Memórias escrita por Kare Calixto


Capítulo 1
Memórias


Notas iniciais do capítulo

Então Akage, tirei você. :3
E resolvi escrever Kárdia e Dégel. Demorei um bom tempo nela, mas ainda assim saiu curta. Simplesmente inspiração foi algo à parte aqui. Mas espero que aproveite.



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Toda sua atenção era mantida no romance, lia assiduamente o material visivelmente maduro demais para sua idade.

–Dégel, pode acompanhar-me um instante?

Desviou a atenção do livro para a pessoa que lhe falara. Ajeitou os óculos sobre a face antes de responder, a voz tranquila, apesar da interrupção repentina.

– Claro mestre.

Deixou o objeto sobre a mesa colocando-se prontamente ao lado de Krest, o atual guardião de Aquário.

– Vamos, até escorpião.

Guiou o aspirante à cavaleiro, até o oitavo templo. Ali se encontrava Kárdia, ardia em febre, uma febre que queimava seu coração, fazia o aprendiz contorce-se em dores na cama. Mas nem por isso a arrogância e prepotência eram amenizadas. Pelo contrário, em uma tentativa de demonstrar que estava bem, agia com ainda mais despotismo.

– Então velhote, você disse que o tal sangue de Athena iria me curar.

Um suspiro escapou dos lábios de Krest, aquele era exatamente o comportamento de escorpião.

– Não curar. Eu disse que iria fazer você viver por mais tempo. Mas trouxe alguém que pode amenizar seu sofrimento.

– Eu não preciso de ninguém, velhote!

O ruivo olhava de seu mestre para o loiro na cama em silêncio.

– Dégel, por favor, você poderia resfriar o coração de Kárdia?

– Sim mestre.

Ainda em silêncio aproximou-se do leito onde o escorpiano repousava. A temperatura ao redor de Kárdia começou a cair.

O grego fixou sua atenção naqueles olhos. Impassíveis, profundos, de um tom quase vermelho. Hipnotizado por aquele olhar tão doce, perdeu a noção do tempo enquanto o francês trabalhava. Logo a ardência em seu peito havia quase sumido. E assim Escorpião e Aquário se conheceram.

x-x-x-x-x-x-x

Jaziam corpos arruinados ao redor do escorpiano, contorciam-se em dores pelos golpes recebidos. Kárdia mantinha-se em pé no meio deles, uma risada sarcástica reverberava pelo ambiente aberto.

– Fracos! Todos vocês são fracos. Não merecem o título de cavaleiro.

Percorreu com os olhos o local, localizando seu objetivo, Dégel.

O ruivo terminara seu treino, agora se entretinha lendo um livro sobre mitologia grega e suas análises filosóficas. Suspirou, levantando os olhos antes mesmo do grego pronunciar uma única palavra. Sua presença não era algo que passasse despercebido.

– Bom dia, Kárdia.

– Dégel. Pare de ler essa coisa chata e vamos fazer alguma coisa.

Jogou-se ao lado do francês puxando o livro que ele mantinha em mãos, analisou o título com uma careta, para logo em seguida deixar o objeto de canto.

– Devolve meu livro agora, Kárdia. Por que você não sai com os outros meninos?

– Ah... Eles são chatos. E fracos. Eu quero sair com você. Vem. Já sei onde podemos.

Não deu chance do aquariano refutar. Pegou seu pulso conduzindo-o até a grande floresta verdejante que ficava em torno do Santuário.

Dégel não respondeu há anos acostumara-se ao temperamento efusivo do amigo, por fim às vezes o acompanhava em suas idéias para que ele não fizesse nenhuma tolice.

– Onde vamos, Kárdia?

– Você vai ver.

Um largo sorriso moldava os lábios cheios do loiro. Em silêncio ambos andavam pela trilha esverdeada, Kárdia ainda não soltara o pulso do francês.

Apesar do caminho não ser longo Dégel começava a se impacientar. Andavam à quase meia hora e nada de chegar ao local que o loiro prometera com tanto entusiasmo.

– Falta muito? Logo meu mestre dará pela nossa ausência.

O grego virou-se ligeiramente impaciente.

– Já disse que estamos chegando.

Naquele instante cortaram um arbusto mais denso. Uma cachoeira corria ruidosa diante deles, banhada pelo sol do fim da manhã, fragmentava-se em pontos luminosos, colorindo o cenário em um prisma multicolor.

– Chegamos.

O escorpiano parecia satisfeito consigo mesmo, um sorriso presunçoso iluminava sua face ao dirigir-se, novamente ao ruivo.

– Não disse que era legal?

Enquanto proferia tais palavras começava a retirar a túnica, diante do olhar meio escandalizado do francês.

– O que está fazendo?

– O que acha? Vou mergulhar. Ou acha que andei até aqui para ler um livro?

– Pois é exatamente isso que irei fazer.

Ligeiramente emburrado Dégel sentou à sombra de uma faia e pôs-se a ler.

– Então faça.

Sua feição moldou-se em uma careta. Não podia acreditar no jeito do francês. Kárdia lhe mostrava aquele lugar belo e divertido, e ele ia ler. Um suspiro escapou de seus lábios ao tirar a calça de treino.

Seus olhos percorriam as linhas do romance que iniciara, sem o mínimo interesse. Sua real atenção estava no loiro, seminu que pulara na água cristalina.

O escorpiano nadava morosamente pela gélida cascata. Seu corpo relaxando depois da manhã de treino puxado. Sua atenção finalmente voltou ao aquariano sentando à sombra da árvore. Um sorriso maléfico moldou seus lábios, ao jogar água no francês.

– Kárdia! Você molhou meu livro!

Levantou ligeiramente irritado com a atitude infantil do escorpiano, sua expressão logo passou de colérica para preocupada ao notar algo de errado com outro.

– O que houve? Kárdia?!

Um arquejo escapou dos lábios rosados do escorpiano, aquela maldita dor insistente retornara. Era iniciada em seu coração, uma fervura que se espalhava por todo seu corpo, tirando seu fôlego.

Observou, horrorizado, o amigo tentar nadar até a as pedras que rondavam a água, a dificuldade era evidente devido à falta de ar e a correnteza da cascata. Sem pensar duas vezes pulou na água, auxiliando o grego a sair desta.

– Está tudo bem?

– Estou ótimo. Me solta. Quero voltar para a água.

Tentou soerguer-se, apesar da dor insistente em seu peito, mas viu seus movimentos anulados pelas mãos do ruivo que pousavam em seu peito. Logo o frio tão característico de Dégel invadiu seu cerne aliviando aquele tormento.

– Por quê?

O ruivo ergueu os olhos ligeiramente intrigado com a pergunta inconclusiva, em momento algum parou de produzir ar gelado.

– Por que o que?

– Por que está sempre cuidando de mim? Não é nada meu.

Kárdia estudava o rosto do ruivo, que parecia pensar na resposta. Não entendia aquela atitude de Dégel em relação a si.

– Porque eu gosto de você. É ... Meu amigo...

Proferiu tais palavras sem pensar, estava ocupado em aliviar a aflição do loiro. Nem percebeu este cair em um longo silêncio.

A dor diminuíra notavelmente, sentou-se no chão pedregoso, seu olhar exibia uma vitória ferina.

– Gosta de mim? Você disse que gosta de mim.

– Não disse, não.

– Mentira. - Um sorriso vitorioso iluminou a face infantil. – Você disse sim.

Sem pensar, ou esperar resposta uma resposta do ruivo, Kárdia debruçou-se sobre o aquariano, colou seus lábios ao dele, em um movimento rápido, roubando, assim, o primeiro beijo do francês.

O olhar fixo no escorpiano demonstrava a surpresa que sentia por aquele ato inesperado, tocou seus lábios ainda sentindo o toque do loiro ali.

– Por quê?

Seu tom alteara devido ao absurdo da situação, não processava o que estava acontecendo. Porém, sua surpresa logo é substituída por irritação ao notar o olhar prepotente do grego.

– Porque eu quis.

Abriu os lábios para responder àquela afronta, mas acabou por selá-los novamente. Fechou o livro com um baque e levantou-se para sair dali. A irritação evidente em sua face.

Não queria que Dégel fosse embora, emburrado segurou o pulso dele fazendo-o voltar-se para si.

– O que foi agora, Kárdia?

– Eu não quero que você vá.

Desviou o olhar dos olhos castanhos avermelhados, não sabia o que sentia pelo aquariano. Só não queria que ele fosse. O silêncio prolongou-se, por parte dos dois, até que Dégel sentou ao lado do escorpiano, olhando a cascata borbulhante. Seu pequeno sorriso, singelo, demonstrava que entendera mais do que o loiro tinha a dizer.

– É um belo lugar, esse aqui.

O sorriso do grego foi amplo em seus lábios.



–----------- Dez Anos Depois ------------

– Lembra-se do nosso primeiro beijo?

Um sorriso aflorou nos lábios gregos ao lembrar da cena de sua infância.

– Claro que lembro. Você se afogou depois me beijou “porque quis”.

O tom do ruivo era sonolento, aconchegado na cama da oitava casa zodiacal.

– Não lembrava de ter me afogado.

Acarinhou aqueles fios ruivos que tanto apreciava. Fazia dez anos que estavam juntos, desde o dia na cascata.

– Mas por que o assunto?

Mesmo meio adormecido, voltou sua atenção ao escorpiano.

– Nada. A lembrança passou pela minha mente agora.

Dez anos... Não conseguia imaginar mais sua vida sem aquele francês.

– Dégel.

– Hum?

Envolveu seus braços na cintura alva, aspirando o doce aroma que ele exalava.

– Não quero que você saia do meu lado. Nunca.

– O qu...?

Sua resposta foi interrompida por um beijo avassalador, os lábios cobriram os seus, a língua invadiu sua boca numa busca por contato. Quando finalmente se separaram estavam ambos sem fôlego naquela cama de lençóis claros.

– Eu te amo.

Arregalou os olhos diante daquela sentença, aquele era Kárdia? Com um singelo sorriso respondeu um “Eu também” antes de abraça-lo.

Finalmente sentia uma segurança, desde seu primeiro dia no Santuário, Kárdia sentira que não podia viver sem aquele aquariano, mais do que as doses periódicas de alívio para seu flagelo. Sentia que precisava dele, apesar de nunca demonstrar e agora tinha a certeza de que ele ficaria sempre ao seu lado.

Depois de dez anos, um “eu te amo” fazia total diferença.



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Notas finais do capítulo

Então espero que tenha gostado. Foi a primeira vez que escrevi com Kárdia e Dégel e foi um desafio fazer esse aquariano tentando ser frio, sem conseguir e esse escorpiano irritante. E desculpa pelo drama, mas estou meio melosa esses tempos. rs
Foi realmente divertido escrever essa fic, um beeijo. ♥
Diga se gostou com sinceridade, viu? u-u
Ps: Agradecendo à Mel e a Isa pela, vamos chamar de betagem. Obrigada suas lindas. :3