Quando algo está por vir sempre há outra coisa que lhe avisa que esta irá chegar.

O céu estava escuro e acinzentado, mas de uma forma muito bonita. Quando Mira se deu conta estavam caindo pequenos flocos de neve em sua cabeça, o que não fazia muita diferença já que seus cabelos eram brancos e a neve transparente.

- Uma coisa leva outra. Não é?

Era noite e ela estava sentada sozinha em um banco da praça central.

Ela suspirou.

- Será que deveria ter convidado alguém para passear comigo?

Estava um pouco frio, o bastante para que ela pudesse ver o branco do ar quando respirava.

- Melhor do que ficar parada é ter algum lugar a ir.

Levantou-se.

Noite branca. Ela não tinha certeza de quando fora a ultima vez que veio ao centro comercial em época de fim de ano. Luzes, cores, pessoas, era realmente contagiante. Logo ela ficou animada e olhava as vitrines das lojas enquanto andava para um destino sem rumo.

Parou em uma loja de joalheria. Um bracelete prateado estava à mostra. Havia pequenas caveiras penduradas por toda ela com uma guitarra um pouco maior no centro.

Curvou seu corpo o bastante para que pudesse ter uma boa visão do objeto enquanto colocava parte do cabelo para trás da orelha.

- Que linda!

Se alguém que conhecesse Mirajane há pouco tempo e a visse naquele instante provavelmente não iria acreditar que ela gostou da pulseira. Por quê? Simplesmente por que ela deveria ser doce demais para coisas assim, como sempre dizia a si mesma.

Resquícios de seu antigo eu voltavam às vezes. No passado ela fora uma delinquente, daquelas que barram qualquer um que ousasse cruzar seu caminho, mas um dia isso acabou ferindo sua irmã, Lisanna, e foi ai que decidiu que mudaria. A situação ocorreu de um modo pouco previsível para ela, nunca pensou que um de seus combatentes fosse usar sua irmã como refém. Provavelmente ele viu isso em algum programa policial e imitou em uma de suas decorrentes brigas.

Resumindo a história ela disse a si mesma que pararia com as brigas, assim sendo uma pessoa mais gentil e atenciosa com outros.

Ela ainda estava um pouco triste por não ter nenhuma companhia. Lisanna deveria estar em alguma festa comemorando com os amigos e Elfman com sua namorada. Que tristeza não ter um namorado para passar nessas horas. Mira nunca se incomodou com isso, mas ultimamente tem ficado um pouco preocupada já que todos os seus amigos estavam se arranjando entre eles. O importante era achar alguém que realmente pudesse dizer que gosta, por que namorar alguém apenas pelo fato de estar sozinha não era do gosto dela.

Olhou para o preço do brilhante e deu um passo para trás.

- Muitos zeros, muitos zeros... – Disse ela com a cara um pouco desapontada e risonha. – Talvez no ano que vem, se eu a encontra-la novamente.

***

- O que acha de irmos até o café? – Freed perguntou.

- É tem razão, não podemos ficar aqui em uma noite assim, é hoje e depois o ano novo para zoar. – Disse Bickslow botando a língua para fora, um hábito muito comum dele.

- Claro, por que não? – Laxus olhou para Bickslow - Apesar de que não se pode “zoar” do jeito que você quer em um café.

Ele deu um leve sorriso apesar de tudo.

Após andarem até lá se sentaram em algumas cadeiras altas de frente para um grande vidro com o nome do café em letras adesivas, onde havia um balcão grudado e a garçonete colocara seus pedidos.

- Então... O que eu devo fazer? – Perguntou Bickslow com a cara um pouco preocupada, coisa não muito comum a ele. – Dessa vez eu realmente gostei de alguém.

Laxus estava quieto e levou a xícara de seu café até a boca, olhou para o amigo sarcasticamente.

- Sério!

- Quem é ela mesmo? – Perguntou o esverdeado. – Não era a irmã da...

- É.

O loiro colocou a xícara na bancada e olhou através do vidro avistando uma figura conhecida.

“O que ela faz aqui.” – Pensou consigo mesmo.

- Ei, vou sair ok?

- Até mais. – Disse Bickslow.

- Tchau. – Respondeu também Freed.

Os dois continuaram conversando. O loiro se locomoveu ao encontro da albina, quanto tempo fazia que não a via?

***

Com neve sobre sua cabeça ela andava sozinha. Laxus a seguiu.

O loiro aproximou-se quando esta parou em uma das vitrines. Joias?

- M-Mirajane? – Ele estava um pouco nervoso, ela mudou.

- Em? Ah... – Mira ficou desajeitada de repente. – La-Laxus?!

Eles se olharam novamente.

- Então... Como tem passado? – Perguntou ele.

- Bem como pode ver aderi a um novo estilo. – Disse com um sorriso.

- Isso é bom, quero dizer, depois do que aconteceu...

Laxus estava lá no ocorrido com a irmã de Mira. Na verdade ele era o líder da gangue junto com ela. Coincidência? Poderia até ser. Os dois eram muito próximos, mas depois de tudo Mira decidiu mudar e parou de vê-lo.

- Que tal uma volta? Faz tempo que não nos vemos ou conversamos. – Perguntou Laxus tentando mudar o assunto que começou.

- Claro.

Então eles andaram para longe até que chegaram a um lugar sem muitas pessoas. Havia um banco com pequenos resquícios de branco da neve onde os dois se acomodaram e um poste com uma luz que piscava várias vezes.

Mesmo dizendo que queriam conversar acabaram não dizendo mais nada, algum dos dois teria de quebrar o silêncio.

Mirajane começou a tremer um pouco. Ela não estava com frio, estava nervosa. Do nada, seus sentimentos decidiram pular para fora e ainda não estava nem há uma hora com o loiro.

Mesmo com todos esses sentimentos inquietantes e o silencio perturbador ela sentiu alguma coisa que pesou um pouco mais em suas costas.

Um casaco? Não... O casaco que Laxus sempre usava.

Ela o olhou com confusão no rosto.

- Hm, você parecia com frio. – Disse ele olhando para o outro lado. – Sabe... Você ficou distante.

Mira tirou seu rosto da direção do chão para a de onde o de Laxus se encontrava.

- Naquele dia eu... Estava preparado para tudo. - Então finalmente encontrou seus olhos. – Menos para perder você.

- Eu tinha que fazer isso, pelo bem de Lisanna e Elfman.

- Você sabia o que eu sentia?

- Sim.

Os rostos dos dois se aproximavam cada vez mais.

- Ei Mirajane, será que nós ainda podemos...

- Ficar juntos? – Ela sorriu levemente. – Eu penso que sim. Demorou um pouco, mas eu percebi que meus sentimentos eram mútuos afinal.

- Então eu estava certo. – Disse ele rindo consigo mesmo.

Laxus pegou delicadamente em uma das mechas do cabelo branco de Mira, sem desviar o olhar e sentindo suas respirações ficando mais aceleradas seus lábios lentamente se encontraram.

***

*trin~trin*

Ouviu-se o som do sininho da porta da loja, um homem feliz saia de dentro dela.

Ele se dirigia a casa de uma pessoa especial.

- Mirajane? Sim. Ok. Estou aqui fora. – Desligou o aparelho com o qual recebeu a ligação.

Ela abriu-lhe a porta e então se acomodaram ao sofá da sala daquele pequeno apartamento. Apenas os dois.

- Bem vindo de novo. – Falou ela com o melhor sorriso que podia dar.

- Fui a um lugar ainda pouco.

- E o que fez lá?

- Bem, eu não sou muito bom em fazer surpresas.

O loiro mostrou a ela uma caixa.

- Isso é para mim?

- Bem, eu não conseguiria usar sabe.

No momento em que abriu viu a brilhante pulseira que tanto almejara há algumas noites.

- Você... Ah não acredito. - Ela o abraçou forte. – Obrigada.

- Eu já ganhei meu agradecimento. – Respondeu ele com outro sorriso.

A partir dali eles sabiam que teriam muitos dias de alegria, assim como na noite em que Mirajane decidiu que aceitaria seu eu do passado assim como seu eu do presente.