Todos tinham que ficar em silêncio. Não havia nem murmúrios. Alunos cruzavam os braços, outros arregalavam os olhos, e outros apenas observavam, com olhares ferozes, esperando que algo acontecesse. Para estragar as expectativas de todos, no entanto, Hermione atravessou o salão com determinação, sentou-se ao lado de Ron, e começou a fazer seu prato.

                Já fazia uma semana que Hermione havia feito aquela atrocidade. E não ousava nem trocar olhares com Malfoy tamanha sua vergonha. Agora todos sabiam que Hermione e Draco haviam tido um ‘caso’ – não é o termo adequado, mas o melhor jeito de descrevê-lo – porém, todos estavam ouvindo meros boatos infundados. Hermione ouvira boatos de que ela ficara grávida de Malfoy, e ele a abandonara; outros diziam que na verdade, a garota havia flagrado ele e Daphne Greengrass, e dado um fora nele. Ainda havia pessoas que acreditavam que os dois planejavam fugir de Hogwarts. E foi aí que chegou a hora do jantar, e Hermione e Draco foram os últimos a chegar, literalmente. Por isso o Salão Principal estava mergulhado em um silêncio ensurdecedor.

                Hermione foi a primeira a sair, com raiva de todos os alunos, até de Harry e Ron, que acreditaram descaradamente em alguns dos boatos. Antes que pudesse alcançar seu dormitório, porém, sentiu alguém colocar a mão em seu ombro. Ela se virou, pronta para esmurrar o indivíduo, quando viu o rosto redondo e simpático de Susana Bones.

                - Ah, perdão, Susana. Eu pensei...

                - Não se preocupe Hermione. Só vim avisar que Dumbledore quer vê-la em sua sala. – e com um sussurro – espero que esteja melhor. – virou-se e se foi. Susana era a única que sabia o que realmente estava acontecendo. Ela e Gina. Hermione sabia que podia confiar em ambas.

                Ao invés de se dirigir para a sua sala comunal, tomou caminho para a sala de Dumbledore. Subiu as escadas circulares e bateu a porta. Quando ouviu a voz do diretor pedir para ela entrar, abriu a porta, e se deparou pela primeira vez na sala que Harry tanto falava.

                Inúmeros quadros cobriam as paredes, com os rostos entediados dos antigos diretores de Hogwarts, e várias bugigangas estavam espalhadas em duas mesas, objetos que nem Hermione pôde identificar. E, claro, a mesa em que Dumbledore se situava, escrevendo algo com uma pena de ganso. A garota sentou-se em uma cadeira de espaldar reto, de frente para o diretor, e pigarreou.

                - Hum... Er... O senhor diretor gostaria de falar comigo? – Hermione perguntou educadamente. Dumbledore levantou os olhos do pergaminho, e sorriu, com uma expressão de serenidade.

                - Sim, Srta. Granger, e não, não é sobre o que a senhorita está pensando. – de alguma forma, Hermione se sentiu aliviada. Não queria pensar em Malfoy. Dumbledore olhou novamente para o pergaminho, e depois, para a garota. – Será que o seu amigo e monitor-chefe, Ben Crisholm lhe informou que está organizando, juntamente comigo, o seu aniversário de dezesseis anos?

                De repente, Hermione esqueceu Draco Malfoy, esqueceu que estava se sentindo culpada, esqueceu-se de tudo. Ela deixou o queixo cair.

                - O quê? Mas o senhor não costuma fazer festas de aniversário para os estudantes –

                - Mas você é um caso especial.

                - Por que eu sou um caso especial? – Dumbledore acomodou-se em sua cadeira.

                - Srta. Granger. Ben me disse, e eu já havia confirmado, e até presenciado, em algum momento, a sua coragem nas férias. Ele queria fazer algo especial para homenageá-la em sua coragem e determinação. Estou feliz que você conseguiu passar por todos esses obstáculos sem reclamar. Temos sempre que perseverar, sabe? – ele pegou a sua pena e a molhou no tinteiro. – Portanto, te chamei aqui para organizarmos a lista de convidados.

                Hermione sentiu um frio na barriga. Queria convidar Ben, naturalmente. Harry, Ron, Gina – seus melhores amigos. Mas se apenas os convidasse, não seria exatamente uma festa, e sim, uma reunião. Hermione respirou fundo e tomou sua decisão:

                - Nem precisaremos de lista. Todos poderão participar do meu aniversário.

Dois dias depois todos ficaram sabendo da festa de aniversário de Hermione. Dumbledore fez questão de colocar os convites em cada mural de cada casa. Assim, todos ficaram sabendo da festa e sua justificativa, já que ninguém organizava festas pessoais em Hogwarts. Hermione receberia seus presentes no dia posterior à festa, e depois, voltaria tudo ao normal.

                Sua festa era o assunto do momento. Todos estavam comentando. Que roupa usariam, com quem dançariam, o que esperavam e como queriam que a festa fosse. Hermione deixou a decoração e os demais tópicos para Ben arrumar, já que ele teve a ideia. Mas, naturalmente, ela também ajudou. Isso deixava com que ela não tivesse tempo para pensar em Malfoy. À noite, os pesadelos a assombravam, mas ela tinha Ben, Susana e Gina ao seu lado para consolá-la.

                Hermione recebeu então uma mensagem de Ben para eles se encontrarem na Sala Precisa, porque ele havia terminado os rascunhos da festa. Hermione se dirigiu para lá, saltitante e ansiosa. Ben desdobrou um longo pergaminho, com mais de um metro de comprimento e largura. Ele mostrava um desenho de como seria a decoração do Salão Principal no dia. Eles não podiam começar a arrumar com antecedência porque senão estragaria a surpresa para todos.

                - Está lindo! – Hermione exclamou em êxtase, contemplando o desenho. Então, Ben sorriu para ela, não de uma maneira bondosa e carismática como ele sempre sorri para ela, mas, de uma maneira peculiar. Seus olhos cor de mel brilham, como se ele estivesse esperando pelo comentário de Hermione. Os cantos de sua boca formam parênteses, e deixam mostrar um leve sorriso. Ele passa os dedos pelos cabelos negros, e se aproxima, lentamente.

                Hermione fecha os olhos.

                Ela pode sentir o cheiro do seu perfume. Madeira. Frutas cítricas. Ela deixa que ele se aproxime mais. A garota sente os seus lábios tocarem suavemente seu pescoço, e então, sua clavícula. De repente, ele para. Hermione abre os olhos e vê que Ben está com as sobrancelhas franzidas, e a expressão culpada.

                Ele desvia os olhos de Hermione, e cobre o rosto com as mãos.

                Hermione coloca a mão em seu ombro.

                - Desculpe-me. Eu... não me controlei. – Ela não disse nada. Não tinha nada a dizer. Ela queria falar, mas as palavras simplesmente não saíam.

                De repente, Hermione se sentiu uma idiota. Mas é claro. Por que não havia pensado nisso antes? Ben sempre gostara dela. Ele sempre foi atencioso quando ninguém mais foi, e ainda assim, não recusou o pedido de Hermione – pedido sem cabimento, aliás – para se vingar de Draco, mesmo sabendo o que poderia acontecer. E para confirmar suas dúvidas, Ben completou:

                - Eu sei, isso foi inadequado. Vamos apenas esquecer, certo?

                - Não. – Hermione negou. Ben a fitou, pasmo. – você tem algo a dizer, mas tem receio de dizer. Eu prometo que não irei te julgar. – sorriu. Ben pareceu menos desconfortável, e, respirando fundo, e olhando Hermione nos olhos, afirmou:

                - Eu acho que estou apaixonado por você, Hermione.