Passei o resto da noite ouvindo musica de papo pra ar. O Lucas me ligou e eu contei tudo pra ele, foi tão mágico... Eu abri a janela completamente e sentei no parapeito, olhando para a pista lá em baixo enquanto eu falava no telefone.
- Já tomou o banho mocinha¿ - Ele perguntou e eu sorri. – Passo aí as nove tá bem¿
- Tudo bem. – Respondi.
- Vou lá me arrumar. – Ele disse.
- Vai passar a maquiagem, dar chapinha... – eu comecei brincando e ele fingiu uma risada me fazendo rir ainda mais. Ele desligou e eu fiquei apenas ali na janela. Ainda eram seis e meia. Passei um tempo sentada ali cantarolando, até que meu celular tocou de novo. Era o Bruno.
- Alô. – Atendi.
- Oi, é o Bruno. – Ele respondeu exatamente igual como na ultima vez. Eu ri um pouco.
- Eu sei, então, tudo bem¿
- Tudo sim, eu só fiquei com vontade de ligar. – ele falou. Eu dei um sorriso mudo. - Tá fazendo o que de bom¿ - Ele perguntou casualmente.
- Ah, daqui a pouco o Lucas vem aqui me pegar para irmos num baile de debutante. – Eu falei surpresa comigo mesmo por estar contando isso a ele. Geralmente eu era tão quieta, e só contava as coisas para o Lucas.
- Ah sei... – Ele falou baixo. Eu ainda olhava para a rua com um sorrisinho sugestivo, até que vi um vulto me observando da janela do outro lado da rua, na janela bem na minha frente.  As luzes do cômodo estavam apagadas. – Mas então... você vive saindo com o Lucas¿ - Perguntou o Bruno do outro lado da linha.
- Ahm... hãn¿  - Perguntei sem ter ouvido uma palavra do que ele disse. Eu estava ocupada demais tentando enxergar quem era que me observava, mas o vulto levantou e deu as costas, saindo do cômodo.
- Não tá ouvindo¿ - Ele perguntou de novo rindo um pouco. Eu ainda olhava abismada. Desde quando tinha alguém a observando¿ - Juliana¿ Juliana, você tá aí¿ - Ele chamava até que eu me toquei.
- Ah... Ah sim! Estou sim, é que eu vi uma coisa aqui. Eu preciso ir, vou me arrumar, beijos Bruno. – Eu disse e desliguei. Passei um tempo olhando para aquela janela, mas o vulto não voltou mais. Eu suspirei e me vesti.

POV Davi ON

Será que ela conseguiu me reconhecer¿ Suspirei. Eu teria que ficar em outro cômodo até que fosse “seguro” eu não queria que ela descobrisse. Eu fui para uma sala sem nome, bagunçada onde eu tinha meu vídeo-game e um teclado. Sentei diante do teclado e apertei uma tecla na extremidade direta do teclado. Ela fez algo como “Plim”. Depois eu toquei na extremidade esquerda, e fez um som grave que eu não saberia como imitar.
O que eu devia fazer¿
Suspirei de novo e fui para a varanda. A Juliana estava entrando num taxi com o Lucas. Ela estava linda... [roupa da Juliana: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=67494184&.locale=pt-br]
Fui para o quarto e afundei a cara num travesseiro. Nem pensar em tocar no computador. Não se for para ver fotos de como ela estava linda com o Lucas.
Fechei os olhos e suspirei. Me virei de barriga para cima e fitei o teto.
- Se há um prêmio por julgar mal... já seu serei o eleito... amar não vale o sofre não... o verbo amar a razão rejeita... – Comecei a cantarolar. Meu pai não voltaria hoje para casa, iria dormir na casa da Helena, a namorada dele. Imagine minha bela situação onde até meu pai tem namorada e eu não.
Agora é só se lembrar de que eu conheço a Juliana há dois dias e já me sinto morrendo de amores por ela... Mas... Não era como se eu realmente gostasse dela, não é¿ Eu sequer a conheço. Não tem como eu gostar dela.
Pensar nisso tudo estava me deixando com dor de cabeça, e me irritou a ideia de que enquanto eu só faço pensar nela, ela está numa festa com o priminho.
Suspirei de novo. Tenho feito muito isso esses dias.
Dormi.
Sem sonhos, sem perturbações.
Quando eu acordei eram três e vinte da tarde de um belo domingo chuvoso. Tomei um banho e entrei de volta no quarto com a toalha nos ombros e um calção escuro.  Coloquei a toalha em cima da cabeça e balancei freneticamente para enxugar meu cabelo. Quando tirei a toalha da cabeça, encontrei um par de olhos do outro lado da rua, no apartamento à frente, olhando para mim.
Juliana pareceu bastante surpresa ao me ver.
Sem pensar duas vezes, peguei uma folha de papel e escrevi em letras grandes: OI.
Mostrei para ela, com meu rosto do lado do papel, querendo ver sua reação. Ela pareceu surpresa e correu para o lado, num lugar do quarto que eu não conseguia ver. Esperei um pouco e abaixei o meu papel, até que ela voltou com um papel meio verde escrito: OI. Ela estava com a cabeça do lado, com um breve sorriso meio tímido. Eu não consegui conter um sorriso. Ela me viu sorrir e também riu, mais abertamente mostrando os dentes e abaixando o papel. Ela levou uma mecha de cabelo para trás da orelha e me olhou. Finalmente eu estava vendo-a sorrir.
Pensando bem, não tínhamos brigado, ela disse que não estava com raiva, ela tinha ficado com o Bruno. Não acho que teríamos motivo para não nos falarmos, e nem deixar de sorrir.
Levantei mais um papel. “Tudo bom¿” Ela desta vez não sumiu, apenas abaixou o olhar, para seu colo e eu pude ver um pedaço do hidrocor enquanto ela escrevia. “Sim” ela me mostrou e depois surpreendeu-se consigo mesma, e me mostrou outro. “E Com Você¿” As letras dela eram bonitas, e ela mudava o estilo a cada cartão que me mostrava. “Indo...” Escrevi. Ela leu e se mostrou um pouco confusa.
“O que houve¿”
“Nada demais.”  É que eu não tiro você da cabeça.
“Precisa de ajuda¿”
“Não se importe.” Preciso do seu abraço.
“Você podia vir aqui.”
...!
“Posso mesmo¿” Eu posso fazer besteira.
“Claro, pronta em 2 min.”
Ela sorriu. Eu sorri de volta e coloquei uma camisa vermelha.
Desci e atravessei a rua, parando na portaria. Logo ela estava lá.

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Aqui está o Bruno. ♥