Quando acordei na manhã seguinte, incomodada com a luz do sol batendo em meu rosto, logo percebi o casaco de Jasper que me cobria.

-Você parecia com frio ontem a noite... –ele comentou ao me ver despertar

-Sinto frio quando fico muito tempo fora d água –comentei, erguendo o corpo –Bom dia, rapazes –desejei-lhes, vendo que já haviam acordado.

-Bom dia, Solara –disse Lucius, seguido pelos demais.

-Pelo visto, teremos mais um dia no paraíso...-disse Richard irônico, olhando para o horizonte vazio

-Acho melhor eu ir novamente atrás de um navio...-disse, tirando o casaco que me cobria e devolvendo-o ao Jasper –Obrigada –agradeci sorrindo, entregando-o em suas mãos

-Não foi nada –ele disse pegando-o, e pude notar Lucius  fitar o amigo sorrindo com um olhar cúmplice.

-Nós não ganhamos nem um café da manhã, Solara ?-Thomas perguntou-me decepcionado

-Isso são modos homem ?! –Antonny o repreendeu –Ela é uma sereia, não uma garçonete.

-Apenas ignore os maus modos dele...-Lucius disse para mim

-Ora, mas eu tô com fome...-Thomas insistiu, fitando os companheiros

-Não se preocupe, eu vou ver o que posso conseguir –disse rindo

-Não se incomode com isso, esse aí está sempre com fome...-disse Jasper

-Sermos resgatados é que é a prioridade agora –disse Richard

-Pois bem, -concordei, aproximando-me da beirada do bote –Voltarei assim que der.

-Espere, Solara –disse Thomas tomando a palavra.

-Se for para encher a paciência dela sobre café da manhã novamente, juro que irá levar um tiro! –disse Richard impaciente

-Não, não é isso. –ele negou, olhando feio para o capitão –É aquilo –o imediato apontou para um ponto no horizonte.

Todos olhamos na direção indicada, nos surpreendendo ao ver ao longe um ponto verde no horizonte.

-É terra ! –anunciou Jasper animado

-Começem a remar !- Richard ordenou

Os piratas tiraram os remos da posição que estavam, desmanchando o toldo que fazia sombra, no intuito de poderem acelerar o bote e direcioná-lo rumo a ilha. Colocaram ambos os remos na posição correta, começando a remar em direção a terra.

-Eu os ajudarei –afirmei, mergulhando na água em seguida e me posicionando atrás do bote onde começei a nadar, batendo minha cauda o mais forte que podia, ajudando a impulsioná-lo para frente.

Quando finalmente nos aproximamos, após horas de esforço, pudemos ver a areia branca da praia e ouvir o som das ondas se quebrando nela. Aquilo soava como música para os homens, que estavam exaustos, porém aliviados. Para mim, aquilo também acabara se tornando uma visão acalentadora.

Quanto mais adentrávamos na pequena enseada, podíamos ver os recifes de corais e os peixes multicoloridos na água cristalina abaixo de nós. Mais para o interior da ilha, podia-se ver árvores altas e aves de todos os tipos voando entre elas. Devo admitir que aquela visão conseguia renovar a esperança dentro do coração dos homens, sei disso, pois ela conseguiu renovar também a minha, que nem era ao menos uma habitante de terra.

No momento em que o casco do bote bateu na areia, os homens rapidamente saíram dele e sentaram-se exaustos na praia, olhando em volta o ambiente. Já eu, cansada de nadar e com minha cauda doendo pelo ritmo acelerado em que íamos, me deixei levar pela marola de encontro a areia clara, deitando-me por fim de bruços á beira mar, onde a água translúcida ia e voltava em um ritmo calmo, brincando com as mechas do meu cabelo longo, que caía sobre minhas costas.

Recuperava meu fôlego, enquanto ouvia o movimento das ondas, que me transmitiam uma tranquilidade que poucas vezes senti em minha vida.

-Você está bem ? –Jasper perguntou-me, se aproximando e fitando-me com olhos sorridentes, enquanto os demais piratas adentravam mais na ilha em busca de algum sinal de pessoas.

-Estou ótima –sorri para ele, que olhava minha cauda que reluzia a luz do sol

-Sei que da última vez você me mandou ir acariciar um atum quando eu lhe pedi isso, -começou ele –Mas sinceramente, acho que um atum não se compararia a você...

-Jura ? Essa foi a coisa mais linda que você já me disse...-respondi brincalhona, apoiando-me nos antebraços.

-Sim, e portanto, desta vez irei fazer algo melhor do que pegar uma vara para tentar pescar um...-Jasper abaixou-se próximo a mim

-O que pensa que está fazendo ?-perguntei sorrindo provocadora, vendo-o aproximar sua mão da minha cauda.

-Ora, eu quase morri em alto mar, mereço um prêmio de consolação por ter conseguido chegar vivo á praia... – ele comentou com um sorriso vitorioso

-E por que eu haveria de permitir ? –indaguei desafiadora, segurando seu pulso

-Por que geralmente quando um marinheiro chega de alto mar são e salvo, ele é recebido por uma bela moça em terra, que fica extremamente feliz de o ver com vida... –ele explicou

-Tá, e o que isso tem a ver com a minha cauda ? –perguntei confusa

-Eu já ia chegar lá, o fato é que se elas tivessem uma cauda com certeza permitiriam ele tocá-la

-Se você não notou, eu não sou como as outras moças a qual está acostumado...-comentei sorrindo, olhando de relance para onde deviam estar minhas pernas.

-Acredite, não queira ser como elas...-ele comentou

-Por que não ? –perguntei curiosa

-Pois a maioria delas só trazem problemas

-Mas pelo menos, elas tem pernas...

-É exatamente esta a fonte dos problemas. –Jasper disse, antes de completar; -Quer um conselho? seja quem você é, não vale a pena ficar diminuindo suas qualidades

-Está dizendo isso para alguém que parece uma sardinha da cintura para baixo. Acredite; se tivesse um problema em aceitar como sou, já teria virado comida de tubarão...

-Sabe, eu adoro sardinhas...-ele comentou, fazendo-me rir –Estou falando sério, são deliciosas...

-Ah, obrigada –disse irônica –É um grande consolo saber disso –ri

-Para algumas mulheres em terra, isso seria um grande elogio...-o pirata comentou

-Já com sereias, se disser isso, terá que se entender com o parceiro dela- falei fitando-o

-Que eu saiba, você não tem um...

-Talvez eu tenha...-menti

-Ok...então que ele venha me pegar !- exclamou Jasper rindo, antes de passar a mão sobre minhas escamas rapidamente e correr para longe da água.

-Volte aqui ! –exclamei, fingindo revolta –Ah, estará em maus lençóis quando se aproximar novamente do mar, estou falando sério ! –disse rindo enquanto tentava acertá-lo com algumas conchas que estavam na areia próximas a mim.