Três escrita por Rosemary Grohl


Capítulo 4
Ops, de novo


Notas iniciais do capítulo

isso é só um esquenta



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O problema com os dias de inverno, em geral, é aconchego das cobertas no início da manhã, quase que te segurando na cama por mais alguns minutos e te fazendo perder a hora. Ele sabia que aqueles minutos eram cruciais para evitar o engarrafamento no centro da cidade. Além disso, com o aquecimento desligado, fazia tanto frio dentro do apartamento que mal era capaz de dormir, quanto mais de perder a hora. Levantou num salto quando o despertador tocou e se lançou dentro do banheiro. Assustado com o aspecto de exaustão que seu rosto carregava, encheu as palmas das mãos de água gelada e lançou contra sua pele, na esperança de despertar.

Vestiu-se de qualquer maneira, pegou as chaves do carro e saiu de casa. Percebeu que provavelmente não teria como pagar a gasolina, então simplesmente andou até o final da rua e desceu as escadas do metrô. Entrou num vagão lotado e lamentou por toda aquela gente que era obrigada a acordar tão cedo diariamente e ir para um emprego medíocre. Não desejava aquela sorte a ninguém.

Quando finalmente subiu a superfície, o sol já tinha subido um pouco mais no céu, aliviando um pouco o frio que fazia naquela manhã de segunda-feira. Subiu apressado pelas escadas do edifício em que trabalhava. O terceiro andar estava deserto. Ótimo, sou o primeiro aqui, pensou.

Tinha um estágio três vezes na semana no escritório da polícia de Nova Iorque. Não fazia muito mais do que pegar café para os detetives e organizar papéis de casos antigos. Estava digitalizando uma seção inteira de casos anteriores a 1935. Era um saco e pagava mal, mas não tinha nada melhor em vista.

Quando a manhã estava chegando ao seu auge, foi convidado à sala do capitão da polícia.

– Sente-se, Pedro. – o semblante do capitão era sério e pesado. Parecia carregar preocupações sérias demais para a imaginação de Pedro. Era um negro em seus 50 anos, com o cabelo grisalho raspado à máquina e a barba muito bem feita. – Você sabe que sempre foi o meu favorito desde que entrou aqui. Tinha uma energia, uma vontade de mudar o mundo que me faziam desejar que largasse a faculdade de música para entrar para a polícia. Mas esses tempos passaram. A sua juventude para ter descido pelo ralo. E isso não é nada bom. Se houver algo ao meu alcance, garoto, diga e eu farei. Se houver algo ao seu alcance, então o faça. E se não houver nada que possa trazer aquele espírito e ânimo de volta, bom, temo que seja preciso te substituir.

– Sim, senhor, capitão – Pedro respondeu mecanicamente e se retirou da sala.

Sabia que aquela seria sua última chance de se redimir. Na próxima vez que entrasse por aquelas portas, teria que dar um jeito de fazer renascer a sua vontade por agradar o capitão ou estaria fora. Já tinha visto pessoas entrarem e saírem daquela sala várias vezes. E sabia que quando não mudavam suas atitudes, não voltavam sequer a entrar naquele prédio. O capitão não avisava duas vezes. Um calafrio percorreu o corpo de Pedro.

Em geral, os policiais mantinham distância de Pedro e os demais trabalhadores que não faziam parte efetivamente do corpo da Polícia. Mas naquela tarde, uma das novatas se aproximou da mesa de Pedro e puxou assunto.

– Foi intimado, não foi? – ela sorria ardentemente.

– Fui – ele respondeu sem levantar o olhar dos papéis que estava organizando.

– Todos sabem o que isso quer dizer. Mais tarde vamos sair para tomar uns drinques no bar que abriu descendo a rua. Se quiser aparecer... – Ela piscou um dos olhos e se afastou.

Ele não teria como pagar pelos drinques, mas sair um pouco aliviaria a tensão que sentia, então decidiu que iria. Passou o resto do dia tentando não pensar em sua ex-namorada ou nas contas que não conseguiria pagar antes do fim do mês. Se desse sorte, encontraria um emprego de fim-de-semana que pagasse bem o suficiente pra que ele não precisasse virar um dos milhares de moradores de rua da cidade de Nova Iorque.

...

Quando o expediente acabou, a mesma novata que o havia convidado para sair, aproximou-se da mesa soltando o rabo de cavalo e sacudindo o cabelo loiro longamente.

– Vamos lá, estagiário?

– Vamos - ele respondeu, levantando-se.

Pegaram os casacos e saíram da delegacia caminhando em um grupo de dez. A maioria deles era novato ou também estagiário. O alto escalão estava investigando algo relacionado a uma máfia conhecida pelo tráfico de drogas pesadas.

A loira insistia em puxar assunto a cada cinco segundos, ao que Pedro tentava acompanhar, mas tinha dificuldade de manter a concentração.

– Você é bem distraído, ein, estagiário! Por isso que o capitão anda tão irritado...

– Me desculpa, eu ando cheio de problemas pessoais.

– Aproveita a noite pra se distrair. Foi por isso que te chamamos - ela sorriu demoradamente como se houvesse algo implícito em suas palavras que esperava que Pedro entendesse.

Ele sorriu de volta, apesar de não saber bem por quê. O bar não era bem um bar. Era uma daquelas boates grã-finas que só se vê em filmes nova-iorquinos e que, em geral, só entra quem tem contatos VIPs. O fato de serem policiais dificilmente os ajudaria a entrar ali. Mas algum daqueles novatos convenceu o segurança de que mereciam entrar, então entraram.

Pra dizer o mínimo, Pedro sentia-se desconfortável ali. Suas roupas, seu corte de cabelo, seu jeito de andar e falar não se enquadravam ali. A novata loira parecia ignorar isso e constantemente sorria para ele e fazia piadinhas que raramente ele entendia.

Noite adentro, Pedro estava ficando cansado e mal-humorado e ia se dirigindo silenciosamente até a saída, sem se despedir de ninguém. Um cara pouco alto se jogou de costas em seu caminho, esbarrando com ele.

– Ei, cara, olha por onde anda!

– Foi mal, essa maluca jogou um blue lagoon em mim. Que bosta! Agora tô todo manchado! Liza, tá na hora de você crescer e sair debaixo da asa dos seus pais! Sua maníaca louca!

O cara saiu esbravejando, enquanto Pedro permanecia imóvel onde estava. A maníaca louca era a moça que tinha atropelado no fim-de-semana. Ela estava claramente alterada devido ao excesso de bebida. Ria descontroladamente e muito alto, ignorando todas as pessoas que tinham parado de dançar, conversar e beber para observar o escândalo. Apesar de cansado, Pedro se sentiu na obrigação de ajudá-la, então passou o braço por cima de seus ombros e puxou-a em direção a saída.

– Agora você me diz onde mora e eu te levo lá, ok? - ele disse a ela enquanto vestia seu casaco, mesmo sem saber como pagaria pelo táxi.

– Meu carro - ela disse. - Meu carro ali. Ali do outro lado da rua.

Ele seguiu a direção para qual ela apontava, abriu a bolsa de mão que ela segurava, tirou o chaveiro e apertou o botão de abertura automática. Os faróis piscaram duas vezes e ouviu-se o estalo das portas destravando.

– Ok, prontinho. Agora me diz onde você mora e eu te levo lá.

Pedro ficou sem resposta, porque assim que se sentou no banco do motorista e olhou para trás. Liza já estava dormindo. Então ele decidiu que o mais prudente a se fazer seria levá-la até sua própria casa e esperar que ela não pensasse que tinha sido raptada quando acordasse na manhã seguinte.


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Notas finais do capítulo

não é um dos meus melhores dias. vamos continuar tentando.



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