Three Federations: R-103 escrita por Aria S


Capítulo 14
Capítulo 11: Blue - Part 2


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, oi, oi, oi! Tem alguém vivo ai ainda? kkkkk
Eu realmente peço desculpas pela minha demora. Além de estar extremamente ocupada, a arco "Blue" é muito complicado para mim escrever, e ele vai definir muitas coisas importantes para o decorrer da série, então tive que pensar bem e tomar cuidado com o que iria escrever. (Sem contar que meu notebook morreu por um mês e o capítulo estava salvo nele, só um detalhe -_-)
Bem, sem mais delongas. Aproveitem o capítulo o/



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No capítulo anterior...

No primeiro dia de Nina na Federação Submersa, ela acaba conhecendo dois novos membros da R-103, William e Livy.

Livy mostra para ela e Ryan, áreas da instalação qua ainda estavam funcionando após a explosão. A garotinha leva os dois até uma das partes mais belas da instalação, onde uma cúpula de vidro envolvia toda a ala.

Quando a garota saia, e deixa os dois sozinhos lá dentre, eles acabaram se aproximando, mais do imaginavam, mas Ryan acabou a afastando novamente.

Capítulo 11: Blue - Part 2

Ryan se aproximava do rosto de Nina lentamente, e ela não o impediu, apenas o esperou. De repente ele parou, como se algo tivesse passado por sua mente no momento e o impediu de continuar. Ele apenas voltou a olhar para frente, fitando a imensidão azul, como se nada tivesse acontecido.

– O que foi isso? – ela perguntou confusa. Sua voz saiu mais fraca do que ela pretendia.

– É que... É complicado. – ele tentou se explicar vagamente. Ele virou-se para Nina novamente, soltando um leve sorriso sem graça, como se aquilo fosse reparar o que tentou fazer anteriormente.

Antes que Nina pudesse fazer mais perguntas, os dois escutaram alguém que havia acabado de entrar os chamar:

– O casal está aqui dentro ainda? – a voz pertencia a William.

– Estamos aqui, William. – Ryan respondeu olhando para trás mesmo não o enxergando, mas sabia que ele estava naquela direção.

William, junto com Livy, foi em direção aos dois, e só os encontrou porque Livy havia os avistado primeiro e apontou para cima da pilha de caixotes, onde Nina e Ryan estavam.

– O que vocês estão fazendo aí em cima? – ele perguntou intrigado.

– Nada de mais. – Ryan respondeu tentando ser o mais casual possível, mas qualquer um poderia perceber que havia um leve aborrecimento em seu tom de voz. – O que aconteceu?

– Nós descobrimos algo interessante. Melhor vocês dois virem com o a gente. – William disse.

Ele e Livy foram até a saída daquela ala e esperaram os outros dois. Não demorou muito para que Ryan já começasse a descer.

– Vamos indo. – ele cutucou Nina de leve com o cotovelo e começou a descer sem dizer mais nada.

Nina já havia percebido há muito tempo que Ryan tinha um pequeno habito de sempre mudar ou esquecer um assunto quando se tratava sobre ele, mas desta vez foi d’água. Se ele não dissesse o que foi aquilo, Nina pararia de ser sutil com ele e seria muito mais direta.

***

Os dois seguiram William e Livy que prosseguiram até uma passagem aberta que uma maquina que William monitorava anteriormente tentava abrir. O corredor por qual passaram estava escuro, havia algumas luzes de emergências acesas, mas quase não era o suficiente para poder enxergar lá dentro.

– Descobriram alguma coisa na sala de vídeo? – Ryan perguntou para William, lembrando-se que o colega havia comentado que aquele foi o motivo inicial de querer abrir esta passagem.

– Não, ir até lá foi completamente inútil. Todas as filmagens foram comprometidas durante a explosão. – William explicou entrando em uma sala também com as luzes apagadas, mas com vários monitores de computadores ligados, apesar de que nenhum estivesse operando. – Mas descobrimos algo ainda melhor.

Ele sentou em frente a um dos monitores e ao lado dele acendeu uma pequena luminária em cima da mesa. A luz iluminou um pedaço de metal retorcido, quase totalmente deteriorado por conta da explosão.

– O que é isso? – Ryan perguntou intrigado com o objeto.

– Isso... – William pegou o metal e o segurou. - É um pedaço da bomba.

– É sério? – Nina realmente se surpreendeu. – E como vocês acharam esse pedaço metal no meio de toda essa bagunça? E como você sabe que isto pertence à bomba?

William não se incomodou com tantas perguntas, na verdade ficaria feliz em respondê-las.

– Quando finalmente conseguimos abrir a passagem mandamos um aparelho escanear todo o ambiente, é um procedimento padrão, ele pode encontrar qualquer vestígio que não seja da construção original.

– Nossa, parece um aparelho e tanto. – Nina ficou impressionada, nunca ouvir falar de nada desse tipo. Não era brincadeira quando dizia que a Federação Submersa produzia as melhores tecnologias.

– Infelizmente é apenas um protótipo, ainda não está no mercado. – William concluiu.

– O que mais você descobriu? – Ryan voltou ao assunto principal.

– A melhor parte. – William esboçou um largo sorriso, como se tivesse feito à descoberta do ano. – Olhem mais perto. – ele os chamou para ver o objeto mais de perto sobre a luz. – Conseguem ver alguma coisa?

– Não vejo nada de mais. – Ryan afirmou.

– Exato. – William confirmou. – Mas se eu ligar a luz negra...

William apertou outro botão na lâmpada e uma luz mais escura e arroxeada se acendeu. Os dois olharam novamente para o metal retorcido e desta vez visualizaram um pequeno desenho escondido no metal.

Nina inclinou um pouco a cabeça para entender melhor a figura.

– Isso... É um tridente?

– Correto. – Willam confirmou. – E isso só pode significar uma coisa...

Ryan então o interrompeu.

– Tiefen. – ele apenas disse, e uma preocupação surgiu em seus olhos. Nina não soube o porquê.

– Quem é Tiefen? – Nina perguntou.

– Problema. – Livy se manifestou pela primeira vez naquele momento, sentada na ponta de uma mesa ao lado.

– Está mais para o que, em vez de quem. – Wiliiam começou a explicar. – Tiefen é a maior organização produtora de mercadoria ilegal da Federação Submersa.

Então Livy completou.

– Podem acreditar quando digo que sempre que confiscamos produtos ilegais, a marca da Tiefen está no meio.

– Uau, nada mal para uma cidade que confia tanto em sua segurança. – Nina foi completamente sarcástica.

Ela não ouviu nem mesmo viu, mas Ryan riu de seu comentário. Ele havia se lembrado do comentário que havia dito a ela quando chegaram, dizendo que a Federação Submersa não possuía toque de recolher porque confiava 100% em seu sistema de segurança. Deve ter sido disto que Nina havia tirado seu comentário sarcástico.

– O sistema é falho sim, mas não por completo. – William não pareceu feliz com comentário de Nina, então ele se virou para frente no computador e começou a acessar vários arquivos. – Há alguns meses coseguimos prender o líder a organização. – ele mostrou aos dois várias imagens de um homem sendo algemado e levado a prisão. – Depois disso a produção da Tiefen diminuiu drasticamente.

– Mas não faz muito tempo que a produção da Tiefen voltou a aumentar. – Livy completou novamente. – Com mercadorias muito melhores do que as anteriores.

– Então alguém voltou a controlar a organização. Mas quem? – Nina perguntou.

– Ninguém sabe. – Livy respondeu. – Só sabemos que a pessoa é atendida pelo nome Blue.

– Então vocês voltaram à estaca zero. – Ryan concluiu.

– Não necessariamente. – William voltou ao computador. – Quando prendemos o antigo líder, conseguimos descobrir a localização da base principal deles.

William mudou as imagens que estavam na tela do computador e mostrou fotos com uma resolução horrível de algo escondido no meio do oceano escuro.

Nina se aproximou da mesa de William novamente para tentar decifrar o que estava vendo exatamente.

– Isto é um submarino? – ela perguntou.

– Sim. Foi usado durante a Terceira Guerra na Época dos Continentes. – ele respondeu. – Pelo o que parece está completamente funcional.

– Espere um minuto. – Ryan se intrometeu. – Vocês sabem a exata localização da base da Tiefen e não fizeram nada a respeito?

– Não é tão simples assim. – Livy respondeu no lugar de William. – Há sensores no submarino. Qualquer coisa que se aproximar é detectada e destruída.

– Bem, como você disse antes: voltamos à estaca zero. – William disse apoiando as mãos a trás da cabeça e ajeitando de forma relaxada em sua cadeira.

O silêncio predominou a sala. Ninguém tinha mais certeza do que fazer depois de toda essa informação. O mais importante é alguém havia atacado uma das bases da R-103 e precisavam fazer algo a respeito.

– Hmm... – Nina murmurou. – Há alguma chance da Tiefen tem alguma razão pra nos atacar?

– Muitas. – William cuspiu uma risada. – Sempre tentamos sabotar suas operações quando temos a chance.

– Então o ataque pode ter sido uma forma de vingança deles. – ela deduziu.

– Não dá pra ter certeza. – Livy disse. – Qualquer um com dinheiro, ótimos contatos, e motivos para nos atacar poderia ter encomendo algo da Tiefen.

O silêncio da duvida voltou a preencher lugar. Mas Nina teve uma ideia, bastante absurda, mas poderia funcionar.

– Hmm... – ela murmurou de novo, mas desta vez não disse nada em seguida.

– O que foi? – Ryan perguntou vendo que ela estava pensativa.

– E se... Tentássemos nos infiltrar na base deles? – ela sugeriu.

Ninguém ousou responder a aquela absurda, mas de repente William começou a gargalhar.

– Essa garota é louca. – ele disse ainda rindo, porém menos. – Gostei dela.

Ryan jogou a ele um olhar nervoso, e William, ainda rindo, levantou as mãos para cima, como se Ryan tivesse apontado um arma para ele.

– Você sabe que isso é uma ideia impossível, não é? – ele perguntou virando-se para Nina.

– Tecnicamente não é. – Livy respondeu no lugar dela. – A Tiefen sempre que pode pegam novos recrutas, recomendados por membros mais antigos e confiáveis da organização.

– Esperem um minuto. – William repentinamente voltou sua atenção ao computador, e começou a pesquisar sobre algo, até revelar uma foto de um homem que Ryan e Nina não conheciam. – Esse cara trabalha na base principal da Tiefen, se fizermos um acordo com ele, talvez ele nos coloque lá dentro.

– Esperem um pouco! – Ryan interrompeu a todos. – Estamos mesmo cogitando essa ideia de loucos?

– Precisamos resolver isto. – Nina explicava permanecendo calma. – Seja quem for que nos atacou pode fazer de novo, talvez mais cedo do que imaginamos. Temos que descobrir quem fez isso e impedir.

Ninguém discordou com ela, nem mesmo Ryan, que permaneceu com uma postura preocupada com a ideia.

– Então está decidido. – William confirmou. – Agora só nos resta a parte mais difícil: criar para nós perfis falsos.

– Perfis falsos? – Nina repetiu sem entender a necessidade daquilo.

– Mesmo que este cara aceite a fazer um acordo conosco, - ele apontou para a foto do homem no monitor. – Precisamos ter certeza que entraremos na base principal e não numa secundária, para isso precisamos de perfis com informações para “assegurar” nossa entrada.

– Você sabe que é impossível criar um perfil falso nos tempos de hoje. – Livy jogou para William um olhar de reprovação para a ideia.

– Não, não é. – Ryan disse com um olhar pensativo, cruzando os braços. – Tem alguém que pode nos ajudar com isto. – ele olhou para Nina e ela soube de quem ele estava falando.

***

Espere... Vocês querem que eu faça o quê?! – Saphira questionou quase gritando do outro lado do monitor.

Para telefonar para ela, o pequeno grupo foi até uma sala que não estava sendo usada. Uma espécie de sala de reuniões, com uma ampla mesa repleta de cadeiras, e um monitor grande diante deles, onde a imagem de Saphira estava sendo projetada. As lâmpadas estavam apagadas e somente o monitor de Saphira gerava luz naquela sala.

O grupo havia explicado agora pouco à garota o plano que tinham em mente, e Saphira achou tudo aquilo um absurdo, como o próprio grupo antes.

– Queremos que você crie perfis falsos para nós. – Nina repetiu o que já havia acabado de explicar.

Você sabe como isso é impossível hoje em dia? – ela questionou novamente, dizendo a mesma coisa que Lizy mencionou um pouco antes.

– Não, não é. – Ryan respondeu a mesma coisa também.

E como você tem tanta certeza? – ela perguntou irritada.

– Simplesmente tenho. – ele disse convicto de sua resposta.

– Pode nos ajudar ou não? – Nina perguntou já cansada da discussão.

Saphira respirou fundo, passando os dedos sobre o cabelo desgrenhado, enquanto pensava no assunto. Eles fariam aquela estupidez de alguma maneira, então seria melhor ela ajuda-los.

– Está bem. – ela aceitou, mesmo que ainda um pouco relutante. – De quantos precisam?

– Dois, para mim e Ryan. – Nina disse.

– Três, na verdade. – William interviu. – Vocês não vão entrar lá sozinhos.

– Eu também vou! – Livy afirma levantando um dos braços bem alto para chamar atenção de todos.

– Não, você não vai. – William disse a ela sem pensar duas vezes.

– Por que não? – ela teimou.

– Você sabe bem por que. – ele respondeu bem sério a ela, e garotinha apenas ficou calada de braços cruzados e emburrada.

Livy estava tão séria e esperta na sala de computadores que Nina havia quase esquecido que ela era só uma garotinha de 12 anos.

– Então está decidido. – Ryan disse se levantando da cadeira que estava sentado. – De quanto tempo você precisa? – ele perguntou a Saphira.

– Bem... – ela calculava mentalmente. – Ligo pra vocês quando conseguir alguma coisa.

– Muito obrigado Saphira. – ele desligou a ligação.

– E agora? – Nina perguntou a todos no meio daquela escuridão.

– Bem, eu tenho que convencer aquele cara a nos infiltrar na Tiefen. – William disse já de pé. – Quem quiser me acompanhar é só me seguir.

Nina foi a última a sair daquela sala, e de repente seu P.M. vibrou. Era uma mensagem de texto de Saphira. Ela dizia que não havia descoberto mais nada sobre Clio. Nina havia esquecido completamente sobre aquele arquivo. Mas não quis pensar nele agora, tinha coisas mais importantes a serem resolvidas aqui na Federação Submersa. O arquivo Clio tinha que esperar.

***

Nina e Ryan acompanharam William até uma pequena base fora da instalação principal, já que ela estava quase em ruínas. Livy teve que ficar, pois haviam pedido sua ajuda antes que pudesse sair. Nina ainda não entendia porque sempre pediam a ajuda de uma garotinha tão pequena.

Lá na base havia uma pequena sala de interrogatório. Do outro lado Nina e Ryan assistiam através de um vidro espelhado William interrogar o homem que trabalhou para Tiefen. Ele tinha uma aparência normal, tirando a pequena tatuagem de tridente em um das mãos perto do polegar.

– Onde William aprendeu a interrogar alguém? – Nina perguntou saindo de perto da vidraça, enquanto Ryan permaneceu diante dela.

– Ele era da policia antes de entrar para a R-103. – Ryan respondeu. – Acho que aprendeu alguns truques quanto ainda estava lá.

– Entendi... – ela apenas disse.

Só agora havia percebido que não ficava sozinha com Ryan desde o momento em que estavam na sala da cúpula de vidro. Aquele momento confuso entre ela e ele.

– Aproveitando que estamos sozinhos, - ela começou, apoiando os quadris na mesa de metal atrás dela. – Pode me explicar o que foi aquilo mais cedo?

– Aquilo o quê? – ele fingiu que não sabia do que ela estava falando.

– Você sabe muito bem o quê. – ela foi ríspida.

– Olha... – ele finalmente virou-se em sua direção, mas ainda não conseguia olhar diretamente para ela. – Eu já te disse... É complicado.

– O que é tão complicado? – tentou ser sutil, mas esse jeito evasivo de Ryan estava deixando-a irritada.

Ryan não quis responder. Continuou a evitar contato visual com a garota em sua frente.

– Quando estávamos lá em cima, prestes a nos... – ele não quis completar a frase, apenas pulou para a próxima. – Eu me lembrei de que quando voltarmos, talvez você nem mesmo se lembre quem sou eu.

A perda de memória. Nina não estava pensando nisso a um bom tempo. Seu dia passou tão rápido que não estava se lembrando.

– Sabe que tem a chances de eu ficar, não é? – ela sorriu de canto, mesmo vendo que ele não estava olhando.

– Mas também há chances de você não ficar. – ele disse em seguida.

Nina se desapoiou da mesa de metal atrás dela e foi até ele.

– Algo me diz que não é só isso que deixa tão complicado. – ela deduziu, ficando bem perto dele.

Ele suspirou. Ficou nervoso de ter a garota tão perto dele daquele jeito.

– Não, não é. – ele confessou quase sussurrando. – Mas seu disser, você vai acabar me odiando.

– Eu já odeio tanta gente que não fará diferença. – ela sorriu.

Ryan não resistiu e acabou sorrindo também. Nina ficou feliz dele finalmente ter esboçado um sorriso. Ele continuou sorrindo, mas ainda não conseguia olhar para ela. Para dizer o que ele tinha que dizer, ele não seguiria se estivesse olhando nos olhos dela.

– É que...

Uma porta ao lado deles se abre, William aparece diante dela.

– Ótimas noticiais... – ele estava preste a contar que o prisioneiro aceitou fazer o acordo, mas viu que algo estava acontecendo entre os dois quando ele entrou. – Eh... Eu interrompi alguma coisa?

– Não. – Ryan mentiu, e Nina deu um passo para traz para se afastar dele. – E quais são as ótimas noticias?

William sabia que Ryan estava mentindo, mas mesmo assim decidiu responder.

– Ele vai nos colocar dentro da Tiefen. Só precisa fazer algumas ligações.

– Ótimo. Só precisamos esperar Saphira nos retornar. – Nina disse a ambos.

– E rezar para que essa ideia dê certo. – Ryan completou.

Ele nunca foi muito fã das ideias de Nina, mas para ele aquela foi a pior de todas.

***

A noite caiu, e Nina e Ryan voltaram para o hotel. Não demorou para que Nina caísse no sono, já que havia dormindo quase nada na noite passada. Mas Ryan quase não conseguiu pregar o olho aquela noite. Ele rolava de um lado para o outro em sua cama, mas não conseguia dormir.

Ele virou-se na direção de Nina, que estava em sono profundo, deixando o cabelo arroxeado cair pelas beiradas da cama.

Cuidadosamente, ele se levantou sem fazer barulho para não acordar Nina. Então pegou algumas roupas e se trocou no banheiro. Já que não havia toque de recolher na Federação Submersa, ele não teria problemas em sair para andar um pouco pela cidade.

Estava tarde da noite, e muitos comércios já estavam fechados. Ryan achava engraçado como as outras Federações informam os períodos do dias, já que não havia maneiras naturais de notar isso como na Federação Flutuante. Ambas as Federações Subterrânea e Submersa usavam dirigíveis enormes por todas as cidades anunciando o horário 24 horas por dia.

A Federação Submersa era tão azulada que até incomodava os olhos. Os hologramas espalhados por todos os prédios pareciam não desligar nunca, eles apenas mudavam de propaganda. Mas mesmo assim a cidade tinha sua beleza, e seu brilho constante fazia parte dela.

Não havia muitas opções do que fazer a aquela hora da noite. Ele então avistou um pequeno bar aberto e decidiu experimentar.

Ele sentou-se ao balcão e pediu ao barman que lhe servisse uma cerveja, e um copo cheio apareceu em suas mãos em poucos segundos.

Ele bebeu aos poucos cada gole de seu copo, vendo o movimento das pessoas dentro daquele lugar. Todos pareciam querer o mesmo, um pouco de paz. Inclusive Ryan.

Não sabia que era do tipo que bebia. – um homem ao seu lado comentou.

Ryan se virou, e coincidentemente quem estava ao seu lado era William.

– Está me seguindo? – Ryan perguntou.

– Não tenho culpa se você veio justo no meu bar preferido. – ele respondeu depois de fazer seu pedido ao barman. – É tranqüilo aqui, dá pra ficar despreocupado por pelo menos algum tempo.

– É, deu pra perceber. – Ryan concordou, voltando a virar para frente.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, até que a curiosidade de William bateu.

– Você não me disse o que está fazendo aqui. – ele falou.

– Porque você não me perguntou. – Ryan rebateu.

William riu.

Touché.

Ryan suspirou.

– Só quis sair pra pensar um pouco. – ele desembuchou.

– Bem, você veio ao lugar certo. – William ergueu seu copo como se brindasse. – E no que está pensando?

– Na vida. E como ela é um saco ás vezes. – Ryan disse desanimado. – Logo estaremos invadindo uma das instalações mais perigosas do planeta, e eu estou mais preocupado com outras coisas muito menos importantes.

– Isso tem haver com Nina? – William deduziu.

Ryan não respondeu, apenas tomou de uma vez o último gole que restava em seu copo. William aceitou o seu silêncio como um sim.

– Posso te fazer uma pergunta? – William pediu.

– Como eu já imagino o que seja, então não, você não pode. – Ryan disse ríspido, depois pediu para que o barman enchesse seu copo mais uma vez.

– Que pena, porque vou perguntar do mesmo jeito. – William sorriu com o copo virado entre os dentes. – Qual é o lance entre vocês dois?

– Não há nenhum lance. – Ryan foi direto.

– E é isso que está te incomodando?

O silêncio de Ryan tomou conta novamente. William se preparou para fazer outra pergunta, mas Ryan decidiu falar alguma coisa.

– Só estou tentando não fazer besteira, e ficar parecendo um imbecil no final. – ele confessou.

– Quando você achar a solução para isso me avise. – William pediu erguendo o copo mais uma vez.

– Você é um babaca. – Ryan riu.

– Ótimo, finalmente fiz você rir hoje. Minha missão foi cumprido.

Os dois riram um do outro, e brindaram seus copos. Eles ficaram quietos por tempo mais uma vez, até que Ryan decidiu falar algo.

– Sobre Nina... – ele começou. – Alexander fez a proposta a ela, sobre sair da R-103 e apagar a memória dela. Quando ela voltar para Federação Subterrânea talvez nem se lembre de nada.

– É mesmo? Nunca teria percebido se você não tivesse me contado. – William disse colocando o copo vazio de volta sobre o balcão. – Mas não me preocuparia com isso. Não parece que ela vai sair.

– Por que acha isso?

– Não viu como ela tomou a dianteira para descobrir quem nos atacou? Ela estava bem determinada. – William comentou.

– Isso não é bem um motivo para ficar. – Ryan deduziu.

– Bom, na minha opinião, ela não é o tipo de pessoa que simplesmente sai da R-103. – William disse.

– Veremos se você está certo quando ela voltar. – Ryan pareceu nada confiante na idéia de William.

– E se ela gostar de você como você gosta dela, acho que ela ficara mesmo assim. – ele acrescentou.

– Calado, William. – Ryan se irritou e levantou do balcão, deixando o dinheiro em cima dele.

– Isso só fez provar que eu estou certo. – William murmurou sozinho no balcão, depois que o amigo foi embora.

***

Ryan voltou para o quarto de hotel. As luzes continuavam apagas e Nina continuava dormindo, ainda virada em direção a varanda.

O rapaz sentou-se na cama vazia, passando as mãos no rosto de tanto cansaço. Só tinha tomado dois copos de cerveja e já estava um pouco zonzo. Ele nunca teve estomago para bebida.

Ainda sentado, ele observava a garota dormindo. Era muito esquisito fazer aquilo, mas tinha que admitir que a garota ficava linda deitada e tranqüila daquele jeito.

– Eu não estou dormindo, se é o que você quer saber. – a garota murmurou ainda de costas para ele.

Ryan levou um susto e Nina começou a gargalhar. Ela finalmente se virou apenas para ver a reação dele.

– Só estou retribuindo o susto que me deu na noite passada. – ela ainda ria, vendo a cara de vergonha que Ryan estava.

– Desde quando você está acordada? – ele perguntou tirando a blusa de moletom que ele havia vestido quando saiu.

– Desde a hora que você saiu do quarto. – ela disse. – Você bebeu? Estou sentido um leve cheiro álcool.

– Além de super inteligente, você também tem super olfato? – Ryan perguntou.

– Digamos que sim. – ela balançou os ombros.

Ela não mentiu. Seus sentidos eram sim um pouco mais aguçados do que os das outras pessoas.

Ryan riu do jeito convencido que ela ficou agora.

– Pensei que ainda estava brava comigo. – ele confessou, preocupado de ela realmente estar.

– E estou, mas não tanto assim. Sei lá... Nem eu sei direito. – ela tentava se explicar. – Você tentou me beijar, mas ai desistiu, idai? Não vou fazer drama que nem aquelas garotas de seriados de TV.

Ela se virou, ficando novamente de costas para Ryan.

– Então posso tentar novamente algum dia? – ele murmurou sem pensar. – Espera... Esqueça o que eu disse.

“Ele realmente disse isso?”

– Você é um idiota. – ela ria de leve.

– Eu sei. – ele concordou, por mais que não quisesse ser. – Boa noite, Nina.

– Boa noite, Ryan.


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Notas finais do capítulo

Se você achou que esse capítulo ficou muito enrolado, com muitos diálogos e pouco ação, eu concordo. Esse capítulo foi apenas um gancho para o arco final de "Blue" que será o próximo. Esse sim será um ótimo capítulo, tenham certeza. (Vai rolar muitas tretas u.u kkkkkk)