Presentes escrita por deoh


Capítulo 1
Presentes




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Caía o fim da tarde no Santuário. Os raios cada vez mais avermelhados do sol tingiam as Doze Casas de rubro, lançando sombras alongadas na direção oposta, aonde as primeiras estrelas começavam a aparecer. Apesar de se encontrarem no meio de altas montanhas, apenas uma brisa um pouco mais fresca indicava que era já final de dezembro nas escadarias de pedra. Pouco nevava naquela parte da grécia, o que era motivo de desapontamento para alguns, mas isto transformava o clima da região em algo refrescante e agradável, nem muito calor nem muito frio.

Poucas pessoas, porém, estavam no Santuário no natal deste ano, o que afundou completamente as esperanças de Aldebaran de promover um amigo oculto como nos outros anos. Dos que escolheram permanecer no local neste dia. a maior parte preferiu passar o dia sozinhos em casa, com um descanso bem-merecido, ou então comemorando discretamente, com alguns poucos amigos. Como Camus e Milo, por exemplo.

Os dois passaram o dia inteiro na casa de escorpião, conversando. Não que houvesse qualquer distância pessoal entre os dois; na verdade se viam todo dia. Mas já tinham passado tantos natais juntos que nenhum dos dois conseguia se imaginar passando a data de outra forma. De qualquer jeito, a conversa já estava se esgotando naquele final de tarde, e os dois se viraram para os pacotes dos presentes que tinham comprado um para o outro. Pelo olhar de Camus Milo percebeu que ele havia estranhado uma caixa tão pequena. Olhando para Milo, desconfiado, abriu lentamente o pacote e...

- ... Uma caixa de lápis de cor. Não acredito. - Camus não sabia para o quê deveria olhar com mais incredulidade, para a caixa ou para Milo.
- E não reclama, é de quarenta e oito cores. Assim você pode, er, desenhar da maneira que quiser - Disse Milo rindo.
- Realmente. Nunca mais sentirei tédio. Obrigado, Milo, era tudo o que eu mais queria e precisava - O tom sarcástico e o olhar impassível de Camus deixariam várias pessoas nervosas, mas Milo conhecia o aquariano bem a ponto de saber que ele não tinha se irritado com a brincadeira.
Agora era a vez de Milo abrir o presente. Era uma caixa grande, mas bem leve. "Se não tiver nada aí, eu dou um soco nele", pensou Milo.
- Duvido que o seu presente seja tão útil quanto o m- Milo esqueceu completamente o que estava falando depois de desempacotar e abrir a caixa e começar a gargalhar histericamente.
- NOSSA. Um chapéu de caubói. Realmente, muito útil! - Disse Milo, ainda gargalhando. Realmente era algo que não esperava; nunca tinha visto esse lado brincalhão de Camus! Repentinamente se sentiu muito mais aliviado com relação ao seu próprio presente.
- E não reclama, é de couro autêntico. Assim você pode, er, arrebanhar as cabras com estilo - Disse Camus, dando um daqueles raros sorrisos que só Milo via. Milo aliás ainda estava gargalhando.
- Ei, não precisa rir tanto! Podia ser bem pior! Sabe o que deram para o Afrodite? Um vib-
- Não precisa se preocupar, Camus. Eu gostei do presente sim. Só foi algo extremamente inusitado, ainda mais vindo de você - Milo ainda estava contendo um pouco de riso. - Feliz natal, Camus - Disse Milo, abraçando-o de repente. Milo não conseguia parar de sorrir. Como é que dois amigos, que se conhecem a tanto tempo, conseguiam dar presentes tão estranhos um para o outro? Perfumes, livros, vinho eram as escolhas mais prováveis, mas de uma certa forma os dois se entendiam demais para pensar nesse tipo de coisa. Milo recebera Camus em sua casa naquele dia sabendo muito bem qual seria o presente que receberia: os abraços, as conversas, as distrações, e acima de tudo a companhia de Camus. Não precisava de qualquer outro presente; aquele lhe era preciosíssimo e lhe bastava . Milo só poderia se esforçar ao máximo para trazer tanta felicidade à vida de Camus quando este trazia para a dele pelo simples fato de existir, e de existir perto dele. Claro, a índole um pouco reclusa de Camus às vezes dificultava o seu trabalho, mas se fosse diferente não seria aquele Camus, o seu Camus, amigo de tantos anos... Além disso, o gelo de Camus recuava um pouco mais quando estavam sozinhos, de uma maneira tão sincera e (para Milo) misteriosa que fazia algo nele, algo profundo e semi-adormecido, dar uma ou duas voltas dentro de si. Nessas horas Milo pensava se não haveria uma ou duas gotas de um algo a mais nos sentimentos que nutria pelo aquariano...

- M-Milo, se você for dormir em cima de mim, me avise.

Só então Milo percebeu o tempo longo demais em que tinha se deixado grudar no corpo de seu amigo. Soltou-se bruscamente, levemente corado, tentando não pensar nos rumos que seus pensamentos o estavam levando nem nos olhos de seu amigo. Porém mal se desvencilhara seus braços de Camus quando foi pego de surpresa por outro abraço, um pouco mais forte.

- Feliz natal, Milo. - Dessa vez Milo não conseguiu evitar um largo sorriso. Como o natal não poderia ser feliz, com Camus ali, a seu lado? Seja como fosse, Milo sabia que os dois reconheciam o presente maior, o que não vinha como obrigações da data, o que se davam a todo momento e livremente: um ao outro.

- Mas então, Camus, me conta direito essa história do presente do Afrodite...


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