-VÓ! –Anthony gritou, levantando e correndo até a mulher caída. É claro, Celeste. Julian se levantou e foi logo atrás do menino.

-O que aconteceu? –Julian perguntou, assustando, se ajoelhando do lado do menininho.  Eu não me mexi. Continuei sentada, com a mesma expressão de choque de quando eu acordei e Anthony me disse que tinham se passado 50 anos.

Veja bem, ouvir falar de como as pessoas estão é uma coisa, mas ver uma pessoa que você conheceu, e que pra você, até ontem tinha 12 anos de idade com o cabelo castanho claro e carinha de criança, com cabelos grisalhos, rugas e um menino a chamando de vó bem diferente.

-Como ela te conhece? –Julian perguntou, abanando Celeste com a mão, enquanto as cores começavam lentamente a retornar ao rosto dela. Tudo que eu consegui fazer foi balançar a cabeça, os lábios ainda entreabertos, e os olhos focados nela.

-Vó, você tá legal? –Anthony perguntou, e eu percebi que ela tinha aberto os olhos.

-Eu jurei que eu tinha visto um fantasma. –Ela falou, se sentando devagar.

-Mas vó, fantasmas não existem, foi você mesmo que me disse isso. –Minha mente vagou por um instante, pensando no fato de que muita coisa deve ter mudado nesses 50 anos, pois se na minha época eu me referisse a minha avó como você e não senhora, eu levava uma bronca daquelas. –Vó?

O tom preocupado de Anthony me tirou do meu devaneio sobre a diferença de jeitos de tratar os mais velhos, me trazendo de volta a realidade. Celeste olhava pra mim com a boca completamente aberta, os olhos arregalados, a cor fugindo de seu rosto rapidamente.

-Não é possível. –Ela falou, a voz um pouco mais rouca do que eu lembrava, cobrindo a boca com a mão. –Não tem como isso estar acontecendo!

-Vó, o que foi? O que não pode estar acontecendo? –Anthony perguntou, seu rosto numa expressão confusa. Julian olhava de mim para Celeste, depois de volta para mim, como se fosse um quebra-cabeças que só faltava uma peça para terminar e revelar a imagem completa.

-Quem é você? –Ela perguntou, apontando pra mim.

-O nome dela é Alicia, vó. Ela é minha amiga. –Anthony falou, passando a mão sobre o braço de Celeste, como se tentasse acalma-la.

-MAS NÃO É POSSIVEL. –Ela gritou. –ALICIA ESTÁ MORTA, E MESMO QUE NÃO ESTEJA, ELA NÃO PODE TER A MESMA APARENCIA A 50 ANOS! –Anthony olhava para a avó assustado, Julian olhava para mim desconfiado e Celeste me encarava com uma expressão de horror, como se eu fosse um fantasma, que vamos encarar, deve ser realmente o que ela pensou.

-Eu sei. –Murmurei, antes que alguém pudesse falar alguma outra coisa. –Eu também não entendo.

-Ok, chega! –Julian levantou. –Anthony, vá até a cozinha pegar uma xícara de chá de camomila, e com cuidado para não derrubar e quebrar tudo como você fez da última vez. Estou confiando em você pra isso. –Ele falou. Orgulho brilhou nos olhos do pequeno menino, e ele concordou com a cabeça, saindo correndo com um olhar determinado. –Vossa Majestade, a senhora pode estar aqui por um momento? –Ele perguntou e Celeste concordou com a cabeça, mas eu não acreditaria se me dissessem que ela ouviu uma palavra do que Julian disse. –Você vem comigo.

Ele me segurou pelo braço, me puxando escada abaixo. Eu me debati inutilmente, pelo fato de que ele era mais forte que eu.

-Me solte, você está me machucando! –Esbravejei, me sacudindo até ele finalmente me soltar, num canto de um corredor vazio.

-Quem é você? –Ele perguntou, me olhando irritado. –Me diga quem REALEMENTE é você, e não uma mentira qualquer.

-Meu nome é Alicia. –Respondi, desviando meus olhos dos dele. Por algum motivo, achei o jeito que ele me encarava assustador. Talvez pelo fato de ele me lembrar muito o Elliot, ou talvez pela raiva que seus olhos expressavam.

-Eu acho que isso todos já entenderam. EU QUERO SABER QUEM É VOCÊ? –Ele gritou, depois olhou em volta para ver se não tinha ninguém vindo. –Quem é você de verdade?

-Meu nome é Alicia Parlon, eu sou, ou era a princesa. –Ele olhou para mim, decrescente. –Não me olhe com essa cara. Eu entendo o tanto quanto você. Eu dormi no meu quarto na noite do baile de natal, desejando que eu não tivesse que aguentar aqueles bailes infernais, e acordei com Anthony me encarando.

Nos encaramos por um segundo, e eu podia ver em seus olhos que ele não acreditava em uma palavra do que eu estava falando, e então ouvimos um barulho de algo quebrando. Anthony me encarava, a xícara quebrada aos seus pés, chá escorrendo por todo o chão e a boca escancarada.