Sentei na beira do mar e desabei. Eu não fico brava por ele querer ler meu diário. Eu até teria deixado se ele me pedisse (talvez), mas ele preferiu fazer escondido. E o pior de tudo: ele ROUBOU meu diário. Isso é o que mais machuca. Eu o amo. Amo muito. Mas o que ele irá dizer? Qual desculpa vai inventar? E eu, será que vou perdoar? Ou melhor, será que vou ouvi-lo? Tem muitas perguntas aqui dentro de mim, e parece que não há nenhuma resposta. Chorar parece o melhor a ser feito. Acho que aquele choro nem ela pelo diário ou pela privacidade. Era pela desilusão. Primeiro eu perdi a mamãe, depois papai foi embora e me restou apenas as minhas irmãs. Mas, depois de tudo isso, não somos muito unidas. Com a Lorena até tenho proximidade, mas a Jéssica se revoltou depois de tudo isso, e não vive a vida da melhor maneira possível. Aí, me aparece o Justin, pra me salvar de tudo aquilo. Nunca me iludi tanto, mas também, nunca fui tão feliz. É. Estou perdida. E para piorar, Justin vem aí.

– Manu? Manu? Olha pra mim!

Justin não ia me ver chorando, nunca! Sequei as lágrimas, levantei a cabeça e no tom mais arrogante do mundo eu respondi:

– Oi, fala! O que você quer, querido?

– Vai me tratar assim? Deixa eu pelo menos explicar, prometo que vai valer a pena me escutar. Por favor!

Tá, e agora? O que você faz, Manoela? Mesmo estando puta com ele, você não é capaz de negar nada quando olha nos olhos perfeitos deles. É, você merece se foder. Mas ok, respira.

– Não sei, Justin. Por que eu deveria te dar uma chance de explicar? Mas, tudo bem. Fala! Você tem um minuto.

Ele respirou fundo e começou. Eu sabia que aquele seria o momento mais longo e mais mentiroso da minhda vida, devido a tudo que ele iria me falar, todas as mentiras, mas ouvir é o que eu tinha a fazer.

– Olha, Manoela, eu entendo o que você está sentindo, mas.

– Justin, vai tomar no cu! Ser fofo agora não adianta mais. Se quer contar, se explicar, seja o que for, fala logo, porra! Não enrola não, não gosto disso e tu sabe bem.

– Então tá, porra. Eu peguei aquele diário pra saber da sua vida, pra saber de você. Poxa, Manu, você nunca me contou nada da sua vida. O pouco que sei tive que descobrir sozinho, perguntando para algumas pessoas. E isso não é legal. Não é justamente porque eu te amo. Eu quero dividir minha vida com você, mas você não divide nem seu passado comigo. Assim não dá! Eu só tinha duas opções.

– Quais?

– Roubar ou macumba hahahah

– Cala a boca! Devia ter ido na macumba, então. Eu estaria mais contente agora. Mas, se fez isso com tão bom coração, por que não me pediu? Eu te daria meu diário, eu diria tudo o que você quisesse saber. Mas, roubar?

– Se eu pedisse e perguntasse, você teria dito tudo?

– Sim, Justin!

Estávamos mais calmos, então, ele foi se aproximando.

– Sério? É que... Ai, Manoela, você é a pessoa mais fechada do mundo, eu nunca fui assim, por isso era tão difícil de entender, de aceitar. Falei de você com vários dos teus amigos e ninguém sabia da sua vida.

– A Bia sabe.

– E você acha mesmo que ela me contaria?

– Não importa. Era pra mim que você tinha que perguntar, e não vou desculpar isso!

– Mas... Calma! Tenta me entender. Eu te contei tudo da minha vida, tudo mesmo! E você? Nunca me disse nada. Isso parece até falta de confiança, Manoela.

Tá, agora ele tinha razão.

– Mas eu confio em você, mesmo você sendo um idiota.

– Mas ainda sou o seu idiota, né?

Manoela morrendo em 3, 2, 1..

– Cala a boca. Vai explicar ou não?

– Ok. Foi apenas por isso: descobrir sobre você. Eu ia devolver seu diário.

– Mas por que tanto interesse?

– Porque sim, oras. Eu já disse! Era difícil me acostumar com aquele seu jeito fechado, precisava descobrir os motivos de tudo aquilo.

– Era difícil? Não é mais?

– Não. Agora eu pude ver por tudo o que você já passou, o quanto essas coisas devem ter sido difíceis. E quer a verdade? Isso só me faz te amar ainda mais. Sua mãe morreu, Manoela. E, apesar de tudo, você continua aqui, linda, sorrindo. Eu não seria forte como você foi, e admiro demais tudo isso. É sério. E seu pai? Ele te deixou naquele internato, e nem por isso você o odeia, você quer que ele volte. Olha isso. Você é perfeita. E eu te amo. Me desculpa se esse "roubo" te causou tão mal. A intenção disso tudo era o contrário. Era te conhecer melhor, te entender para te fazer bem! Me perdoa, amor, por favor.

Lembra de quando eu disse "Justin nunca me verá chorar"? Pois então, esqueçam isso. Comecei chorar feito louca.

– Justin...

As palavras não saíam, por mais que eu tentasse. Ele fez o que melhor podia fazer naquele momento: não falou nenhuma palavra e me abraçou forte. Aí eu chorei mais ainda.

– Calma, Manoela. Já está tudo bem, e agora eu vou entender se não quiser falar disso. Mais tarde conversamos, ou você me conta quando estiver pronta. Não precisa ser hoje, nem amanhã. Relaxa! E quanto ao diário, me perdoa, por favor.

– Sim, Justin. Tá perdoado. Mas, vamos evitar esses assuntos. Não quero falar do meu passado, e agora não tem mais necessidade, pois você já sabe dele. Não há mais o que conversar. E te prometo, que a partir de hoje vou contar tudo pra você. Tá bom?

– Tá... Tá bom! Agora faz um favor?

– Fala.

– Me beija.

E quando eu acho que está tudo resolvido, que um beijo marca o final feliz, lá vem o Bieber:

– Só tem mais uma coisinha, meu amor.

– Ah, não, Justin! O que mais você roubou?

– Seu coração?

– Fala logo, caralho!

– Como você é fofa, amor. É sobre o seu pai.

– O que tem ele? Eu já disse que não quero falar sobre isso.

– Não precisa falar. É que quando eu li tudo, e vi o quanto você queria reencontrá-lo, pedi à umas pessoas que trabalham com meu pai para achá-lo.

– EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO!

– Tá, olha... Sei que você tá brava, mas não precisamos brigar!

– Eu não to brava, seu burro. Eu to feliz! Obrigada! Obrigada! Mas, e aí? O que descobriram?

– Sério? Então, eu consegui o endereço dele. Se quiser, podemos ir amanhã.

– Não dá pra ser hoje?

– Como, Manu? Hoje voltaremos pra escola. Aí você descansa e amanhã bem cedo eu te levo.

– Você dirige? Hum, passei a te amar mais agora, hahaha

– Boba.

– Só um pouco. Mas, combinado! Amanhã vamos. E...

– O que?

– Eu te amo, Bieber!

Nos abraçamos e fomos para o ônibus que já estava a caminho da escola. Após passar aquela bagunça comum de viagem, Justin me abraçou, apoiou a cabeça no meu ombro e dormiu. Começou a chover, o caminho seria longo. Mas eu não conseguia dormir. Só consigo pensar em uma coisa: amanhã, depois de tanto tempo, verei meu pai.