Last Chance escrita por Victorie


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Achei que o final ficou ridículo mas resolvi postar.

A primeira parte se passa no Enigma do Príncipe e a segunda três anos depois da guerra.



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Peguei a garrada de Whisky de Fogo que estava muito bem escondida no meu malão e a coloquei na mochila, mesmo sendo de noite eu não queria arriscar ser pego com bebida na escola.

Fui ate o sétimo andar e passei três vezes em frente à parede onde ficava a Sala Precisa, esperei a porta aparecer e entrei.

Eu tinha me acostumado a ficar ali a maior parte do tempo, no começo tinha medo de ser pego e obrigava Crabbe e Goyle a ficarem na porta vigiando, mas com o tempo percebi que não era preciso e que eu me virava melhor sem ninguém reclamando no meu ouvido.

Só faltavam alguns detalhes no armário sumidouro e então ele estaria pronto para ser usado pelos Comensais.

Mas hoje eu não iria trabalhar, estava cansado de ser usado como um elfo doméstico pelo Lord das Trevas e seus Comensais. Tudo bem, eu era um deles, fui obrigado a virar um Comensal da Morte depois que o meu pai falhou miseravelmente em uma missão, mas eu não gostava do que eu era, só tinha aceitado me juntar a eles por medo, medo da minha morte e medo da morte da minha mãe.

Só que hoje eu não iria trabalhar, estava cansado demais pra isso.

E ainda tinha ela, que atormentava dia e noite os meus pensamentos.

Há algumas horas eu a tinha visto chorando, todo o meu ser me dizia para ir lá e consola-la e perguntar o que tinha acontecido, mas eu sabia o que era. Ela estava chorando pelo idiota do Weasley.

Depois de anos apenas observando-a de longe eu aprendi o que ela gostava e do que não gostava, sabia que ela era apaixonada pelo pobretão Weasley e que ele não ligava muito pra ela, ainda mais agora que estava namorando a Brown.

Sinceramente? Era patético ver aqueles dois juntos, chegava a dar nojo.

Na metade da noite eu já tinha tomado a garrafa que tinha trazido do dormitório inteira e tinha achado algumas outras garrafas de hidromel escondidas em um armário perto de onde eu estava.

Eu já estava na metade de uma das garrafas de hidromel e não passava nem perto de estar bêbado quando escutei um barulho vindo da porta.

De onde estava não conseguia ver quem tinha entrado na Sala Precisa, achei que era a louca da Trelawney, várias vezes eu já tinha precisado me esconder porque ela apareceu subitamente na sala para esconder alguma coisa.

Em silêncio coloquei a garrafa junto às outras de volta ao armário e peguei a varinha, fui ate perto da porta para ver se era mesmo ela.

Quando cheguei perto da porta pude ver um emaranhado de cabelos castanhos cacheados.

_Granger? - não consegui me conter e a chamei.

Hermione se virou assustada e esbarrou em uma grande pilha de livro os derrubando.

_O que esta fazendo aqui? - perguntei com a sobrancelha arqueada. Era Natal, ate onde eu sabia ela deveria estar com McLaggen em uma festa na sala do Slughorn.

_Eu... - ela enrolou para responder, pude ver que ela pensando em uma resposta - Eu estava... Não te interessa. - respondeu rispidamente.

_Ótimo - respondi fingindo indiferença - Só feche a porta quando sair.

Deixei ela onde estava e voltei para perto do armário onde eu tinha achado as garrafas de hidromel e peguei a garrafa que eu estava bebendo antes dela aparecer.

_Você está bebendo? - olhei para cima, ela estava parada a um metro de distância me olhando horrorizada.

Levei a garrafa a boca e tomei um pouco da bebida como resposta.

_Se quiser pode ir correndo me acusar a Dumbledore, tenho certeza que ficaria felicíssima se eu fosse expulso.

Hermione ficou em silêncio por um tempo, depois abriu a boca como se fosse me repreender, pensou melhor e a fechou em seguida. Olhou-me por um instante e balançou a cabeça negativamente como se afastasse um pensamento ruim e depois começou a andar para longe de mim.

_Se quiser pode ficar para beber comigo - convidei por impulso. Um segundo depois que a frase saiu da minha boca eu quis me bater, o que eu pensava que estava fazendo?

Hermione parou e voltou a me olhar confusa.

_Ah... Não acho que seja uma boa ideia - ela disse e mordeu o lábio apreensiva.

_Você quem sabe, - dei de ombros - Mas eu acho que você está precisando de uma bebida tanto quanto eu - insisti.

_Por que acha isso? - ela perguntou.

Dei outro gole na bebida.

_Eu te vi chorando pelo Weasley hoje. - disse simplesmente.

Ela abriu a boca em um circulo perfeito.

_Como sabe que eu estava chorando por ele? - perguntou confusa.

Tomei outro gole e desviei o olhar, por um momento o teto começou a me parecer bem mais interessante do que antes.

_Sei coisas sobre você que nem os seus amigos sequer já notaram Hermione - falei finalmente.

Não pude ver a sua reação quando a chamei pelo primeiro nome, nunca tinha dito o nome dela em voz alta.

Continuei olhando para o teto só abaixando a cabeça de tempos em tempos para poder tomar mais um pouco de hidromel.

Por todo esse tempo ela continuou em pé me olhando, ate que resolveu se sentar ao meu lado com as pernas esticadas e estendeu a mão pedindo a garrafa.

Virei meu rosto para ela com a sobrancelha arqueada, não tinha percebido que ela estava tão perto, seu rosto a centímetros de distância, sua boca tão perto... Virei o rosto de volta antes que fizesse algo que não devia.

_Não sabia que a sabe-tudo-Granger bebia - comentei - Não faz muito o seu gênero - estendi a garrafa a ela.

_Não bebo - ela respondeu e pegou a garrafa da minha mão, pelo canto do olho pude vê-la tomar um longo gole de hidromel e depois estremecer quando sentiu o gosto da bebida.

Não consegui segurar uma risada.

_Já aviso que se for pra rir de mim vou embora - ela avisou amarga.

Assenti com a cabeça, normalmente eu diria que por mim já deveria ter ido, mas eu não estava no meu estado normal.

Ficamos um tempo em silêncio dividindo a garrafa de hidromel, eu bebia muito mais do que ela e sentia que estava começando a ficar bêbado.

_Você... - ela começou a dizer depois de muito tempo em silêncio.

_Eu? - perguntei quando vi que ela não iria continuar a frase.

_Esquece - ela deu de ombros.

_Hermione? - chamei virando a cabeça para poder olhar em seus olhos - Fale. - ordenei.

Pude ver que ela não gostou muito do meu tom de voz, eu sabia que ela não gostava de receber ordens, mas, tinha ficado curioso sobre o que ela iria falar.

Hermione mordeu o lábio apreensiva e olhou para baixo.

_Você disse que sabia muito mais de mim do que Harry ou Rony. O que quis dizer com isso?

Ah, então era isso.

Voltei a olhar para o teto, estiquei o braço ate o armário ao meu lado e peguei mais uma garrafa de hidromel - a outra já tinha acabado - abri a garrafa em silêncio e a levei a boca.

_Eu quis dizer exatamente o que você escutou - respondi - Pode parecer estranho, mas eu sei muito mais de você do que os seus amiguinhos idiotas.

_Como o que? - ela estava ignorando os meus xingamentos.

Levei a garrafa mais uma vez a boca.

_Como o fato de você ser apaixonada pelo Weasley desde sempre, - comecei, percebi que a minha voz estava arrastada. Não me surpreendi, eu só podia estar bêbado para falar essas coisas a ela - Que você torce para que o Potter fique com a Weasley fêmea, que você ajudou o Weasley a entrar para o time de Quadribol da Grifinória enfeitiçando o balaço, que convidou o McLaggen para ir à festa do Slughorn para fazer ciúmes ao Weasley, que veio parar aqui para fugir dele - isso eu não tinha certeza, mas desconfiava que fosse a verdade - Que tem vontade de voar em cima da Brown toda vez que escuta aquele apelido ridículo que ela colocou no Weasley, sei que odeia Quadribol, sei que me odeia...

_Isso qualquer um sabe - ela comentou.

A afirmação dela me afetou um pouco, não demonstrei e continuei falando.

__Sei que você chora quase todos os dias por causa do Weasley, sei que sua época preferida é o inverno, sei que já leu pelo menos umas cinco vezes Hogwarts: Uma história, sei que sorri toda a vez que vê a Lula Gigante brincando no lago, sei que seu livro favorito é um livro trouxa chamado Romeu e Julieta e que só se tranca na biblioteca para estudar porque quer mostrar que mesmo sendo uma nascida trouxa pode ser tão inteligente como um bruxo de sangue-puro, sei que ama seus amigos mas tem vontade de mata-los de vez em quando, sei que você adora sorvete de chocolate e seu prato preferido é torta de rim, sei que tenta libertar todos os elfos de Hogwarts e por isso eles começaram a se recusar a limpar a torre da Grifinória, enfim - dei de ombros - Sei muitas coisas.

Durante todo o meu discurso eu observei a sua reação pelo canto dos olhos. Hermione estava atônita e não fazia ideia do que falar.

_Você só pode ser louco. - ela disse.

Tomei outro gole da bebida.

_Dizem que as pessoas perdem a razão quando se apaixonam. - murmurei olhando seus orbes castanhos.

Hermione estava estática, acho que esperava que um grupo de Sonserinos aparecesse e começassem a rir dela a qualquer momento.

_Eu não acredito em você - ela disse depois de um tempo.

Ela estava perto demais, eu podia sentir a sua respiração no meu rosto.

_Pois devia - murmurei.

Eu não pensei, sabia que era loucura e que ela sairia correndo, mas Hermione estava tão perto que eu não resisti e a puxei para um beijo.

Ela não esperava por isso e acho que por ser surpreendida retribuiu o beijo com vontade. Eu aproveitei cada segundo daquele beijo como se fosse o último da minha vida, seus lábios eram quentes, diferente de mim que sempre estava todo gelado por ficar a maior parte do tempo nas masmorras. Levei uma de minhas mãos para a sua cintura e a outra para a sua nuca a puxando para mais perto.

Pedi passagem com a língua e ela cedeu. Suas mãos estavam apoiadas nos meus ombros e nos beijávamos furiosamente, ate que ela percebeu o que estava fazendo e a quem estava beijando e me empurrou bruscamente.

Ela não tinha força o bastante para me impedir se eu quisesse continuar só que eu nunca faria isso com ela por mais que a quisesse.

_Você só pode estar louco - ela murmurou quando a soltei.

Não tive tempo de responder, ela saiu correndo. Ao longe pude escutar a porta da Sala Precisa bater bruscamente.


***


Quatro Anos Depois

Não pude acreditar no que os meus olhos tinham acabado de ler.

Ela iria se casar.

A mulher que eu amei escondido desde que tinha treze anos, aquela que eu sempre irritei apenas porque sabia que era o único jeito que eu teria a sua atenção, e também aquela que ajudou a acabar com a minha vida.

Não que antes a minha vida fosse muito boa, era um lixo, mas pelo menos eu era rico, meu pai não estava na cadeia e a minha mãe não estava se recuperando de uma tentativa de suicídio.

Amassei o jornal na minha mão com raiva e o joguei de volta a lixeira onde eu o tinha achado.

É, quem diria? Draco Malfoy tendo que fuçar no lixo para ter notícias do mundo bruxo.

Mas agora a minha vida era assim, eu, o garoto mimado que sempre repudiei os pobres como os Weasley’s fiquei pior do que eles.

Depois da guerra nós perdemos tudo, os Malfoy’s foram praticamente expulsos da sociedade. Erámos considerados traidores por termos nos juntados ao Lord das Trevas e sempre erámos olhados com nojo pela sociedade, tratados como se tivéssemos uma doença contagiosa.

Lúcio - eu não o chamava de pai desde os dezesseis anos quando ele me obrigou a virar um Comensal - foi preso horas depois que o Lord das Trevas foi morto e há alguns meses recebeu o beijo do Dementador.

Minha mãe tentou se matar horas depois que recebemos a notícia de que ele tinha recebido o beijo, por sorte eu cheguei a tempo de impedi-la.

Eu e minha mãe só não fomos presos graças a Potter que testemunhou a nosso favor afirmando que ela o tinha ajudado a sobreviver dizendo para o Lord que Potter estava morto e que eu o tinha ajudado quando ele foi levado a mansão não afirmando que era realmente ele.

Na verdade eu não sabia mesmo se era ele ou não quando ele e os amiguinhos apareceram na mansão, se tivesse certeza não pensaria duas vezes em entrega-lo, a vida da minha família estava em risco naquele momento. Mas eu não era idiota o bastante para dizer isso a alguém, me fiz de bom moço e me safei por um triz de ser levado para Azkaban, mas não acho que isso melhorou em muito a minha vida, ela já estava praticamente acabada.

Todos os nossos bens foram confiscados, nosso cofre no Gringotts foi esvaziado pelo ministério que alegou que o dinheiro deveria ser utilizado para pagar uma indenização pelos danos que a minha família causou e tivemos que vender a mansão depois disso, não tínhamos como banca-la.

Minha mãe e eu nós mudamos para uma casinha simples de dois quartos, um banheiro, uma cozinha minúscula e uma sala também pequena em um bairro trouxa onde fingíamos ser iguais aos nossos vizinhos.

A casa era praticamente do tamanho do meu antigo quarto na mansão. Talvez menor.

Depois que meu pai foi preso minha mãe entrou em depressão, ficava o dia todo trancada no quarto chorando e bebendo, eu não sabia como ela conseguia dinheiro para comprar bebida, achava que um antigo elfo nosso era quem lhe dava bebida.

Esqueci disso, também tive que libertar todos os elfos que trabalhavam na mansão, mas alguns deles ainda aparecia em casa de vez em quando leais aos antigos donos.

Esfreguei as mãos uma na outra para esquenta-las, estávamos no inverno e eu acho que nunca tinha sentido tanto frio na minha vida.

Parei de pensar no desastre que a minha vida tinha se formado e fui ate a estação de metro - depois de muito tempo e esforço tinha aprendido exatamente a viver como um trouxa - peguei um trem e fui para o trabalho.

Eu estava trabalhando a mais de dois anos em uma livraria trouxa no centro de Londres, o salário não era lá aquela coisa, mas era o que fazia com que eu e minha mãe não morrêssemos de fome e tivéssemos água quente e energia elétrica - essa era uma das coisas que eu mais gostava em viver como trouxa, talvez a única, a luz elétrica era bem melhor que a luz de velas e era bem mais fácil usar o aquecedor elétrico do que a lareira.

Quando cheguei à livraria a portas já estavam abertas me avisando que Laura - a dona - já tinha chegado, estranhei, desde que ela tinha tomado confiança em mim eu sempre abria a livraria.

_Laura? - chamei baixo quando entrei.

_Aqui em cima, - ela respondeu, sua voz vindo de dentro do escritório que ficava no andar de cima.

Fui ate lá, a porta estava aberta e ela estava olhando a vista da janela de costas para a porta, dei duas batidinhas na porta para avisar a minha presença.

Laura era alguns bons anos mais velha do que eu - pelo menos dez - e mesmo sendo meio excêntrica com suas roupas sempre coloridas, sua alegria e animação mesmo nos dias mais tediosos e o fato de ser uma trouxa, com o tempo ela tinha se tornado minha amiga.

_Aconteceu alguma coisa? - perguntei - Você nunca abre a loja.

_Não foi nada demais - ela disse sua voz estava estranha, meio chorosa, pude perceber que ela passou a mão discretamente em baixo dos olhos - Só resolvi chegar mais cedo hoje.

Merlin, Laura estava chorando? Entrei em pânico, nunca consegui lidar com ninguém chorando, ainda mais mulheres.

_Esta tudo bem? - perguntei preocupado.

Ela deu de ombros.

_Nada que eu não supere com o tempo - ela se virou para mim, seus olhos estavam vermelhos e inchados, seu rosto diferente do normal não tinha nem um pouco de maquiagem e suas roupas nem uma lembrança do amarelo, sua cor preferida, que ela fazia questão de usar todos os dias para mostrar alegria - John me traiu - ela soltou e deu de ombros.

John era o seu marido, ele sempre vinha na livraria e com o tempo também tinha se tornado meu amigo.

_Eu... Sinto muito - disse sincero, não tinha muita coisa que eu pudesse dizer naquela hora - Se tiver alguma coisa que eu possa fazer por você... - deixei a frase morrer.

_Já sofreu por amor Draco? - ela perguntou e foi se sentar na cadeira da sua escrivaninha.

Não entendi o motivo da sua pergunta, mas resolvi responder, ela era a única amiga que eu tinha e como não era bruxa não havia motivos para não contar sobre ela.

_Sim - respondi olhando para o chão.

_Me conte - ela pediu.

Encostei-me ao batente da porta mudando o peso para uma das pernas desconfortável.

_Por que o interesse? - perguntei desconfortável com o assunto.

_Quero saber se a minha situação é tão ruim ou se alguém já viveu situações piores - ela deu de ombros.

Demorei um pouco para começar a falar pensando em como contar para não deixar escapar nada sobre o mundo bruxo.

_Quando eu estava na escola - comecei - Tinha treze anos, estávamos no final do ano e uma garota que eu sempre irritava apenas por ser... Diferente...

_Diferente como? - ela me cortou - Ela era feia? Pobre? O que?

_Ah... - pensei em como responder - Ela não era feia, tinha os dentes da frente maiores do que o normal e os cabelos pareciam um ninho de pássaros, mas não era feia, eu achava que ela era... Indigna.

Dei um tempo esperando mais perguntas, ela não disse nada então continuei.

_Como eu disse estávamos no final do ano letivo - continuei - E eu a irritei tanto que ela me deu um soco - dei um riso amargo com a lembrança - Eu fiquei completamente surpreso com aquilo, ela nunca tinha parecido ser uma pessoa agressiva e acho que ela mesma ficou surpresa com o que fez. As férias chegaram e eu só conseguia pensar em como me vingar por ela ter me humilhado daquele jeito, eu não aceitava ter apanhado de uma garota e quando as aulas voltaram eu não perdia a oportunidade de irritar ela e os dois garotos que sempre andavam com ela, ate que teve um baile e ela foi com um garoto mais velho e que todas as meninas babavam - me lembrei da raiva que eu senti quando vi o Krum com ela, na época achei que estava ficando louco por sentir ciúmes da sangue-ruim - Fiquei com ciúmes, achei que estava ficando louco - confessei com uma risada baixa - Eu me perguntava porque estava com ciúmes dela se eu a odiava, algumas semanas depois descobri que estava apaixonado por ela - dei de ombros - Quando a gente tinha dezesseis ela me encontrou bebendo na biblioteca da escola - não podia dizer que estava na Sala Precisa - Ela estava mal por causa do garoto que ela gostava e a gente passou a noite toda bebendo escondido, eu estava bêbado, disse que era apaixonado por ela e a beijei - sorri de lado com a lembrança - Ela me chamou de louco e saiu correndo, nunca mais falamos sobre aquela noite. E hoje eu descobri que ela vai se casar em duas semanas.

_E você ainda gosta dela. - Laura não perguntou, afirmou.

_Sim - concordei - Ainda gosto.

_E porque não tentou falar outra vez com ela?

_Eu vim de uma família de costumes, meus pais... Meu pai principalmente era muito preconceituoso, nunca iria aceita-la e na época eu também era, não achava que conseguiria conviver com alguém tão diferente de mim - Laura franziu o cenho não entendendo de que diferenças eu estava falando - E as pessoas nunca iriam aceitar, e eu sabia que ela me odiava por tudo o que eu já tinha feito a ela e que aquele dia ela só tinha me beijado porque estava bêbada então me contentei a ficar quieto no meu canto. - dei de ombros.

_E como pode ter certeza de que ela não gostava de você do mesmo jeito que você gostava dela? - Laura perguntou - Porque ate onde eu sei ninguém pode saber quais os sentimentos dos outros, veja a minha situação, eu achava que John me amava e ele me traiu.

_Sua situação é diferente da minha. Quando eu disse que era apaixonado por ela, ela me chamou de louco.

_E é exatamente por isso que eu acho que você deveria falar com ela. Ela pode ter dito isso porque estava surpresa, você ainda gosta dela e não é porque ela vai ser casar que ela ama o noivo.

_Não pense besteiras Laura, ela sempre foi apaixonada pelo noivo, eu sei disso, só acabaria me humilhando se fosse falar com ela, e eu já fui humilhado o bastante por ela e os amigos para me rebaixar a isso.

Ela deu de ombros, ela tinha essa mania.

_Você é quem sabe, mas você vai conseguir viver sabendo que podia ter tentado outra vez e não o fez? Porque eu não conseguiria, pense nisso Draco.


***

Duas semanas passaram. Já era quase meia noite e eu não conseguir pregar os olhos, rolava de um lado para o outro da cama.

Amanhã era sábado.

Amanhã ela iria se casar.

As palavras que eu escutei da Laura rodaram pela minha cabeça mais uma vez “Você vai conseguir viver sabendo que podia ter tentado outra vez e não o fez?”. Essa mesma pergunta não saiu da minha cabeça desde o dia em que Laura as tinha proferido. Desisti de tentar dormir e me levantei da cama, eu precisava de alguma coisa para tentar esquece-la.

Fui em silêncio ate o quarto da minha mãe que era ao lado do meu. A cena que eu vi quando entrei em seu quarto não me surpreendeu como fazia ate um ano atrás, minha mãe estava desmaiada no chão ao lado de uma poça de vômito e abraçada a uma garrafa de Whisky de Fogo, o quarto estava uma bagunça - como sempre - e a pequena televisão que eu tinha conseguido comprar para ela depois de economizar muito tempo estava ligada em um filme qualquer.

Dei um suspiro, minha mãe há muito tempo tinha cedido ao álcool e a depressão.

Com um aceno de varinha limpei o vomito no chão e os respingos dele de sua camisola, a peguei no colo e a coloquei com cuidado na cama. Ela estava gelada, conjurei uma coberta para que ela se aquecesse e desliguei a televisão. Peguei a garrafa que tinha ficado no chão, estava na metade.

Levei a garrafa para a cozinha e virei o conteúdo na pia, eu tinha ido ao quarto da minha mãe exatamente para procurar alguma coisa para beber, mas, vendo a cena em que ela se encontrava mudei de ideia, não queria ficar igual a ela.

Voltei para o meu quarto e abri a gaveta da minha escrivaninha, puxei de lá o jornal onde há duas semanas eu tinha visto a notícia de que ela se casaria - eu tinha voltado aquele lixo e pegado o jornal de volta - já tinha lido aquilo várias vezes e tinha decorado cada palavra do que estava escrito, mas eu sentia que precisava ler mais uma vez.

Hermione Granger e seu amado noivo Ronald Weasley finalmente marcaram a data do casamento.

É com muita alegria que trago a vocês a notícia que os melhores amigos do adolescente - hoje um homem de vinte e um anos - que matou Você-Sabe-Quem irão se casar.

Ronald Weasley e Hermione Granger ajudaram Harry Potter na sua perigosa jornada para derrotar Você-Sabe-Quem, e, depois de muita tristeza e muitos parentes perdidos na guerra finalmente terão o tão sonhado felizes para sempre.

A cerimonia acontecerá no dia dezoito do próximo mês, em um sábado, na casa do noivo, o horário do casamento não foi divulgado para tentar evitar penetras na festa, mas, com toda a certeza uma grande equipe do nosso jornal estará na porta o dia todo esperando para ter notícias do casório.

A única coisa que resta é desejar felicidades aos pombinhos e uma pergunta: Será que o nosso querido Harry Potter e a sua noiva Ginevra Weasley seguiram o exemplo e também marcaram a tão esperada data?

Só podemos esperar que sim.

Beijinhos e felicidades aos noivos.

Rita Skeeter.

Senti um nó na garganta e coloquei o jornal de volta ao seu lugar, eu não queria chorar por ela, eu não iria chorar por ela.

Não mais, ou pelo menos não hoje.

Eu tinha decidido, não conseguiria viver com aquele “E se...” para o resto da vida, sem saber o que teria acontecido se eu tivesse tentado mais uma vez.


***

Não consegui dormir no resto da noite, era impossível pregar os olhos, ainda mais quando eu pensava no que iria fazer.

Entrar em uma casa cheia de pessoas que me odeiam para tentar acabar com um casamento? Tudo bem que o Potter ajudou a mim e a minha mãe a não ir para Azkaban, mas eu duvido que ele vá pensar duas vezes antes de me estuporar se for preciso.

Coloquei a minha melhor roupa, que era uma calça jeans surrada, um par de tênis velho, uma camiseta preta e um moleton cinza escuro de segunda mão, era do marido da Laura ate ela achar que ficava horrível nele e repassar pra mim.

Com certeza não era a melhor época para ser um Malfoy, nem roupas caras eu tinha mais.

_Mãe? - chamei da porta do seu quarto que estava entre aberta.

_Sim Draco? - ela respondeu lá de dentro.

Pela voz eu percebi que ela já estava bêbada outra vez, e não eram nem sete da manhã.

_Você esta bem? - perguntei preocupado e entrei no quarto. Ela estava sentada em uma poltrona na janela com uma garrafa de xerez. - Bebendo de novo? - perguntei irritado - Se você não parar com isso vou proibir aqueles elfos de virem aqui, são eles que te trazem bebida não é?

_Eles só fazem o que eu peço Draco, - ela respondeu sem me olhar - E o que eu peço é o melhor pra mim.

_Claro, o melhor pra você é entrar em coma alcoólico - disse sarcástico - Eu não vou ficar aqui discutindo com você, vou sair.

_Aonde vai? - ela perguntou fingindo interesse - Hoje você não tem que trabalhar.

_Não interessa - respondi seco - Só tente se manter viva ate eu voltar.

Sai de casa e andei ate um beco deserto na rua de trás, aparatei para a casa dos Weasley’s eu já tinha ido lá uma vez quando os Comensais atacaram a casa.

Senti aquela sensação horrível de aparatar e logo eu estava a algumas ruas da casa em formato estranha. Eu não tinha exatamente um plano para o que eu iria fazer, só sabia que tinha que falar com ela de algum jeito, tentar pelo menos mais uma vez.

Fiquei a alguns metros da casa encostado a uma árvore, alguns jornalistas já estavam parados a porta esperando para ter alguma visão do casamento.

Fiquei sentado ao pé da árvore pelo resto do dia, vários dos Weasley’s entravam e saiam da casa o tempo todo, teve ate uma hora em que a Sr.ª Weasley saiu para levar um prato de alguma coisa, acho que biscoitos, para os jornalistas, tive a impressão de que ela me viu ao pé da árvore mas ela não veio perguntar o que eu fazia aqui então deduzi que era só impressão minha.

Vi minha tia Andrômeda entrar na casa com um garotinho de cabelos azuis no colo, ele parecia ter uns três anos, o pequeno Teddy.

Perto do meio dia vi o Potter aparatar em frente à casa e entrar, vi McGonagall, algumas pessoas que eu conhecia da minha época em Hogwarts e algumas pessoas que eu não conhecia, vi ate o noivo que saiu para falar com os jornalistas, mas ela?

Nada, não apareceu nem uma vez, nem mesmo na janela.

Vi que o único jeito de falar com ela seria se eu entrasse no casamento, e foi isso que fiz.

Com o tempo eu percebi que o casamento seria ao por do sol pois a movimentação aumentou muito perto desse horário. Eu podia ver ao longe a movimentação no quintal da casa, significava que logo ela iria descer e o casamento começaria.

Fui ate a casa, quando passei pelos jornalistas eles tiraram fotos e perguntaram o que eu estava fazendo ali, não respondi, com certeza teria uma nota sobre a decadência dos Malfoy depois da guerra na matéria do casamento.

Bati a porta da frente, ao longe escutei passos e logo a porta se abriu.

_Malfoy? - Potter perguntou surpreso e me olhou de cima a baixo com desconfiança.

_Gosta do que vê Potter? - perguntei e arqueei uma sobrancelha.

Ele ignorou a minha pergunta, pude ver que ele levou discretamente a mão ao bolso para pegar a varinha caso eu causasse problemas.

_O que quer aqui? - perguntou desconfiado.

_Eu... - não sabia direito o que dizer - Eu... Posso assistir o casamento? - perguntei olhando para o chão.

_Você quer o que? - a voz dela chegou aos meus ouvidos. Levantei a cabeça e olhei para dentro da casa por cima do ombro do Potter, não conseguia ver direito porque ele estava na frente, mas podia dizer pelo pouco que vi que ela estava linda.

Seu vestido era branco - obvio - e simples, nada extravagante como eu já tinha visto em noivas da alta sociedade quando mais novo.

_Eu perguntei se posso ver o casamento. - repeti.

_Hermione eu não acho que... - Potter começou mas ela o cortou.

_Harry, vá ate Rony e se assegure de que ele não pire no altar, eu falo com o Malfoy - ela disse olhando para mim.

Potter não estava entendendo nada mas obedeceu me mandando um aviso com o olhar antes de sair da sala, entendi o seu olhar como “Se fizer alguma coisa a ela te mando pra Azkaban junto com seu amado pai”.

_Harry - Hermione chamou antes que ele saísse da sala - Não diga ao Rony que o Malfoy esta aqui, não queremos escanda-los.

Potter assentiu e saiu da sala.

Fechei a porta atrás de mim e entrei na sala dos Weasley’s, era um lugar até que arrumadinho, com três sofás, uma lareira grande e vários livros em cima dela, ao canto perto da janela tinha uma grande árvore de Natal decorada e com um gnomo petrificado e vestido de bailarina no topo.

Parei de observar a sala para olha-la, ela estava parada me olhando confusa.

_Você esta linda. - elogiei.

Ela ignorou meu comentário e foi direta.

_O que quer aqui? - perguntou.

_Eu precisava te ver antes que você se cassasse, - disse a olhado nos olhos - Precisava te lembrar daquilo que eu te disse naquela noite na Sala Precisa. Você se lembra, não é? Eu estava muito mais bêbado e lembro todos os detalhes então você também deve lembrar.

_Exatamente esse o ponto Malfoy, você estava bêbado.

Eu dei de ombros.

_O que foi dito bêbado foi pensado sóbrio. - disse - Eu não estava mentindo quando disse que era apaixonado por você. - afirmei.

_E eu não estava mentindo quando disse que você só podia estar louco. - ela deu um suspiro cansado - Olha se você quiser assistir o casamento eu não vou te impedir, só fique longe do Rony ele ainda acha que você deveria estar em Azkaban.

Ela disse isso e se virou para ir para fora.

Eu não podia deixa-la ir assim, a segurei pelo pulso.

_Me solte Malfoy - ela mandou se virando para me olhar.

Ela não tinha percebido que eu estava tão perto e se assustou quando viu meu rosto a centímetros do seu.

_E aquele beijo? - perguntei baixinho - Eu lembro muito bem dele.

_Eu tinha bebido demais. - ela respondeu também baixo - E você também, me largue Malfoy, você não sabe do que esta falando.

_Hermione, eu não estou bêbado como naquele dia - avisei - Sei muito bem do que estou falando, e vou repetir o que eu disse naquela noite. Eu sou apaixonado por você. - disse a olhando nos olhos - Desde aquele soco que você me deu no terceiro ano, não se case. - pedi.

Ela me olhou como se eu fosse louco, acho que ela realmente acreditava nisso.

_Eu sei que não posso te oferecer muito, mas não se case Hermione - implorei - Fique comigo.

Eu já sabia que ela iria dizer então quando ela abriu a boca para responder eu a beijei como fiz naquela noite a anos atrás.

Hermione correspondeu o beijo com entusiasmo, vi que ela não fugiria então soltei seus pulsos e passei minhas mão uma para a sua cintura e a outra para a sua nuca a puxando para mais perto, suas mãos permaneceram soltas ao seu lado mas eu não me incomodei com isso.

Estava tentando aproveitar o beijo dela mesmo sabendo que em minutos ela se casaria com outro.

Escutei um barulho ao longe e a soltei, ela deu um passo para trás saindo de perto de mim.

Ficamos nos olhando sem dizer nada, não precisávamos de palavras, ela sabia que se sentia atraída por mim mas que amava o Weasley e que não largaria dele, e eu sabia que tinha perdido tempo vindo ate aqui.

_Hermione? - um senhor de cabelos brancos chamou parado a porta - Esta pronta querida?

_Um momento papai - ela respondeu sem o olhar - Me espere na cozinha, eu já estou indo.

O pai dela assentiu e saiu da sala, eu a olhei em busca de uma resposta para o meu pedido mesmo já sabendo a resposta.

_Eu sinto muito Draco - ela disse - Pode ficar para o casamento se quiser.

E então saiu sem olhar pra trás.

Senti meu coração se quebrar em mil pedaços e as lágrimas chegarem aos meus olhos, fiquei um tempo parado olhando para o nada, escutei a marcha nupcial começar e terminar.

Fui para fora, eu iria me torturar assistindo o casamento.

Puxei o capuz da minha blusa para cobrir a cabeça e sai, o lugar estava cheio e muito bem decorado, fiquei em pé no fundo um pouco afastado.

Vi que alguns convidados me reconheceram e cochicharam sobre mim.

Ela estava linda ao altar, o Weasley sorria como um tonto e ela chorava em silêncio, lágrimas de felicidades.

Eles disseram os seus votos e o tão esperado sim, no fundo eu ainda tinha um esperança de que ela desistisse na última hora, mas ela não me amava, nunca amou e um beijo correspondido não iria mudar os seus sentimentos.

O casamento terminou e eles começaram a cumprimentar os convidados, os dois estavam muito felizes, ela sorria como eu nunca a tinha visto sorrindo em nenhuma das vezes em que eu ficava a olhando de longe.

Era isso, eu tentei e não funcionou.

Resolvi ir embora quando vi que o Weasley me viu, eu ate queria arrumar uma briga com ele, mas não iria estragar a felicidade dela.

Me virei para ir embora e senti um copo de champanhe virar na minha blusa.

_Mas o que? - perguntei irritado.

_Oh Merlin, desculpe, juro que foi sem querer - uma garota de cabelos escuros, quase pretos, que usava um vestido verde tinha tropeçado e virado a taça de champanhe em mim.

_Tá, tanto faz - respondi e desviei dela.

_Hey, espera - ela pediu, voltei a olha-la - Você é Draco Malfoy não é? - ela perguntou.

Assenti com a cabeça.

_Meu nome é Astória Greengrass - ela se apresentou.


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Notas finais do capítulo

Comentem e desculpe os erros, escrevi de madrugada e só dormi seis horas antes de postar, ou seja, estou bêbada de sono e com preguiça demais pra revisar. Me avisem que eu corrijo depois.