É como se você fosse puxado para baixo o tempo todo. É como se não reconhecesse seu próprio reflexo, ou melhor, é como se você tivesse muito medo do que ele refletisse agora, que realmente conseguiu enxerga-lo.

É como se todas as coisas que acreditasse fossem mentiras.

É relembrar todos os momentos e tentar se apegar em algum muito bom para não cometer uma loucura.

É como se descobrisse que você é na realidade tudo o que sempre abominou.

Remoer tudo isso fez Loki se levantar completamente agitado. Ainda era de madrugada e ele estava no quarto de Thor, que dormia pesadamente ao seu lado.

Sentou-se por um instante tocando sua pele. Enlouqueceria aos poucos se não falasse com o pai de todos, sabia.

– Não vai dormir? – o loiro despertou em certo momento, sentando-se e beijando seu pescoço, preocupado.

Deitando-se novamente ao lado do mais velho, o abraçou muito forte, respondendo:

– Eu não consigo dormir.

– Ficaremos acordados então...- Thor respondeu beijando seus cabelos.

– Eu te amo.

Se olharam demoradamente até que Loki o beijou de maneira apaixonada, enquanto Thor o puxava para mais perto.

– Eu te amo muito. - este respondeu com seu típico sorriso bobo.

Suspirando fundo, Loki deitou sobre o peito do mais velho e logo percebeu que este havia adormecido de novo. Provavelmente estava exausto da expedição e o moreno não o faria ficar acordado.

Olhando para o teto, que refletia as luzes fracas do lado de fora, soube o quanto era feliz por tê-lo. Se ainda tinha algo, que valesse a pena lutar, alguém com quem contar, amar, morrer...esse era Thor.

Naquela confusão em que se encontrava, ele era o seu farol. Seu guia.

Ambos sabiam que o labirinto no jardim era o único lugar que Haimdall ou o próprio Odin não conseguia ver. Mas mesmo assim decidiram não esconder mais nada, nem usar um feitiço que os confundisse, simplesmente decidiram declarar o que sentiam e o que desejavam. E foi por isso que Loki esperou o amanhecer chegar.

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Ambos foram despertados bruscamente com um barulho de alguém batendo na porta com muita força. Era Odin.

Se olharam e Thor beijou seu rosto rapidamente antes do cômodo ser invadido pelo pai de todos e sua esposa.

– O que é que vocês pensam que estão fazendo?! – esbravejou enquanto os dois jovens agora se levantavam.

Loki segurou a mão de Thor bem forte antes de caminhar calmamente ao seu pai e dizer de maneira seca:

– Cada um com o seu segredo...meu pai.

– Vocês enlouqueceram? Loki , você está noivo... Gwin está grávida! – a rainha respondeu aflita.

– Não fizemos mais questão de esconder aquilo que vocês quiseram separar. E não adianta, não haverá nada que fará isso conosco. – Thor acrescentou ficando ao lado de Loki que ainda encarava Odin sem ao menos piscar.

– Thor, o que você está fazendo?! – Frigga perguntou, não entendo o por quê os três agora se olhavam silenciosamente.

– Frigga...nos deixe a sós. Um minuto, por favor. – Odin pediu.

– Não! Não...são meus filhos...eu não vou a lugar nenhum! – ela respondeu fechando a porta.

– Não adianta mais esconder. Eu sei. Vocês dois...patéticos...- Loki declarou enquanto a tristeza finalmente se libertava através de seus olhos agora.

– Então, nos diga. Nos diga o que você sabe. – Odin respondeu muito sério.

– Eu sei que eu adotado! Adotado! Por quê?! Por que não...por quê mentiram... ?! Por que nunca me disseram que eu sou um jotun?

O rei então abaixou a cabeça enquanto Frigga estava completamente chocada e triste.

– Meu filho...nós....

– Não. Não toque em mim, mãe. – Loki se esquivou, mas Thor segurou sua mão – Vocês...vocês me odeiam?

– Não! Como pode pensar nisso? Nós amamos você, Loki...- o pai de todos respondeu sem conseguir olhá-lo.

– Como...quando você descobriu? Meu amor...nós, só queríamos o seu bem. – ela acrescentou.

– Bem? Me distanciando da verdade? Me fazendo odiar tudo aquilo que eu sou? Me fazendo sentir diferente a cada instante? Isso não é amor.

Frigga e Odin olhavam para Thor e Loki juntos, mas não conseguiam dizer nada. Ele continuou:

– Isso...estão vendo? O que eu e Thor sentimos pelo outro...isso é amor. Ele me fez sentir seguro de quem eu era...algo que eu nunca havia sentido, mesmo enquanto ainda acreditava que era um de vocês...

– Você é um de nós, Loki. Você é um asgardiano. Sua alma é...isso que importa. Não importa o que diga...- Odin respondeu.

– Eu sou? Ótimo...então, me diga...se não houvesse o Thor...e vocês não tivessem outro filho, eu seria o rei? Um jotun? – ironizou enquanto enxugava seu rosto.

– Sim. Você seria. – Frigga respondeu.

– Mentirosos! Vocês são hipócritas! Vocês dois são os monstros...mentindo para mim todos os dias...todos os instantes, como puderam?!

– Queríamos que você não fosse discriminado por quem era. Nós te amamos demais, filho...você e Thor são as melhores coisas na nossa vida. – a rainha tentou continuou, mas Loki sorriu com desprezo.

– O que eu e Loki temos não é passageiro. Não é brincadeira...eu quero ficar o resto da minha vida com ele. Pode ser estranho para vocês...mas para nós, é perfeito. É o que desejamos, e assim será. Não há nada que nos impeça agora. Nunca houve nada que nos impedisse antes além de nós mesmos, nossos medos...não queríamos mais mentir. Estamos juntos e vamos continuar juntos. Uma revelação por troca da outra...um preço justo, não acham?- Thor disse.

Frigga se sentou em uma poltrona perto da porta, chorando enquanto Loki e Odin ainda se olhavam.

– Não. Não é justo. E não é certo. Não sob o meu teto. Vocês são irmãos...- o pai de todos declarou.

– É claro que são! Cresceram juntos...viveram juntos....

– Não, Frigga. Eles são irmãos, de fato. De sangue. São meus filhos...- o rei relevou olhando para a sua esposa que agora observava a cena completamente confusa.

Odin se lembrou das palavras de Laufey. Sim, havia chegado a hora. Olhando nos olhos do mais novo ele declarou.

– Você é meu filho Loki. Meu e de Laufey.

Thor, Loki e Frigga agora estavam completamente transtornados. Thor em completo silêncio enquanto Loki começou a chorar ainda mais.

– O quê?! – a rainha perguntou se levantando e puxando Odin pelo braço, fazendo-o olhá-la.

– Sim. E eu sinto muito. Loki é fruto de uma relação minha e de Laufey.

A rainha encarava seu marido completamente incrédula, como se esperasse que alguém declarasse que tudo aquilo era uma brincadeira de péssimo gosto.

– Mas...Loki é mais novo...você...você me traiu com ele? – perguntou.

– Sim. Thor era pequeno...foi quando o capturaram e trouxeram para Asgard, um pouco antes da minha coroação.

– Como...você pode fazer isso, Odin?

– Eu me apaixonei, Frigga. Maneiras, motivos para isso eu tinha de sobra...ou pelo menos na época eu acreditei que tinha.

– Oh! Você se apaixonou! Me desculpa por ser tão insensível...

– Estou me culpando , fui completamente errado...e eu sinto muito por ter te traído.

– Calem-se vocês dois! Eu não estou interessado nisso...em mais nada! – Loki esbravejou saindo com tudo do quarto enquanto Thor o seguia.

Frigga ainda continuou imóvel e então Odin disse:

– Qualquer decisão que tomar...será a mais sábia de todas.

– Quando nos conhecemos...eu não me apaixonei. Nem me simpatizei...você não era um bom asgardiano. Não é ainda. Mas eu pensei...eu quero ter um casamento, uma união de verdade. Por quantos meses vocês ficaram juntos? – ela respondeu após um tempo.

– Isso não importa...

– Importa sim! Quanto tempo?!

– Por alguns meses. Não tivemos contato depois disso, ele descobriu que estava esperando Loki logo depois que terminarmos, logo depois dele voltar para Jotunheim e simplesmente o descartou...eu não podia. Frigga...era o meu filho. Eu não queria que ninguém sofresse com as más decisões que eu tomei e que eu terei que conviver pelo resto da minha vida. Era isso que eu não queria para nossos filhos. Eu sinto muito.

– Eu tenho nojo de você. Eu partirei hoje para a casa da minha irmã...eu não quero nunca mais ter que ver você...saber de você. Eu não importo com o que vai ter inventar e dizer para o povo de Asgard. – ela completou saindo.

– Frigga...por favor, eu errei por alguns meses. Mas somos casados por 25 anos, isso não conta? Por favor?

– Não. Não conta. E desta vez tente dizer a verdade. – ela respondeu saindo e deixando-o completamente sozinho.

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– Deus das mentiras...eu o odeio, Thor...eu o odeio. Odeio Laufey. - Loki dizia entre lágrimas enquanto pegava todas suas roupas, jogando-as em sua cama.

– Acalme-se, Loki...nós vamos embora. – o loiro respondeu, guardando seus trajes em uma sacola de tecido grosso e de tamanho grande.

– Para aonde vocês vão? – Gwin adentrou no quarto, que tinha sua porta aberta, surpreendo os dois.