esse capítulo está bem grande e acho que a espera de quatro dias valha a pena.
Enfim, vejo vocês lá embaixo.
Boa leitura (:



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           - Uau, sinceramente nunca vi um banquete tão grandioso em toda a minha vida. E é interessante essa coisa de oferecer nossos alimentos aos deuses. Peculiar, mas ainda assim interessante. – disse Amy a Chiron, enquanto caminhavam pelos campos de treinamento após o jantar.

            - É um costume antigo, apesar das modernidades não queremos que essas crianças percam os velhos costumes. Mas não foi pra isso que a chamei aqui, minha querida. Sei que seu avô a visitou antes do jantar. Não me entenda mal, eu conheço Zeus desde que era um pôneizinho e devo minha vida longa a ele; era presumível que ele viria vê-la quando foi o próprio que a sinalizou para o radar.

            - Mas como você... Ele disse que... – depois de todas essas informações, estava difícil para Amy formular uma frase coerente e concisa.

            - A-ha, se acalma, minha pequena. Ele me avisou o que faria e me encarregou de treiná-la pessoalmente. Pelo que entendi, seu avô quer que você seja tão boa quanto sua mãe, Heracles ou Perseu. – Amy olhou para o centauro com olhos curiosos e ele, presumindo a pergunta da garota, respondeu o que ela estava pensando em questionar. – Eu não sei por qual razão ou com que finalidade ele quer que eu o faça, mas ele é o chefe. Prometi dar o meu melhor e é isso que vou fazer, a partir de agora você é minha pupila e fará tudo o que eu recomendar. Você deverá confiar em mim e somente em mim durante seu treinamento. As pessoas sabem...

            - ... ser trapaceiras quando querem. – disseram Amy e Chiron, juntos.

            - Ei, essa frase é minha. – disse o centauro-tutor, confuso. – M-mas como... – Amy arqueou as sobrancelhas, inclinou levemente a cabeça para o lado e levantou os ombros com as palmas das mãos viradas para o alto como se dissesse “o que posso fazer?” – Ah, claro. Zeus.

* * *

            Quando Chiron disse que daria seu melhor para treinar Amy, ele estava falando sério. Às seis e meia da manhã, uma garotinha de aproximadamente onze anos de idade foi enviada até o chalé de Zeus para acordá-la e ajudá-la a se preparar para seu primeiro dia de treinamento.

            - Vamos, Amelie. Você precisa acordar, Chiron disse que é importante que você esteja de pé logo cedo. – disse a pequena garota de cabelos castanhos e ondulados enquanto sacudia Amy na cama e a fitava com seus olhos cinza.

            - Ok, você venceu. Eu levanto. – disse Amy, espreguiçando-se lentamente. Enquanto se arrastava em direção ao banheiro, ela se deu conta que não conhecia a garota quando a mesma abafou uma risadinha. – Afinal, quem é você? Não me lembro de tê-la visto durante o jantar da noite passada. E se puder aproveitar o encargo para explicar o motivo da risadinha, ficaria agradecida. – e encostou-se na porta do banheiro com os braços cruzados no peito.

            - Desculpe, mas é que você fala engraçado. Sabe, o seu sotaque. – ela deu mais uma risadinha fofa que apenas as crianças sabem como dar. – Além do mais, sou filha da deusa Athena e me chamo General Theresa Bridges da Guarda Chironiana, ao seu dispor.

            - General da Guarda... Chironiana? Parece um cargo importante. – disse Amy, tentando inflar o ego de Tessa.

            - Ah, não é nada de mais. Na verdade eu só sou ajudante do Chiron mesmo. – admitiu a pequena, com um sorriso tímido no rosto.

            - Você deveria se orgulhar do seu cargo, até onde pude ver Chiron não tem outros ajudantes por aqui, General Bridges.

            - Bem, isso é verdade... agora deixa de me enrolar e vá logo para o banho, chispa. – disse a garota, empurrando Amy em direção ao banheiro. – E vê se não demora! – completou, fechando a porta com um estrondo depois que Amelie entrou no banheiro.

            - Sim, senhor capitão. Er, digo... general.

            “Até que ela é bem fofa”, pensou Amy.

            Ela tomou um banho rápido e vestiu as roupas que Theresa deixou em cima da cama para que ela vestisse: uma camiseta laranja e bermudas jeans. Amy calçou seus tênis All Star pretos, já que era a única coisa que ela tinha para colocar nos pés.

            - Ther... digo, General! – chamou Amy, enquanto saía do chalé.

            - Bem aqui, milady. – disse Theresa, deixando um grupo de crianças que tinha mais ou menos a mesma idade que ela.

            Amy escutou a pequena Theresa dizer “Preciso ir. Sabem como é, coisas da Guarda” para os amiguinhos que a rodeavam enquanto eles olhavam da “general” para ela, mas acabou abafando o riso e não comentou nada. Não seria ela a encarregada de acabar com a alegria de uma criança.

            - Não liga, não. São apenas curiosos querendo saber quem você é; sabe como é, eles são filhos de Hermes e você é novata por aqui. As notícias correm... – disse a garotinha enquanto acompanhava Amy até a Casa Grande. – Ah, e você pode me chamar de Tessa; é como meus amigos me chamam.

            - Obrigada, mas... somos amigas? Achei que, por ser General da Guarda, você seria uma superior. – “Mandou bem, Amelie. Ah, ela é fofinha... merece ter a auto-estima elevada.”, pensou Amy.

            - A partir de agora, somos. E eu gostei de você, – disse Tessa, com um sorriso lívido no rosto – caso contrário eu não te deixaria me chamar pelo meu apelido super secreto. – ela olhou para Amy de soslaio, como se dissesse que ela deveria ter orgulho de fazer parte desse seleto grupo.

            - Obrigada pelo privilégio, General... digo, Tessa.

            Chegando na Casa Grande, Chiron esperava pelas duas em sua forma real, a de centauro, usando uma bonita armadura de couro. Os olhos de Tessa brilharam em fascínio ao vê-lo vestindo a proteção, ele parecia muito imponente naqueles trajes. Assim que as avistou, o tutor do Acampamento Meio-Sangue abriu um largo sorriso, mandou o grupo de seis semideuses com quem conversava esperar por ele onde estavam e veio ao encontro de Amelie e Theresa.

            - Bom dia, minhas meninas.

            - Bom dia, Chiron.

            - Bom dia, Comandante. Descendente de Zeus entregue, missão cumprida. – disse a pequena Tessa, em tom militar.

            - Meus parabéns, General. Eficiente como usual, dispensada. – afirmou Chiron, fazendo uma reverência militar à garotinha.

            - Tchau, Tessa. – disse Amy.

            - Tchau, Amy. – respondeu a menina, dando um risinho e logo depois saiu correndo para encontrar um grupo de amiguinhos que estavam ali por perto.

* * *

            - E então, pronta para começar o treinamento? – perguntou Chiron para Amy, agora levando-a em direção aos adolescentes com quem ele conversava antes dela chegar.

            - É, acho que sim. – respondeu a garota, sabendo que por dentro ela fazia a mínima ideia se estava ou não preparada.

            - Bom, eu serei o tutor do seu treinamento e esses serão seus instrutores individuais de técnicas bem específicas.

            - Sou Sam Parker, filho de Apolo, e vou te ensinar primeiros-socorros e como devem ser feitos em ocasiões adversas. – disse o garoto de cabelos castanhos desgrenhados e olhos verdes, que depois sorriu.

            – Sou Dean Knight e esta é minha irmã Savannah Smith, somos filhos de Ares e seus professores de luta grega. – disse o garoto de cabelos castanho claro e olhos tão negros quanto a noite, então ele e sua irmã apertaram a mão de Amy. Savannah tinha os olhos tão escuros quanto os de Dean, mas seus cabelos originalmente castanhos agora estavam tingidos de loiro, o que caia lhe caia muito bem. Apesar disso, ambos não pareciam ser usualmente simpáticos.

            – Me chamo Lana Booth, sou filha de Athena e te ensinarei estratégias de guerra e reconhecimento de campo. – disse a garota de olhos acinzentados e cabelos castanhos ondulados que se aproximou de Amy e lhe também deu um aperto de mão.

            – Este é Kevin McHale, filho de Hades, melhor espadachim do Acampamento e seu professor de armas. – disse Chiron apontando para o garoto de cabelos e olhos negros amedrontadores, ele apenas assentiu com a cabeça. Amy se perguntou porque ele não fez as próprias apresentações, talvez evitasse contato humano.

            – Olá, eu me chamo Mia Czobarov, sou general das caçadoras de Lady Arthemis e ela ofereceu a Chiron meus serviços como sua melhor arqueira para treiná-la. – disse uma garota de aparência doce com cabelos loiros e olhos verdes tão calmos quanto a relva. Ela sorriu e abraçou Amy, que se perguntou se seu sotaque era russo. - Er, desculpe. É que nós, caçadoras, nos cumprimentamos assim. – disse a garota apologeticamente, corando.

            - Tudo bem, eu não me incomodo. – respondeu Amy, sorrindo para a garota.

            - Acho melhor começarmos logo com os treinamentos. Quanto mais cedo você estiver pronta, melhor pra todos nós. – disse Kevin, o anti-social.

            - Kevin está certo; com o que prefere começar, querida? – perguntou Chiron.

            - Acho que prefiro começar com o McHale. Até porque, como ele mesmo disse, “quanto mais cedo eu estiver pronta, melhor”. – respondeu, cética. Ela definitivamente ficara cismada com aquele garoto.

* * *

            O Salão de Armas do acampamento era um galpão imenso com estantes repletas de espadas, adagas e outros instrumentos que Amy sequer tinha visto. Alguns ela não conseguiu nem imaginar como deveriam ser empunhados. A garota começou a passear pelas prateleiras e ocasionalmente deslizava os dedos sobre uma ou outra arma. Foi então que Kevin a tirou de seus devaneios.

            - Não sei se percebeu, mas estamos aqui para ter aulas e não para passear. – disse ele, seco.

            - M-me desculpe, é que eu... eu fiquei...

            - Ficou encantada? A primeira vez aqui é assim pra todo mundo, mas temos mais o que fazer. Vem, vamos pra arena. – disse Kevin, pegando Amy pelo braço e levando-a para fora do depósito.

            - Ei, me solta. Você ta me machucando. – reclamou a garota.

            - Me desculpe, eu não estou acostumado com essa coisa de contato humano o tempo todo. – ele soltou-a e seguiu andando na frente dela, meio que para mostrar o caminho e meio que para evitar olhar para ela.

            “Imaginei.”, pensou a garota.

            Eles andaram até uma clareira onde, em cima de uma pedra, Kevin abriu o embrulho que trazia do depósito sob o braço. Amy se aproximou e viu que continha um escudo desmontável, duas espadas largas, duas mais finas e duas adagas.

            - Pronto, acho que agora podemos começar. Por ser a aprendiz, o escudo fica com você. Agora escolha uma das armas.

            - O que você sugere? – a garota não fazia ideia de qual pegar, mas com certeza não seria a adaga. “O risco de morrer mais rápido é maior”, pensou.

            - Eu mandei você escolher, você escolhe. – respondeu o garoto, rispidamente. “Então é assim? Também conheço o joguinho de ser seca”, pensou ela. Apesar disso, ela não admitia que, no fundo, sentira pena do garoto; uma criatura solitária e desacostumada à convivência de um círculo social. A garota se perguntou se havia a possibilidade de que talvez ele não tivesse amigos.

            - A espada mais fina.

            - Ótimo, começaremos com a esgrima. O nome certo desta arma é sabre, mas provavelmente você não sabia disso. Deixe o escudo no chão e amarre o cabelo.

            - Ouvi dizer que a esgrima é praticada com um tipo de espada bem mais fina que essa. – disse a garota enquanto amarrava o cabelo com um elástico que estava no bolso de sua bermuda.

            - Esgrima é como qualquer outra técnica, quem escolhe a arma é você.

            - Bom, então acho que estou pronta.

            - Antes de te ensinar qualquer movimento, primeiro você precisa aprender a empunhar uma espada. – ele ajeitou a mão de Amy para que ela pegasse na espada do jeito certo. – Agora, você tem que apontar a ponta da espada na direção do seu adversário. Assim, muito bom.

            - Eu já vi pessoas praticando esgrima no colégio, acho que sei como fazer.

            - Não se engane com isso, a esgrima esportiva usa armas não-letais e é dividida em categorias por armas. Eu to aqui pra te ensinar a técnica militar usada pelos alemães na Baixa Idade Média, ou seja, não estamos brincando e muito menos praticando um esporte. Isso se chama técnica de sobrevivência. – “Ops, falha minha. 1x0 pro esquisitinho.”

            - McHale! – chamou alguém através das árvores da floresta que cercava a clareira onde Amy e Kevin estavam. A voz era feminina, tão calma e doce como a brisa marítima.

            - Quem está ai?

            - Sou eu, Bells. – disse uma garota magra e alta com cabelos castanhos e olhos exuberantemente verdes. Ela era bonita, muito bonita.

            - Agora não, eu estou ocupado aqui. Eu passo no seu chalé depois. – disse Kevin, meio embaraçado pela situação. Pelo que pôde perceber, a garota não deveria saber que ele se encontrava em companhia feminina. Talvez ela fosse sua namorada. “Como se eu fosse páreo pra alguém como ela.”

            - Ah, desculpa. Tudo bem, já vou então. – a garota deu um sorriso de canto de boca e virou-se para ir embora.

            - Pensando bem, teria como você ficar? Acho que vou precisar de uma ajuda com a mocinha aqui. – disse Kevin para a garota que se anunciou como Bells, referindo-se a Amy.

            - Se você insiste. – respondeu ela, vindo em direção a eles. – Isabelle Bel’aqua, filha de Poseidon e líder do chalé 3, muito prazer. – ela apertou a mão de Amy e deu um largo sorriso. – Ei, Kev. – e ela deu um beijo na bochecha do garoto.

            - Bells... – cumprimentou ele, apertando levemente uma das bochechas da menina enquanto sorria fracamente para ela. Kevin estendeu a espada fina que tinha em sua mão para a amiga recém-chegada. – Toma, você vai me ajudar a ensinar esgrima pra senhorita Amelie Graycastle.

            - Amy. – corrigiu ela. – Por favor, me chamem de Amy.

            - Se você insiste...

            - Então vamos logo com isso. – disse Isabelle.

            - Amy, em primeiro lugar, preciso te dizer quais são os movimentos básicos de ataque da esgrima. Bom, o movimento mais simples é a Estocada, onde a única coisa a ser feita é atacar o adversário com a ponta da arma.

            - Um outro bem simples também é a Balestra. – continuou Isabelle. – Você deve dar um pequeno salto em direção ao adversário, finalizando na posição de afundo. – notando a confusão na face de Amy, a garota colocou sua perna direita à frente e a flexionou em um quase perfeito ângulo de noventa graus, esticando, assim, a perna esquerda que lhe ficara para trás. Ela apontava a espada para o vazio com o corpo levemente de lado e como se atacasse alguém, isso esclareceu a dúvida da outra garota. – “Posição de afundo”, na esgrima, é a mesma coisa que “posição de ataque”. – depois da demonstração do movimento, Isabelle voltara a sua posição inicial: de pé, descansando o peso do corpo em sua perna esquerda. - Tem também a Reprise, que é mais ou menos assim. – ela ergueu a espada que outrora jazia nas mãos de Kevin e que por ele a ela foi oferecida, golpeando o vazio à sua frente e procurando tocar um adversário invisível com a perna dianteira agora levemente estendida e não flexionada como antes. – Não é tão difícil.

            - Bells, não a engane. A teoria pode ser fácil, mas a prática é enormemente pior. – disse o garoto, com um sorriso ao mesmo tempo malicioso e assustador. – Mas continuemos com isso. O próximo golpe é um pouco mais complicado, se chama Flecha. É uma corrida curta e rápida sobre o adversário a partir da posição de guarda. A maior diferença é que o movimento dos pés é realmente curto e a posição do corpo praticamente não muda ao longo do golpe. – ao contrário de Isabelle, McHale não estava nem um pouco inclinado a fazer demonstrações. “Legal, o mais complicadinho ele não me mostra. Quero ver como se faz essa tal ‘corrida curta e rápida’”. Ele parecia ligeiramente... divertido com a expressão no rosto de Amy enquanto ela tentava imaginar como realizaria tal movimento.

            - O último, mas não menos importante, é a Resposta. Na verdade não tem nada de especial sobre esse golpe e eu acho que nada mais que um bloqueio seguido de uma estocada. Enfim, coisa de europeu. Povo doido, eu hein. – disse a garota, se divertindo. Então ela se deu conta de que havia uma européia ali, apenas aquiesceu e sorriu fracamente.

            - E então, memorizou tudo? – o tom seco na voz de Kevin estava de volta, como se o seu eu cético e implicante jamais tivessem adentrado àquele lugar.

            - Na teoria parecia bem simples, mas acho que a prática vai ser inversa. – admitiu Amy, para logo depois se punir por ter dado tal quantidade de ouro para o bandido.

            - Sábia escolha de palavras, eu mesmo não o faria melhor. – ou ele era um ótimo ator ou realmente não se importara com o “deslize” da garota. – Bells, por favor.

            - O que? Você já quer que eu duele com ela? – desesperou-se Amy. – Você só pode estar fora de si, filho de Hades. – a garota estava realmente nervosa.

            Pela primeira vez desde que o vira sentado sozinho em seu primeiro dia, ou melhor, primeira noite de Amy no Acampamento Meio-Sangue durante o banquete do jantar, Kevin McHale despiu-se de sua máscara de humor imutavelmente sério e deu uma estrondosa gargalhada, assuntando Amelie e Isabelle ao mesmo tempo.

            - Claro que não. – disse o garoto, recuperando-se de seu súbito acesso de risada. – Ainda não. Por hora, apenas imite-a. Bells, já sabe como começar.

            “ ‘Ainda não.’ Por que tanta ênfase no ‘ainda’? Só espero que não esteja planejando me matar”.

            - Amy, já que você disse que compreendeu bem a teoria, ta na hora de aprender na prática. Antes de te mostrar como fazer cada movimento corretamente, quero que você me mostre como que se imagina fazendo cada um deles.

            - Bom, como você já mostrou, a estocada... – começou Amy.

            - Ela não precisa disso, Isabelle. – interrompeu Kevin, sua voz era seca e dura como aço novamente. – No Salão de Armas, a senhorita Graycastle me contou que já havia visto pessoas praticando esgrima no colégio. É bem provável que ela tenha aprendido alguma coisa com isso, não é?

            Ele era inexplicável e inacreditavelmente bipolar.

            “Pelo Anjo, isso é realmente necessário? Há mesmo precisão de me fazer sair do sério de tal forma?”, Amy quis esbravejar mas o medo da reação do garoto lhe atingiu de sopetão. Ela não sabia quais eram os limites daquele estranho semideus.

            Amy tentou se lembrar de todas as vezes que fugira das chatas aulas de Química do colégio de mundanos que frequentava em Northampton, sua amada cidade natal. Ela forçava sua memória à medida que se recordava das inúmeras tentativas de suas melhores amigas, Lauren e Natalie, de ensiná-la algo do esporte que praticavam desde que eram meninas. A espada que usavam tinha um nome engraçado, peculiar pra ser posto em uma arma. “Oh Raziel, como era mesmo o tal nome? Era algo a ver com flor. Floral. Floreio. Não, o nome era florete. Isso mesmo.”

            - Ei, Miss BigBen. – chamou Isabelle, estalando os dedos em frente aos olhos de Amy. – Tudo bem ai, cara? ‘Cê apagou legal ai... Apagou mas sem apagar de fato, sacou? – com a cara confusa de Amy depois do que acabara de dizer, a garota apenas bufou e revirou os olhos. Para Amy, seu vocabulário “descolado” em nada condizia com sua aparência de menina-mulher elegante e bem educada. Talvez ela usasse isso como um escudo.

            - E-eu... eu só estava imaginando como eu realizaria cada golpe.

            - Golpes são desferidos e não realizados. – corrigiu Isabelle, docemente.

            - Se estivesse em batalha, já teria morrido de tanto pensar. – disse o filho de Hades, rispidamente.

            - Se estivesse em batalha, eu não pensaria antes de atacar. – rebateu a neta de Zeus.

            - Se estivesse em batalha, esse seu pensamento atarantado por sangue a mataria. – completou a filha de Poseidon.

            O clima ficou tenso, o ar estava pesado. Os nervos dos três adolescentes estavam a flor da pela tanto pelas provocações de um ao outro quanto pelo sangue divino que corria em suas veias. Era quase palpável a tensão presente naquela clareira. Amy sentia que se algum deles falasse qualquer coisa além do limite da sua paciência, toda acalma e auto-controle que ela sempre teve durante toda sua vida simplesmente dissiparia e ela não faria cerimônias antes de enfiar aquele sabre dentro de seu abdômen.

            - E então, vamos continuar com a aula ou é pra ficar de papinho? – sugeriu Kevin.

            Naquele momento, a tensão entre os três se dissipou rapidamente e Amy desferiu todos os movimentos perfeitamente. Isabelle e Kevin duelaram em demonstração à neta de Zeus. Ela ficou encantada com a destreza, a habilidade e a flexibilidade de Kevin; ele era um tipo de soldado perfeito. Todos os movimentos do garoto pareciam ao mesmo tempo instintivos e planejados, era como um anjo executando a justiça divina. Ainda que ele fizesse mais o gênero de anjo negro.

* * *

            Não muito longe dali, esgueirado entre as árvores junto a um sátiro ancião, estava o centauro encarregado do treinamento de Amelie Graycastle: Chiron. Sua expressão era de verdadeira diversão; já a do sátiro, transparecia imensa preocupação.

            - Senhor, acha mesmo que é saudável deixar os três tão juntos em momento de tão grande tensão? Eles são descendentes dos Três Grandes e nós dois sabemos que coisa boa não pode sair de um conflito desses. - perguntou o velho homem-bode.

            - Se acalme, velho. Eles não iriam tão longe. McHale sabe bem o que pode acontecer a ele se despertar a fúria de Zeus... de novo. Acho que ele entendeu bem o quanto deve evitar conflitos com o tio depois daquela noite.

            - E a garota de Poseidon?

            - Nós dois sabemos que o garoto saberá como controlá-la uma vez que use seu dom especial, ele sempre soube disso. E quanto a Amy, tenho que admitir que por enquanto ela é a única que me preocupa. Não sei quem ela é, nem o que sabe e muito menos do que é capaz. Vamos ver no que vai dar.

            - Chiron, é incrível como você consegue brincar com a sorte.

           - E por que mesmo você acha que o chamei pra ser instrutor dela? E por que mandei Bel’aqua atrás dele? – Chiron suprimiu uma risada. – Só espero que não se matem.


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Notas finais do capítulo

Como vocês bem perceberam muitos personagens novos apareceram, fiquem ligados que alguns deles serão importantes pro desenrolar da história. Enfim, os capítulos que eu tinha prontos (ou perto de finalizar) acabaram e talvez o ritmo diminua um pouco, talvez eu poste a cada três ou quatro dias. Sem contar que as aulas da minha faculdade voltaram essa semana. Os que tenhos feitinhos no meu note são beeeem lá pra frente, muito depois do treinamento da Amy ter acabado e... ops, quase soltei spoiler rs.
Enfim, próximo capítulo provavelmente só no sábado a noite ou no domingo. Mas me contem, gostaram desse? Críticas, opiniões, sugestões e correções são sempre bem vindas (:
2bjs, gente linda.



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