Skyscraper escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 8
"The rise"


Notas iniciais do capítulo

"A ascensão"



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É no terceiro dia de treinamento que nos chamam para a sessão particular com os Idealizadores. É quando recebemos nossas notas, que não são exatamente significantes quando pequenas. Obviamente, Carreiristas não chegam a tirar notas abaixo de oito, mas não creio que seja a coisa mais fácil do mundo impressioná-los. Quero dizer, muitos deles já estão lá há anos; já lidaram com praticamente todos os tipos de tributos, dos mais desesperados ou loucos aos mais sanguinários. E, ainda que saber lidar com armas me dê uma boa vantagem, não sou idiota o bastante para confiar cegamente nessa habilidade.

Quando chamam meu nome, apenas me levanto e caminho em direção ao ginásio. Posso sentir olhares curiosos queimando em minhas costas, mas não sei se são de Clove, ou qualquer outro. Talvez a Garota Em Chamas, talvez o garoto do Distrito 11, que negou nosso convite para se unir aos Carreiristas; ou até mesmo o outro “canário” de seu Distrito, a menininha.  Não me distraio tentando imaginar o que cada um deles está pensando, mas, por um momento, me ocorre que seria interessante ser um telepata, e poder descobrir as estratégias de cada um.

É um devaneio idiota o suficiente para me fazer sorrir enquanto entro no local, porém, nem mesmo isso é capaz de inibir o estranho calafrio que me percorre no exato momento em que me dou conta de que a atenção dos Idealizadores está voltada para mim. Alguns, bebericando vinho; outros, simplesmente me observando com alguma cautela.

Observo o vasto repertório de armas bélicas espalhadas, e, por um segundo, ao fitar minha imagem refletida em algumas delas, pergunto-me se aquele sou eu mesmo. Pálido, de olhos arregalados, com a expressão de alguém que acaba de ver um cadáver. De repente, noto que não seria surpresa alguma se, ao tentar andar até elas, eu pudesse tropeçar ou...

Foco, Cato. Foco.

Balancei a cabeça com convicção, me impedindo de prosseguir com o pensamento estúpido. Então, lentamente, me dirigi às espadas e lanças. Dentro de minha mente, quase podia ouvir a voz de Clove, murmurando, provocando, me incitando a fazer o melhor que pudesse.

Vamos lá.” ela dizia, bem ao meu lado. “Me mostre o que pode fazer, campeão.”

A última palavra, em sua boca, sempre tinha uma entonação diferente, puxada para o sarcasmo, como se Clove duvidasse seriamente de minha capacidade. Então, testo o peso das armas em minhas mãos, calculando mentalmente a força que precisaria exercer para alcançar o alvo. São tão fáceis de manipular quanto quaisquer outras do meu Distrito, mas existe algo de errado, e posso sentir. São mais pesadas. Algumas têm formato um pouco estranho. Provavelmente, se as lançasse, minha mira não seria perfeita.

Por um momento, me pergunto se serão armas como essas, que estarão na Cornucópia quando os Jogos começarem. Então, quase sorrio. Um espetáculo sangrento é o que eles querem. Um espetáculo sangrento é o que terão.

Escolho uma espada que em muito me lembra a que usava no Distrito Dois. Então, observo os bonecos espalhados, e tento me livrar de meus pensamentos. Apenas agir, impulsivamente, é meu pior defeito e, ao mesmo tempo, minha qualidade. Eu não preciso, necessariamente, criar uma estratégia. Isso é trabalho de Clove. Por um segundo, me dou conta de que gostaria que ela estivesse aqui, mesmo que somente para me encarar de braços cruzados, uma sobrancelha arqueada, com aquela expressão que claramente me desafiava a fazer algo surpreendente.

Então, me desligo de tudo aquilo que me rodeia, concentrando-me unicamente no que farei agora.

Começo a me mover, lentamente, em direção aos bonecos usados para o treinamento de facas. Observo-os, como se pudessem a qualquer momento saltar em minha direção, enquanto manejo a espada com a habilidade adquirida durante esses últimos dez anos; o que não é pouca coisa. Quando me dou conta, estou no centro do ginásio mais uma vez.

Repentinamente, a espada em minhas mãos não é mais tão diferente de qualquer outra. O cabo que seguro, revestido de couro, é frio, mas isso não é algo exatamente desconfortável. Movendo-me de um lado a outro, consigo, por fim, respirar com facilidade. É uma dança que conheço, algo com o que convivo, e posso conviver pelo restante de minha vida. Enquanto movimento a espada, é como se ela tivesse vida própria.

Uma serpente que ataca, recua, transforma-se e gira. Um golpe lateral. Uma cortada à esquerda. Acima do ombro. Sinto-a em toda sua extensão cortante, talhando bonecos e sacos de areia do treinamento de boxe, a lâmina fazendo um som característico, zunindo, num brilho prateado que deixa claras suas intenções mortais. Não é como uma parte de meu corpo, e, por isso, preciso domá-la, saber fazer do jeito certo, e aprender com ela.

Porque, quando você está lutando, ter consciência de tudo aquilo que é capaz de fazer, e de tudo aquilo que pode tentar fazer.

Muito bem.” ouço, novamente, a voz de Clove, num murmúrio agradável, quando a areia se espalha.

Finco a ponta da espada no chão, ofegante, sentindo o suor escorrer por minha testa. Durante alguns segundos, é quase como se o silêncio naquele aposento fosse palpável. Então, puxando novamente o cabo, dirijo-me à estação das armas, e coloco-a onde a encontrei. Quando finalmente me viro para encarar os Idealizadores, não tento identificar o que significa a expressão de cada um deles.

— Está dispensado.

Enquanto me afasto, tenho a deleitável sensação de dever cumprido.


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Notas finais do capítulo

Seguinte, people: a idiota aqui escreveu a entrevista antes de escrever a "avaliação" dos tributos! Aí eu estava lá, né, feliz e dançante, quando me dou conta disso, e TCHARÃNNN, noto que preciso escrever o verdadeiro capítulo 8. RESULTADO: passei a tarde entretida com esse, arrancando os cabelos, e tentando digitar algo que valesse à pena ler. (Porque sou PÉSSIMA com descrições).

O único lado positivo (ou nem tanto) é que o 9 já está em andamento (e na metade! o/), e POSSIVELMENTE postarei amanhã cedo. Nada certo, porque vou passar o dia todo em SP, e isso significa que devo voltar pra casa lá pras onze horas ou meia noite. Mas também posso postar quando voltar, depende de conseguir responder aos reviews, porque já estou enrolando muito com isso também.

No mais, espero que tenham gostado ^^'
Beijos e até a próxima!