Premonição 6: Inferno escrita por Lerd


Capítulo 6
Tigresa


Notas iniciais do capítulo

Capítulo postado! Espero que gostem! :D Eu revisei ele há bastante tempo, então pode ser que tenha algum erro (mas eu acho que não). Se tiver, por favor me avisem :B



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— Uau. Isso é intenso. — Boo falou, aparentemente chocado.

Por fora Quinn mantinha a expressão de severidade que lhe era característica, mas por dentro ela estava em polvorosa. Tudo o que eles estavam vendo graças às lembranças do corpo daquele rapaz, eram coisas bastante perturbadores. Havia um acidente nas ruínas maias, e depois havia uma lista da morte e dois acidentes horríveis. Não que a doutora Rosetti fosse facilmente impressionável, mas aquele não era o tipo de situação com a qual ela estava acostumada a lidar.

— Chame a doutora Ghosh. A Natalie só pode estar com problemas.

— Sim senhora. — Boo disse, saindo da sala.

Dallas ficou ao lado da mulher em silêncio, sem dizer nada. Quinn olhou para ele e suspirou. Perguntou:

— O que você acha de tudo isso?

O robô ficou levemente surpreendido com a pergunta da cientista, mas respondeu prontamente:

— Eu não acredito que qualquer defeito existente na Natalie possa criar esse tipo de memória. Eu participei de perto da criação dela, a doutora Sierra inclusive usou nela o mesmo tipo de formatação que foi usado em mim. Se Natalie pode ser uma falha... Então eu também posso ser. E eu não acredito que eu seja.

Quinn já esperava aquela resposta. Dallas era sempre franco, independente de qual fosse o caso, e isso era bom ou ruim, dependia da situação. O frustrante era que quando ele discordava dela, as chances de a mulher estar equivocada eram altas.

— Quem foi o responsável pela sua formatação? — A doutora perguntou.

— O doutor Christopher Holt.

— O Samurai? — Quinn se surpreendeu.

— Sim senhora.

O tal Christopher Holt era a pessoa que Quinn Rosetti mais desprezava em toda a Colmeia. O homem se formara na mesma turma da doutora, e os dois foram amigáveis rivais durante muitos anos. Mas então um dia ele desapareceu. Não deixou aviso nenhum, apenas sumiu. Quinn mantinha um projeto em comum com ele, e da noite para o dia viu-se tendo de realizar toda a tarefa sozinha. Ela cumprira o dever que fora designado para ambos, mas jamais perdoou Christopher. Quando o homem voltou, Quinn fez o possível para que ele não conseguisse mais trabalhar na Colmeia, mas não conseguiu. Apesar de ser irresponsável e de não ter qualquer senso de dever, o homem era talentoso, inteligente, engenhoso. Não era de se espantar que fosse ele o responsável pela formatação de Dallas.

— Chame-o aqui e volte com ele. Não importa o que ele esteja fazendo, diga que são ordens.

— Como ordenar. — Dallas confirmou, e saiu.

Em poucos minutos Boo voltara, acompanhado da doutora Sierra Ghosh, a criadora de Natalie. O visual da cientista era bem atípico. Para começar ela tinha um incontável número de tatuagens, embora com seu uniforme poucas ficassem visíveis. Além disso, a mulher tinha dreadlocks vermelhos nos cabelos, e usava sempre uma maquiagem esdrúxula que não ajudava em nada na sua aparência. Sierra tinha olhos grandes e escuros, um nariz fino e comprido, e uma boca fina e severa. Com mais de trinta anos e magérrima, não aparentava ter metade da sabedoria e experiência que tinha.

— Doutora Rosetti. — Sierra disse solenemente.

— Doutora Ghosh. — Quinn respondeu, levantando-se de sua cadeira. Ela cumprimentou a mulher e então falou: — Eu sinto muito por interrompê-la em suas tarefas. De verdade.

Sierra abriu um sorriso.

— Pois não atrapalhou. Na verdade eu estava jogando poker.

Quinn ficou levemente desconcertada, mas então a outra cientista começou a rir. Uma risadinha fina e estridente, que machucava os ouvidos da doutora Rosetti. Em geral Quinn não tinha nada contra Sierra, mas achava estranho o fato de alguém tão exótica como ela possuir tanta experiência. Não parecia certo. Mas o que eu estou dizendo? Uma das mentes mais brilhantes dessa colônia é aquele filho da puta do Samurai, o cara mais desonrado que eu já conheci. Inteligência e experiência nem sempre estão ligadas com valores morais e pessoais.

— Ótimo. — Quinn confirmou. — Então eu me sinto melhor.

— Natalie? — Sierra chamou, ao perceber o rosto da inteligência artificial no telão. — Você está me ouvindo?

A garota no telão abriu os olhos lentamente. Quinn e Boo não perceberam, mas naquele momento Dallas entrou na sala acompanhado de Christopher e de outra garota oriental.

— Mãe? — Natalie falou, sussurrando.

Quinn engoliu em seco. Mãe. A moça chama a sua criadora de mãe. Isso está errado. Nós não podemos criar vínculos emocionais com eles. Boo, Sierra... Eles deveriam saber, é errado. Vai contra tudo que nós trabalhamos.

— Você está bem minha querida? — Sierra perguntou, com uma voz doce.

— Estou sim. — Natalie respondeu. — Apenas cansada.

— Cansada. — A ruiva repetiu. — Tudo bem. Volte a descansar. Nós a chamaremos quando precisarmos de você.

— Como ordenar. — A garotinha repetiu, e voltou a fechar os olhos.

Quinn então se virou e percebeu a presença de Chris.

— Doutor Holt.

O homem deu um sorriso debochado e então respondeu:

— Doutora Rosetti, doutora Ghosh, doutor Murphy... — E então apontou para a garota ao seu lado. — Eu precisei trazer a Chelsea comigo, espero que não tenha problema. Ela é minha pupila, e não está autorizada a ficar na sessão onde trabalho sem supervisão.

— Dallas poderia ter ficado com ela. — Quinn retrucou.

— Doutora. — O robô parecia estar com receio de dizer o que iria dizer. — A senhora me ordenou que voltasse com o doutor Holt.

Quinn não tinha resposta para aquilo. Subitamente ela se sentiu ficando vermelha, e tentou manter a calma. Eles não podem me ver desestabilizada e sem resposta. Eu sou uma mulher séria, uma mulher justa, uma mulher responsável. Controle-se, Quinn.

— Pois bem. Eu chamei todos vocês aqui para tratarmos de Natalie. Há algumas horas atrás os meus homens encontraram este corpo — E Quinn apontou para o corpo do rapaz em cima da mesa. — no planeta Terra, e nós achamos que ele talvez pudesse estar em condições de ser avaliado por Natalie. Só que desde que nós começamos a ver as memórias dele, coisas... Estranhas... Aconteceram.

Enquanto Quinn falava, Yohann entrou sorrateiramente na sala. Ele prostrou-se ao lado da porta e ficou prestando atenção na fala da doutora.

— Coisas estranhas? De que tipo? — Sierra perguntou.

— Coisas estranhas como... Premonições. — Quinn declarou.

A primeira reação percebida foi a de Chris. Ele soltou uma risada sarcástica que invadiu toda a sala. Para Quinn aquilo o deixava ainda mais detestável. O homem era bonito, apesar de tudo, e a cientista com certeza o acharia atraente se não sentisse por ele tanta repulsa. Chris era alto e forte, com músculos bem definidos por debaixo do seu uniforme colante. Descendente de orientais, ele tinha o nariz mediano, uma boca de lábios carnudos e dentes salientes, quase como os de um coelho. O rosto era completado por orelhas deveras grandes, com um par de brincos de brilhante.

— Qual a graça doutor Holt? — Quinn perguntou, deixando transparecer o desprezo em seu tom de voz.

Chris pigarreou e então falou:

— As premonições. Essa é uma parte bastante engraçada para mim. Eu não sei se eu preciso lembrar a doutora, mas...

— Premonições não existem, eu bem sei. — A cientista falou. — Exatamente por isso eu os trouxe aqui. Como o doutor Holt bem fez questão de nos lembrar, premonições não existem. Então só resta uma possibilidade.

— Natalie está com defeito. — Sierra sussurrou para si mesma. E depois disse a todos: — Não pode ser. Ela é à prova de erros.

Quinn então ergueu a mão para falar.

— Com todo o respeito, doutora, nada é à prova de erros.

Sierra parecia ensimesmada, e não deu muita atenção para a fala de Quinn:

— Se Natalie estiver com defeito, então Dallas também estará.

O robô manteve a mesma expressão que tinha antes de mencionarem seu nome, mas Quinn reparou que Boo abalou-se levemente. O rapaz instintivamente tocou a mão de Dallas, e a cientista torceu para ser a única a ter percebido aquilo. Se eles ao menos desconfiarem de alguma coisa o Boo pode ser transferido. Ou, pior: eles podem querer destruir Dallas.

— Vocês dois são os maiores responsáveis por eles. A senhorita, doutora Ghosh, criou Natalie. E o senhor, doutor Holt, é o responsável pela formatação de Dallas. Se existir qualquer defeito em Natalie, vocês saberão.

— Com toda a certeza. — Chris falou. — Então o que a doutora sugere?

Quinn respirou fundo, e então continuo:

— Eu sugiro que vocês se sentem e assistam comigo o que Natalie está nos revelando sobre as memórias desse rapaz. Assim vocês poderão julgar por si mesmos o que há de errado com ela. De acordo?

Sierra meneou a cabeça positivamente e puxou uma cadeira, sentando-se em seguida. Chris puxou uma cadeira para a garota oriental que o acompanhava, e então se sentou em uma ao lado dela. Dallas e Boo acomodaram-se em seguida, e Quinn foi a última. Ela percebeu a presença de Yohann, mas decidiu não questionar. Ele era um leal companheiro, então não haveria porque reprimi-lo por estar claramente curioso.

— Bom, então vamos lá. — Quinn falou, e voltou a acionar Natalie.


x-x-x-x-x

Babe parou a caminhonete na entrada da mansão e suspirou. Disse:

— E se eu disser que não lembro como é o rosto dessa tal de Cherry? Nós devíamos ter trazido o amigo do ruivinho.

— Eu me lembro do rosto dela. — Brody garantiu.

E então todos desceram do carro. Melissa percebeu que Babe vestia um minúsculo short jeans e um par de botas de cano alto. Na parte de cima ela usava um corpete de couro negro amarrado com uma fita vermelha. A ruiva amarrou os cabelos num rabo de cavalo, e então todas as suas tatuagens ficaram visíveis: as do busto, as da coxa, as da nuca. A loira sentiu-se envergonhada pelo seu visual “careta”: um longo vestido azul de pano leve. Nem mesmo um salto ela usava, apenas uma sandália rasteira com diversas miçangas. Babe pareceu ler seus pensamentos:

— Ninguém vai acreditar que você foi convidada para essa festa e esqueceu o convite, princesa. — Brody concordou com a ruiva com um aceno, mas ela logo continuou: — Nem você garanhão. Camisa polo? Sério? Só faltou a gravata borboleta. — E riu. — Vamos dar uma ajeitada nesse visual.

Babe então abriu o porta-malas da caminhonete e começou a vasculhar algumas caixas. Ela então pegou uma peça vermelha e entregou pra Melissa, dizendo:

— É um vestido. Curto, claro. Entra dentro da caminhonete e coloca.

A garota obedeceu a ruiva sem titubear, enquanto Brody mexia impacientemente no relógio em seu braço, temendo o que Babe faria com ele.

— Eu não tenho nada pra você. — A tatuada disse, após um tempo. — Tira a camisa e eu acho que vai servir. Ah, e coloque esses óculos. — A mulher então entregou um par de óculos escuros para Brody.

O rapaz fez o que ela pedia também sem reclamar. Melissa saiu de dentro da caminhonete sentindo-se estranha. O vestido era do tipo bandage, e colava em todo o seu corpo. De qualquer forma era apenas uma espécie de fantasia, e a garota não podia se esquecer do objetivo deles ali.

— Bom, então vamos entrar. — Babe afirmou, e os dois seguiram em direção aos seguranças. Melissa não pôde evitar olhar para Brody sem camisa. Ele não tinha um corpo escultural, mas a garota não se importava com aquilo. Skip fora o rapaz por quem ela mais se sentira atraída, e ele era bastante magro e nada musculoso. O que Brody parecia oferecer ia além do físico. Ele tem paz de espírito.


x-x-x-x-x

— Lista da morte... É um péssimo nome para uma teoria tão interessante. — Marsellus resmungou, tomando sua sétima dose de caipirinha.

Hank irritou-se com a reação do homem:

— É só isso que você tem a dizer depois de tudo o que eu contei? As nossas vidas estão correndo perigo! A garota morreu com um enfeite, por Deus do céu!

O loiro encarou o mágico com severidade por alguns segundos, mas então sorriu. Hank havia perdido o medo do homem após algumas doses de bebida. Enquanto Marsellus entornava um copo após o outro, Hank não havia bebido nada, nem mesmo a primeira dose que pedira. Se as coisas saíssem do controle, o rapaz com certeza sairia em vantagem por estar sóbrio.

— Tudo bem, e se eu acreditar em tudo isso? O que nós vamos fazer? Você tem uma solução pra isso?

O mágico ainda não havia pensado naquela parte da história. Disse:

— Eu não... Tenho uma solução. Mas nós conhecemos duas garotas que já lidaram com isso. Elas vão saber como deter a lista da morte. Elas vão nos ajudar.

Marsellus então concordou com um aceno, visivelmente bêbado. Ao fundo ouvia-se:


You look like an angel

Walk like an angel

Talk like an angel

But I got wise

You're the devil in disguise

Oh yes you are

The devil in disguise

— Eu avisarei a Helena, fique sossegado. Por mais que não... Ah, qual é, você sabe que eu não acreditei em nada disso. Você tem as suas teorias malucas e gente morrendo e... — Marsellus deu um soco de leve no ombro de Hank, e depois o apertou com suas mãos de ferro. — Eu falo com ela.

Isso vai ter de servir, Hank pensou. E então houve um silêncio que fez o rapaz prestar atenção no programa que passava na televisão do bar. A música que ele ouvira anteriormente, Devil In Disguise, do Elvis Presley, viera do programa que estava sendo exibido. Alguns segundos prestando atenção e ele viu que se tratava de um documentário a respeito de uma tragédia no Elvis Camp de mil novecentos e oitenta e três. Uma bonita apresentadora dizia:

Foi nesse exato lugar que o acidente aconteceu, há trinta anos. A vítima, um adolescente de nome Richard Campbell, conhecido pelos amigos como “Ricky”, foi brutalmente decapitado após ser atingido por um disco...

Marsellus interrompeu a concentração de Hank, tocando seu ombro e dizendo:

— Aquela mocinha que está com vocês é muito bonita. Ela é a sua namorada?

Hank chacoalhou a cabeça, procurando manter-se focado na conversa.

— Não, ela é namorada do René.

— Hum, entendi. Ela é muito bonita. Seria uma pena se o seu amigo não tivesse previsto nada e todos vocês morressem naquele desastre. Tão jovens, com a vida inteira pela frente...

Maldito bêbado. Marsellus então esticou a mão e tocou a coxa de Hank. O rapaz mexeu-se um pouco na cadeira, se afastando, e disse:

— Na verdade a Jill não morreria no acidente, o René me contou. Apenas nós. Ele disse que na visão a Jill sairia viva.

Marsellus riu, e comentou:

— Bom, bom. Isso é muito bom. Então isso significa que ela não está na lista da morte?

— Sim. — Hank concordou.

O homem então o fitou seriamente por vários segundos, e Hank tentou não desviar o olhar. Ele precisava fazer Marsellus entender que aquilo não era uma brincadeira ou um jogo, e que a vida deles estava correndo risco. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Marsellus fechou os olhos e caiu, derrubando o copo que estava em sua mão.

— Oh, só faltava essa.

Hank abaixou-se perto do homem e constatou que ele havia desmaiado após beber demais. Marsellus caíra em cima do copo, e seu braço sofrera um leve corte por onde escorria um filete de sangue. O mágico pediu a ajuda de um garçom e os dois começaram a levar o homem para o seu quarto. Se Helena estiver lá eu já a aviso. Esse pateta pode não ter dado bola, mas aquela mulher é sensata. Ela vai me ouvir.

x-x-x-x-x

Passar pelos seguranças foi a parte fácil. Babe tinha o dom natural de convencer as pessoas, e bastaram apenas algumas palavras doces para que eles pudessem entrar na festa. Melissa continuava inquieta, puxando constantemente o vestido para baixo.

A mansão de Falcon era impressionante. Enorme, com três gigantescas piscinas no quintal. Havia mais de quinhentas pessoas ali, quase todas bonitas e saradas. As mulheres nadavam nas piscinas com biquínis minúsculos, enquanto homens tomavam drinks e riam. Havia uma música tocando muito alto, e várias pessoas dançavam.

— Vai ser mais difícil do que imaginei para encontrarmos a garota. — Babe comentou.

E seria. Brody mesmo já não tinha tanta certeza se a reconheceria. Ela era loira e tinha cabelos cacheados, mas aquela mesma descrição poderia valer para umas cinquenta garotas naquela festa.

— Isso só pode ser brincadeira. — Melissa comentou, tapando a boca e chocada com o que viu.

No começo Brody pensou que deveria ser algum exagero de Melissa. Pensou que ela pudesse estar chocada com algum ato libidinoso ou algo do tipo. Jamais passou pela sua cabeça que o motivo fosse aquele. Quando os olhos do rapaz se encontraram com os olhos da criatura, ele congelou. O bicho era enorme, e parecia ainda mais feroz enjaulado.

Um tigre.

A festa de Falcon tinha um tigre. Ao que tudo indicava aquele era o bicho de estimação do milionário. Um animal exótico para um homem excêntrico. Brody subitamente lembrou-se do filme The Hangover, em que Mike Tyson tinha um tigre de estimação. Que comparação mais estúpida, Brody.

— Puta que pariu. — Babe exclamou.

O bicho estava preso em uma jaula no meio do gramado. Pessoas passavam ao seu redor e ficam observando-o, mas o animal raramente fazia algum barulho ou sem mexia. E isso deixava Brody ainda mais inquieto. Ele sabia, por experiência com pessoas, que guardar raiva poderia ser fatal. Se o tigre estava aborrecido e não demonstrava, poderia ser desastroso quando ele tivesse uma oportunidade de extravazar.

— Bom, parece que é óbvio que esse bicho vai causar a morte de Amanda. Não precisa ser um gênio para perceber que um maldito de um tigre é ideal para termos uma morte bizarra, digna da lista da morte. — Babe falou, e Melissa concordou. — Vamos nos dividir. Melissa, você vai atrás do dono da casa, ou de alguma pessoa que possa saber onde podemos encontrar a Amanda. Fale de preferência com os homens, eles podem te dar informações mais facilmente. Eu farei o mesmo. Brody, você é o único que se lembra da garota, então vai atrás dela. Tudo bem? Nós nos encontramos aqui nesse lugar em quinze minutos, com ou sem Amanda.

Os outros dois concordaram e os três se separaram.


x-x-x-x-x

Pam estava parada em frente à René, que, de olhos fechados, mantinha a expressão de impaciência.

— Não está funcionando.

— Você precisa se esforçar mais.

— Eu estou me esforçando.

— Não, você não está! — A mulher exclamou frustrada, e o rapaz abriu os olhos. Ele estava realmente surpreso com a reação de Pam. — Eu sei que você não pediu por nada disso, René. Eu sei que isso é uma maldição. Eu vi como isso destruiu Adrian. Mas você pode ter um destino diferente. Você pode e, se depender de mim, você vai! Eu não estou disposta a deixar essa maldita lista da morte vencer de novo! — A mulher terminou sua frase completamente vermelha.

René não sabia o que fazer ou o que dizer. Deveria pedir desculpas, agradecer, voltar a tentar lembrar-se da sua visão...? Felizmente ele não precisou fazer nada disso, pois Pam falou:

— Fecha os olhos e tenta se lembrar daquele dia. Você estava lá para entregar a figurinha de beisebol para o Aaron. O que aconteceu depois?

Antes que o rapaz pudesse dizer qualquer coisa, Pam sentiu um arrepio. Alguma coisa passou através dela na forma de uma onda de eletricidade que percorreu o seu corpo. Adrian, ela soube de imediato. E então René também pareceu sentir a onda de eletricidade, e exclamou aparentemente em transe:

— Está caindo na encosta! As ruínas estão caindo.

E então o rapaz pegou uma caneta que estava ao seu lado e começou a desenhar no carpete. Primeiro eram rabiscos estranhos, mas então Pam conseguiu reconhecer letras, e depois palavras. Eram descrições, não exatamente nomes. René escreveu: tatuada, dreadlocks, boné. Em seguida ele escreveu: vestido branco, homem mau. Depois: camisa polo, Hank. E por último: eu.

René abriu os olhos lentamente. Ele tentou balbuciar alguma palavra, mas não conseguiu. A mulher então se pôs a avaliar a lista.

Os três primeiros eram claramente Babe, Quentin e Zane. Em seguida vinha o casal, a mulher de vestido branco e o homem que atacara René. Pam tremeu quando leu a descrição seguinte. Camisa polo. Brody. Depois de seu filho vinha Hank, e por último o próprio visionário, como era de praxe.

— Você conseguiu. — Pam disse, e abraçou René.

O rapaz desfez-se do abraço com certa rapidez. Pam interpretou como uma atitude rude, mas logo quando ele voltou a escrever no carpete, a mulher entendeu. Dessa vez era um desenho. René riscava o chão de maneira ritmada, e algumas vezes expressava alguns grunhidos de insatisfação, como se não quisesse estar fazendo aquilo. Quando ele terminou o desenho, era clara a imagem de um felino.

— Um gato...?! — A mulher estranhou. Mas René sabia exatamente o que aquilo era.

Um tigre.

x-x-x-x-x

Amanda estava com o microfone à sua frente. As pessoas passavam ao seu redor, e várias delas resolviam parar para ver como seria a performance da garota. Ela gostava daquilo, do público. Era aquilo que ela queria fazer da sua vida, e era aquilo que faria assim que o seu último trabalho estivesse finalizado. Um último sacrifício para garantir o resto da minha vida...

A banda então começou a tocar. Aquela música era dedicada ao rapaz mais doce que ela conhecera, e que, ela esperava, ainda estaria ali para ela quando tudo estivesse terminado. Ele pode ser o cara certo. Depois que tudo isso acabar, ele pode ser o cara ideal para mim. Um namorado doce, gentil, meigo. É tudo o que eu preciso. Hank.

Amanda cantou:

At last my love has come along… My lonely days are over… And life is like a song…

A música e a bela garota cantando chamaram a atenção de Melissa. Loira, de cabelos cacheados. Tem que ser ela. A garota então correu até próximo do palco, mas antes que ela pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, percebeu a reação em cadeia que estava acontecendo.

Amanda, no palco de olhos fechados, sem ter noção do que acontecia ao seu redor. Um homem praguejando, e caindo no chão com a força do impacto do tigre abrindo a jaula. Pessoas gritando e correndo, desesperadas. Melissa não podia ficar parada vendo aquilo acontecer.

— Ajudem! — Ela gritava, sem que ninguém desse importância. Todos queriam salvar a própria pele.

E então ela viu Brody. O rapaz gritava com um homem, querendo saber sobre alguma arma de fogo. Babe não estava em seu campo de visão. Melissa gritou:

— Amanda!

A garota não ouviu. Cantava, alheia a tudo, sem nem perceber que a banda parara de tocar:

And here we are in heaven… For you are mine at last…

E então com um salto o tigre foi parar no meio do palco. Amanda soltou um arfar, agoniada, e Melissa virou o rosto, gritando alto. Ela não conseguiria ver a cena que se seguiria, e sentia-se a pessoa mais inútil do mundo por não conseguir salvar a garota. Me perdoa, me perdoa, me perdoa...

O tigre caiu em cima de Amanda com força. A garota se debatia, e ao perceber o que estava acontecendo, já era tarde demais. O animal colocou o focinho em sua barriga, e inicialmente parecia que ele estava apenas farejando-a. Mas então os movimentos tornaram-se mais intensos, e a garota sentiu a barriga queimando, em chamas. E então doeu a pior dor do mundo.

E Amanda gritou o mais alto que pôde.

Tiros foram ouvidos. Um homem negro atirava no tigre com uma espingarda, com Brody ao seu lado. O rapaz estava estático, de olhos arregalados, enquanto o atirador fazia o melhor que podia.

O tigre rugiu com o primeiro tiro. Ergueu a cabeça por breves segundos, e Brody pôs ver seus dentes ensanguentados. Ele sabia que já era tarde demais, mas o homem não parou de atirar enquanto a fera não caiu estirada no chão, com diversos buracos de tiro nas costas.

O corpo de Amanda estava destruído. A barriga fora completamente aberta, e as tripas estavam para fora. Se o tigre tivesse tido um pouco mais tempo para devorá-la, ele teria divido-a ao meio. O rosto da garota estava com os olhos abertos, e algum sangue saía de sua boca, misturando-se ao batom vermelho sangue. Sua face estava intacta, bela como sempre. Melissa viu a cena por poucos segundos, e vomitou.

Babe estava sentada no chão, chorando. Brody manteve-se ao lado do atirador por algum tempo, mas então saiu correndo dali. Ele não aguentaria olhar para aquela cena por mais tempo. Em seu íntimo ele sabia que jamais conseguiria esquecer a atrocidade que havia visto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D Foi bem intenso, right? O cap. 7 pode demorar um pouco, já que eu ainda não comecei a escrever. E ACHO que ele vai ter morte também! Mas prometo me esforçar pra que saia rápido :B Abração!
E ah! Uma última coisa: a Amanda estava na festa de Falcon para eles conversarem sobre o "último trabalho" dela. Daí como ela gosta de cantar e havia público, ela cantou. O último trabalho seria um filme mesmo, mas eu não vi necessidade em me aprofundar nisso, já que seria algo que não aconteceria (porque ela morreria, claro). ^^