Skyscraper escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 12
"End up at the bottom"


Notas iniciais do capítulo

"Acabar no fundo"



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Se os trinta minutos que passei dentro do aerodeslizador foram insuportavelmente longos, os sessenta segundos que tive para pensar antes de o gongo soar foram absurdamente velozes. Quando me dei conta do que estava acontecendo, meus pés já se moviam em direção à Cornucópia. É uma reação automática e imediata. Porque, de certo, minha mente podia não estar preparada, mas meu corpo parecia saber o que eu devia fazer.

Quanto mais me aproximo, menos o receio parece capaz de me colocar pra baixo, e mais a excitação da luta toma conta de mim. Então, posso respirar com facilidade, sentir meus músculos se contraindo e relaxando, de acordo com cada passo avançado. Posso não ser o mais rápido, posso precisar de uma arma que tenha alcance médio, e não ser lá o cara mais controlado do mundo, mas, quando se trata de entrar numa batalha, a última coisa que podem esperar de mim, é o fracasso.

Ter essa certeza faz com que me sinta melhor, e, no momento em que meu olhar cruza com o de Clove, mal posso conter o sorriso cruel que se desenha em meus lábios. Ela parece entender, e me sinto grato por isso, porque, no segundo seguinte, estou me jogando contra o garoto do Distrito 4, que, inutilmente, devo dizer, acabara de pegar uma espada.

Ele não esperava um ataque tão repentino, e, para um Carreirista, parecia bem assustado.

Eu estava, literalmente, sedento pelo sangue que em breve seria derramado.

Mal posso ouvir o som de seu pulso estalando sob minhas mãos, quando meu corpo se choca com violência contra o dele, e lhe tomo a arma. Sua expressão era repleta de choque, mas não tive tempo o suficiente para admirá-la. A lâmina deslizou de ponta a ponta, num som característico, molhado, e tudo pareceu ser imediatamente tingido pelo vermelho.

O líquido que desliza, lentamente, e pinga no chão, manchando a grama, escurecendo a terra. Por um segundo que me pareceu uma eternidade, pude fitá-lo, e admirar sua tonalidade escarlate. Era tão mais viva, tão mais... Real. Bem diferente da gosma esquisita que eles usavam nas simulações do Distrito 2, e infinitamente mais interessante.

Mas, logo em seguida, eu estava novamente em movimento. Não preocupado com o que acontecia ao meu redor, enquanto combatia os demais tributos, apesar de os sons e gritos indicarem que não estava tudo bem, pelo menos por enquanto. Com o canto do olho, posso ver Clove atirando uma faca, seguida de perto por outra, a expressão dividida entre a fúria e a diversão. Ela se move como um felino, com toda a graciosidade e fatalidade que o treinamento lhe ajudou a desenvolver. Se não estivesse tão ocupado com minhas próprias lutas, provavelmente iria parar e observá-la.

Eu não o vejo, mas sinto o machado que se aproxima de meu pescoço, e consigo recuar a tempo de enxergar a figura pálida e esguia que o segura com habilidade, encarando-me com determinação. O garoto do Distrito 7. Por algum motivo, recordo-me da vitoriosa Johanna Mason, que ganhou os Jogos fingindo ser extremamente fraca e chorosa, até se mostrar uma exímia dominadora da arma. Se ele não estivesse tremendo tanto, eu poderia considerá-lo um problema.

Antes que pudesse divagar mais a respeito, ataco.

E, pelos próximos minutos, tudo o que vejo é vermelho.

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São onze corpos caídos no chão. Minha respiração está pesada, enquanto fito o corpo degolado do garoto do Distrito Oito. A adrenalina ainda está alta, e, por alguns instantes, tenho de resistir ao impulso de entrar na floresta e caçar agora todos os tributos que escaparam do banho de sangue. Mas eles certamente foram espertos o suficiente para correr para bem longe, fugindo como os grandes covardes que eram.

Vejo Clove se aproximando, limpando a faca na barra da blusa. O rosto está com leves gotas vermelhas, provavelmente daqueles a quem ela derrubou. Fisicamente, minha pequena parece em perfeito estado; no entanto, ainda assim, preciso resistir ao desejo de lhe questionar a respeito de possíveis machucados.

— Conseguiu pegá-la? — pergunto, sem precisar explicar a quem me referia.

A julgar pela maneira como ela me encara, como se tentasse decidir qual a melhor maneira de me torturar antes de finalmente me matar, foi uma decisão mais sensata que tentar ver se estava tudo bem. Clove balança os ombros, punhos cerrados, os olhos demonstrando que poderia matar outro homem naquele exato momento, com as próprias mãos.

— Ela corre como um leopardo.

Embora tenha vontade de insistir no assunto, não o faço. A constatação de minha companheira de Distrito, apesar de soar com um tom de desagrado, possui uma pontinha relutante de admiração. No D2, ninguém costuma treinar esse tipo de coisa. Quero dizer, acho que no sufoco, isso nem importa. Mas quem disse que Carreiristas costumam ficar em situações desagradáveis assim? Treinamos, é claro, porém correr não é uma capacidade considerada muito honrosa.

Estou prestes a comentar algo sobre podermos procurá-la depois, mas, obviamente, fui interrompido.

— Cato! — posso ouvir Glimmer me chamando, e a animação deixa sua voz um tanto quanto esganiçada, engraçada. — Cato!

Quando me viro para encará-la e lhe dizer para parar de ser tão escandalosa, a surpresa é tão agradável quanto estranha. Por alguns milésimos de segundos, não tenho reação, por não reconhecer a figura nas mãos de meu companheiro Carreirista. O rosto estava bem inchado, e com vários hematomas feios; num dos braços, posso ver o ferimento causado por uma lâmina. É quando o reconheço.

Sorrio largamente.

Marvel segura Peeta Mellark pelo cangote, com uma faca pressionada à sua jugular.

Nós não pegamos a Garota Quente no primeiro dia. Fizemos melhor.

Porque, não importa o quão extenso seja o amor do Conquistador por ela, isso provavelmente não irá durar tanto tempo; não dentro da arena, não quando a vida dele depende disso.

Peeta vai nos levar até Katniss.

Seja por bem, ou por mal.


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