Segundo Massacre Quaternário escrita por BatataReal


Capítulo 23
Epílogo




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Depois de uma longa e tediosa viagem ao Distrito 12 com o sentimento de finalmente estou salvo preso sobre minhas mãos, a frase que Snow me falara percorre minha cabeça, fazendo com que todo sentimento de dever cumprido seja esmagado e deixado no chão para poder ver o que de mal eu poderia ter feito, de fato, eu não descobri o que era.

Brock e Pount deveriam ir comigo até o Distrito 12, mas Brock ficara na Capital, seu local de origem e Pount está vindo logo atrás, Snow queria falar com ela, não fiquei sabendo o por quê, mas não soava nada bom. Depois das duas semanas longe de minha família a única coisa que eu queria era poder abraçá-los e curtir tudo aquilo que a Capital iria me proporcionar, uma vida longa confortável, com todos benefícios, uma casa gigante, comida fresca todo dia, tudo o que eu sempre desejei estaria ali, na cozinha.

Finalmente vou poder dar tudo o que sempre quis a minha família, uma vida justa, mas como conviver com isso? De um lado do Distrito 12 eu e minha família vivendo com luxúria e na esquina pessoas morrendo de fome, pessoas que não tem nada para comer, nada para beber, apenas esperam jogadas, abandonadas pela Mãe Capital, que diz protegê-las.

A vista que consigo deslumbrar através da janela do vagão é linda, estamos no inverno no Distrito 12 e a neve cobre todo o Distrito, fazendo com que tudo fiquei branco, branco a cor da paz. Será que finalmente poderia ter?

Estamos quase lá, tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe de minha família, como poderia ser eu novamente? Eu não seria mais Haymitch Abernathy, serei o segundo vencedor do Distrito 12, o que matou pessoas para poder vencer, um sobrevivente dos Jogos Vorazes. Como vou conviver com os pesadelos que enfrento todas as noites?

De longe já consigo ver algumas casas se formando no monte de neve, pontos cinzas no meio daquele branco. Como se o Distrito estivesse quebrando a paz, como se o problema da paz da Capital fossem os Distritos, um pensamento que voa para longe quando percebo na besteira que estou pensando.

A velocidade começa a diminuir, mas não estamos perto da estação, saiu da janela e vou direto a porta onde ouço alguns Pacificadores conversando.

— Ordens do Snow, devemos diminuir a velocidade.

— Tudo bem, devemos enrolar quantos minutos?

Enrolar? Uma festa surpresa da Capital?

— Hmmmm - pensa o Pacificador. — Não se... - ele para de falar quando percebe que a porta do meu quarto está um pouco aberta e leva o Pacificador para outro vagão.

Toda ação gera uma reação na qual as pessoas não estão preparadas para encará-las, a voz de Snow penetra na minha cabeça e um arrepio percorre minha espinha. Uma Avox entra em meu quarto rapidamente e começa arrumar tudo, eu peço para ela guardar algumas roupas minhas na mala que a Capital me fornecera e quando tudo está pronto percebo que há uma lágrima percorrendo o rosto da Avox, porém esse não é o problema, o grande problema é que o rosto é família, a Avox que acabara de entrar em meu quarto é a mãe de Alice.

Fico mudo, não consigo reagir, meu corpo está frio, o que acontecera aqui?

— Senh... O que acont... - tento dizer gaguejando.

A mãe de Alice encosta a mão no meu ombro chorando e balança a cabeça negativamente. Neste exato momento a porta do quarto abre e dois Pacificadores estão na porta, um Pacificador começa a gritar:

— Eu disse pra você não falar com ele!

— Ela não tem nada haver com isso, fui eu que conversei - grito.

— Traidores precisam ser punidos!

O Pacificador pega meu ombro e me joga contra a parede, caiu sentindo uma enorme dor de novo em minha costela, o Pacificador tira uma faca de sua cintura.

— Não, por favor não! - grito em desespero.
A mãe de Alice está chorando, o Pacificador pega ela pelo pescoço e enfia a faca em sua barriga, o sangue voa na roupa do Pacificador e ele a deixa morta no chão do meu quarto em quanto limpa sua roupa.

— Toda ação gera uma reação na qual as pessoas não estão preparadas para encará-las - sussurro.
O sangue percorre o quarto e o Pacificador traz uma Avox para limpar tudo, enquanto isso o outro Pacificador me leva para fora do quarto. O Pacificador me joga na porta do vagão que se abre.

— Estamos perto da estação? - grita ele.
Uma voz grita que sim e o Pacificador chuta minha barriga e coloca uma arma sobre minha cabeça:

— Nada disso aconteceu Senhor Abernathy!

Como vou poder explicar pra Alice que assassinaram a mãe dela em minha frente e eu não pude fazer nada? Eu não consegui salvá-la, eu fiquei inerte.

Uma Avox limpa o chão do sangue que cuspi e me da uma bolsa gelada para por minha barriga, a dor de minha costela está insuportável, por que não me matar logo?

Uma voz robótica fala que chegamos ao Distrito 12, os dois Pacificadores me pegam e as portas se abrem, do lado de fora uma multidão me aguarda, câmeras da Capital, população do Distrito 12 sorridente, mas não consigo achar Alice, nem Miguel, nem minha mãe.

— Onde estão eles? - pergunto.

— Eles? - Um Pacificador pergunta rindo.

— Minha família.

Ele não me responde, alguns repórteres da Capital tentam fazer algumas perguntas para mim, mas os Pacificadores falam que estou muito debilitado para poder responder, eles me levam ao Edifício da Justiça enquanto as câmeras me filmam sendo carregado para lá. Algumas pessoas da multidão vaiam os Pacificadores que ignoram.

Sou levado ao Edifício da Justiça e preso em uma das salas, não entra ninguém e não sai ninguém. Pela janela vejo a multidão voltando para suas casas e novamente não consigo achar minha família. As horas se passam e já está a noite e continuou preso na sala, sem notícias, sem contato humano, preso como um animal.

Um Pacificador trás uma carta em suas mãos e me entrega, ele deixa a porta aberta e não sei o que esperar da carta. A carta está com o símbolo da Capital, que só o Presidente Snow tem direito de usar, abro ela tremendo.

Caro Senhor Abernathy,

Desde o fim da sua edição dos Jogos Vorazes a população estava falando sobre um possível ato de rebeldia por conta do Senhor, tentei me certificar pessoalmente sobre isso, você negou tudo, porém as especulações continuaram, disseram que uma possível revolta estaria para acontecer, que você teria sido o motivo para as pessoas terem algo para lutar.

No entanto, as coisas não são fáceis para todo mundo, tudo foi feito pela preservação do Estado, as medidas deveriam ser feitas para cuidar da população e você teve que ser feito de exemplo, Toda ação gera uma reação na qual as pessoas não estão preparadas para encará-las.

Lembre-se que a causa disso foi sua, o Senhor teve a culpa da reação. Nós só observamos a ação, porém atitudes foram tomadas. Siga os Pacificadores para ver sua família novamente.

Atenciosamente,

Presidente Snow.


Ver minha família novamente? Que medidas? Rasgo a carta e deixo ela na sala e corro para fora da sala, três Pacificadores estão na porta me esperando.

— Por aqui Senhor Abernathy.

Sigo os três Pacificadores que começam a me levar por um caminho diferente, minha casa antiga ficava do outro lado do Distrito e a Aldeia dos Vitoriosos não era por aqui. Algumas pessoas observam da janela de suas casas não comemorando minha vitória, mas assustadas, com medo de algo.

Depois de alguns minutos de caminhada descobri para onde estavam me levando, era o encontro com minha família, talvez o último. As lágrimas queimam minhas bochechas quando o cemitério começa a aparecer, os Pacificadores me levam até três túmulos enfileirados, um maior que o outro.

Os túmulos eram de minha família, todos mortos. Minha mãe, Miguel, Alice, nada estava bem. Entro em desespero, estou gritando, chorando, os Pacificadores vão embora. Tudo que eu fiz foi em vão, toda minha luta para voltar a eles foi nada. Eles não mereciam isso, eu merecia. Eu deveria estar morto.

— NÃO -grito.
Fico horas sentado, tentando digerir a ideia da perda. Então os Pacificadores chegam ao cemitério.

— Foram vocês! - grito.

Tento dar um soco em um, porém levo uma coronhada na cabeça e desmaio.

Acordo na cama na casa da Aldeia dos Vitoriosos, a mesma cama a qual Alice estava sobre meus braços a algumas semanas, sinto o cheiro dela, lágrimas são deixadas lá. Sou um assassino. Uma Avox entra em meu quarto enquanto choro, ela coloca uma roupa em minha cama.

— Eu posso cuidar de mim mesmo! - grito. — Se a Capital te mandou aqui, saia, se não vou te matar, eu vou matar todos que pisarem aqui!
A Avox corre para fora do quarto, depois que alguns minutos Pount bate na porta.

— Haym... Haymitch - sussurra ela.

— Não quero ver ninguém.

— Você precisa de amigos.

— Eu não tenho amigos, não mais, a Capital matou todos.

— Sinto muito pelo que aconteceu - diz ela. — Mas você não pode ficar aqui pra sempre.

— Por que você não volta pra sua vida de luxúria na Capital, sua vida ignorante? — Ninguém vai sentir sua falta mesmo, a partir de agora sou eu que teria de levar duas crianças todos os anos para um abate inevitável, se você não morre na Arena, a Capital te mata fora dela. Eu não sou mais ninguém, nada além de um assassino.

— Eu não tenho culpa! - grita ela.

— Então o que faz aqui? Vá embora! E leve essa Avox ou iria matar ela, qualquer um que pisar aqui.

Pount sai do quarto e fecha a porta. Fico algumas horas na cama ainda, tentando desejar que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo, mas não era. Saiu do quarto e não encontro ninguém, eu iria trabalhar agora, depois passar o dia com Alice, voltar para casa e brincar com meu irmão. Agora nada mais disso é possível, tudo de bom foi retirado de mim.

Nas semanas seguintes sem nenhum visita, sem amigos, eu encontrei o conforto para mim. Virei um alcoólatra impulsivo, com a bebida eu conseguia esquecer tudo de ruim na minha vida, talvez agora eu possa entender o que meu pai sentia, o por quê dele beber tanto, será que ele também queria esquecer sua vida? Os próximo dias da minha vida será ficar sentado bebendo todas bebidas alcoólicas que a Capital me mandar, assim eu posso esquecer nem que seja por algumas horas tudo: a culpa, as mortes, as perdas. Nessas horas eu era feliz.

FIM


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Notas finais do capítulo

Obrigado a todos que acompanharam a Fanfic durante esses meses, espero que vocês tenham gostado da história. Sobre eu escrever uma nova fanfic de Jogos Vorazes acho essa ideia interessante, mas não estou com vontade, então não vou escrever uma só por escrever, então não vou confirmar nada. E agora sim posso falar que está finalizada.

Gostou da Fanfic, do final? Divulgue para seus amigos.

Obrigado por tudo, por todos que divulgaram.

Até mais leitores, me acompanhe no Twitter: @BatataReal



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