Ash cresceu em Miami ouvindo a mãe dizer que o pai era um ser celestial, um mensageiro de Deus cheio de luz. Tendo tantos deveres angelicais ele não podia ser um pai presente.

Pelo menos era o que Katniss achava.

Ash cresceu com muitos problemas, que a principio pareciam ser de saúde. Fortíssimas enxaquecas, dores insuportáveis nos ossos e desenvolvimento super rápido do corpo. Isso o afastava das outras crianças que o excluíam por ele ser tão diferente. Aos cinco anos ele tinha a aparência de uma criança de dez.

Com o passar do tempo ele percebeu que as enxaquecas se davam por conta dos pensamentos das pessoas a sua volta que ele ouvia incessantemente em sua cabeça. Sempre que ia a igreja com a mãe ele fazia sempre o mesmo pedido em forma de súplice silenciosa “Quero ser normal!”

Aos nove anos, Ash teve sua primeira perda. Em um acidente de carro perdera seu primo e melhor amigo desde que se conhecia por gente, Michel. Michel ficou em côma por um mês, mês esse que fora regado a choro e tristeza. Morreu logo em seguida.

Ash não teve nem um arranhão.

O sofrimento fora imenso, e sua cabecinha de criança não conseguia entender, seu sentimento era de repugnância de si mesmo. Estava desorientado e confuso. Foi então que Katniss lhe explicara que sendo filho de um anjo caído e uma humana, ele era um nefilin. Invulnerável, poderoso. Imortal.

Ela dizia para o filho que ele nascera com um propósito maior, que Deus tinha um projeto pelo qual ele seria vital. Que assim ele seria mais parecido com o pai. Isso fazia com que ele sentisse certa admiração pelo pai, por mais que não acreditasse no que a mãe lhe contava.

Sua próxima perda fora aos onze anos. Em comemoração ao seu décimo primeiro ano de vida, Ash fora com os novos amigos da cidade a qual se mudaram recentemente ao parque local. Quando chega em casa, exausto e pela primeira vez em sua vida feliz, entra no quarto da mãe se depara com uma cena assustadora. Katniss deitada na cama com os olhos fechados e a expressão serena. Poderia estar dormindo, se não fosse pelo tiro em sua testa.

O comportamento de Katniss em seus últimos dias de vida foram muito angustiosos. Ash nunca entendeu porque ela largara o emprego em Miami sem mais nem menos e viajou com ele até Coldwater. Ali eles não tinham nada, família amigos nada.

O caso fora considerado suicídio, pois a arma do crime estava ao seu lado. Mas Ash sabia que ela nunca faria isso, dissessem o que dissessem ele sabia que fora assassinada.

Com sua morte ele deveria ter sido levado para um orfanato, visto que seu pai nunca dera seu nome a ele, portanto não respondia por sua paternidade. É então que ele foge para Springvale, onde acaba se integrando a uma ganguinha de ladrões baratos.

Ele nunca esperou que um dia fosse conhecê-lo, mas uma noite ele aparece de surpresa, sem aviso, sem convite. Seu pai.

Ele não tinha nada de iluminado.

É com crueldade que ele despeja para o garoto que tem planos para ele no futuro. Quando ele completasse dezesseis anos de idade, viria buscá-lo. Deixou claro que se Ash fugisse ou se escondesse seria inútil, pois ele o caçaria aonde quer que ele fosse. Todos que tentavam atrapalhar seus planos tinham o mesmo destino que a mãe tivera.

É então que ele percebe. Foi ele! Seu próprio pai matara sua mãe.

Ash se sente traído. Pelo pai, pela mãe que enchera sua cabeça de fantasias e pelo destino. Passou a odiar o que era por natureza. Muitos vieram tentar convencê-lo a viajar e se juntar aos da sua raça. Porem ele sabia que aquela dádiva era também sua maldição.

Deus fora injusto com ele. Ele era filho de um anjo e nunca se sentiu protegido por um anjo da guarda. Ele tinha ódio de tudo e de todos. Ele queria alguém que o amasse como sua mão o amou e que não mentisse para ele como sua mãe mentira.

A única coisa que mais desejava em sua vida, com todas as forças do seu ser era que as balas que disparava em sua boca fizessem seu coração parar de bater.