Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 4
Senhora dos Ventos




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Com o passar do tempo, começei a me interessar pelos navios que passavam, ou melhor, pelos marinheiros dentro deles. A curiosidade me arrebatava de maneira tal, que não resistia em subir a superfície para ouvi-los. Na maioria da vezes, nem os via, mas sabia quantos eram apenas pelas vozes dentro da embarcação. Os membros da minha espécie, tem uma audição muito aguçada. Afinal, ouvimos a comunicação entre baleias e golfinhos, o que é bem útil na época das migrações. Nadamos junto com eles para evitar predadores maiores e poder proteger o clã com mais facilidade.

Mas eu estando por minha conta, aproveitava essa habilidade para espionar os tripulantes. Era divertido vê-los tentar pescar algo. Jogavam suas iscas do convés dos navios para tentar a sorte quando as provisões começavam a escassear. Porém com suas vozes altas, nenhum dos peixes se aproximava, pelo visto, até o tom baixo de voz deles, era alto para nós, que podíamos ouvir com clareza debaixo d água. As vezes eu ajudava, prendendo os peixes no anzol. Ria do jeito que eles comemoravam quando pegavam algo, mesmo que não fosse um muito grande, sempre havia uma pequena balbúrdia quando a linha era puxada para fora da água.

Havia uma embarcação que eu mais gostava dentre as outras. Sua figura de prôa era a imagem de uma mulher de vestido longo entalhada em madeira, chorando com as mãos no rosto. O navio tinha mastros altos e velas brancas, que refletiam a luz do sol. O nome pintado na popa era “Senhora dos Ventos”, e a embarcação podia chegar a uma velocidade considerável quando o vento estava a favor, porém naquela tarde, o azar estava ao lado deles. Uma calmaria fazia o navio se deslocar lentamente, e a pouca brisa que tinha, estava contra as velas.

Eu estava descansando sobre um tapete de algas que crescia sobre os corais. A correnteza embaixo d água estava pouca, e eu quase adormecia. O navio estava sobre mim, a uns quatro metros e meio, fazendo sombra, o que deixava o ambiente agradável. Quase adormecia, quando ouvi um barulho forte, mais parecido com uma explosão, seguido de outra, vindo da superfície. Olhei para ver do que se tratava, e o que vi primeiramente, foi descer ao fundo destroços do lado esquerdo do “Senhora dos Ventos”. Logo assustei-me, voltando o olhar com mais atenção. Agora o navio estava desparando seus canhões contra algo. O barulho era alto, e a confusão fora da água parecia ser séria. Foi quando percebi uma outra silhueta escura mais adiante, era outra embarcação. Eles haviam aberto fogo contra os marinheiros do “Senhora dos Ventos”, mas por quê?. O navio desconhecido, estava a favor do pouco vento que tinha, e estava na vantagem, atirando com os canhões e abalrroando o “Senhora”, que não tinha muito a fazer, além de responder ao fogo da maneira que podia.

Quando os navios se emparelharam, acreditei ser o fim da embarcação que eu gostava, porém o silêncio se fez em seguida, e nem mais um tiro de canhão foi disparado. Imaginei que eles haviam se rendido. Podia ouvir a carga valiosa sendo passada para o navio inimigo. Eles estavam roubando. Foi então que minha fixa caiu, eram piratas. Minha irmã mais velha, havia me contado várias histórias sobre eles. Lika era fascinada pelas maldades daqueles homens, no fundo eu nunca soube o porquê.

Subi lentamente a superfície para não ser vista, e me apoiei no casco do “Senhora dos ventos” que precariamente continuava a flutuar. Olhei o outro navio, ele era maior, com velas remendadas sem nenhum capricho, tinha muitos canhões e homens á bordo, todos com espadas, cutelos e armas de fogo na cintura e em mãos. Uma bandeira negra tremulava no alto do mastro.

Acompanhava tudo atentamente. Após passarem toda carga de valor para seu navio, eles deixaram o “Senhora” do jeito que estava. Acreditei que havia acabado, foi quando ouvi a ordem para atirar. Olhei para o navio pirata, e pude ver a boca dos canhões miradas no paiol de pólvora da sua vítima. Rapidamente mergulhei, nadando o mais rápido que podia para longe. Alguns segundos depois, a embarcação toda explodiu, indo ao fundo mastros, velas e homens. Fiquei atordoada com o barulho, porém não me machuquei, saíra de lá bem a tempo.

O sangue quente manchava a água, homens morriam afogados, presos embaixo dos destroços. O resto do navio que permanecera, afundava lentamente. Queria ajuda-los, mas era arriscado. Minha mãe dizia que mesmo que eu salvasse a vida de um marinheiro, ele não faria a mesma coisa por mim, pelo contrário, me mataria se tivesse a chance de fazê-lo. Sempre achei bobagem aquilo, mas não fui capaz de ir contra, seria tolice me arriscar. Portanto, apenas me virei, e nadei para longe.


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