Jogos Vorazes por Cato escrita por AmndAndrade


Capítulo 5
Capítulo 5 - A Garota da Faquinha


Notas iniciais do capítulo

Tá mais sem graça, mas dá pra sacar mais da personalidade dele...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/307471/chapter/5

Depois de um tempo, corro os olhos pela sala. Os 12 estão aprendendo a fazer nós, e então penso que o negócio deles talvez não passe de fósforos. A idéia me faz rir até encarar Clove.

Ela está na estação ao lado e ergue o queixo com uma determinação que me faz parar de espetar bonecos enquanto a examino. Corre os olhos pelos bonecos ali dispostos quando um deles se acende. Ela arremessa uma lâmina curta com a mão esquerda e acerta o coração. Mal tenho tempo de completar “nada mal” quando um outro boneco, uns seis metros distante se acende. Ela acerta no coração, uma lâmina maior. Um outro, do lado oposto. Ela acerta no coração mais uma vez, alguma lâmina curva. Agora estou impressionado. Não deveria, mas ela parece ter apenas quinze anos e consegue acertar cinco bonecos no mesmo lugar com lâminas diferentes, sem mover os pés num espaço de tempo de dez ou quinze segundos. 

De repente, parece que tirei a sorte grande em ter Clove como minha aliada. A sorte grande.

Os Idealizadores dos Jogos apareceram cedo no primeiro dia. Vinte e tantos entre homens, mulheres e não-identificáveis andam de um lado para outro com uma roupa estranha que mais parece uma túnica. Comem, andam, riem. Não são eles que morrerão, de qualquer forma. 

Assim se sucedem os três dias e vejo-os conversando com Jocelie e Edwin vez ou outra, observando a mim e a Clove com certo ar de aprovação. Clove parece não ligar e eu apenas faço o que faço de melhor: destruir.

O café da manhã é servido separadamente em cada andar, mas o almoço é servido numa grande sala que fica do lado de fora do ginásio para todos os vinte e quatro tributos. Há carrinhos espalhados ao longo da sala com comidas comuns e outras que eu nunca vi. Somos os melhores, então é praxe que nos sentemos ao redor da mesa quando quisermos e como quisermos. Comemos, rimos e fazemos muito barulho, talvez mais do que necessário. Exceto por Clove, que reage às piadas de Glimmer com um sorriso extremamente forçado. Ela pode ser boa em correr e atacar, mas tenho certeza que Clove acha que ela é uma idiota assim que as duas ocupam o mesmo espaço. Não posso discordar; Glimmer é definitivamente mais bonita quando está de boca fechada.

Tentei fazer contato com o garoto do Distrito 11, que não é um Carreirista, mas tem tamanho e força de um. Ele apenas me dispensa com um “não” mais seco que tudo. Decido não insistir. Ele é grande, mas não é dois. E nós somos cinco.

Jocelie e Edwin não enchem muito a paciência durante as refeições, de modo que comemos em silêncio por muitas das vezes, sendo interrompidos por algumas recomendações ou conversas saudáveis, leves. Eu sei que eles estão assim porque confiam na gente. Todos confiam.

Quando finalmente escapamos para os quartos na segunda noite vejo Clove resmungar:

– Vou ter de arrastar Glimmer à enfermaria e colocar um esparadrapo na boca dela amanhã.

Tenho vontade de rir, porque entendo perfeitamente o que Clove está dizendo.

– Ela talvez não fique muito tempo com a gente.

– Quem sabe um leão da montanha não a escute falando e prepare-se para atacar enquanto fugimos.

– Não temos garantia de que a arena será numa montanha – digo, divertindo-me.

– Tomara que seja. – Ela para na porta do quarto. – Boa noite, Cat Cato – ela diz e sorri.

Ela provavelmente não saberia o efeito que as palavras causariam em mim, mas sinto como se alguém tivesse me empurrado pelo estômago. Não sabe, aliás, até que minha boca fique semi-aberta ao encará-la por alguns segundos.

– O que foi? – ela pergunta, imaginando se estou brincando.

– Nada... – Desvio o olhar e passo as mãos no cabelo, esperando que ela não perceba. Não há mais para onde fugir agora, eu sei que não. Não posso deixar que isso me atrapalhe agora.

Mas ela continua me fitando com os olhos profundos e observadores. Ela não é o tipo de pessoa que deixa as coisas passarem assim. Encaro-a por alguns segundos até que decido responder.

– Cat Cato, hm?

Ela cora e baixa os olhos. Talvez tenha abordado de forma errada.

– Não, não é isso. É que... Você já ouviu isso antes? Cat Cato?

– Não. – Ela parece não entender e está embaraçada. – É que você tem os olhos muito claros, e estreitos como os de um gato. Achei que você fosse entender. Desculpe-me.

– Não, é que... Minha irmã me chama assim. Fiquei surpreso porque ela é a pessoa que mais amo no mundo – admito, um pouco sem graça. A relação do nome Cat com Cato e Catherine sempre fez sentido pra mim, mas pensando bem agora, Cathy tem os olhos muito parecidos com os meus. Iguais, eu diria. Tomo nota mental de fazer a comparação com ela quando voltar.

– Ah. – Ela parece inquieta com o fato de eu ter uma irmã e amá-la. Sinto que agora ela me perdoa mais, porque sabe que a entendo em pelo menos alguma coisa. 

– Gostei da sua explicação. – Sorrio, deixando-a menos constrangida. – Só não espalhe o apelido. Quero que algumas coisas fiquem mais reservadas.

Ela assente e vira para o quarto, quando seu rosto se ilumina.

– Que pena diz com certo pesar e eu não compreendo. – Gostaria de contar para minha amiga Glimmer. Sei que ela fala pouco. O que você acha?

Limito-me a empurrá-la em direção à porta de seu quarto enquanto ela faz um beicinho, como se estivesse chateada.

– Quieta e durma, Cat Clove.

Ela obedece e entro no quarto com boas lembranças tomando minha cabeça. Navego entre elas até que a inconsciência me leva por uma noite descansada e sem sonhos.

No terceiro dia do treinamento começam a nos chamar na hora do almoço para a avaliação particular com os Idealizadores dos Jogos. Depois de Marvel e Glimmer, Clove é solicitada. Faço um sinal discreto passando os dois dedos da mão direita em meu pescoço como uma lâmina e aponto para a porta, piscando. Ela revira os olhos e segue, e tenho vontade de rir, mas lembro de me manter ameaçador o suficiente para desconcentrar quem estiver prestando atenção. Em questão de minutos ouço meu nome sendo chamado e me dirijo a passos confiantes para a porta.

Se há uma coisa boa em ser do Distrito 2, é que quando você vai para a sessão particular, os jurados prestam atenção de verdade. Entramos cedo, o que significa que os Idealizadores estão à toda para nos escolherem. Sermos dos distritos principais deixa uma pressão, mas pressão não me incomoda. Entro e me apresento, e algumas mulheres examinam meu corpo por um tempo exagerado. Melhor para mim.

Seguro uma das espadas e golpeio bonecos móveis, creio que seis em dez segundos. Largo a espada e sigo num combate corpo a corpo, arrancando muitas cabeças. Eles parecem impressionados, o que me incentiva mais. Seguro uma espada de uns quarenta quilos na mão direita e posiciono duas lâminas entre os dedos da mão esquerda.

Barriga, cabeça. Tórax, pescoço. Pernas, região da clavícula. Pelo menos sempre fui bom o suficiente em biologia para saber onde estava enfiando as facas. Sigo dilacerando os membros inferiores e enfiando as lâminas na lateral no pescoço de cada boneco, o que me diverte. Trinta segundos. Paro em frente aos bonecos e analiso o estrago. Uma contagem rápida me faz perceber que havia vinte e três bonecos ali. Então, em trinta segundos eu poderia matar todos se estes permanecessem imóveis. Me atormenta a imagem de Clove morrendo pelas minhas mãos, embora eu não saiba porquê. Recebo aplausos e elogios e me retiro para o segundo andar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? No próximo cês vão ver a reação do Cato a nota da "brasinha"... HAUHEA