POV Juliana ON

Eu saí da escola ao lado do Davi. Ele era uns oito centimetros maior que eu, e andava com uma bela postura para um garoto do ensino médio. Mas deixei isso pra lá. Lembram quando eu disse que as pessoas eram muito previsíveis? Pois bem, eu não conseguia prever o que ele fazia.

Decidi tentar novamente, tentando adivinhar para onde ele me levaria. Quem sabe uma sorveteria para pagar de bonitão, ou para a casa dele see ele for do tipo tarado. Se for do tipo certinho vai me mandar ligar para o meu pai para ele vir me pegar, e se ele for do tipo nerd escondido vai me levar numa biblioteca.

Mas e se ele for do tipo imprevisível.. ?

Bem, não tinha como eu saber não é?

Estávamos parados na calçada da escola enquanto ele olhava para os dois lados.

Ele olhou para mim meio sem jeito e sorriu.

– Quer ir para onde? - Ele perguntou. Se fôssemos um desenho animado com certesa teria surgido uma gota na minha cabeça. De duas uma: ou ele era do tipo burro, ou do tipo imprevisível. Mas que tinha que descobrir.

– Não sei. - Eu falei dando de ombros. Eu não conhecia aquela cidade.

– Bem... eu não tenho dinheiro... acho que você não aguenta andar muito com essa sandália... Tive uma ideia... - Ele disse sempre indiferente.

Ele tinha a voz parcial, masculina e incrivelmente comum. Ele atravessou a pista comigo e começamos a caminhar pela vizinhança. A cidade tinha muitos prédios, e como estávamos em pleno dezembro, a decoração de natal já estava lá. Nas varandas estavam os pisca-piscas apagados ainda, por estar de dia.

Caminhamos até chegar num enorme parque o qual entramos sempre silenciosamente e ele começou a caminhar mais devagar.

Um parque... E era um bem bonito, com muitas árvores tapando a luz do sol, e um caminho pavimentado, não muito largo, que fazia curvas grandes e parecia estar por todo o parque. Neste caminho tinham pessoas caminhando, andando de bicicleta e de patins. Ah patins... eu sempre amei patins.

– Você nunca tinha vindo aqui? - Ele perguntou parecendo perceber minha expressão admirada. Eu desviei o olhar e balançei a cabeça negativamente.

– Como assim? Eu venho aqui desde criança, não conheço nenhum morador da cidade que não conheça esse lugar. - Ele falou incrédulo. Paramos diante de uma árvore, a qual ele subiu rapidamente, já que ela não era tão alta. Eu fiquei olhando ele ali, era... ridiculo.

– Eu me mudei pra cá ontem a noite. - Eu confessei. Ele riu um pouco enquanto se deitou seguindo o cumprimento de um galho.

– Entendo... e porque escolheu aquele inferno educacional com tantas escolas boas na cidade? - Ele perguntou fechando os olhos. Eu me sentei num banco quase embaixo da árvore e fiquei olhando-o.

– Meu pai que quis.. é mais perto da casa da minha avó, onde vou morar. - Eu falei dando de ombros. Ele respondeu com um "hmm" e em seguida bocejou.

Quando eu menos notei, ele já estava dormindo, ali anquele galho. Pelo visto ele era do tipo imprudente e imprevisível, aquele idiota.