Fugindo De Um Erro escrita por Luana Brasil


Capítulo 9
Capítulo 9 Me deixa ajeitar as coisas




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A audiência finalmente começava. O juiz e meu irmão trocaram palavras por mais ou menos meia hora e eu não prestei atenção em nada, pois meus pensamentos estavam longe.

–Senhorita Hawkins - Isso foi o que me acordou de meus pensamentos- A senhorita tem algo mais para acrescentar?

–Tenho sim, mas antes posso começar fazendo algumas perguntas ao senhor?

–Sim, prossiga.

–Meritíssimo o senhor tem pais?

–Sim eles moram comigo e minha família.

–O senhor tem avôs e avós?

–Não mais-Ele respondeu em um tom triste.

–Eu também não. E não tenho pais ou tios nem outros parentes que possam me dar carinho e atenção, a não ser meu irmão, a namorada dele e os pais dela. Então imagine como seria se quisessem tirar de você a sua única fonte de carinho, por que acham que “vai ser melhor” para mim. O que o senhor acha disso? – Ele ficou calado com os olhos cheios d’água- Meritíssimos sei que vivo dando problema pro meu irmão e estou sabendo que o decepcionei- Rick me olhou surpreso- mas, essa é a minha chance de poder concertar tudo, por favor, me deixa ajeitar as coisas.7

Vi que o juiz enxugava as lagrimas que seus olhos deixaram escapar.

– O resultado desse processo será anunciado daqui a dois dias- Ele bateu o martelo finalizando então a audiência.

Meu irmão, nem o advogado dele podiam ter contato comigo, por ordem judicial, para não influenciar no resultado final e então como eu fui eu teria que voltar: Com a assistente social. Antes de eu sair do cartório o advogado de meu irmão me parou e perguntou para a assistente:

–Posso falar com ela um minuto?

–Claro.

Ele olhou e disse.

–Não vai tentar fugir de novo não é?

–Não. E sabe por quê? Porque eu descobri que é inútil fugir de um problema só por ter medo de enfrentá-lo.

E então fui em direção ao abrigo. Fiquei sentada de cabeça baixa. Os meus olhos eram como ecos na noite escura. Os meus cabelos me escondiam do inferno pelo qual eu havia passado. 8

Ao chegar lá eu fui para o meu quarto e ao chegar à porta vi a chave no chão com a porta ainda trancada. Suspirei tentando esquecer o que tinha acontecido. Olhei para o lado da porta e vi um jaleco branco com um crachá. Ajoelhei-me e segurei o crachá e vi a foto do Vincent em um passe falso para o New Hope hospital de crianças e adolescentes.

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7 Walt Disney Studios (Planeta do tesouro)

8 Trecho adaptado da música “Not Alone” por Linkin Park





Com isso conclui que o Vincent havia entrado no abrigo disfarçado de médico. Peguei a chave e entrei no quarto. Ele estava exatamente do jeito que eu o deixei então o arrumei. De novo.

Depois da arrumação abri a gaveta do criado para pegar meu cd do Green Day e ao abrir-la vi a carta que o Vincent havia me mandado quando ele estava de castigo. Ainda muito triste fechei a gaveta sem nem me lembrar do cd. Logo em seguida a Lindsay entrou no quarto e disse:

– E ai Megan como foi lá?

–Legal.

Ela colocou a mochila na cama.

–Meg o que foi? Deu algo errado lá?

–Não, lá foi ótimo o problema foi antes.

–O que aconteceu?

–Foi o Vincent.

–Quem é Vincent?

–O rapaz que ajudou a gente a sair do abrigo.

–O que ele fez?

Ela se sentou na cama na minha frente e me ouviu atentamente enquanto eu lhe contava o que tinha acontecido.

–Ué por que ele fez isso?

–Eu não sei- Eu suspirei- Eu não sei.


٭٭٭


Enquanto lamentava meu infortuno Vincent recebia em sua memória uma lembrança que naquele momento era nefasta: o beijo que eu havia lhe dado no dia da primeira audiência. Pode parecer bobeira, mas depois de ele ver a minha reação ao que ele fez é uma coisa que machuca mais que um tiro.

Vincent fazia suas tarefas de casa, mas não se concentrava, não se focava, pois o peso de um erro tomava conta de sua mente. Seu tio, Tony, passava pela mesa onde ele se encontrava e viu a falta de foco dele.

–Tudo bem rapaz?

–Tudo - ele disse sem sequer olhar para o tio.

Tony pegou uma cadeira e a colocou do lado da de Vincent e disse:

–Não, não está e eu quero saber por quê.

Ele olhou para o tio e soltou um suspiro.

–Eu tranquei a Megan no quarto para ela não ir à audiência.

–Vincent Charles Marverick! Porque você fez isso?

–Eu não sei tio- Ele disse com lagrimas rolando pelo rosto.

–Se não sabe então por que fez?

–Por que eu amo ela.

–Ama?

–E muito-Ele disse chorando, mas ao mesmo tempo agressivo. Seu tio o olhou espantado, pois ele não costumava ser assim. Ele se acalmou e continuou:- Tio me ajuda.

–Vincent se você gostasse mesmo dela não teria feito isso. Eu tive uma namorada que eu amava como nunca amei ninguém, mas um dia ela me disse que amava outro.

–O que você fez?

–Disse que se ela achava que ia ser feliz daquele jeito que ela nem precisava me perguntar o que eu achava. E sabe por que eu fiz isso? Porque eu a amava não importava se ela ia ser feliz do lado de outro, se ela estivesse feliz isso era o suficiente para eu ser feliz também- Vincent encarou seu tio e percebeu que ele tinha razão- Você precisa se desculpar com a Megan. Se você quiser eu te levo lá e dou um jeito para você falar com ela.

Ele se levantou e antes de voltar ao que estava fazendo disse:

–Mais uma coisa: Você não é burro Vincent então não haja com se fosse um. Se você quiser ir lá é só me chamar que eu estou no meu quarto.


٭٭٭


Durante a tarde eu estava tão preocupada com tanta coisa que não consegui tocar nenhum instrumento. Nem mesmo violão que tocava com tanta facilidade. Sentia-me sufocada e tentava encontrar um jeito de desaparecer.

Fiquei muito chateada com o que o Vincent havia feito, mas acho que fui muito dura com ele, de qualquer forma o que ele fez não foi certo e eu não parava de me perguntar o “porquê” de tudo aquilo. Sempre que eu ouvia voz de rapaz eu olhava para trás, na esperança que fosse o Vincent. Era como se eu estivesse paranóica olhando para trás. 9

Depois de muita paranóia me sentei sozinha em um dos bancos de cimento do pátio.

Todos estavam muito agitados. Havia três rapazes que jogavam um para o outro uma bola de futebol americano. Eles andavam e arremessavam a bola até que um deles parou e se sentou do meu lado e disse:

–Oi eu sou Kevin. E você?

–Megan.

–É impressão minha ou você ta deprimida?- Eu respirei fundo, foi como se eu tivesse dito sim- Me conta o que aconteceu.

O rapaz era lindo: tinha olho verde esmeralda e cabelos lisos loiro quase cobrindo toda a orelha e traços perfeitos.

No início tive um pouco de vergonha de lhe contar o que me incomodava, mas não foi difícil.

–Esse cara é um idiota- Ele disse.

Não sabia, mas o Vincent estava ouvindo tudo.

–Se eu fosse esse cara - Ele continuou - Nunca trataria você assim - ele disse acariciando o meu rosto e eu sorri para ele.

Uma lagrima rolou no rosto de Vincent.

O Kevin aproximou o rosto do meu como quem pedia um beijo. Isso foi o suficiente para o Vincent sair dali abalado e frustrado. Quase o beijei, mas me veio na cabeça à lembrança do beijo que Vincent e eu havíamos dado não pude agüentar: recuei meu rosto.

–Não se preocupe Megan eu sei o que é isso- Não consegui dizer nada- Me avise se você precisar do apoio de um amigo de verdade.

Ele se levantou e foi embora.

Ergui o pulso na direção dos olhos e vi que já estava na hora de ir ver o Pânico. Levantei-me e fui para a sala dele.

Quando entrei lá, ele estava escrevendo alguma coisa em um caderno. Achei muito engraçado vê-lo escrever, pois vi que ele era canhoto. Eu nunca tinha visto ninguém que escrevia com a mão esquerda. Ao ver-me ele disse:

–Oi Megan.

–Oi. - Eu disse em tom triste.

–O que houve? Não me diga que algo deu errado na audiência.

–Como você soube da audiência?

–O Vincent me contou. - Ouvir aquele nome me doeu tanto que meus olhos se encheram d’água- Megan o que houve?

–Você não vai acreditar- Eu dizia tensa e com lagrimas descendo pelos olhos, mas eu não estava chorando, apenas lacrimejando. - O Vincent me trancou no quarto quando eu estava saindo para a audiência.

–Espera- Ele fez uma pausa rápida. - Se você está aqui por causa de um processo judiciário, ninguém pode ter contato com você a não ser os funcionários do abrigo e os abrigados. Como ele entrou aqui?

–Ele veio com um crachá falso e roupa branca.

–Hum. Ele veio de médico?

–É. E o pior disso tudo é que com isso ele confundiu meus sentimentos.

–Como assim?

–Eu não sei se sinto ódio ou esqueço isso. Ele não podia ter feito isso. Agora eu não sei que “caminho” seguir.

– E quais são os caminhos que você pode escolher?

–O ódio e o perdão.

–Bom uma coisa que minha irmã me disse quando fomos ao Rio de Janeiro, com apenas um dicionário em mãos, - Ele riu fazendo-me rir também. - e que uso figuradamente até hoje é o seguinte: “Quando se está perdido qualquer caminho serve.”- Ri de novo imaginando eles perdidos no Rio de Janeiro- Mas estou dizendo isso para você usar em outras situações- Como uma visita ao Rio - não nessa.

–Mas por que não nessa?

–Bem, porque se você, por exemplo, escolher o ódio você vai se machucar como vai machucar a ele também. Porque do mesmo jeito que você gosta dele ele gosta de você se der bobeira até mais, pois o tio dele me disse que desde o primeiro dia que ele te viu ele já era doido com você.

–Se o Vincent realmente me amasse ele não teria feito isso.

Ele riu.

–Megan, Megan. Ele é o primeiro garoto que você gosta?- Com um gesto de cabeça respondi que sim- Você também é a primeira garota que ele gosta. Só pra você ter uma idéia

ele nunca namorou. Como essa é a primeira paixão dele, ela vai se manifestar de diversas maneiras, não só nele como em você também e acredite querida quando o assunto é amor ninguém é responsável por suas ações.

–Eu queria conversar com ele só para saber o que ele tem à me dizer.

–Parabéns minha flor! Você fez a escolha certa. O perdão é sempre o melhor jeito de recomeçar.

–Mas quando vou vê-lo antes da decisão final do juiz?

–Mais breve do que você pensa.

Ele sorriu para mim e eu o olhei desconfiada.


_________________

9Trecho adaptado da música “Papercut” por Linkin Park




À noite fui dormir muito intrigada com tudo que tinha acontecido, e dormi com muita dificuldade. Naquela hora eu não queria nada alem do carinho e apoio do meu irmão.

Eram por volta das 3 horas da manhã quando acordei com alguém me chamando:

–Megan... Megan acorda.

Acordei e sentei-me na cama e vi que quem me chamava era o Vincent.

–Vincent - Disse esfregando os olhos de sono- O que você faz aqui?

–Ei, vocês dois falem baixo que alguém pode acordar - Era o Pânico.

Voltei meus olhos novamente para o Vincent.

–Eu vim me desculpar- Eu o encarei- Eu não pensei direito no que eu fiz.

–Por que você fez aquilo?

–Porque eu sabia que quando você voltasse para o Bronx você esqueceria-se de mim. E então achei que se você não fosse à audiência você poderia ficar mais tempo comigo.

Olhei-o sem acreditar no que ouvia.

–Você foi muito egoísta.

–O amor é egoísta-Ele disse quase chorando e segurando o meu rosto- Mas, eu só queria ouvir que você me perdoa por que eu vou deixar você e o seu namorado em paz.

–Que namorado?

–Hoje eu vim aqui de tarde e vi você com um loirinho, mas quando você ia beijar ele eu não agüentei e tive que ir embora.

–Eu não o beijei.

–Não?

–Não porque eu me lembrei de você e eu não podia beijar ele sendo quem eu amo é você.

Ele me olhou com aquele sorriso lindo e disse com um tom meio tímido.

–Então você me desculpa?

Eu sorri para ele e disse:

–Claro que sim.

Dei-lhe um abraço e Pânico disse:

–Vincent anda logo que eu acho que alguém acordou.

Ele me deu um beijo rápido na boca e saiu me dando tchau.

Eu finalmente pude dormir tranqüila.



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